Para minha surpresa, eu havia mesmo me transformado naquela noite... de maneira extremamente violenta. Não importava que eu estivesse com minhas roupas completamente rasgadas e sangrando; cada milímetro do meu corpo... havia o perdido novamente.
Abri a porta de minha sala com dificuldade. Eu lecionava nessa sala, essa mesma sala em que anos atrás discutimos e logo nos beijamos com força contra a estante de livros, a derrubando. Sirius recebeu um tapa meu em seu rosto. Eu havia fugido dele naquela noite de lua cheia e tudo o que eu mais queria agora era tê-lo. Fechei a porta atrás de mim com meu corpo após adentrar a sala. Soava irônico.
A sala de aula ainda estaria na escuridão se não fosse uma luz azulada contra a parede. Tudo isso incomodava. Eu sabia que ele sempre estaria comigo, mas não imaginei que seria tão doloroso perdê-lo mais uma vez, assim.
- Qual o motivo do choro agora?
Conhecia essa frase, conhecia essa voz. Levantei meu rosto; não percebi que chorara tanto, senti as lágrimas aos brandos, escorrendo para qualquer lugar. E ali estava aquele homem de jeito triste, sujo, aquele homem que já fora meu, já fora amor. Ouvi meu choro aumentar. Ele estava mesmo ali. Se encontrava de pé, do outro lado da sala, na frente da parede iluminada pela luz azul, que mostrava um slide com explicações para explosivins. Seu corpo estava coberto pelas letras que se refletiam. Me encarava.
Fui até seu corpo em pé, mas não o toquei, tive medo de ser um fantasma. Meus lábios trêmulos estavam a poucos centímetros distantes dos dele. Como da primeira vez em que meu mundo era apenas seu olhar intenso, que agora parecia surpreendentemente morto.
A água morna saía dos meus olhos enquanto eu fazia sinais negativos com a cabeça
- Você, pra variar.
Tentei sorrir maroto, levantando as sobrancelhas, os lábios ainda trêmulos. Senti suas mãos másculas em meu pescoço, sua testa apoiada na minha. Prata e âmbar chorosos se encaravam. Aconteceu o beijo que aguardei durante eternos doze anos... aquele beijo em que todo dia, toda noite sonhei.
- E dizer que tínhamos aulas aqui, professor.
- E dizer que você tomava banho, fugitivo.
- Admito, você sabe explicar bem.
- Obrigado por voltar, obrigado.
- Eu tinha que voltar. Por nós. Por você.
