Os cabelos negros, os lábios rosados, os olhos. Aqueles olhos tão verdes quanto esmeraldas, resplandecentes à luz do dia, que me encaravam sempre com ódio, nojo e, recentemente, pena. Se eu pudesse, faria tudo de novo. Não queria ter começado daquele jeito, nem ter continuado as provocações, muito menos ser arrogante do jeito que fui. Porém ele não era nenhum santo, se achava tanto quanto qualquer Malfoy.
Ele não era melhor que eu, assim como que nunca fui bom como ele. Ele escolheu seguir o caminho certo, teve o apoio de todos, e não era pressionado para ficar ao lado de Você-Sabe-Quem.
Harry Potter sempre fora destinado a ser o herói.
Não importava o quanto eu pensasse, tentasse fugir ou adiar o inevitável; meus pais morreriam em qualquer passo em falso. Apesar do meu pai ser o maior motivo da minha desgraça, eu não o odiava. Pelo menos não tanto quanto deveria. Minha mãe sempre fora fiel à família, e eu sempre soube que podia contar com ela.
O passado não podia ser mudado, aliás, eu não o faria mesmo se pudesse. Tudo me trouxe coisas horríveis, sensações que permanecem em meus pesadelos, mas me trouxeram a maior alegria que eu poderia ter; o motivo de eu conseguir fazer um Patrono agora. Scorpius Malfoy.
Me casei com Astoria Greengrass há muito tempo. Não por amor, tudo pela conveniência. No início foi difícil, dolorido, como se fosse algo errado e absurdo, porém me acostumei com esses sentimentos. Sofrer se transformara em rotina. Claro que o motivo não era ela. Astoria era uma boa esposa, mas não era quem eu queria.
Ah, meu amor platônico. Sua aparência tão perfeita, sua personalidade forte e teimosa, assim como eu era. Harry Potter; o ser por quem me apaixonei tão perdidamente, e nunca poderia sequer tocar no assunto. Era fato que minha esposa falecera, e que meu filho era amigo do filho de Harry, além de que estávamos maduros, sabíamos que não poderíamos brigar sem parar. Todavia não era seguro.
Ele ainda era casado.
Gina Weasley, provavelmente a pessoa que mais odiei em toda a minha medíocre vida. Ela o tirou de mim, não sei com que propósito. Na verdade ele nunca foi meu, e nunca seria. Afinal, a mulher dele ainda estava viva, ao contrário da minha.
Aquilo doía. Ardia em meu peito toda noite, fazendo-me lembrar de como fui babaca. Eu apenas o machuquei, o ataquei e o provoquei por anos. Por que ele me perdoaria? Não via motivo algum, muito menos razão para que ele largasse Gina.
"Me desculpe." Murmurei no quarto silencioso, segurando a vontade de socar aquela traidora do sangue maldita. Não que eu me importasse muito com esse assunto atualmente, mas não mudava o fato de que a queria morta.
Só que havia um pequeno e lindo detalhe: ele a amava. E eu não era amado por ninguém.
Até mesmo a sangue-ruim achara alguém para aguentar as loucuras delas, um par bem combinado, apesar de tudo. Convenhamos, Harry merecia alguém melhor. Talvez um rapaz loiro e de olhos azuis, cuja família tinha caído muitas posições. Não, ele não me queria. Nunca iria me querer. Eu sentia o rancor que ele ainda guarda, toda vez que íamos conversar com os professores, já que nossos garotos aprontavam cada uma.
Me senti feliz ao me lembrar dos dois. Eles construíram um laço forte de amizade que eu poderia ter tido com Potter, provavelmente até mais.
Droga, eu morreria pensando nele.
Era cansativo. Chegar em casa todo dia após o trabalho e ter aquele bruxo na cabeça não era muito saudável. Inclusive quando ele era casado.
Eu necessitava de algo que nunca teria.
As lágrimas desceram rápidas, me deixando com raiva. Eu odiava chorar. Ainda mais chorar por Harry Potter.
— Droga, Potter — Funguei, fechando os olhos com força. — Droga!
Eu estava apaixonado.
Ele também. Claro, por outra pessoa.
Eu chorava à noite.
Ele ria com a ruiva.
"Eu o amo." Pensei, batendo minha cabeça na cama.
— Eu amo Harry Potter.
