Título: Glory Days
Categoria: Slash, Romance.
Classificação: (PG-13)
Capítulos: 2

Disclaimer: Harry Potter e seu universo infelizmente não me pertencem, visto que minha imaginação não é assim tão criativa.

Resumo: Remus recebe uma visita inesperada em meio as últimas férias de verão, que serão inesquecíveis.


GLORY DAYS

Hoje eu cansei de saudade
E vou mandar te trazer
Nem que precisem mais de mil cavalos brancos
Pra te convencer

Remus abriu os olhos e através dos fios de cabelo que cobriam seu rosto conseguiu ver pela janela do quarto que chovia muito lá fora. Algum barulho o havia acordado e logo imaginou que era a janela batendo com o vento forte. – "Não é nada Remus, volte a dormir" - resmungou, obrigando-se a pegar no sono novamente.

Passou um tempo e o barulho continuou a atormenta-lhe - "Não é possível, tem alguma coisa errada." – Levantou-se lentamente, quase tropeçando na barra do pijama surrado e caminhou em direção a janela, os olhos estavam embaçados pelo sono e ao mesmo tempo a chuva não permitia maior visibilidade.

Quando se deu conta da onde vinha o barulho, Remus reconheceu nada mais nada menos que latidos muito familiares na direção do quintal. Como um estalo, qualquer resquício de sua sonolência foi embora quando olhou pela janela e viu uma figura conhecida o encarando literalmente como um cachorro molhado lá de baixo.

Seu coração disparou com o susto e tentou controlar os nervos, se perguntando o que raios Sirius Black fazia no meio de seu jardim em plena madrugada em uma semana das férias de verão. Remus levantou o vidro e gritou num sussurro baixo para seus pais não acordarem – "Padfoot, o que você tá fazendo aqui?."

Voltando a forma humana, Sirius resmungou entre os dentes – "Posso subir primeiro e explicar depois? Eu tô encharcado!". Remus correu a passos silenciosos para o andar de baixo e foi logo procurando as chaves da porta da frente. Estava tão atordoado que não conseguia encontrar a porcaria da chave certa enquanto ouvia Sirius resmungando e respirando alto do outro lado.

Remus abriu a porta não deixando de notar que aquela moto voadora insana estava estacionada na garagem, fato que demandaria explicações pela manhã.

- "Nem pense em me dar um dos seus abraços de cachorro, eu não quero me molhar!" – Exclamou exasperado enquanto Sirius gargalhava.

Remus estendeu um pano de chão para que ele não inundasse toda a casa e o guiou em direção a seu quarto, no andar de cima. Os Lupin viviam em um vilarejo rural no interior do Reino Unido, em uma casa afastada da região onde moravam os trouxas. O pai trabalhava com vendas de poções com poder curativo e por isso viajava toda a Europa, enquanto a mãe era professora de biologia em uma escola trouxa da região. Depois que Remus foi atacado, a família teve que adaptar a casa e a vida para essa nova realidade, transformando o porão no refúgio do lobo, que era enfeitiçado com silenciadores para não chamar atenção dos vizinhos distantes. Remus agradecia o fato de não precisar utilizar aquele espaço sozinho na maior parte do ano, pois desde que os marotos se transformaram em animagos para acompanha-lo durante as luas cheias, a transformação andava bem menos dolorosa e solitária.

Remus deixou Sirius a vontade e foi buscar toalhas e roupas secas para que ele não pegasse um resfriado depois de toda essa loucura que ele ainda estava tentando entender.

O licantropo andou pelos corredores segurando firmemente as mãos e estralando todos os dedos em uma tentativa compulsória de autoflagelação, buscando também diminuir o volume da respiração irregular, alterada pelo nervosismo. Até então, Remus acreditava que ainda faltavam semanas para ver Sirius novamente, e ficou preocupado com a atitude repentina do moreno porque sabia bem o tipo de relação familiar que ele tinha.

Quando voltou ao quarto, Remus estagnou em frente à porta, ao se deparar com um Sirius seminu, arrancando todas as roupas molhadas e as espalhando pelo chão, obviamente ignorando todas as regras sociais.

A camiseta já havia ido há tempos e a calça estava descendo o joelho. Remus corou violentamente e virou o rosto, tentando abstrair os movimentos das mãos até a peça estar por completo no chão. Antes que Sirius se desse por conta de seu estado, o garoto tentou quebrar o gelo - "Pelo jeito os bons modos foram esquecidos em Grimmauld Place, não Sirius?" - disse entregando uma toalha em suas mãos.

- "Para de reclamar e me ajuda aqui Moony, to congelado".

No começo, Remus não entendeu o que Sirius estava querendo dizer, até que percebeu que ele precisava de ajuda para se secar. Enquanto ele esfregava com força a toalha nas costas e nos braços, Remus se aproximou, parando em sua frente, um pouco receoso. Pegou uma das tolhas e começou a secar seus cabelos.

Tentou não imaginar a situação como algo anormal, afinal, era apenas um colega precisando de ajuda, porque de fato ele estava bem gelado. Enxugou os cabelo negros que já chegavam quase nos ombros e por baixo da franja percebeu que certos olhos prateados observavam o caminho das suas mãos com uma expressão típica do maroto. Disfarçou um meio sorriso - "Só você mesmo Sirius".

Nessa espera eu te guardo
Numa redoma de cetim
Que eu teci enquanto cantava
Naquele dia em que eu te conheci

- "Como você consegue fazer isso Moony?..." - disse Sirius - "Sorrir com os olhos" - ignorando completamente o comentário do lobisomem. Trocaram olhares por mais alguns segundos, até que Remus quebrou o momento retirando a toalha de sua cabeça e também a de suas mãos e as levando para pendurar no cabideiro. – "E você que sorri abanando o rabo" – Sirius gargalhou e o amigo sentiu o estomago revirar ao som da risada.

- "Pode me explicar agora exatamente o que você tá fazendo aqui Padfoot?" - resmungou, entregando a ele roupas secas e buscando pelo quarto a cama de armar. Era terrível, dura feito uma pedra, mas servia justamente para casos de emergência.

- "Eu fugi de casa. De vez" - disse simplesmente, enquanto vestia o pijama velho emprestado.

- "Como assim? O que houve Sirius? E todas as suas coisas?" – Remus questionou atropeladamente. Desde sempre soubera que a relação de Sirius com toda a família Black era, vamos dizer assim, tortuosa. Eles eram realmente meio malucos, com forte tendência a se aproximar das artes das trevas e outras esquisitices. Mas também eram muito ricos, e Sirius dependia de seu auxílio para se sustentar.

- "Bom, o Regulus se aproximou definitivamente de você-sabe-quem, não que a minha família concorde totalmente, porque afinal você sabe, eles gostam de ficar em cima do muro pra agradar todos os lados, e isso não é bom pra reputação deles. Mas o cara tá ficando cada vez mais forte, conseguindo mais seguidores babacas que acreditam em toda aquela baboseira de puro-sangue. E minha família, querendo ou não, concorda com tudo isso, eu não podia mais agüentar. Nós brigamos feio porque eu insisti que eles proibissem o Reg de se filiar a esses assassinos, e eles quiseram jogar na minha cara que eu andava com más influências." – uma sombra passou por seu rosto – "Eu? Sério mesmo Madame Walburga?" – disse encenando um enfrentamento com a mãe.

- "Quem eles pensam que são pra julgar" - falou baixando os olhos e buscando algo no bolso da calça molhada. – "Eu trouxe o que importava na moto. O resto ficou pra trás." – Sirius não queria transparecer, mas seus olhos estavam inchados e a voz embargada.

- "Sirius, você brigou com eles por minha causa?" disse receoso "Quero dizer, não acho que eles tenham algum problema com o James ou Peter que são puro-sangue". Remus baixou os olhos tentando esconder a dor que sentia ao dizer essas palavras. "Nós podemos, não sei, nos afastar se for o caso. Só pra eles não pegarem no seu pé" – Remus percebeu que só a ideia de não tê-lo no seu cotidiano era assustadora. O garoto adorava ouvir aquela voz rouca pela manhã, sentir as cortinas do dossel abrindo e seu colchão amassando no meio da madrugada quando o maroto perdia o sono e vinha tirar o de Remus também com qualquer conversa boba até o sol bater na janela, ou suas mãos segurando as suas próprias na enfermaria depois da lua cheia.

Mas Remus tinha bom senso, e não poderia ficar vendo-o destruir sua mínima relação familiar se isso tivesse algo a ver com sua aproximação.

- "Você tá louco Remus? Nada disso, eu fiz minha escolha! Eu não volto mais praquele lugar" - disse exasperado – "Não tem nada a ver com você seu encanado." - Disse dando um tapinha nas costas do amigo – "Foi uma vida de divergências que me trouxeram a esse momento, que, vamos e convenhamos colega, era mais do que esperado"

Após alguns minutos, Sirius quebrou o gelo – "Vocês são minha família agora... na real, sempre foram vocês".

Finalmente encontrando aquela maldição que procurava, Sirius abriu uma caixinha retangular e arrancou ferozmente um cigarro. – "Você não vai acender isso no meu quarto né Padfoot?" – não era possível que a falta de bom senso desse animago chegasse a esse nível, pensou.

- "Eu preciso relaxar Moony. E você também vai, eu abro a janela e o quarto nem vai ficar cheirando.." – disse trazendo o isqueiro a boca.

Depois de uma tragada intensa e um longo silêncio reflexivo, que Remus não arriscou interromper, Sirius sussurrou – "Eu quero combater esses caras. Eu vou lutar contra isso. E não posso considerá-los minha família se fizerem parte dessa insanidade." - agora seu rosto estava absolutamente vermelho e carregava uma determinação nos olhos que o lobisomem nunca havia visto antes.

Na tentativa de quebrar o gelo do assunto, que era muito pesado, Remus brincou – "Pelo menos teremos uma lua cheia mais silenciosa amanhã. Vou te arrastar para o porão!".

Sirius gargalhou respondendo – "É, eu calculei tudo meu querido Moony".

- "Calculou é? Então você sabia que em alguns dias começaria a lua cheia?" – disse com um olhar maroto e desconfiado.

- "Claro que eu sabia! Já que eu tava saindo de casa, resolvi passar por aqui antes e dar uma mão né! Já enviei uma coruja pro James e combinei que passo a última semana de férias na casa dele." – sorriu fracamente.

– "Ele me chamou pra morar com eles" - disse receoso - "sei lá, até encontrar um trabalho quando as aulas acabarem e poder pagar meu próprio aluguel".

Remus sorriu singelamente, e agradeceu mentalmente pela milésima vez por ter amigos assim, tão especiais. Internamente, o garoto admitiu que estava com vontade de arrumar as malas e também partir nessa última semana de férias para a casa dos Potter. Essas últimas semanas já foram o suficiente pra ficar longe dos marotos. Longe de Sirius.

Se eu fosse um rei
Eu te dava abrigo no meu país
Mas eu não sou
Por isso segues como exilado
Sem saber de mim

- "Isso tem sabor de que? Cheira a menta." – falou meio que sem pensar, quando o vento bateu e trouxe com ele o aroma do cigarro.

- "É, esse aqui tem sabor de menta mesmo. Quer experimentar?"

- "Nem pensar Padfoot."

- "Ué, porque não? Você com certeza tá todo curioso aí" – riu enquanto colocava o cigarro na boca – "e ele não vai te matar em uma tragada".

Naquela noite, Remus não experimentou.


Que sensação boa, Remus pensou. Parecia que dedos macios estavam trilhando um percurso carinhoso em seus cabelos. – Que sonho bom -, respirou fundo.

Sentiu uma fragrância parecida com a de Sirius e concluiu que esse era realmente um sonho bom. Sensorial e real demais inclusive, pensou, quando sentiu que todas as partes do seu corpo pareciam estar cansadas e doloridas e respondiam aquele cafuné como uma forma de relaxar.

- "Ei Moony, como você tá amigão?" – ouviu distante.

- "Moony? Moony?"

Abriu os olhos e deparou-se com um par de orbes acinzentados observando-o preocupados. Suas mãos estavam realmente em seus cabelos e ele podia sentir o cheiro natural emanando de sua pele, muito próxima.

A realidade bateu como um estalo. Noite passada havia sido lua cheia, e Padfoot, que está passando uns dias em sua casa, o acompanhou durante a transformação.

- "Oi Pads" – foi o que conseguiu falar, considerando o tamanho de sua fraqueza.

- "Hey. Você tá precisando de alguma coisa? Tomar alguma poção? Fazer algum curativo?" – Sirius o bombardeou de perguntas preocupadas, pois geralmente quem se responsabilizava por todo o processo pós-traumático era a Madame Pomfrey.

- "Minha mãe sabe de tudo.." – murmurou baixinho.

- "Ok ok estou descendo avisar que você acordou, descansa aí". – desceu a passos apressados escada abaixo.

Provavelmente Remus voltou a dormir, pois não se lembra de muito mais depois disso.

Quase no fim da tarde, quando acordou, Sirius insistiu em fazer todos os curativos necessários para ajudar a cicatrizar suas feridas.

- "Sirius eu já disse que minha mãe está acostumada, você não precisa ter mais esse trabalho."

- "Eu não me incomodo, além disso, eu quero aprender! Podemos nem sempre ter a Madame Pomfrey ou sua mãe por perto."

O lobisomem sentiu o rosto inflamar, provavelmente estava muito corado. Baixou os olhos e acenou com a cabeça, concordando com que ele providenciasse os curativos.

- "Tá bem Padfoot, faz assim. Naquela caixa em baixo da escrivaninha estão todas as essências necessárias, e também as ataduras."

Vagarosamente, Remus começou a desabotoar a camisa do pijama, sentindo um pouco de vergonha, apesar de saber que Sirius já presenciou essa cena algumas milhares de vezes. Quando ele voltou para a cama, parou observando por alguns segundos.

- "Estou muito horrível?" – disse embaraçado.

- "Horrível?" disse sério - "Que nada, já disse que acho essas cicatrizes incríveis" sorriu singelamente – "elas são a prova de que você é realmente um grifinório sabe, toda aquela parada da coragem. Você tem ela desenhada na pele e é genial."

Como alguém pode soar tão natural ao dizer coisas assim? Remus pensou. Ouvi-lo falando dessa forma o fez fraquejar nas pernas, sentindo como se o chão já não lhe pertencesse mais. Corajoso. Poderia gravá-lo e repetir essas palavras de incentivo pela eternidade, pois não era algo que Remus realmente acreditasse na maior parte do tempo.

Ser um monstro não é ser um herói.

- "E agora, o que eu faço?" – Sirius parecia apreensivo, e Remus poderia arriscar dizer que nunca o viu demonstrar tal reação antes.

Remus foi explicando passo a passo todo o procedimento enquanto o animago ouvia com atenção. – "Agora, você já pode colocar essa atadura na região mais vermelha, onde a cicatriz é bem recente" – enquanto Sirius cortava um pedaço do tecido e começava a prensá-lo em sua pele. O maroto respirou fundo enquanto Sirius observava preocupado, balançou a cabeça encorajando-o a continuar.

Hoje não importa nem teu nome
Insisto em ti afirmar
Que essa espera é só uma gota
Que só se faz transbordar

Seus dedos tocaram a pele sensível e por um segundo Remus arrepiou-se. O garoto teve medo que ele percebesse o quanto seu toque podia lhe afetar. Observava meticulosamente seus dedos passeando em sua pele, e pela primeira vez, aquela sessão não estava sendo tão torturante como o usual. Sirius tocava com a ponta dos dedos e Remus fechou os olhos, se entregando a sensação, sentindo o corpo queimar. Quando percebeu que o moreno passeava agora com as mãos sob uma de suas antigas cicatrizes, abriu os olhos e se afastou lentamente, coração acelerado. Sirius pareceu acordar de um transe e tentou disfarçar o incomodo.

Remus tentou sorrir fracamente – "Obrigado Sirius, está perfeito".

- "Viu, eu disse que iria aprender!" – Parecia um cachorro feliz, faltou apenas abanar o rabo.


Os dias se passaram e com eles a lua cheia. Os cuidados preocupados voltaram a se repetir e agora Remus estava mal acostumado a ser tratado com tanta calma e apreensão por Sirius Black.

Quando o lobisomem tinha melhorado completamente, Sirius insistiu para irem passear por uma cidade mais próxima, um pouco mais povoada, com o intuito de conhecer melhor o mundo trouxa. Ele tinha fascinação por certas coisas, especialmente a música e as roupas. Cada vez mais ele aderia ao estilo rock'in roll de se comportar. Na verdade, às vezes até parecia que o rock'in roll imitava Sirius Black. A rebeldia, a intensidade que colocava nas coisas, a atração que causava em todos a sua volta. Pelo menos a atração que causava em Remus.

As jaquetas de couro eram sua fascinação. Remus inclusive o presenteou com uma antiga que tinha em casa, da juventude do seu pai. Ele adorou, a usava em meio as aulas o que chamava a atenção de todos os professores, parando com isso apenas depois de uma detenção particularmente chata envolvendo a limpeza do corujal. Sem falar que a jaqueta de couro encaixa perfeitamente com a sua moto, deixando transparecer ainda mais seu espírito rebelde.

Estavam passando em frente a uma rua movimentada pelo comércio, quando receberam de um moço na rua um panfleto convidando para uma festa num pub naquela noite.

- "Hoje à noite, invasão britânica com o melhor do rock'in roll. Venha dançar e se divertir ao som de Rolling Stones, Beatles e Who. A partir das 22h no Wave Pub." – Sirius lia em voz alta.

- "Moony nós temos que vir!" – disse dando pequenos pulinhos nos ombros do garoto.

- "Não temos não Padfoot, esqueceu que amanhã cedinho você parte pra casa dos Potter?" - disse ignorando-o.

- "Não esqueci não, mas e daí? Não é como se eu nunca tivesse virado uma noite antes. Vai Remus vamos vai, vai ser genial!".

- "Meus pais vão enlouquecer! Eu nunca faço essas coisas Sirius!".

- "Relaxa, você tá comigo e eles me adoram" – seu metido, pensou – "E além do mais, você já é grandinho vai, não é como se já não tivéssemos enchido a cara dezenas de vezes em Hogwarts!".

- "Ah, além de tudo, nós vamos beber. É isso?"

- "Mas é claro meu querido Moony, vamos fazer dessa uma noite inesquecível!"

Continuaram caminhando pelas ruas movimentadas da cidadezinha e pararam para tomar chocolate quente em um pequeno café aconchegante no centro. Estava batendo um vento gelado do lado de fora e os garotos procuraram se esquentar até a hora de ir embora. Conversaram sobre o futuro, a proposta de James para que Sirius vá morar com ele, a ideia de alugarem um flat quando tiverem empregos e até mesmo a possibilidade de dividirem um apartamento no centro de Londres. Remus gostava de compartilhar pensamentos e preocupações com Sirius, o maroto parecia compreende-lo melhor que ninguém, sua presença era quase vital na vida do lobisomem.

Remus tinha medo de confundir demais as coisas.


Remus saiu do banho e depois de se trocar, voltou ao quarto e encontrou Sirius buscando freneticamente alguma coisa em sua mala. Ele estava vestido ao melhor do estilo, coturnos com um jeans apertado e uma camiseta branca, com uma pulseira de couro preta que deixava seus braços ainda mais fortes, e aquele colar de identificação do exército – presente do James alguns anos atrás – que nunca saia da sua boca. Ele não se cansa do gosto metálico?

- "Achei! Peguei de uma lufa-lufa quintanista que sempre usava uma maquiagem hard core. Você vai ter que me ajudar com isso aqui!" – falou apontando na direção de Remus um lápis estranho.

- "E o que eu devo fazer com isso Padfoot?"

- "Me ajuda a passar no olho! Eu nunca vou conseguir sozinho. Eu já vi os músicos usando e fica muito rock'in roll!"

Remus foi até a estante e procurou na seleção de discos algo que se parecesse com o que ele estava se referindo.

- "É algo parecido com isso aqui?"

Sirius gritou de empolgação "É isso mesmo Moony, faz igual faz igual" Remus poderia jurar que viu um rabo abanando ali.

Sentaram na borda da cama, um virado de frente para o outro. Estavam há alguns palmos de distância e Remus realmente não fazia idéia de como fazer aquilo. – "Tenta não se mexer tá? Eu não quero ter que levar ninguém pro St. Mungus hoje".

O garoto apoiou a mão esquerda no rosto do moreno e sentiu seu hálito quente atravessar seus dedos. Seu dedo polegar segurou a parte de baixo dos olhos de Sirius para ajudar a fazer o desenho. Remus tentou disfarçar a mão trêmula quando começou a fazer o contorno dos seus olhos.

Sem perceber, baixou a mão esquerda pra fortalecer o apoio e se surpreendeu quando a palma da mão encostou-se aos lábios grossos de Sirius, ficando ali por vários segundos. Sentiu a boca do garoto se movimentar em baixo de suas mãos, e de repente elas estavam úmidas, como se ele tivesse passado ali a parte interna do lábio. Um arrepio atravessou a pele de Remus, que se afastou exasperadamente.

Como relâmpago, silêncio
Passe de milagre você me pintou
Me toma em teu compasso
Que só no teu abraço
Que eu me escondo do mundo

- "Tá ficando bonito?" – perguntou com um sussurro e por pouco o lápis não entrou no seu olho com o tremor das mãos de Remus. Acenou com a cabeça e apertou os olhos para se concentrar. O lobisomem sentiu-o baixar a visão, percebendo então que ele próprio estava mordendo forte o lábio inferior.

- "Você faz isso quando precisa se concentrar" – disse sobriamente, respirando fraco. O coração de Remus acelerou ao se questionar porque motivos o moreno observava tanto seus atos.

O coração de Remus falhou uma batida e ele se afastou – "Acho que ficou ótimo, da uma olhada no espelho e vamos indo pra não perdermos a primeira banda!".


O bar tinha tido suas cadeiras empurradas para os cantos para as pessoas dançarem no meio da pista. Os grifinórios, que olhavam fascinados, nunca tinha ido há um lugar assim. O local estava cheio, a primeira banda já se preparava pra entrar no palco e as pessoas foram se ajeitando pra assistir ao show.

- "Vamos pegar uma bebida!" – Sirius puxou suas mãos pelo meio da multidão e, depois de um tempo, conseguiram chegar até o movimentado bar.

O bartender era loiro, com uns vinte e poucos anos, alto e muito atraente. – "Qual é a pedida dos novatos?" – ele disse enquanto limpava um copo com um pano e Remus poderia jurar que havia piscado para Sirius.

- "Hmm, o que você recomenda?" – Sirius respondeu sorrindo lascivamente e Remus se perguntou como ele conseguia fazer isso. Ele é um bruxo com as maiores dificuldades de interagir com o mundo trouxa e mesmo assim ele age com a maior naturalidade. E ainda por cima dá trela pras investidas do bartender. Porque claro, Sirius Black gosta de ter a atenção de todos, homens, mulheres...

Crianças, animais e plantas, favor tomar cuidado, pensou Remus.

Remus deve ter feito uma cara assassina para o loiro, que diminuiu os flertes e agora os apresentava uma série de drinks especiais que provavelmente os deixariam alegres em alguns goles.

Dividiram a primeira bebida, mais doce que firewhiskey, com frutas e leite condensado, e, oh Merlin, aquele canudo dançando na boca de Sirius parecia provocar as borboletas no estômago de Remus, que foi puxado pelo meio das pessoas quando a música começou.

Com um copo na mão e o cigarro na boca, Sirius se deliciava ao som de uma música animada dos Beetles. Havia muitas pessoas ao redor dos garotos, que tiveram que ficar muito próximos enquanto dançavam. Remus, obviamente, sabia cantar a maior parte das músicas, e mesmo assim era possível dizer que Sirius estava se divertindo ainda mais do que ele.

Remus observava o caminho do cigarro entre seus dedos e seus lábios, como em uma cena em câmera lenta, e não conseguia desviar o olhar de sua boca se abrindo e soltando a fumaça lentamente. – "Tem certeza que ainda não quer experimentar?".

- "Tenho, eu.." – não conseguiu terminar a sentença enquanto as mãos de Sirius se depositavam em sua cintura e o canto do copo gelado esbarrou em seu corpo.

- "Abre a boca, de leve, e quando eu acenar, você inspira" – disse o encarando sobriamente.

Remus não conseguiu responder e não entendeu a onde ele queria chegar, apenas observou seus movimentos. Sirius se aproximou muito de seu rosto e Remus fraquejou por antecipação. Seus olhos se encontraram e Remus afastou os lábios, enquanto Sirius dava uma forte tragada. O animago desceu o olhar para a boca do colega e Remus fez o mesmo. Com um leve aceno ele levou seus lábios pra muito, muito perto e assoprou a fumaça para dentro da boca de Remus, enquanto o outro inspirava, fechando os olhos.

Pele que é pele não mente
Não esconde, não dissimularia
Meu corpo seja palco
Vertido e tomado em pelo à tua poesia

Por alguns segundos, seus lábios se encostaram.

O coração de Remus deu um salto e ele se afastou bruscamente. Quando abriu os olhos, o grifinório o encarava divertido, e já havia se afastado e dançava como se nada houvesse acontecido há apenas alguns segundos. – "Viu, eu disse que era bom!" - Sirius disse com um olhar de quem compreendia mais do que havia sido dito.

Realmente.


Já era a segunda banda da noite e o enésimo copo na mão dos garotos. A pista de dança ficava cada vez mais apertada ao passo que as pessoas ainda estavam entrando no bar, e os bruxos mal tinham espaço pra moverem os braços. O calor era tanto que o suor escorria pela nuca de Remus, e Sirius, que pulava e dançava freneticamente, já estava encharcado.

Ele realmente pertencia àquela vida, pensou Remus.

Os garotos davam risada e iniciaram conversas com um grupo de jovens ao redor. Virava e mexia Sirius vinha gritar algo no pé do ouvido de Remus, segurando levemente suas costas e o puxando para perto. O barulho era muito e as conversas inviáveis. Remus, que já tinha perdido provavelmente um terço da coordenação motora, se deixava cair rindo em seus braços.

- "Pega um copo de uísque lá pra gente" disse segurando firme no canto da cintura do lobisomem e rindo em sua orelha.

Remus atravessou a pista lotada e depois de tropeçar em uns dois bêbados e sentir algumas mãos em suas calças, atingiu o bar onde o loiro ainda atendia.

O pedido foi feito e quando ele vinha trazendo seu copo, olhou de relance para a área do palco e riu ironicamente – "Acho que seu amigo encontrou diversão". Remus olhou sob os ombros e se deparou com um Sirius agarrando ardentemente uma loira de estatura baixa que agora enlaçava as mãos em seus cabelos e sumia com o rosto na curvatura do seu pescoço.

O coração de Remus apertou pela visão da cena que já havia presenciado, hm, umas seiscentas vezes, e por um momento ficou em dúvida se deveria voltar pra lá e atrapalhar o casal.

O lobisomem ignorou o bartender e virou um grande gole da bebida, avançando em direção ao mar de pessoas dançando alegremente na pista.

Voltando ao local em que se encontrava Sirius e garota, Remus continuou dançando de maneira que o espaço cada vez mais lotado o fazia quase cair sob a dupla que se amassava agitadamente na sua frente.

- "Heeey Moony!" – Sirius berrou, arrancando o copo da mão de Remus, e se servindo de um grande gole. Os sentidos do lobisomem estavam tão alterados que ele nem mesmo percebeu quando a loira virou-se de costas para Sirius e agarrou sua camisa, encaixando as pernas com as suas, dançando e esfregando todo o corpo entre os dois garotos.

Tímido, Remus massageou os olhos na tentativa de trazer um pouco de sobriedade ao momento, notando que a atitude era em vão.

Sirius pegou a garrafa de cerveja que estava na mão da garota e por cima da cabeça do lobisomem gritou – "Remus, abre a boca!" – e já com a sanidade completamente extinta pela segunda vez na noite, Remus ignorou o lado do cérebro que gritava isso vai dar errado. O liquido escorreu pelo canto de sua boca e ele quase engasgou. Quando voltou a cabeça no lugar, sentiu as mãos de Sirius chacoalharem absurdamente seu cérebro.

Ele e Prongs tinham a mania insuportável de fazer isso pra acabarem de vez com a sobriedade e atestarem o grau de embriagues dos marotos. Sempre funcionava. E funcionou dessa vez.

O garoto riu alto e xingou Padfoot de um trilhão de nomes. O salão girava e a música parecia estar rasgando seus tímpanos.

Remus fechou os olhos e pode sentir mãos leves subindo pelo canto de seus braços enquanto um corpo feminino ia se aproximando cada vez mais. O hálito quente da garota que dançava sensualmente em sua frente atingiu seu pescoço e Remus arrepiou. Seus olhos arregalaram para Sirius que deu uma gargalhada em sua frente – ele estava dançando bem atrás dela com as mãos passeando atrevidamente pelo seu corpo.

Em um movimento rápido ela terminou de subir as mãos e puxou o rosto do moreno para bem perto do seu. Olhos grandes e esverdeados o encararam e sorriram com um lascivo levantar de sobrancelhas e a última coisa que Remus se lembra foi de sentir sua respiração quente próxima quando ela selou a distância com um beijo quente.

Andei depressa para não rever meus passos
Por uma noite tão fugaz que eu nem senti
Tão lancinante, que ao olhar pra trás agora
Só me restam devaneios do que um dia eu vivi

O garoto não sabia muito bem o que fazer então apenas continuou beijando-a, aproximando suas mãos de sua cintura. Seus lábios eram macios e tinham gosto de cereja. Uma das suas mãos estava no pescoço de Remus enquanto a outra se encostava em seu quadril, com as pontas dos dedos finos dentro da sua camisa.

Enquanto Remus ainda sentia o corpo da loira dançando junto ao seu, percebeu a presença de uma mão não tão delicada atravessar a cintura dela em direção aos seus dedos, repousando ali por um tempo. O lobisomem arrepiou-se quando a mão começou a caminhar pelo seu braço, e chegou a sua camisa, puxando-o para mais perto. Não precisava estar muito sóbrio para saber que não era possível ela estar com aquela mão ali. Sua respiração falhou quando sentiu um hálito quente se aproximando de ambos os rostos, e não conseguiu impedir seus olhos de se abrirem em meio ao beijo ávido que ela depositava em seus lábios.

Se eu soubesse que o amor é coisa aguda
Que tão brutal percorre início, meio e fim
Destrincha a alma, corta fundo na espinha
Inebria a garganta, fere a quem quiser ferir

Remus estagnou todo e qualquer movimento quando se percebeu a pouquíssimos centímetros do rosto de Sirius, pela segunda vez na noite, que depositava beijos fervorosos no pescoço da garota. Eram suas mãos que estavam na camisa de Remus e agora, ops, ah Merlin, tinham entrado pra baixo dela e tocavam rispidamente a pele de seu abdômen.

Seus olhos se encontraram, enquanto estavam conectados através de um corpo que se movia incessante em meio aos seus. Remus não tinha certeza, mas achava que tinha trocado olhares com Sirius durante certo tempo ali, tentando decifrar o que ele estava querendo dizer com aquele olhar enigmático, lápis borrado, prata brilhante.

E nessa saga venho com pedras e brasa
Venho com força, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer

A garota separou seus lábios e passou uma das mãos para trás de seus ombros, tocando o cabelo de Sirius, virando o rosto e beijando-o novamente.

Remus ficou estático observando a cena que, antes o havia embrulhado o estômago, mas que agora era insinuante e sensual.

Separaram os lábios, mas mantiveram os rostos próximos, e Sirius novamente o olhou. Remus , tentando ser forte, sustentou o olhar. Remus, pelas calças de Merlin o que está havendo aqui? Mente nefasta.

O garoto percebeu-a se afastando um pouco, de modo que ficassem os três mais próximos. Sirius agora havia levado a mão para as costas do grifinório, ainda por baixo da camisa, que sentiu uma mão da garota puxando seu rosto ao mesmo tempo em que a outra mão trazia Sirius mais para perto.

Remus fechou os olhos e tremeu por antecipação. Sentiu hálitos quentes esbarrarem nos dois lados de seu rosto, quando esbarrou em um par de lábios macios, literalmente um par. Suas pernas tremeram e achou que não agüentaria em pé. Sua mão buscou a camisa de Sirius que estava ao seu lado, a outra estava depositada na cintura da garota.

E era de gozo, uma mentira, uma bobagem
Senti meu peito, atingido, se inflamar
E fui gostando do sabor daquela coisa
Viciando em cada verso que o amor veio trovar

O moreno abriu lentamente os lábios e, temerosamente sentiu duas línguas passearem por sua boca. Estou beijando Sirius. Estou beijando Sirius e uma menina. Ao mesmo tempo. Dedos firmes pressionaram suas costas e os três se aproximaram ainda mais.

A dança continuava e com ela o beijo frenético que os três trocavam. Remus fez de tudo para gravar na memória aquele toque, o gosto de cigarros e uísque misturado a cereja.

Sentiu Sirius morder levemente a parte inferior de seus lábios e achou que desmaiaria. Remus devolveu a investida passando lentamente a língua pelos seus lábios, e pode perceber um sorriso em meio aos beijos. Devo estar ficando louco. Remus não queria que o beijo acabasse, mesmo havendo entre eles uma garota, esse era o momento que havia esperando por tanto tempo. Nunca acreditou que realmente aconteceria.

Meus lábios tocando os seus.

Mas, de repente, uma farpa meio intrusa
Veio cegar minha emoção de suspirar
Se eu soubesse que o amor é coisa assim
Não pegava, não bebia, não deixava embebedar

E depois disso, Remus não se lembra de mais nada.


Consegui finalmente finalizar minha primeira fic Wolfstar. Faz anos que eu quero escreve-la, tive esse ideia há muito tempo, mas nunca conseguia! Em algumas madrugadas inspiradas a história fluiu.

Próximo capítulo merece ser lido, acreditem!

Comentários são super bem vindos :D

Mischief managed