Gina parou em frente da cela, de costas para ela, um homem alto olhava através da janela o mar batendo nas pedras com grande estrondo. Por um momento ela prendeu a respiração, estava olhando para o mesmo Lúcio Malfoy que tinha guardado em suas lembranças, os cabelos ainda eram inteiramente loiros , longos, estavam presos como de costume, as vestes resistiam aos anos. Porém, quando ele notou a presença de alguém e virou o rosto, ela pode ver que o tempo havia, finalmente, feito algum efeito naquele homem que considerava uma maldição.

Ele virou-se por completo e começou a andar mais lentamente do que nunca. Abriu a boca,como se fosse falar alguma coisa, mas não saiu nenhum som, agora Lúcio já se encontrava escorado nas grades com um leve sorriso no rosto.

- Fazem tantos anos que não recebo uma visita. – A voz dele era fraca e rouca. – Já perdi até a conta.

- Eu não vim para longas conversas Sr. Malfoy. – Disse Gina secamente.

Ele a encarou com seus profundos olhos cinzentos.

- E quem lhe informou que eu gostaria de falar com a senhorita?

- Senhora. – Corrigiu ela veementemente.

- Eu conheço você. – Continuou ele friamente, ignorando-a – Eu nunca esqueceria a minha maldição, Ginevra Weasley, Nem depois de tanto anos.

- Oh, desculpe! – Falou ela ironicamente. – Eu não sabia que o senhor ficou aí tantos anos se remoendo de raiva por minha causa.

- Azcaban me mudou Weasley...

- É Malfoy! Ginevra Malfoy!

- E não creia que foi para melhor. – Lúcio não parecia se importar com as interferências de Gina. – Todos estes anos me fizeram refletir...

- É pra isso que servem as prisões, para fazer os condenados pensarem no que fizeram, nos seus erros. – Rebateu ela considerando aquilo evidente.

- Eu refleti, sim, mas isto não me tranqüilizou, só serviu para me deixar mais cheio de ódio. – Seu olhar, antes vago, focou-se nela. – Eu me lembrei de como poderia tê-la matado há muito tempo atrás...

- Eu só não lhe mando pro inferno porque tenho pena de você-sabe-quem que está lá em baixo junto com aquela tropa de idiotas que você costuma chamar de Comensais da Morte.

- Engana-se pensando que o Lord das Trevas morreu, nojenta Weasley, é só uma questão de tempo até ele fazer uma visita a nossa amada Ordem da Fênix e literalmente... – ele deu uma risada, como se tivesse esperado muito tempo para dizer aquilo a alguém. – Cabeças vão rolar!

- Eu vou ignorar solenemente as suas ironias, Lúcio Malfoy. Esta minha visita não é uma cortesia, eu tenho um propósito.

Malfoy deu uma gargalhada.

- Creio que não sejas digna que propósito algum.

- Seu filho está morto. – Disse Gina rapidamente segurado o choro.

- Draco morreu? – Perguntou Lúcio surpreso. – Antes de mim...

Ela desejava com todas as suas forças que ele não repetisse aquilo, seus olhos começavam a ficar vermelhos.

- É, ele foi atacado por um hipogrifo descontrolado, que foi solto por alguns comensais que restaram da batalha final... – As lagrimas começaram a rolar pelo seu rosto, mas ela continuou, embora sua voz estivesse chorosa. – Mas, ele não sentiu dor...sabe... a garra atingiu o pescoço... e ... a morte foi instantânea...

Lúcio a olhava com uma expressão impossivelmente mais cética.

- É estranho, como vocês Weasley tem o péssimo habito de fazer brincadeiras de maus gosto.

- Não é uma brincadeira! – Gritou Gina, as lagrimas correndo livremente pela face agora. – O senhor acha que eu inventaria uma coisa destas!

- É mesmo, não teria criatividade o bastante.

- O que!Seu ingrato, eu poderia não ter vindo visitar o senhor e deixa-lo pensar que Draco está vivo e viria lhe visitar, quando na verdade está... – ela não consegui completar a frase.

- Morto, que ironia do destino...

- O senhor não vai dizer mais nada! – Perguntou indignada.

- Não, já estou acostumado a esta idéia, faz muito tempo que perdi Draco...

- O senhor mereceu isso, devo dizer.

Ele lançou um olhar perverso para ela.

- Como está o meu neto?

- Você sabe muito bem que eu não posso ter filhos. – O choro ficou mais intenso, porque ele tinha que ser tão sádico?

- Eu havia me esquecido. – Desculpou-se Lúcio com uma falsidade desumana.

- Claro, onde está a sua mulher? – Gina sentiu por um momento o prazer da vingança quando o rosto dele perdeu toda e qualquer expressão, para tornar-se a fase de alguém perdido e esquecido em um lugar terrível.

- No jardim, cuidando das flores – Respondeu-lhe vagamente olhando para o nada.

Ela baixou os olhos arrependida. Sabia que Narcisa Malfoy havia se envenenado fatalmente há nove anos porque nunca teria novamente junto de si o marido ou o filho, e sabia que Lúcio Malfoy havia sido solto por somente um dia em sua pena eternamente longa para enterrar a esposa, no jardim da imensa Mansão Malfoy, onde estavam as preciosas rosas vermelhas e os narcisos que Narcisa cuidara com toda a dedicação. Sabia, que ela estava no jardim, mas a sete palmos abaixo da terra, cuidando das flores, era ela que as fazia tão vistosas, seu corpo alimentava as raízes deixando as pétalas tomarem toda a graça que um dia lhe pertenceu.

N/A : Bem, então, primeira short fic, nada feliz, porém... decidi publicá-la... me digam se valeu a pena.