Era platônico. Acho que sempre fora.
Talvez fosse o seu jeito delicado de andar, seu estilo que se destacava com saias rasgadas e meias sete oitavos – terrivelmente sexy – ou apenas seu modo de viver um dia de cada vez que me deixavam dessa forma, fodidamente apaixonado. Era impossível não fitar seus expressivos olhos castanhos, ou seus cabelos avermelhados ao vento - cheguei até a pensar que se nós um dia tivéssemos um filho, ele seria ruivo, graças à mistura de meus fios cobres cobre com suas madeixas vermelhas.
Patético, eu sei. Como eu disse... Fodidamente apaixonado. Louco de amor se encaixaria bem, de qualquer maneira. Obsecado também.
O pior de tudo é que nunca serei correspondido... Sou apenas mais um de seus admiradores, ou tão insignificante quanto. Talvez pior. Ela com certeza deve me considerar um garoto mesquinho e que se acha bom demais para qualquer um nessa cidade chuvosa de fim de mundo que é Forks. Eu poderia ir embora morar com a minha mãe é Esme no Canadá, mas Bella Swan me fez ficar... Eu até aturo meu pai, Edward - que resolveu me batizar com o mesmo nome de velho dele - somente para vê-la. Para me permitir ter esperanças e nutrir algo que nunca iria acontecer.
Eu devo ter piorado tudo na última tarde, sem dúvidas. Eu não quero que me entendam mal, eu não faço o tipo estereótipo de adolescente sem neurônios, mas estava nevando muito e foi praticamente impossível não rir quando Newton e Crowley bombardearam um garoto alternativo chamado Christofer com bolas de neve até que esse caísse no chão e batesse a cabeça. Ela tinha que me notar e olhar para mim fora da aula de biologia justo nesse momento. Porque eu, Edward M. Cullen sou azarado para caralho.
Bella caminhou até o garoto, estendeu a mão para ele e deu uma carona até sua casa. Na Harley dela. Ele pode agarrar sua cintura em alta velocidade e receber alguma atenção. E esse fato nem foi oque me deixou mais irado com o moleque magricela de calças apertadas e cabelo repicado, e sim que fora o olhar de desapontamento que recebi de Bella no dia do incidente, ela nunca mais foi a mesma comigo. Nem nas aulas de biologia, onde ela costumava contar sobre sua mãe e seu marido famoso e jogador de baseball Phil, algumas lembranças sobre Phoenix... Ela agora me tratava como se eu fosse Mike Newton ou Tyler, com palavras frias sem direito a olhares. Nem mesmo aqueles isentos de emoção. Talvez fosse esse meu pior castigo por ter sido um adolescente escroto por uns instantes: ser para sempre privado de olhar de perto seus olhos chocolate.
Minha irmã Alice não ajudava muito, em todo caso. Era melhor amiga da Bella e no mesmo dia do ocorrido a levou lá para casa. Foi uma verdadeira tortura.
- Edward, não sei se você notou, mas esse barulho irritante é o sinal avisando que o almoço terminou e temos mais três tempos pela frente. - Ben me dizia. Eu sabia que aula era agora: Biologia. Faziam duas semanas que Isabella não era mais minha parceira na matéria, pois ela agora dividia a carteira com Angela Weber, que por sua vez era apaixonada por Ben, meu atual ter sido por esse fato que o ocorrido a seguir aconteceu, mas eu gosto de pensar que não.
Quando cheguei à sala, realmente me espantei de encontrar a garota Swan encostada em minha mesa - usando uma saia preta rasgada, meias de um incrível azul marinho que, de alguma forma, destacava ainda mais suas pernas, sneackers pretos com spikes, e um moletom do Ramones cinza. Adorável. Ela ergueu os olhos quando nos aproximamos.
- Hey Ben - ela começou sem dirigir o olhar para mim, como de costume. - você já tem par para o baile? - não, isso simplesmente não podia estar acontecendo... E realmente, não estava. - você sabe, as garotas convidam os garotos eu acharia interessante você sentar com Angela nessa aula. Você pode se surpreender.
- Seria demais - ele disse - Edward, você se importaria se...? – Bem deixou a frase suspensa no ar.
- Sem problemas. - respondi - vá e aproveite.
- Eu me sento com Edward hoje, Ben. Não se preocupe. - Bella se prontificou e eu pude, depois de semanas, capturar aqueles lindos olhos castanhos nos meus. Mas eu nada disse... Do jeito que sou, poderia estragar tudo. Novamente. Porque sou um fodido burro e estar perto dela já era um tanto gratificante. Isso até o professor entrar na sala liberando o comitê de organização do baile e deixando a aula livre, contanto que os restantes permanecessem dentro do recinto. Sem matéria, não podia deixar o silêncio se instalar entre nós.
-Então... - comecei - você vai ao baile?
- Não se faça de engraçadinho, Cullen.
- Não estou. - rebati - apenas estou curioso.
- Vou estar ocupada no dia, se quer saber.
-Faltam dois meses, Bella. - ela ergueu o olhar para mim desafiadoramente e disse:
- Eu tenho a agenda lotada - e deu de ombros. Ela realmente tinha. Era voluntária o abrigo de animais, se dedicava aos estudos e nos fins de semana sempre ia para La Push ou para alguma cidade um tanto menos pacata do que Forks. Quando a última opção ocorria, era sempre vítima de fotos graças à fama do padrasto e, claro, com sua beleza e nome vinculado, era óbvio que seria um alvo. De certa forma, eu acreditava que esse fosse outro motivo por ela estar em Forks além da liberdade que queria dar a sua mãe - não era fã de atenção. Eu possuo essa estranha crença de que, no fundo, Isabella apenas queria se esconder. A chuva apertou do lado de fora e eu pude ver Bella se encolher. Uma coisa que discordávamos: ela odiava a chuva, enquanto eu ficava deliciado com seu barulho.
- Acho que seremos dispensados mais cedo por causa do baile - comecei - é perigoso você voltar de moto para casa, que tal se eu te desse uma carona?
- Eu sei me cuidar - ela disse de forma teimosa, como uma pequena criança.
- Apenas não quero que fique doente.
- Por que se importa, hein? Por quê? - cruzou os braços na frente dos seios volumosos me desafiando. Eu podia ser tudo, mas covarde não.
- Porque eu quero te levar para casa e tenho algumas perguntas.
-Perguntas, Edward? Francamente... eu não lhe devo respostas. – refleti por um momento. Será que não haveria nada que eu pudesse fazer para reconciliar?
- Sabe – comecei – nunca achei que você fosse do tipo "Alice".
- Sua irmã, Alice? – ergueu levemente as sobrancelhas ao perguntar.
- A própria... agindo de forma esnobe com que mal conhece. – ela ria abertamente nesse momento.
- Cullen, conheço muito bem o seu tipo. E não estou sendo esnobe, apenas não quero me dar ao trabalho de lhe dar explicações pela minha atitude.
-Então você admite que elas mudaram? – Bella arregalou levemente os olhos. A chuva pareceu concordar e rir internamente comigo, soltando um furioso estrondo que fez a garota ao meu lado se encolher levemente. Talvez de susto, talvez para se proteger de minhas acusações que se encontravam afirmadas.
- Eu apenas... – parou e suspirou – eu pensei que você era diferente, Edward – ela agora havia se inclinado levemente em minha direção, com os olhos fixos no meu e as mãos nas minhas. Sua voz era doce como mel – mas então, deu para notar que você era como os outros: uma farsa.
O sinal tocou e Bella se prontificou em sair quase correndo, mesmo tendo tropeçado em um dos alunos e gaguejado um "desculpa" tímido, fazendo com que eu não conseguisse alcança-la. Deveria estar assustada... afinal, não era de seu feitio agir da forma que o fez. Costumava ser doce, tímida e caridosa. Perfeita demais. Nunca fora rancorosa. Era horrível descobrir que, justo comigo, ela o era.
Fomos dispensados – como eu previra – e eu segui até a saída e calmamente andava pela chuva, ao contrário do restante dos alunos. Apenas duas estudantes estavam paradas, deixando a água correr por elas: Alice e Isabella. Minha irmã mais nova saltitou até mim e disse sorridente:
- Você irá levar a moto de Bella até em casa, enquanto nós duas iremos no carro –eu possuía a leve impressão de que havia perdido algo na linha de raciocínio de Alice. Franzi as sobrancelhas.
- Não seja inoportuna, Alice. Eu os sigo na moto.
Eu realmente não possuía uma resposta. Nem ser mal educado com Bella por estar magoado, nem ser doce na esperança de mudar alguma coisa. Só conseguia olhar para aquelas meias sete oitavos azuis que se tornavam minha mais nova perdição.
