Prólogo

- Você é Cloud Strife? – perguntou Gordon, general do exército.

-Sim, senhor. – respondeu o jovem, abaixando a cabeça.

- Claro que é, garoto idiota! – disse o homem gordo e barbudo, sentando-se atrás da mesa de carvalho, que tinha um retrato de uma mulher e uma garota. Sua esposa e filha, respectivamente – Sabe por que está aqui, bastardo?

- Sim... Senhor. – disse Cloud, com a cabeça ainda baixa.

- Então vamos, me diga. – Gordon agora estava com os cotovelos apoiados sobre a mesa, as mãos entrelaçadas na altura do nariz, observando atentamente Cloud com seus olhos miúdos atrás de seus óculos de armação redonda um pouco amassada e de lentes sujas.

- Eu explodi um T4-M quando joguei o cigarro que estava fumando sobre uma poça de gasolina vazada, que ia para o tanque de gasolina do Jipe... Mas não foi por querer, eu não vi a po...

- E ACABOU FERINDO DOIS SOLDADOS QUE ESTAVAM PROXIMOS, SEU MERDA! – berrou Gordon, agora em pé depois de um salto irritado – Sabe o que você é, seu idiota? Você é um recruta de 20 anos que acaba de ferrar teu pelotão! A merda da Rússia está fodendo a gente nessa porcaria de guerra e você fica ai, rindo, fumando e bebendo coisas clandestinas e explodindo Jipes Militares! Eu deveria te expulsar do exército, mas essa porra de país está com falta de soldados... Nós deveríamos sair pela rua e pegar qualquer um desses moleques que ficam trancados em casa jogando jogos de computador para defender sua terra, se isso fosse permitido.

- Isso quer dizer que eu vou continuar no exercito? – perguntou Cloud, esperançoso.

- Nem por um caralho! Você vai pra um lugar pior que o pelotão que você está! Você vai ser transferido para um pelotão que, se os russos resolverem bombardear aquela porra, iremos comemorar. Lá só tem gente filha da puta que nem você, que acabaram fazendo merda "sem querer", e complicou a vida do exército Americano. Lá você irá fazer as missões mais absurdas do mundo, com cerca de 10% de sucesso. Se vocês morrerem, iremos mandar mais gente do pelotão, e se esses morrerem, iremos mandar mais e mais, até todos vocês morrerem, seu idiota! – Gordon jogou violentamente a ficha de transferência sobre a mesa. – Assine isto, você vai para o Tragedy Squad.

Uma semana depois daquele delicioso papo, Cloud estava em um helicóptero direto para o deserto. O veículo não havia sido liberado especialmente para seu transporte; a verdade é que o deserto era caminho para o verdadeiro objetivo do piloto, um sujeito bacana chamado Cid que em geral sentia pena dos recrutas e lhes dava carona, que iria aproveitar a bela paisagem deste local para abastecer.

- Ansioso garoto? – perguntou Cid virando a cabeça para trás, para olhar Cloud e sorrir amigavelmente para o rapaz.

- Ah, mal posso esperar – Cloud respondeu em tom de ironia. Definitivamente não sabia o que esperar de um lugar cujo nome era Tragédia.

- Esquenta não garoto, – Cid tentou tranquilizar o jovem – o último garoto que morreu no TS foi há doze anos. Se você ficar na sua, talvez o pessoal te deixe em paz.

- Ah, obrigado pela dica – Cloud acenou com o cigarro entre os dedos e deu mais uma tragada, jogando o palito de papel carbonizado pela abertura lateral do helicóptero.

O veículo aterrissou em pleno deserto. Cid deu algumas instruções sobre o abastecimento enquanto Cloud o aguardava, encostado em um carro. Cid aproximou-se do rapaz, sorridente.

- Bom, não dá pra chegar na base de helicóptero. Você será levado por aquele sujeito ali. É um amigo meu – Cid tratou de tranquilizar o rapaz. Cloud apenas concordou com a cabeça, indiferente – Bem, que tal um rango antes disso? Não se sabe quando será sua próxima refeição – e o homem riu sem jeito.

- Não tô com fome...

- Anda rapaz! Não se acanhe. É por minha conta!

Cloud o encarou medindo as opções.

- Se você paga...

Cloud devorou o prato como se fosse a primeira vez que comia em meses. Cid apenas o observava sorrindo. Cloud ainda comeu um hambúrguer, milk-shake, fritas e duas tortas. O piloto apenas o observava carinhosamente.

Terminada a refeição, o rapaz limpou a boca com a manga e encarou Cid, desconcertado:

- Por que está sendo legal comigo?

O homem o encarou pensando se respondia ou não e levantou-se. De costas respondeu:

- Porque tenho um filho de oito anos, e o imagino estando no seu lugar. Não é o que um pai deseja...

- Deve ser por isso que ninguém nesse TS tem pais, né?

- Vamos. Ainda tenho uma longa viagem pra fazer – disse, ignorando a pergunta. Cloud apanhou sua mochila e o seguiu. O tal amigo veio ao encontro do loiro. Os dois se cumprimentaram e quando Cloud virou-se para se despedir de Cid, este já estava entrando em sua nave. O loiro deu de ombros e entrou no carro.

Foi uma viagem longa e entediante. Não havia paisagem pra se distrair e o sol era de matar no capô da caminhonete. Cloud conferiu as horas em seu relógio de pulso que, se estava certo, marcava duas e meia da tarde. Poucos minutos depois de saber a hora, o tal amigo buzinou indicando que haviam chegado. E só podiam ter chegado mesmo: estava lá a base militar, que mais parecia uma colônia de férias. O rapaz desceu do carro e deu uma visualizada em tudo: havia pessoas pulando num tipo de lago sujo, tinha uma grande mesa com jogadores de baralho, e muitas outras coisas naturais numa colônia de férias. Não numa base militar.

Cloud foi parado por um sujeito comum, com pinta de sargento.

- Você é o novo recruta?

- É... pode ser.

- Venha comigo.

Cloud seguiu o sargento por dentro da base, até chegarem numa tenda que parecia ser a maior de todas. Muitas pessoas praticavam coisas ilegais por ali. Pelo menos foi o que o recruta pôde constar em uma veloz olhada. Parecendo já saber do que se tratava, um rapaz de cabelos negros espetados e olhos azuis levantou-se de uma mesa e aproximou-se sorrindo. Cloud irritou-se com o fato de todo mundo sorrir naquela região.

- Você deve ser Cloud Strife, o novo recruta.

O loiro fez que sim.

- Sou Zack. Zack Fair. E serei seu orientador nos primeiros dias.

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