BREAKTHROUGH
Notas:
1. Estou assistindo a mais seriados policiais do que deveria, e o bom e velho amor entre parceiros (Steve/Danny, estou olhando para vocês) me encanta, fazer o quê. Minha experiência com medicina forense é zero, a menos que todas aquelas análises de Castle e Dexter sirvam para alguma coisa. Meu conhecimento sobre leis e economia também é zero. Pesquisei o que pude, perdoem qualquer coisa gritantemente sem sentido, estou aberta a correções.
Também não sou escritora de mistério. O caso é só pano de fundo para a fic, por mais que tenha sido divertido de escrever. Não esperem muita coisa dele porque não tenho essa capacidade.
2. Essa fanfic é universo alternativo – sem magia, sem Hogwarts. Então a personalidade dos personagens (principalmente dos Marotos, que são os que mais aparecem) estão diferentes do que costumo imaginar dentro do canon. Aqui eles não cresceram juntos, não teve Voldemort pra estragar a vida de ninguém, o Remus não sofreu por ser lobisomem, etc etc. Tentei imaginar como eles seriam sem todas essas coisas que moldam a personalidade deles nos livros, e o que continuaria.
3. Ao longo de toda a história são usados palavrões e uma escrita mais coloquial nas falas dos personagens. Esse primeiro capítulo também contém sexo (implícito, mas ainda assim fiquem atentos).
4. "Breakthrough" tem o sentido de um avanço ou descoberta muito importante, em inglês. Como o título não é lá muito criativo, preferi deixar em inglês para dar um charme. (?) A ideia da fanfic surgiu da proposta do Challenge de Clichês do Fórum 6 Vassouras, mas infelizmente não consegui terminá-la a tempo.
5. Faz MUITO tempo que não escrevo nada com mais de um capítulo, espero que gostem!
PARTE I DE VI
"James, preciso falar com você".
"Aconteceu alguma coisa?".
"Aconteceu. Calma, não foi nada trágico, não precisa me olhar com essa cara. É só que... acho que fiz merda".
"E isso deveria me surpreender por quê...?"
"Como seu humor é refinado e inteligente, Potter", James riu e Sirius respirou fundo. "Dessa vez foi sério, ok?"
"Você vai me contar, ou tenho que decifrar algum código antes?"
Antes que Sirius pudesse responder, a pequena discussão foi interrompida.
"Vocês sabem que eu adoraria saber o que aconteceu, mas podemos prestar atenção no corpo por um minuto?", disse Peter, apontando para o cadáver que estava examinando.
James pareceu envergonhado e ficou quieto, Sirius apenas fez sinal para ele continuar.
"A bala usada é uma calibre .38. A vítima recebeu dois tiros, o primeiro no meio do peito, o segundo perfurou um pulmão. Pela entrada da bala, a pessoa que atirou tinha mais ou menos a mesma altura da—".
A porta da sala abriu com um rangido, fazendo os três homens olharem para quem entrava. Remus estava ainda com os cabelos molhados, um cheiro forte de perfume e cara de quem estava de ressaca. Ele murmurou um "desculpe", gesticulando para Peter continuar a explicação.
James pôde notar perfeitamente o nervosismo de Sirius quando ele viu quem chegara.
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QUINZE HORAS ANTES
Remus gostava de muitas coisas sobre seu trabalho. Ele gostava de sentir que estava fazendo uma coisa útil, gostava de sentir que estava ajudando as pessoas a encontrarem um pouco de conforto em um momento difícil. Ele gostava de trabalhar com Sirius e James, e gostava de sair com Peter depois do trabalho. Os relatórios não eram sua parte preferida, mas ele podia viver com isso.
Mas se tinha uma coisa que Remus detestava, era quando o suspeito tentava fugir.
Correr tinha sido uma parte importante do treinamento, então a parte física era relativamente tranquila. O maior problema é que Remus não conseguia entender porque alguém tentaria fugir sob a mira de uma arma, e sabendo que o policial provavelmente tinha reforços e autorização para atirar.
Ele ouviu o barulho de alguém caindo no chão – o que com certeza tinha doído – e Sirius dizendo "John Baker, você está preso pela suspeita de assassinato...". Sirius colocou as algemas no homem e levantou-o bruscamente. Ele não era exatamente conhecido pela delicadeza com que tratava as pessoas que prendia, algo que Remus tinha certeza que ainda lhe renderia um processo por má conduta na Corregedoria.
"Você dirige", disse Sirius, jogando a chave para Remus. Baker estava devidamente preso na traseira do carro.
"Sério?"
Sirius deu de ombros. "Muita adrenalina".
Eles chegaram à delegacia, onde o homem ficaria detido por quarenta e oito horas. O objetivo agora era fazê-lo confessar, para que não passasse o julgamento em liberdade.
Interrogar suspeitos era uma das partes preferidas de Remus. Havia algo no jogo psicológico que era... encantador. Bom, talvez não exatamente, já que em geral estavam lidando com sociopatas ou psicopatas, e decididamente não havia nada de encantador neles. Interessante seria uma descrição mais precisa.
Enquanto Sirius levava Baker para a sala de interrogatório, Remus correu até o quinto andar para chamar James. Os dois costumavam fazer os interrogatórios juntos – Sirius raramente era uma opção viável, a menos que eles estivessem lidando com alguém facilmente impressionável que só estava precisando de um poder de persuasão um pouco maior.
"Alguma coisa especial?", perguntou James, enquanto iam para a sala.
"Baker tentou fugir, mas acho que não vai ter muita resistência aqui. Você lembra da ficha dele, uma série de assaltos a joalherias, nós temos duas testemunhas e a roupa que ele usou no dia do crime. Ele perdeu o controle da situação, atirou em Kate, fugiu". Eles chegaram à sala.
"Pelo visto, os outros três assaltantes não tentaram ajudá-lo, então provavelmente foram contratados por outra pessoa e estavam trabalhando juntos pela primeira vez. Frank disse que talvez o contratante seja um homem que eles estão procurando há três anos, Neal Carter".
James concordou rapidamente, entrando na sala e sentando-se na frente de Baker. Remus jogou a ficha criminal em cima da mesa, continuando em pé e folheando o documento.
"Rincon em 1977, Elegance em 79, Kingston em 80, depois disso foi pego e cumpriu três anos em Bristol... você tem um histórico e tanto em roubar joalheiras, John".
"Mas às vezes as coisas saem do controle, não é?", continuou James, sem tirar os olhos do homem.
"Essa foi uma das vezes, não é? As coisas saíram do controle porque Kate entrou no seu caminho. É, esse é o nome da atendente que você matou. Você disse para ela ficar longe do telefone, mas ela não te deu ouvidos...", disse Remus, ainda fingindo que estava lendo o arquivo.
"E aí você atirou nela. Três vezes, bem no peito. Os outros três homens que estavam com você fugiram antes, mas você precisava pensar no que fazer".
"Pra nossa sorte, isso fez com que tivéssemos testemunhas o suficiente que viram você jogando a arma do crime em uma lixeira".
Baker não disse nada, continuando a olhar para seus próprios pés.
"Não foi assim, John? Você matou a pobre garota à queima-roupa para não se arriscar. Não é curioso isso? E agora você está aqui, e nenhum dos seus comparsas dá a mínima se você se você passar a vida toda preso ou não", prosseguiu Remus, finalmente se sentando.
Houve um momento de silêncio.
"John", retomou James. "Acho que você não está entendendo muito bem sua situação. Você matou uma mulher, nós temos uma rua inteira para testemunhar contra você, nós achamos sua roupa suja de pólvora. É um beco sem saída".
"Isso significa que você vai passar no mínimo quinze anos na prisão. Cinco vezes a mais que a primeira pena. Bom, acho que dessa vez você estará mais acostumado".
Quando começou a trabalhar na área de homicídios, Remus não conseguia entender como algum policial podia negociar com um suspeito, prometendo redução de pena se ele colaborasse. Eles tinham tirado a vida de alguém e mereciam cada ano que recebessem de pena. Qualquer outra coisa seria injustiça à vítima e seus entes queridos.
Quatro anos depois, ele já aprendera que as coisas não funcionavam exatamente assim. Havia muitos casos que os policiais precisavam barganhar para chegarem onde queriam, ou a quem queriam. Negociar os bandidos menos poderosos para pegarem os grandes. Negociar para conseguir uma confissão que facilitaria o julgamento.
Ele esforçava-se ao máximo para sempre esquecer o nome das vítimas. Desse jeito era mais fácil disfarçar a culpa.
Baker continuou quieto.
"É, John, acho que Carter não liga muito para você", disse Remus. Finalmente conseguiu arrancar alguma reação do homem, que quase imediatamente levantou os olhos e o encarou.
"Carter deve ter prometido uma porcentagem tentadora, não é? Para você se re-estabilizar depois da prisão. Você nem queria voltar para essa vida... Mas vou te descrever outro cenário, John. É bem simples, na verdade. Você nos ajuda com o Carter, e nós ajudamos você".
Então Baker falou a primeira coisa em todo aquele tempo: "Como?".
Remus teve que resistir a um sorriso quando sentiu o tapa vitorioso que James deu em sua perna, por baixo da mesa.
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"Vamos tomar alguma coisa hoje?", Sirius propôs assim que deu seis da tarde. "Para comemorar?"
"Desculpa, cara, hoje tenho um encontro com a Lily", disse James, naquele tom estranho que sempre usava para falar da garota. "Ela 'tá tão apaixonada que mal consegue passar um dia sem me ver...".
"Ela, claro. Qualquer um sabe que até o treinamento com Moody é mais agradável que um encontro com você...", retrucou Sirius, fugindo da bolinha de papel que o amigo tentou lhe acertar.
"Ah, Sirius, você não consegue controlar seu ciúme...".
"Ciúme do que, se eu tenho o Remus? Não é, Remus?".
Remus assustou com a menção do seu nome, tão distante que estava da conversa. Seus pensamentos ainda estavam no caso - tinham conseguido uma confissão e ainda ajudado o caso de Frank. Ele já conseguia imaginar a revolta dos pais de Kate ao saber que o assassino não ficaria preso por mais de sete anos.
Só percebeu que Sirius estava encarando-o, e ele odiava quando Sirius o encarava. Concordar com o que quer que ele estivesse dizendo era a saída mais fácil, e por isso logo os dois estavam subindo na moto de Sirius em direção ao Três Vassouras.
O bar era o mais próximo e limpo do prédio, sendo frequentado principalmente por policiais. Sirius e Remus eram conhecidos o suficiente para conseguir uma mesa e duas doses de whiskey imediatamente, mesmo com a lotação do happy hour.
"Sabe...", começou Remus, virando a primeira dose para tirar seu pensamento de Kate. "Nunca consigo entender porque as pessoas tentam fugir. Não tem qualquer lógica. Será que eles pensam que são especiais, ou vão desenvolver o poder de atravessar paredes e fugir de todo mundo?"
"Instinto de sobrevivência", retrucou Sirius, dando de ombros. "Eles sabem que a gente só vai atirar se eles atirarem primeiro. Vale a pena o risco".
"O risco sempre rende meus pulmões estourados de tanto correr".
Sirius riu, pedindo mais duas doses. "Você não tentaria fugir, então?"
"Eu não iria precisar, porque seria esperto demais para ser pego. Sim, até por você", completou assim que o outro abriu a boca. "Mas essa vida do crime nunca me pareceu convidativa. Quer dizer, esses caras leem o jornal? Eles veem alguma coisa de todas as prisões e mortes? O tanto que eles se matam entre eles mesmos?".
"Vale a pena o risco", repetiu Sirius, "dependendo do tipo de crime que você cometer. Só pegar minha família de exemplo...".
Os Black eram uma das inúmeras famílias que cometiam diversos crimes de colarinho branco, todos sabiam disso, mas ninguém havia conseguido reunir provas o suficiente até há um ano, quando conseguiram condenar o pai de Sirius.
Quando mais novo, Sirius costumava sentir-se profundamente envergonhado de pertencer à família, tentando provar de todas as maneiras o quão diferente era deles. Com o passar do tempo, a maior parte da revolta passara e dera lugar à resignação.
(Em geral, ele justificava essa mudança dizendo: "Eles realmente queimaram meu nome naquela porcaria de árvore genealógica. Não sei como a casa toda não pegou fogo. Eles são claramente loucos").
"Imagina se você tivesse ido para o lado errado da família", Remus encarou o sorriso de lado do outro. "... nem pense nisso, ok? Eu não gostaria de te prender. E nós dois sabemos que é isso que aconteceria".
"Remus, pare de andar comigo e com o James. Você 'tá começando a falar igualzinho a gente...".
"Você está uns... seis anos atrasado para dar esse aviso".
"De qualquer jeito, eles não me aceitariam de volta. É engraçado pensar que, com os Black, quem segue a lei é considerado a ovelha-negra da família".
"Tudo uma questão de perspectiva", disse Remus. O outro riu.
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Cinco doses de whiskey depois, a conversa começou a tomar um rumo um pouco menos inofensivo.
"... e ele disse que jamais poderia sair comigo num encontro de verdade porque tinha medo de algum conhecido nos ver e contar para a família dele. Quer dizer, ele tem trinta anos. Até quando vai viver nessa?"
"Bom, não é todo mundo que pode simplesmente fugir de casa e ignorar a família pra sempre".
"O que impede?", retrucou Sirius, tentando encarar o amigo, mas tendo dificuldade em manter o foco. "Aí, o que esse filho da puta esperava? Que eu passasse o tempo todo trancado num quarto com ele?". Parou para refletir um momento. "Hmm, não posso negar que no começo não era uma má ideia passar vinte e quatro horas trancado com ele...".
"Sirius, muita informação", disse Remus, sentindo o rosto esquentar.
"Ah, sim, desculpa. De qualquer jeito, terminei tudo antes de começar. Não valia a pena o esforço".
A Grande História de Como Sirius Saiu do Armário, como o próprio gostava de chamar, na verdade não tinha nada de grande. Sirius contara naquele mesmo bar, logo que ele, Remus e James tinham começado a trabalhar juntos em Homicídios. Peter também estava com eles – os quatro tinham começado a trabalhar na polícia mais ou menos ao mesmo tempo, há mais de dois anos.
James estava falando sobre a novata que começara a trabalhar com Moody, como aqueles olhos verdes eram os olhos mais lindos e apaixonantes que ele já tinha visto. Os três concordaram sobre a beleza da moça. "Esperem eu jogar um charme, ela vai ficar doida por mim", afirmara James, esbanjando sua auto-confiança. Ele levaria anos para conseguir chamar a atenção de Lily. "Quer dizer, se ela não conhecer o Sirius antes".
Sirius rira, apoiando a cadeira nas duas pernas de trás e dando seu melhor sorriso. Todos sabiam que ele fazia um considerável sucesso entre as policiais, e poucas se importavam em esconder que adorariam ter uma chance com ele. Um pouco de charme não era prejudicial a ninguém, pensava Sirius toda vez que retornava os flertes.
"Não precisa se preocupar, Potter, não estou no mercado no momento". Os outros três o olharam com surpresa. Sirius nunca tinha comentado sobre nenhuma namorada. Ops, pensara na hora, continuando a distrair os amigos com seu sorriso.
Foi então que Peter soltara A Frase Fatídica, assim denominada também por Sirius.
"Ah, isso explica todos os olhares que você vem trocando com o Palmer...", dissera Peter, claramente brincando. Palmer também trabalhava em Homicídios, mas sob a supervisão de Slughorn, e não de McGonagall como eles.
Sirius caíra da cadeira.
James fora o primeiro a se acostumar com a idéia, bombardeando Sirius com perguntas extremamente constrangedoras quinze minutos depois de ele ter contado. Peter passou o resto da noite impressionado com seu próprio poder de dedução, e um mês desconfortável em tocar no assunto. A preocupação de Sirius acabou quando Peter disse que, "Se não der certo com o Palmer, posso te apresentar um primo meu".
Remus não sabia direito o que pensar. Ele crescera em uma família bastante religiosa, mas sabia que o mundo era muito diferente do que seus pais diziam. Ele imaginava que Sirius poderia acabar indo para o inferno por diversos motivos, mas dificilmente dormir com homens seria um deles.
Ele pensou em todo o tempo que tinham sido amigos, e como a sexualidade de Sirius jamais fora um problema – afinal, ele nem sabia até aquele dia -, e chegou à conclusão que não teria por que qualquer problema começar depois disso.
No começo, fora um pouco estranho ouvir Sirius falar de um ou outro cara com quem estava saindo, porque era diferente do que ele estava acostumado a ouvir. Sirius chegara a dizer um dia, "Ei, Remus, você sabe que isso é difícil eu parar de falar, mas se você não se sente confortável com isso...".
Até Remus surpreendera-se com a naturalidade de sua reação: "Você é meu amigo e pode falar qualquer coisa comigo. Já ouvi muita coisa pior vinda de você...".
O abraço que Sirius lhe deu fora o mais sincero que já recebera na vida.
"'Tá pensando no quê?", a voz do outro tirou Remus de seus pensamentos.
Ele sorriu. "Quando você saiu do armário". A mente bêbada de Remus não conseguiu registrar a cara estranha que Sirius fez. "E caiu da cadeira no processo".
"Bom, eu quase estou caindo da cadeira agora", retrucou Sirius. "Depois de...", ele começou a tentar contar nos dedos quantas doses tinha tomado.
"Sete doses, 'tá no papel", disse Remus, abanando a comanda na cara do outro.
"Suas habilidades visuais são impressionantes. Eu mal consigo enxergar sua cara".
"O nome disso é evolução da espécie". Ele levantou-se. "Vou pagar a conta, ok? É um presente por você ter voado pra cima do Baker".
"Ei, Lupin, não tenta me enganar! Eu sei que é sua vez de pagar mesmo, porque fui eu que paguei quando—".
Remus já estava no caixa e não ouviu nada que o outro disse. Andar em linha reta estava sendo uma tarefa meio complicada, ainda mais com tanta gente pelo caminho, mas ele conseguiu ir e voltar para a mesa com sucesso.
"Vamos embora?"
"Aham", Sirius apoiou-se na mesa para levantar, parecendo fazer um grande esforço. "Eu— eu—". O soluço impediu que ele continuasse a frase. Sirius encheu a boca de ar e prendeu a respiração até o soluço parar. Remus ficou encarando-o, contando os trinta segundos e colocando o dedo na bochecha de Sirius quando o tempo passou.
"Eu te levo pra casa", concluiu, voltando a respirar.
"Sirius, você 'tá de moto, lembra? Nem que tivesse com uma espaçonave com piloto automático eu te deixaria dirigir".
"Ah", disse Sirius, indicando claramente que não lembrava que estava de moto, muito menos que não tinha a menor condição de dirigir. "Bom, eu não 'tava planejando ficar assim hoje à noite, mas você não parava de falar e o whiskey não parava de surgir...".
Remus riu alto, servindo de apoio para o amigo enquanto os dois saíam do bar. A moto estava estacionada virando a esquina, e Remus esperava que ela continuasse lá até a manhã seguinte.
Sirius começou a agitar os braços para a rua, mesmo que não tivesse nenhum táxi passando, e Remus continuou rindo. "Desse jeito você vai fazer um caminhoneiro parar, e a gente vai acabar em Durham [1] sem um rim".
"Hmmm, acho que não 'tô conseguindo seguir sua lógica". Ele parou de repente, parecendo lembrar de algo muito sério. "Remus, Remus, você vai para casa comigo, né?"
"Tudo que eu quero é meu chuveiro quente e minha cama, Sirius...".
"Minha casa tem um chuveiro quente e uma cama, você acha que eu moro como? A gente divide o dinheiro do táxi e você não tem que pagar... muitas e muitas libras até chegar no fim de mundo que você mora".
Remus precisava admitir que a linha de raciocínio de Sirius fazia algum sentido, e o pensamento de não ter que gastar muitas e muitas libras com o táxi era realmente tentador. Sirius morava muito mais perto da Central.
Ele ignorou completamente o gelo no seu estômago ao ouvir que Sirius tinha uma cama, e concordou com o amigo. Eles conseguiram um táxi cinco minutos depois. Em dez, já estavam na casa de Sirius. Remus pagou o taxista enquanto Sirius procurava as chaves de casa, que estavam perdidas em algum bolso de sua jaqueta.
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Sirius insistiu que o outro tomasse banho primeiro e ficasse com a cama. Ele separou uma camiseta, uma cueca, uma calça moletom e uma toalha para o amigo usar. Remus discutiu um pouco sobre a cama, mas aceitou a cortesia de tomar banho primeiro. O banho quente fez com que sua cabeça parasse de girar e o enjoo sumisse, e ele voltou ao estágio fisicamente agradável de falar muito e rir de coisas sem sentido.
O banho também melhorara o estado de Sirius, que voltara a conseguir andar sem parecer que ia cair a qualquer momento. Ele entrou no quarto com a toalha enrolada na cintura, murmurando para si mesmo "onde 'tá a merda da coberta?" e vasculhando o guarda-roupa.
Remus jamais conseguiria prever sua reação ao ver Sirius semi-nu, com alguns pingos de água escorrendo do cabelo para suas costas. Seu coração disparou e ele sentiu o corpo todo quente, e não teve cara-de-pau suficiente para nem ao menos tentar culpar a bebida. Resignou-se em pensar "mas que merda".
"Você lembra que eu 'tô aqui e você 'tá pelado, né?", ele disse, chamando a atenção de Sirius para o mundo real. "Você não vai se trocar aqui, né?"
Sirius riu. "Hmmm, não. Eu levei minha roupa pra sala, mas 'tá frio e não sei onde coloquei meu cobertor".
"Não 'tá frio", retrucou Remus, observando a busca do amigo.
"'Tá sim".
"Não 'tá não. E por que você não procura depois de se trocar?".
Sirius parou de novo. Ele claramente não tinha nem pensado nessa possibilidade. Deu de ombros e disse brincando: "Assim você pode me admirar".
De repente, Remus soube exatamente como Sirius tinha se sentido quanto Peter dissera A Frase Fatídica. Mas obviamente ele não iria cair de cadeira nenhuma, primeiro porque era esperto demais para isso, mas principalmente porque estava deitado.
E ele deveria continuar deitado, para sempre, mas ao invés disso levantou-se e foi ao lado de Sirius, dando uma cotovelada para abrir espaço na frente do armário. "Deixa eu te ajudar", disse, começando a procurar o cobertor.
"Cuidado pra não cair nada na sua cabeça, acho que tem umas motos guardadas aqui em cima".
O guarda-roupa de Sirius parecia mais um buraco negro, e Remus tinha certeza de que jamais encontraria qualquer coisa nele. Ele pensou em sugerir que o amigo simplesmente colocasse tudo para fora, e fizesse uma coisa mágica chamada arrumação, na esperança de encontrar o cobertor.
Mas antes que dissesse qualquer coisa, sentiu algo fofo.
Sirius parecia genuinamente impressionado.
"Achei! Dez pontos pra mim!"
"Lupin, isso provavelmente foi a coisa mais retardada que você já disse, e olha que a lista é grande".
"Black, pare de andar comigo, você 'tá começando a falar igual eu... E pare de ser mal-agradecido, porque eu acabo de te salvar da hipotermia".
"Só sei o que essa palavra significa por causa daquela vez que a gente salvou a Anne no congelador". Esse fora um caso especialmente cruel, que nenhum dos dois queria pensar naquele momento, por isso Sirius logo emendou, "Me dá", esticando os braços.
O coração de Remus voltou a disparar quando ele virou-se para o amigo, e ele começou a rir.
"Que foi?", perguntou Sirius, rindo também.
"Se você soubesse o que pensei agora...". Sirius parou de rir, Remus não. Ele achou que rir era uma maneira boa o suficiente de ignorar todo o resto, mas isso não o fez parar de pensar no que estava pensando, e seu coração continuou disparado.
Ele conclui que, mesmo não podendo culpar a bebida porque ela não estava produzindo nenhum pensamento novo, ele a culparia para sempre por ter feito alguma coisa em relação a isso.
Quando Remus finalmente parou de rir, ele deixou a coberta cair no chão e aproximou-se de Sirius. Ele não disse nada até conseguir sentir a respiração quente do outro. "Ei, Black...", começou, sem fazer ideia do que iria dizer ou do que estava fazendo. "Black, numa escala de ideias realmente muito, muito ruins, essa 'tá em que posição?".
"A número um sendo a pior?", retrucou Sirius, e Remus impressionou-se com a eloqüência dele, quando suas próprias palavras saíram todas embaralhadas.
Tudo ficou mais fácil depois que ele decidiu que aquele não era momento para conversa alguma, terminando com a distância entre eles e beijando Sirius. Ele sentiu a barba áspera em sua pele, as mãos puxando seu quadril para mais perto. Ele sentiu calor, e não conseguia imaginar como Sirius podia estar sentindo frio, mas ele provavelmente não estava sentindo frio agora.
Suas próprias mãos estavam estáticas, Remus não sabia exatamente o que fazer com elas. Os braços de Sirius estavam pra baixo, então subiu os seus, deixando suas mãos envolverem o cabelo ainda molhado de Sirius.
Só voltou a pensar no que estava fazendo quando sentiu a toalha caindo, e a ereção de Sirius contra sua perna. O outro pareceu assustar-se com isso também, pois foi ele que parou o beijo, pegando a toalha do chão e colocando novamente na cintura.
"Hm, bom, acho que temos aí a número um", disse, parecendo absurdamente sem graça. Ele passou as mãos pelos cabelos, sem olhar na direção de Remus. Abaixou novamente para pegar a coberta. "Eu vou... eu vou para sala. Dormir, acordar e descobrir que tudo isso foi um sonho. Dos bons, não me leve a mal, é só que...".
Remus pensou que Sirius realmente estava pegando alguns dos seus hábitos. Era geralmente ele que começava a falar coisas sem sentido sem parar. De repente sua mente estava clara e todas as respostas estavam lá: ele queria isso. Ele queria beijar Sirius, mesmo que fosse só hoje, mesmo que fosse só a bebida, mesmo que ele nunca quisesse beijar homens.
"Sirius, eu também não sei lidar com isso. A gente pode pensar amanhã. A gente pode lidar com todas as coisas confusas amanhã", afirmou, aproximando-se de novo.
"O problema é que é muita coisa para lidar, Remus. Você é meu amigo e eu... Olha, eu 'tô tentando ser racional, quando é sua tarefa ser sempre o Sr. Racional, mas é meio difícil com você me olhando desse jeito e vindo pra cima de mim".
"Sr. Racional", Remus repetiu, rindo.
Eles se beijaram de novo, e dessa vez Remus tinha uma ideia muito clara do que fazer. Os dois foram andando para trás, até a cama. Sirius estava com as mãos nas costas do outro, primeiro por fora da camiseta, depois por dentro. Suas mãos estavam frias.
Então parou de novo. "Pode fazer o que quiser", disse Remus, sabendo o que o amigo estava pensando. Sirius sorriu, puxando a camiseta.
Ele mudou de posição, ficando por cima de Remus. Levou as mãos ao rosto dele, tirando o cabelo da testa. Remus aproveitou a oportunidade para respirar fundo. Passou as mãos pelas costas de Sirius, até chegar na toalha, e continuo por baixo dela. Sirius mordiscou seu lábio.
Puxou a toalha e deixou ao lado da cama. Começou a tirar sua calça, junto com a cueca, e Sirius levantou o corpo para que ele pudesse tirar tudo. Ele não estava esperando quando Sirius tomou sua ereção e começou a masturbá-lo.
"Porra—". Remus mordeu o lábio, tentando controlar um gemido alto. O outro riu, continuando.
"Pode gemer, não tem ninguém para escutar a gente", murmurou no ouvido de Remus.
Ele continuou se controlando. Mas seu auto-controle estava limitado e, se Sirius continuasse por muito tempo, ele acabaria com a noite dos dois cedo demais. Tocou no braço do outro para que ele parasse.
Sentou-se na cama, para então deitar em cima de Sirius novamente. Suas ereções se tocaram e os dois gemeram, buscando o contato, até Remus parar porque lembrou o que tinha intenção de fazer.
"Ei, Sirius".
"Hmm?"
"Eu quero— Eu quero— Você precisa, hmm, me explicar como fazer?"
Sirius demorou um pouco para entender, mas depois começou a rir, mordendo de novo o lábio do outro. Esticou-se na cama até o criado-mudo. Abriu uma das gavetas, tateando até encontrar o que buscava, e voltou a olhar para Remus. "Lubrificante, camisinha. Vá com calma. Só isso".
Parecia simples o suficiente. Remus disse "Ok", voltando a beijar Sirius, que logo virou de costas para ele. As costas de Sirius eram realmente muito bonitas.
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Remus acordou assustado. Logo percebeu que sua cabeça doía, e começou a mexer-se lentamente. Ele olhou de um lado para o outro, mas estava sozinho na cama. Levantou-se, indo até a porta do quarto.
"Sirius?", chamou, sem resposta.
Sentiu um alívio enorme ao perceber que o outro já saíra de casa. Ele jamais saberia lidar com uma "manhã seguinte" com Sirius, e queria adiar o momento tanto quanto possível. Andou pela casa só para conferir se estava mesmo sozinho, não se importante de estar pelado, e encontrou um bilhete com uma nota de dez libras em cima do balcão da cozinha.
Bom dia!
Fiquei com dó de te acordar, mas que fique registrado que isso é meio irresponsável, Sr. Lupin. Fui a pé até a Central, então aproveita esse dinheiro para pegar um táxi. A chave de casa está por dentro da porta, só trancar, não tem mistério.
S.B.
Remus tomou um banho rápido e gelado, espantando todo o cansaço. A camisa que usou no dia anterior não estava em condições de ser usada novamente, então buscou uma no guarda-roupa de Sirius. Colocou a calça, o distintivo e o coldre, juntou suas próprias roupas numa sacola, pegou o bilhete e o dinheiro que Sirius deixara (o que ele normalmente não faria, se não estivesse sem um centavo), e saiu da casa.
Por gentileza, tomou um ônibus até a Central, chegando com uma hora e três minutos de atraso. Bom, ele tinha horas extras suficientes. A sala no quinto andar estava vazia, então ele voltou ao primeiro andar, indo até o fim do corredor, onde ficava o necrotério.
Antes de entrar, olhou pelo vidro da porta. James e Sirius estavam lá, escutando a uma explicação de Peter. Seu corpo não reagiu de nenhuma maneira especial ao ver Sirius: nem nervosismo, nem ansiedade, então provavelmente estava tudo bem.
Provavelmente eles iriam seguir em frente como se nada tivesse acontecido, e isso o tranquilizava. Ele respirou fundo e abriu a porta, murmurando "Desculpe" enquanto entrava e nem percebendo que estava evitando olhar para Sirius.
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Referências:
[1] – Segundo o Google, Durham é um bairro afastado em Londres.
