Disclaimer: Iinchou no Himegoto não me pertence, se pertencesse Narumi-sensei teria pelo menos o primeiro nome e jamais terminaria a série solteiro. Hitomi, no entanto, é fruto da minha imaginação fértil.
Era um adereço fofo e delicado, só uma bijuteria, é verdade, mas sua forma em coração e mesmo a corrente eram bem trabalhadas; uma peça muito bonita e provavelmente popular entre adolescentes.
"Narumi-sensei, agradeço a gentileza, mas Kagura disse que eu não posso aceitar, então..."
"Eu disse pra você jogar isso fora," ele ouviu o namorado resmungar atrás dela.
E teria sido melhor mesmo, Narumi Rihito deu um suspiro derrotado. Não só porque receber o presente de volta tinha sido um terrível golpe em seu orgulho - ele estava perdendo para um pirralho delinquente?! -, mas porque aquilo não tinha agora nenhum valor para ele. Na verdade, só tivera durante o tempo em que Ayano o tivera preso ao pescoço, porque era algo que ele dera a ela.
E só. Porque, se alguém lhe perguntasse onde aquilo havia sido comprado, ele nem saberia dizer: não tinha sido ele quem comprara ou escolhera.
"Ué, você não o deu de presente?" Uma voz feminina soou atrás dele, fazendo-o girar na cadeira para mirar a recém chegada. "Não, espera! Já sei! Foi rejeitado?!"
A pergunta tinha sido feita quase aos risos em zombaria, mas a expressão da moça se tornou uma mistura de incredulidade e surpresa quando ele continuou a fitá-la sem qualquer emoção.
"Nossa, então você é mesmo humano," e tomou seu próprio lugar, ao lado da mesa dele.
Rihito estalou a língua nos dentes e fechou a caixinha nas mãos, pondo-a de lado antes de voltar a organizar seus arquivos no computador como vinha fazendo antes de ser interrompido pelo casal de estudantes.
Apesar de não dignar mais nenhuma atenção à ela, sua colega de universidade e, por sorte ou azar, de estágio naquela escola, Yamano Hitomi ainda o observava atentamente, como que esperando uma explicação detalhada. Depois de quase quinze minutos aturando aqueles olhos cinzentos, especulantes e intensos, cravados em seu perfil, ele resolveu reconhecer sua presença.
"Eu não te devo nada, Yamano."
"Ah, mas eu acho que deve sim. Principalmente porque, oh, meu Deus, pra quem foi mesmo que você pediu ajuda uns dias atrás?"
E lá ia ela novamente...
"Ah! Fui euzinha, não é?" E respondeu a própria vida pergunta, teatralmente. "Puxa, que bom que você lembrou que, porque você estava ocupado com os prazos, eu aceitei escolher o presente da sua aluna favorita."
"Já lhe agradeci por isso," e começava a ficar impaciente.
"Mencionei que naquele dia eu acabei perdendo minha hora no salão?" Ela lamentou, fingindo secar algumas lágrimas, "e é um colar tão bonitinho, praticamente o sonho de toda garota!"
"Ok, basta! Você quer saber? Eu explico todos os detalhes da minha saga de rejeição que você tem estado louca para ouvir."
E o Narumi finalmente explodiu, até erguendo-se do acento para encará-la exasperado com sua insistência. Mas foi surpreendido quando ela começou a rir novamente, dessa vez sua risada suave e natural.
"Você se exalta muito fácil," e levantou-se também, apanhando a bolsa em cima da mesa. "Já está na nossa hora; por que não me dá uma carona e me conta no caminho?"
Ele não teve como negar. Hitomi sempre fora assim, o provocava quando percebia que algo o perturbava até que ele resolvesse se abrir com ela, mesmo contra a vontade. Ela podia ser tão irritante que não entendia como podia ser amigo dela depois de tanto tempo aturando sua personalidade odiosa.
Mas, ela sempre ouvia seus problemas com seriedade, lhe dando conselhos, mesmo que o reprimindo por suas decisões. Como seus sentimentos nada platônicos por uma garota mais nova que, além de tudo, era sua aluna, por exemplo.
"Bem, mas como você a conhece desde antes disso tudo," ela começou, gesticulando para o ambiente todo da sala de professores provisórios, "acho que não tem problema."
Ou fora o que ela dissera quando ele acabara de contar sobre Ayano pela primeira vez, logo depois de ponderar brevemente. A Yamano se mostrava claramente oposta à ideia de Rihito nutrir sentimentos por uma colegial, porém, parecia entender que não era culpa dele e que começara antes da vida adulta.
Ele a admirava por isso, não sabia se no lugar dela conseguiria ser tão compreensivo e por isso mesmo, depois da primeira confidência, outras mais se seguiram, como aquela que acabara de terminar.
A moça desceu do carro direto para uma máquina de bebidas, optando por uma lata de café com caramelo e jogou uma água mineral para ele.
"Sabe, quanto mais você fala sobre ela, mais tenho vontade de conhecê-la," comentou depois de um longo gole na bebida gelada.
"Você iria possivelmente estragar toda expectativa da Ayano-chan de uma vida adulta decente..."
Dando uma olhadela cuidadosa para si mesma no reflexo da vidraça de uma janela, Hitomi não replicou ao comentário. A camisa preta era sem mangas e deixava parte do colo a mostra por conta dos dois primeiros botões abertos, ao invés de calça social usava jeans escuros e nos pés ankle boots, além disso, ao invés de um carro, a moça tinha uma motocicleta esporte. Mas o detalhe mais chamativo sempre seria o cabelo vermelho fogo que ela adorava arrumar nos mais diversos penteados e que, bem como a maquiagem, sempre lhe rendia reprimendas por parte de todos, tanto na universidade quanto no trabalho.
"Ainda bem que consegui provar que é natural," puxou uma mecha do cabelo para olhar de perto, "caso contrário já teriam conseguido me obrigar a pintá-lo."
"Durante a escola nunca lhe trouxe problemas?" Ele perguntou, em parte contente por poder desviar as atenções de seus problemas e parte curioso por aquele assunto nunca ter sido mencionado.
"Ah," ela sorriu fraco, talvez melancólico, mas ele não teve certeza, "naquela época meu avô ainda era vivo, então os professores nunca puderam dizer nada."
O Narumi sabia que o avô dela era alemão e também que ele a criara praticamente sozinho, principalmente depois que a avó adoeceu e faleceu. Antes que ela pudesse se formar no colegial, porém, o avô também morreu, mas a ruiva raramente falava sobre sua infância ou o que a motivara seguir a carreira pedagógica.
"Bem, vai desistir dela?" A pergunta direta o trouxe de volta à realidade no momento em que o moreno começou a divagar se sua aparência exótica teria lhe trazido problemas no passado, não entre professores, mas com os demais alunos.
"Eu jamais vou reconhecer aquele pirralho," ele respondeu prontamente.
"Crianças crescem rápido, Narumi."
Ele não entendeu o que ela queria dizer, mas ignorou e tirou a caixa do bolso para entregar a ela.
"Não tenho o que fazer com isso, fique para você."
A jovem pareceu hesitante por um segundo, mas logo apanhou o embrulho, colocando-o na bolsa e tirando de lá um envelope que reconheceu bem.
"Surpresa! Na verdade, também não tive tempo de comprar o presente quando você me pediu; eu tinha comprado esse colar por impulso no dia anterior..." e explicou em tom de desculpas, entregando o envelope para ele com a quantia que ele tinha disposto para que ela comprasse o presente de Ayano.
"Mas não se preocupe, eu não o usei: algo tão bonito não combina nada comigo. Não ficou zangado, né?"
"Não, o importante foi que ela gostou, ainda que tenha devolvido depois."
Tomaram seus lugares para assistir à aula momentos antes de o professor adentrar a sala.
E concordou em pensamento com ela. O colar não lhe cairia bem, mas não por ser bonito demais para ela, pelo contrário. Ele simplesmente carecia da elegância dela, inocente demais para encaixar em sua aparência madura.
