Disclaimer: Saint Seiya e seus personagens são propriedade de Kurumada, Toei, etc.

Station to Station

Capítulo 1 - Another Piece Of Teenage Wildlife

Em uma simpática rua de comércio da cidade de Londres fica a Station to Station Vynil, uma loja razoavelmente conhecida pelos apreciadores de música, onde os fãs de rock podiam encontrar o que precisassem para saciar seus anseios musicais - "Mas se não tiver pode deixar que dá pra encomendar e chega rapidinho" – é o que te diria o simpático loiro de cabelos longos que era um dos proprietários da loja caso você não encontrasse aquilo que estava procurando. Era bem no comecinho dos anos noventa, e como parecia que o rock estava na moda, aquele era um momento muito bom para os rapazes da loja. Não só financeiramente, porque os dois jovens proprietários também adoravam música e...

Acho que seria interessante falar um pouquinho mais dos nossos protagonistas e sobre como eles se conheceram, não? É, melhor começarmos novamente.

A Station to Station havia sido fundada por dois jovens amigos Mu e Milo há alguns anos atrás. Os dois amigos se conheceram por acaso na época da faculdade, onde o primeiro era um aplicado aluno do curso de direito e Milo um relapso estudante de belas artes. Foram apresentados em uma festa (onde a bebida era ruim e a música péssima, diria Milo posteriormente) por Aioria, um amigo em comum dos dois, e acabaram fazendo amizade também.

Os dois rapazes descobriram logo que tinham algo em comum: a paixão pela música e começaram a conversar muito a respeito e trocar discos e ir a shows. E um dia Milo teve a idéia de abrirem a loja de discos. Mu concordou, e trancou a faculdade - Milo já tinha repetido por excesso de faltas mesmo – e, com algum esforço, os dois conseguiram levantar o dinheiro para começarem o negócio. A mãe de Mu ficou possessa com tudo isso, que achava uma insensatez sem tamanho da parte do filho. Anos depois a pobre mulher ainda consideraria Milo como sendo uma péssima influência para seu filho, que sempre fora quieto, tímido e principalmente, muito ajuizado. Os pais de Milo até que acharam a idéia uma boa. Na verdade, a mãe do rapaz sempre teve a impressão de que ele acabaria se matando em um acidente de moto antes dos vinte anos, por isso parar a faculdade e abrir uma loja de discos não era algo que parecesse muito terrível para ela.

Apesar da oposição de Savitri, a mãe de Mu, os dois rapazes estavam muito bem e estavam satisfeitos, tocando seu negócio e sendo sempre importunados por Aioria (que acabou se tornando meio que um funcionário da loja de tanto tempo que passava enfiado ali). Ainda ouviam muita música e iam a muitos shows.

No plano mais pessoal as coisas já eram um pouco mais complicadas. Milo era um conquistador, sempre o fora, mas nunca se apaixonava de verdade por ninguém. Isso era algo que Mu considerava um defeito no amigo, a mania de se envolver com as pessoas sem estar realmente interessado no relacionamento. Afinal, para o jovem pacato de cabelos lilases não era algo muito correto brincar com os sentimentos dos outros, mas não se intrometia na vida do amigo. Talvez um dia ele se tocasse. Principalmente porque havia uma história esquisita mais ou menos da época em que se conheceram,mas Mu era muito discreto para perguntar alguma coisa (na verdade, não gostava de se meter nesse tipo de assunto) e o amigo parecia não querer falar sobre aquilo. Aioria parecia saber, pelo menos por alto, sobre "a única vez em que Milo gostou de alguém de verdade, mas acabou ferrando com tudo", mas também não falava nada. Era meio que um tabu na Station to Station.

Mas, apesar dos pesares, ele não se deixava abalar por nada. E quem o visse jamais imaginaria que ele era o tipo de pessoa que tivesse qualquer problema na vida.

Da parte de Mu tudo já era mais simples: ele não era de sair com ninguém. Ponto final. E olha que não faltavam garotas que ficavam olhando para eles como se fossem criancinhas que contemplassem a vitrine de uma loja de doces. Inúmeras corriam atrás dele e se declaravam e tudo mais, mas o rapaz não parecia nem um pouco interessado. Na verdade, ficava bastante constrangido em receber esse tipo de atenção. E ele (ao contrário de Milo) não gostava de se envolver com as pessoas sem estar realmente interessado – e também achava um martírio a hora de dar um fora em alguém.

Então ele ia ficando: quieto, sozinho e na dele.

E tudo ia bem na medida do possível com os dois, até que, de uma hora para outra, as coisas começaram a acontecer. Devagar, sorrateiramente e, pode-se dizer, de forma inesperada. Tudo começou em um sábado...


Os sábados eram os dias de maior movimento na loja de discos, afinal era quando a maior parte dos clientes tinha tempo para sair às compras. Milo sabia que não podia se atrasar aos sábados, que não era certo deixar Mu sozinho tomando conta de tudo, mas novamente não conseguiu levantar no horário. Havia ficado até tarde no pub com Aioria na noite anterior e acabara não conseguindo levantar no horário. Quando finalmente conseguiu sair da cama, vestiu-se e saiu correndo em seguida pelas ruas de Londres em direção à loja, mas o esforço não adiantou muito. Já era quase meio dia quando Milo entrava na Station to Station.

- Oi Milo, como vai? E aí, qual a desculpa do dia? – Mu estava de costas para a entrada, arrumando alguns discos no lugar.

Ah, bom, sabe né, Mu...É que eu...

Era sempre a mesma coisa, Milo sabia que o outro estava se divertindo às suas custas, mas não conseguia evitar e sempre ficava tentando pensar em alguma desculpa enquanto gaguejava como um idiota. O pessoal que estava na loja sempre parava para assistir a cena. Mu, ainda sem se virar, e com um tom de voz extremamente calmo, como um professor primário que ensina algo muito óbvio a uma criança pequena, continuou:

- Estou esperando, Milo. Você sabe que não pode deixar todo o trabalho em cima de mim, é no mínimo injusto. Além de ser uma grande irresponsabilidade da sua parte...

- Eu sei, mas é que ontem... – Milo ia tentar explicar (Por que se dava o trabalho? Seria tão mais fácil mandar o amigo para um lugar bem feio), mas o outro o interrompeu:

- Mas é que ontem você bebeu todas com o Aioria, chegou em casa e desmontou legal, correto? Nem esquenta.

Mu voltou-se sorrindo gentilmente para o amigo, que ficou emburrado e disse:

- Se você não se importa porque nós temos que fazer essa cena ridícula toda vez, hein? E por que é que eu me importo com o que você pensa? Vai se ferrar de uma vez!

Mu sorriu de forma levemente irônica e disse:

- A cena ridícula é porque eu adoro ver a cara que você faz, você se importa porque você tem muita consideração por mim. Ah sim, e vai você se ferrar.

Milo, irritado, bateu com uma pilha pequena de discos de vinil na cabeça de Mu que protestou, indignado:

- Ei, cuidado aí, vai destruir o pobre do Zappa!

- Dane-se o Zappa, eu não gosto dele mesmo, é um metido pretensioso que se acha!

- Metido, pretensioso que se acha?! Ta falando de você mesmo né, Milo? – uma voz masculina forte ressoou na loja. Os dois amigos se viraram e Mu cumprimentou o recém-chegado, enquanto Milo reclamava mais um pouco:

- Pronto né, agora você também, mais um pra me infernizar, que coisa!

- Menos moça, eu venho aqui pra ajudar vocês e fico sendo insultado, olha que eu não volto mais, hein?! – disse Aioria, sorrindo irônico.

- É um favor que você nos faz!

Milo agora já sorria, enquanto ajeitava suas coisas atrás do balcão onde ficava o caixa (e mais um monte de bagunças que Mu sempre tentava, em vão, organizar).

- E aí, como foi a bebedeira ontem? Voltaram se arrastando para casa, imagino - perguntou Mu num tom divertido para os amigos, que imediatamente se puseram a relatar os eventos da noite anterior:

- Precisava ver, o Aioria aqui ficou babando uma ruiva que a gente encontrou lá, fiquei com vergonha por ele, cara, foi patético!

- Patético é você, seu veado!

- Sou mesmo, e daí?

- Menos crianças, por favor, isso aqui é um estabelecimento de família – Mu disse, um tanto envergonhado da cena que os dois amigos faziam no meio da loja, enquanto os clientes pararam e ficaram assistindo.

Aquilo era normal, pelo menos umas dez vezes ao dia Milo e Aioria começavam uma seção de insultos e ofensas à mãe um do outro e toda vez cabia ao pobre Mu interromper o espetáculo. Ele gostava muito dos amigos, claro, mas às vezes os dois eram tão crianças que chegava a cansar...

- Ei! Terra para Mu, chamando! – Milo estava com uma expressão divertida. Adorava interromper o amigo quando ele estava assim, pensativo e quieto – que foi, Mu, dormiu em pé?

- Foi mal, eu me distrai... – disse o ariano sem graça. Era algo que acontecia sempre. De repente se via pensando na vida e nas pessoas e se desligava completamente de tudo que se passava ao redor. E essa era a deixa para que Milo e Aioria começassem a atazaná-lo:

- Tava pensando em alguma namoradinha, não é Muzinho? Que bonitinho! – Aioria, inconveniente, apertava as bochechas de Mu, arrancando risinhos das garotas que estavam na loja.

O rapaz de cabelos lavanda não se deu o trabalho de responder.

- Que bonitinho! O Muzinho tá apaixonado! Decidiu largar o celibato! – Milo entrou na brincadeira, esquecido de que, segundos atrás, estava discutindo com Aioria – Aí meninas, percam as esperanças, parece que perderam o melhor partido da Station!

As garotas fizeram um "Aaahhh!" sentido, enquanto Aioria e o escorpiano davam risadas. Mu, extremamente envergonhado, pediu, em voz baixa, para que, por tudo que houvesse de mais sagrado, parassem com a brincadeira, mas isso só serviu para animar os dois a continuar:

- Olha só, ele ta com vergonha mesmo, acho que é sério!

- É mesmo, Oria, quem diria?!

- Escutem aqui, por que não vão cuidar da vida de vocês hã?! Se eu não saio com ninguém o problema é meu!

Mu parecia irritado mesmo agora, o que era difícil acontecer, ainda mais por tão pouco.Pegou uma pilha de discos e foi pisando duro para os fundos, em direção ao estoque. Os dois amigos pararam com os comentários, espantados com a reação do outro.

- Nossa, ele ficou bravo mesmo! O que houve? – Aioria estava confuso. O tibetano sempre fora uma pessoa muito paciente, não era de ter aquele tipo de reação.

- Sei lá... – disse Milo enquanto pensava "Aí tem!". Mu era seu amigo há um bom tempo. O considerava um grande amigo. Mas os dois tinham algo em comum: não eram de falar muito de seus sentimentos ou relacionamentos. Um simplesmente não se metia na vida do outro no que dizia respeito a esse assunto. Só sabiam o que era de conhecimento geral: Mu não saia com ninguém, Milo ficava com um monte de gente. Ponto final.

- E aí, você vai lá, ou prefere que eu vá? – Perguntou Aioria olhando em direção ao estoque.

- Ah, deixa que eu vou, andei pisando na bola com ele bastante nesses últimos tempos...


O lugar que chamavam de estoque na verdade não era tão cheio de coisas assim, uma vez que a maior parte dos discos ficava na própria loja. Era só a área do imóvel que era reservada para o depósito onde eles guardavam algumas coisas e colocaram um sofá para darem uma descansada de vez em quando. Mu estava sentado lá, pensativo.

Não estava exatamente bravo com Milo e Aioria pelas gracinhas. Já estava bem acostumado ao senso de humor infantil dos dois. Mas imaginava que os dois deviam acha-lo meio estranho mesmo. E isso incomodava um pouco. Ele não era o tipo de ter muitos amigos, nunca fora. Quando criança, morara na Índia, e amigo mesmo só tinha um, de quem até hoje sentia falta. Após a mudança para a Inglaterra fizera alguns amigos sim, mas de verdade mesmo eram só aqueles dois pentelhos...

Milo bateu na porta antes de entrar no estoque. Quando o outro rapaz disse que podia entrar, o grego veio logo pedindo desculpas, disse que não pretendia deixa-lo chateado. Mu então disse:

- Ih, não esquenta, é que eu ando meio chateado mesmo, aí qualquer coisa é motivo pra ficar irritado né...

- Hmm, me deixa adivinhar: mamãe?

- Não, ela tem andado mais quieta que de costume, estou até estranhando.

- Estranho mesmo...Milo ia falar mais alguma coisa quando Aioria entrou como um furacão:

- Aí caras, todo mundo convidado pra sair hoje à noite! A Marin me chamou pra sair com uns amigos, e vocês vão!

- Eu estou fora! – Mu foi categórico. Não estava em clima de balada. Os outros ainda tentaram convence-lo, mas não adiantou, o ariano não estava nem um pouco a fim. Mas o seu humor decididamente estava um pouco melhor pois ainda disse:

- Aproveitem que eu estou muito legal e podem ir embora mais cedo. Deixem que eu fecho a loja hoje.


Eram umas sete da noite quando Mu arrumava tudo para fechar a loja. Os seus amigos já haviam ido embora há umas duas horas para se arrumar para a tal balada ("em plena quinta" – pensou Mu). O ariano estava distraído e nem percebeu o jovem loiro de óculos escuros e cabelos longos entrando na loja. O rapaz parou bem de frente para o balcão e, com os braços cruzados sorria como se esperasse por algo.

- Olha, foi mal, mas eu já ia fechar a loja, só estou arrumando algumas coisas e...

- Não acredito que não me reconheceu! Está certo que passou muito tempo, mas eu não mudei tanto assim – o loiro tirou os óculos escuros, revelando um belíssimo par de olhos azuis.

Finalmente Mu virou-se para o recém-chegado. Ergueu os olhos e encarou o rapaz, curioso. Este continuava a lhe sorrir. O ariano ergueu os olhos ao perceber quem era a pessoa. Não era possível! Não depois de tanto tempo e logo na Inglaterra!

- Shaka! Mas quando foi que você chegou?! E tá fazendo o que aqui?


Antes de ir para a tal festa, Aioria combinou de se encontrar com Marin e seus amigos em um barzinho, onde todos seriam apresentados. Miro e o leonino chegaram ao local incrivelmente atrasados, para variar, e por isso encontraram Marin e os outros sentados em uma mesa.

-Olá para todos, oi minha linda, perdão pelo atraso!É que o meu amigo aqui demorou para se arrumar, parecia uma mocinha! – disse Aioria debochado.

-Vou te dizer quem é a mocinha, seu retardado!Oi pessoal, desculpem os maus modos dele, é que...

Milo perdeu a fala no momento em que viu uma das pessoas que estavam ali. O outro jovem também o encarava com os olhos arregalados, parecendo surpreso em vê-lo também. O escorpiano ia dizer alguma coisa, mas viu a expressão no rosto do outro rapaz se tornar fria, os olhos cheios de desprezo. Milo ouviu o cumprimento seco:

- Boa noite Milo, não esperava vê-lo novamente.

-Ahn, é...Oi Camus...


Nota: O título da fic é o nome de um álbum do David Bowie, e o nome do capítulo vem de uma música do mesmo cantor, chamada "Teenage Wildlife" , que está no disco "Scary Monsters (and Super Creeps)"

Ahhh! Consegui, finalmente! Eu tava com a idéia para essa fic já fazia um tempo, mas quem disse que eu conseguia montar o capítulo? Mas está aí, espero que tenha ficado bom, e que alguém goste, porque desde que eu assisti Alta Fidelidade eu tinha vontade de escrever alguma coisa que tivesse uma loja de discos como cenário. Tomara que tenha ficado legal, porque eu nem tive coragem de revisar (senão eu saio apagando tudo!).

Que irresponsabilidade a minha, mal dou conta de atualizar uma única fic! Quero ver agora, com duas...Vamos tentar, né!

Então é isso, um abraço para todos que lerem! Espero que gostem.