Existem diversas coisas pouco dignas, entre elas, pessoas ruivas, pessoas ruivas que gostam de trouxas, pessoas ruivas que gostam de trouxas e são Gryffindor. E se essa coisa pouco digna for uma Weasley, qualquer chance de redenção é anulada. Ainda mais indigno que isso é observar o Sr. Malfoy agindo como um palhaço e destruindo a dignidade da minha casa.

Aparentemente, não posso fazer nada contra isso, mas é incrivelmente repugnante assisti-lo derretendo para aquele rosto sardento, vê-la não prestar muita atenção. Pequenos olhares desconfiados.

O termo 'vergonha alheia' era expresso com maestria nos meus sentimentos, sempre que via tal cena. Não que eu não soubesse o que era uma ruiva Gryffindor, o quanto isso poderia mexer com a índole de um bom Slytherin, como eu sabia disso, mas nunca imaginei que o Sr. Malfoy com toda sua história de sangue-puro, honra e weasels.

Certo, talvez estivesse me divertindo com a crescente irritação do Sr. Malfoy, talvez eu não percebesse que os olhares desconfiados de Weasley eram cada vez mais longos e... interessados?

Talvez preferisse não perceber tais coisas. Talvez não devesse andar pelos corredores durante a noite, nem verificar as salas, talvez devesse ter ido dormir, porque assistir Sr. Malfoy e Weasley numa parede do corredor perto das masmorras não está entre os dez momentos mais felizes que meus olhos presenciaram. Escutar uma risadinha baixa e ofegante vinda da garota vermelha, que estava ainda mais vermelha não foi um som muito desejável de se ouvir.

Já vi muitas cenas desagradáveis, fui um Comensal da Morte e freqüentei as mesmas aulas que Black e Potter, posso falar que vi coisas desagradáveis demais para qualquer pessoa, mas aquilo beirava o inaceitável.

Inaceitável era a palavra que melhor definia aquele comportamento. Não esperava muita coisa de uma coelha como uma Weasley, mas sentia um pesar profundo por meu aluno.

Pigarreei da forma mais desagradável. Eles se separaram, assustados. Ela ficou ainda mais vermelha e baixou os olhos, Draco encarou a parede atrás de mim.

Imaginei todos os castigos que poderia aplicar, todas as formas de tirar pontos dos Gryffindor, todas as possibilidades e formas de expor a vergonha que era aquela cena absurda, então Weasley ergueu a cabeça, desafiadora. Aparentando estar disposta a assumir as conseqüências, tocou de leve a mão do rapaz surpreso com sua coragem. Ah, Gryffindors e sua coragem.

A única diversão naquilo seria imaginar a cara de Potter, quando sua namoradinha estivesse com um Slytherin... Pelo menos um Slytherin conseguiu a ruiva que lhe interessava. Tentei não compará-las. Nem se nascesse mais algumas vezes aquela Weasley seria como ela.

Ambos esperavam que eu dissesse alguma coisa. Apenas dei as costas para aquela cena lamentável. Escutei o suspiro aliviado de Draco, preocupei-me por um momento com minha reputação, mas percebi que nenhum dos dois diria uma palavra e se dissessem, quem acreditaria? Seria como dizer que um Malfoy e uma Weasley combinam de modo harmonioso e isso claramente não é verdade.

- Detenção, Sr. Malfoy e menos cinqüenta pontos para Gryffindor. – disse antes de virar o corredor.

Se Malfoy e Weasley estavam ali, eu não poderia duvidar de muita coisa.