- Por que mesmo eu tenho que fazer isso?

Como resposta, ele recebeu um grunhido de desagrado vindo detrás das cortinas. Ele acomodou os braços no encosto do acento, esperando a nova aparição da garota.

Ela saiu com um kimono verde-claro. Não era a melhor cor para ela. Não combinava com seus cabelos. Parecia outra pessoa. Ela ergueu a barra das vestes com um olhar indagativo.

- Que tal?

- Sei lá.

Ela resmungou alguma coisa, e virou-se para sumir de novo dentro do provadouro. Ele olhou pela janela, admirando as estrelas lá fora. A vendedora estava babando em cima do balcão. Naquele fim de tarde, Ino era a única garota de Konoha preocupada em comprar um kimono novo.

- E esse?

Ele virou de volta. Dessa vez ela estava com um laranjado. Estava um pseudo-Naruto, e Shikamaru torceu o Nariz. Também não combinava.

- Sei lá.

- Que droga, Shikamaru.

Ela sumiu de novo, e ele suspirou pesadamente. E ela estava se trocando pela enésima vez e ele estava sendo usado pela duplo-enésima. E ela sem se tocar, sem sequer desconfiar, sem ligar pro fato de ele nem ligar.

Nem ligar em ser usado.

- E agora?!

Era um rosa. Rosa como os cabelos de Sakura, e Ino provavelmente arrebentaria sua fuça se aquele comentário lhe escapasse. Mas poderia escapar de outra pessoa, então aquele ainda não era o melhor.

- Sei lá.

Praguejando, ela sumiu de novo. Aqueles sumiços furtivos aconteciam assim, no dia-a-dia. Depois de uma missão, no meio do almoço, na hora do treino, num provador de roupas. Mas nunca dentro dele.

Um minuto, dois minutos, cinco, dez. Ela tinha morrido lá dentro.

Mas veio um grito de vitória e a cortina se abriu rápido. Ele piscou, e ela deu um giro completo na frente dele, com o maior sorriso do mundo.

- É esse, tenho certeza!

Era um azul. Da mesma cor que os olhos dela. E ficou tão bonito junto com aqueles cabelos tão longos soltos que ele próprio desviou os olhar, se sentindo ofuscado como sempre. Ela abaixou-se na frente dele.

- Quero ouvir uma opinião decente agora!

E ele acabou olhando de novo. Fixou o azul dos olhos, e não o azul da roupa. E acabou sorrindo.

- Esse é bom.

Ela se ergueu e voltou para o trocador aos saltos, feliz da vida. Ele se sentiu cair num poço e apertou a borda do banco. Mais alguns minutos e ela voltou, com o kimono dobrado nos braços. Foi até a balconista e a acordou com um cutucão.

- Vou levar esse aqui!

O tempo da vendedora acordar e babar foi o tempo dele se levantar e ir até ela, com um olhar entediado e um suspiro de alívio.

- Ino, é um saco te acompanhar quando você quer comprar roupas novas.

- Não, reclama, Shikamaru. - E ela pegou a sacola com o novo traje, finalizando a compra - Eu preciso de uma opinião masculina. E, afinal, você é o único cara que eu poderia chamar!

Porque se ele fôsse o Sasuke, o Sai ou qualquer outro bonitinho de Konoha, Ino não chamaria. Se ele fôsse um pouco mais atraente, um pouco mais interessante e um pouco menos covarde, talvez ela deixasse de enxergá-lo como um amigo de compras e o enxergasse como um alvo delas.

Talvez ela se vestisse pra ele, e não na frente dele.

Talvez ela não quisesse meramente ouvir a opinião dele, e sim se importar com ela mais do que qualquer coisa.

Se fôsse assim, ela não o chamaria. Procuraria um outro cara cem por cento desvinculado amorosamente dela própria e ficaria enchendo o saco do dito-cujo para saber em qual roupa ela ficava mais bonita pra ele, Shikamaru.

Mas "talvezes" eram muito ineficazes se tratando da realidade nua e crua, onde Ino não se importava em andar perto dele com os cabelos desgrenhados e os dentes sujos de bolo.

A garota saiu da loja acenando freneticamente.

- Anda logo! Você não vem?

E ele foi atrás, bufando.

- Espero que você pare de me chamar.

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Queimem as más línguas, eu adoro ShikaIno!