Não fazia muito tempo que ele chegara lá. A separação havia sido recente, a dor ainda palpitava com força, mesmo naquele coração frio como o dele. Ele disfarçava bem, isso era a mais pura verdade. Mas se havia uma pessoa que ele não conseguia enganar era a si mesmo. Em momentos como aquele, sem a presença de seu mestre de traços ofídios, ele permitia-se divagar sobre a sua própria miséria. Acreditava piamente que era o único ser humano designado a suportar tanta dor. Acreditava estar completamente sozinho, tinha certeza disso.
Até ouvir aquele choro tímido, distante.
Estranhou tanto que temia ir atrás do ruído. Tinha medo, sim, medo. Medo de deparar-se com uma das experiências típicas de Orochimaru com humanos. Mas tratava-se de algo que interrompera seu devaneio, a curiosidade falou mais alto. Saiu do pequeno cubículo onde repousava e fora caçar o dono do barulho que lhe intrigava. Seguiu masmorra adentro e avistou uma porta entreaberta. "O choro só pode vir de lá" pensou. Aproximou-se, um tanto receoso, mas logo tomou coragem para abrir a porta por completo.
A figura com a qual se deparara era deveras interessante. Aquela criatura, de cabelos cor de fogo, encontrava-se sentada na beirada da cama, chorando incessavelmente.
Ele deveria ser o único dentro daquele buraco fétido, não compreendia. A garota foi diminuindo a frequência do pranto para encarar aquele que havia invadido sua pseudo-privacidade. Agora ambos se encaravam com curiosidade. O rubi e o ônix.
Aproximou-se, hesitante, da garota, como se ela pudesse morder ou algo do gênero. Ele resolvera quebrar o gelo e perguntar quem ela era, e o que estava fazendo ali.
Ela respondeu vacilante "...Karin. Estou aqui porque ele quer meu poder."
Então, definitivamente, ele não era o único.
Resolvera então sentar-se ao lado dela. A garota, de olhos inchados de choro, corou levemente. Continuaram se encarando. Não havia muito que falar, Palavras, na verdade, não precisavam ser ditas. Os olhos dela refletiam tudo o que ele sentia por dentro e nunca colocara para fora. Os olhos dela refletiam quase o mesmo sofrimento pelo qual ele havia sido fardado a lidar para sempre. Ela não precisava dizer. Ele não precisava perguntar. Estava tudo ali, tão claro quanto água, naqueles olhos. Ele, agora, sentia-se quase que como ela. Fora atingido pela última faísca de humanidade que carregava em seu peito. E que, agora, ardia como brasa. Ele sentia-se estranho, como se fosse a primeira vez que sentia empatia por alguém.
Após muito se encararem, a garota encostou a cabeça nos ombros dele, e o enlaçou com os braços tão vagarosamente quanto se temesse um ataque. E como um gesto tão estranho vindo dele, ele retribuiu. A garota, então, não demorou muito para afogar-se em seu peito.
Ele levanta a cabeça da garota, completamente devastada pelo choro, e volta a encará-la. "Sasuke. Estou aqui porque ele quer o meu poder."
A garota não pensara duas vezes antes de lhe encostar os lábios. De forma doce, inocente, porém urgente. Ele sentia seu rosto ferver, ficara sem reação. Porém, tal ato refletiu toda a estranheza que acabara de arder em seu coração. Sentia conforto. Sentia-se acolhido. Sentia que não precisaria carregar aquele fardo sozinho.
Aquela fagulha fraca, de repente, queimava como um fogaréu da cor dos cabelos dela.
N/A: Não sou muito fã de SasuKarin, mas acabou ficando uma gracinha. (E sim, resolvi escrever sobre outro shipper!)
