Esperando a Primavera

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Sinopse: Trabalho e mais trabalho. Essa era a vida de Sakura Haruno. Mas ela esperaria e ansiaria por dias mais felizes, ainda que tudo lhe dissesse o contrario. SasuSaku. Sakuracentric.

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Disclaimer: Naruto pertence ao Kishimoto.

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Beta: Karol (lovekingslayer)

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Trabalho e mais trabalho. Essa era a vida de Sakura Haruno.

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Ela suspira enquanto caminha para o hospital, trajeto que poderia fazer de olhos fechados ou talvez as próprias pedras que compunham o calçamento a levariam, das tantas vezes que seus dois pés fizeram o mesmo percurso. Era uma manhã seca e fria, mas o céu estava aberto e os raios de Sol começavam a aquecer a vila.

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Sakura pensava em como gostava desse clima. O frio a fazia sentir aconchegada em seu grosso casaco felpudo - uma efêmera imitação dos abraços que lhe foram negados - e ainda poderia desfrutar do brilho do Sol aquecendo suavemente onde seus raios tocavam. Para ela, um dia ensolarado era mais alegre que os demais, como se a luz dissolvesse uma pequena parte das coisas ruins da vida – intimamente ela queria que o Sol queimasse todas as coisas ruins enterradas em seu coração, era uma oração que sigilosamente rogava –, então esse era seu tipo preferido de manhã.

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A mulher que caminhava logo cedo pela rua vazia mantinha várias listas de suas coisas preferidas. Suas comidas favoritas, sua cor preferida, o tipo de sorriso que ela adorava, as cinco melhores missões que já realizou, várias tabelas de jutsus dos quais ela desejava aprender ou que achava melhor; Até mesmo uma curta lista das partes de seu corpo esguio das quais ela considerava mais femininas. O clima desta manhã certamente estava em uma suas listas.

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Sakura pensava que um dia (ela esperava que não demorasse), quando alguém realmente se importasse com ela – alguém que a olhasse além da médica de cabelo rosa, aluna de Tsunade, melhor amiga do futuro Hokage e, claro, o título que mais lhe incomodava, mas que ninguém tinha coragem de lhe dizer em voz alta muito embora o silencio e os olhares apiedados para com ela eram suficientemente audíveis: a eternamente esperando por SasukeUchiha - , teria tudo pronto para mostrar esses pequenos pedaços de si mesma e do orgulho que sentia de cada um deles, ansiando que quando esse maravilhoso dia chegasse tudo estaria facilitado pelas suas incríveis listas. Afinal, esse notável ser humano que não sabia se já conhecia – mas sabia exatamente quem queria que fosse - teria que ter algumas compensações por enxergar por debaixo de tantas camadas que vestiu ao longo de sua vida e por ter tido a hombridade de salvá-la dela mesma. Até os médicos precisam ser salvos às vezes. Eram sentimentos conflitantes, pois sabia que a complexidade de seu eu não se resumiam a listas, mas de qualquer forma não havia alguém que realmente se importasse a este ponto.

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Sim, havia pessoas que se importavam muito e ela não era do tipo ingrata. Tinha muitos amigos que faziam sua vida ficar menos vazia, que a amavam e apoiavam. Ela os amava de todo o coração e faria tudo por eles, mas nem mesmo as amizades que colecionou iluminavam um pequeno e sombrio canto de seu coração saudosista.

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Outro suspiro. Apesar do seu cansaço constante, ela ansiava voltar logo pra sua rotina de papeladas, curas e mais papeladas. Havia dias em que parecia estar mergulhada num mar de pergaminhos sem fim e mesmo não sendo a parte predileta de suas funções não subestimava sua importância.

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Se não fosse médica e se não amasse tanto ter o poder de cura em suas mãos, com certeza ela seria algum tipo de bibliotecária, pois conhecida cada pedacinho de pergaminho, cada ácaro que a fazia espirrar na sala de documentos e gostava disso. Conhecimento era poder.

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Sentia-se um pouco arrogante ao pensar sobre como gostava de curar e do poder que isso representava, mas se permitia essa pequena indulgência como um mimo a si mesma, um porto seguro de sua ainda vacilante autoestima. Quando o chakra verde deixava seu corpo para reparar células a níveis moleculares e curar qualquer trauma ou doença, era quando a médica-nin se sentia mais viva, mais completa e encaixada neste mundo. Até mesmo aquela pequena sombra em seu coração que lhe assoberbava nas muitas noites solitárias parecia ceder espaço para o ato de curar. "E ela sentiu a magia do espirito invadir seu sistema", Sakura leu uma vez num romance idiota sobre vampiros mágicos que odiou, mas a descrição fazia jus ao que ela sentia em equivalência.

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Seu interior se exaltava com a magnitude do ato onde podia canalizar todo o amor que sentia pela vida, a adrenalina fazia cada músculo do seu corpo ficar em riste, afiado e pulsante e se sentia capaz de tudo. Era quando se sentia mais forte, o sentimento de ser útil compensava todos os esforços.

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Sakura sabia que no fundo esse desejo de ser útil ainda era uma necessidade de ser aceita. Quem dera que o chakra verde e as intermináveis lições de sua mestre pudessem consertar todos os problemas de sua vida e daqueles que amava. Ainda que algo dentro de si pedia por perene aceitação, a Doutora Haruno era reconhecida em toda vila e além dela. Feitos dos quais não ela listava porque acreditava que eram nada mais que sua obrigação com o mundo em que vivia.

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Ino, sua melhor amiga, havia dado a ela inúmeros sermões sobre trabalhar demais. A resposta era tão automática que Sakura sequer se dignava a falar, o que lhe rendia sempre uma loira rolando seus olhos azuis. Mas era apenas o trabalho com as crianças no hospital psiquiátrico preenchia um pouco do vazio que ele deixou.

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Sua amiga também adorava de fazer piadas seu modo workaholic e sobre como ela atraia os olhares dos homens, apesar dela achar que se Sakura se arrumasse mais não faria mal algum

"Até essa sua aura melancólica te deixa mais bonita, testa de marquise, se toca".

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Acima das provocações e sarcasmo, o intuito de Ino era sempre empurrar sua amiga para frente, fosse o que fosse, ela jamais deixaria Sakura para trás, não admitindo nunca que ela se estagnasse. Ainda assim a Yamanaka sabia que sua querida testuda só tinha olhos para uma pessoa – não apenas os olhos, mas todo o corpo e toda sua alma por mais que seu orgulho detestasse admitir. E todo mundo sabia quem era.

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Na verdade, Sakura suspeitava que alguns homens flertavam com ela apenas pelo desafio de tentar tomar o lugar dele. O desafio de conquistar a inalcançável Sakura. Conquistar o lugar que sempre foi do traidor e supostamente salva-la dessa maldição. Não havia realmente um interesse real. Ninguém digno de suas listas.

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O único flerte que considerava o mais genuíno e puro era o de Lee. Ele era digno de muito mais que suas listas, ele era honrado, sincero e bom. E justamente por isso que ela não poderia ficar com ele, porque não seria sincero, justo e nem um pouco bom. Até mesmo seu Kakashi havia se insinuado algumas vezes, mas ela não saberia dizer se era real ou apenas mais um de seus testes.

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O fim do dia havia chegado e Sakura sequer notou, foi só quando Hinata lhe disse pra tirar um intervalo foi que se deu conta do tempo.

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Subiu ate o terraço do hospital, numa parte que nem mesmo os funcionários iam. Aquele era o seu lugar secreto, o lugar onde muitas vezes chorou, o lugar que não a julgava por suas escolhas ainda que ela mesma vacile naquilo que sempre desejou. Intangível, intocável, mas inegável.

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Contudo, hoje não era um dia em que queria chorar. Hoje ela se permitia apreciar a vista de Konoha no crepúsculo, suas luzes e as pessoas se movimentando pelas ruas. Uma brisa gelada passava por seu rosto e deixava a ponta do seu nariz vermelho.

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Ela olhava para mais longe, para o lado oposto das montanhas dos Hokages, numa parte mais afastada da vila, onde as cerejeiras eram mais próximas umas das outras e era possível delinear uma mancha rosa no horizonte. Ali antigamente era um lugar tão mal assombrado quanto das lendas sobre a Floresta da Morte, o já destituído eextinto distrito Uchiha.

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Parte das terras foram usadas na reconstrução e expansão de Konoha, logo não existia mais uma delimitação sobre o que era ou não a esquadra do clã amaldiçoado. Kakashi havia mandando plantar muitas cerejeiras nos locais vagos e aproveitara as redefinições geográficas para enterrar de uma vez por todas o estigma do local.

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Por mais que Kakashi, como Hokage tentava apagar certas memórias dolorosas, Sakura sabia exatamente o que tinha acontecido ali, ainda que a lembrança por si só fosse a mais triste de que se tinha noticia, era de alguma forma, uma ligação com ele. Em seu intimo se sentia honrada de uma forma estranha, de que a flor de seu nome havia finalmente prestado a última condolência para a família do homem que amava.

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Sakura tinha um desejo secreto, uma pequena fagulha de esperança ou apenas uma ilusão que ela alimentava dentro de si, a de que um dia encontraria uma mensagem dele. Uma mensagem que só ela veria e somente ela saberia de quem era. E nesta tão sonhada epistola, suas inseguranças e incertezas seria depostas, aterradas e extintas, porque neste dia ele seria dela e ela seria dele, nada mais importando.

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Esse anseio clandestino jamais fora dito a ninguém porque a médica sabia o quão púbere era seu pedido. Ainda que todos os dias procurasse, seus olhos verdes esquadrinhando tudo que poderia estar relacionado a ele, no fim do dia era apenas a frustração irritada sua única companheira.

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Ainda estava no terraço do hospital, divagando sobre as formas que a copa das cerejeiras poderiam assumir, quando um falcão posou no parapeito em que estava, assustando-a. Sakura sentiu seu coração batendo descontroladamente e mesmo seus conhecimentos profundos de anatomia não lhe asseguravam que o órgão romperia sua caixa torácica e cairia ainda pulsante no andar térreo.

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Finalmente a primavera chegou, o dia que tão aguardado, assim como o significado do seu sobrenome. Finalmente o desfecho de um longo e doloroso período de espera. Um momento único que ao mesmo tempo em que desejava prolonga-lo, mal se continha para consuma-lo.

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Estudou a ave e de imediato não localizou o pergaminho que normalmente carregaria preso em suas garras. Estaria escondido com algum jutsu? Se sentia tola por não identificar imediatamente o significado daquilo. A ave continuava ali parada, sem qualquer identificação que ajudasse a ninja mé aproximou lentamente, passando os dedos trêmulos pela penugem marrom. Nada. A rapina sequer a encarava, fazendo unicamente seus movimentos característicos, que absolutamente não significavam muita coisa.

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Interrompendo a torrente de pensamentos ansiosos de Sakura, Konohamaru abre com força a porta de acesso ao terraço.

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"Oh, você está aqui!"

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Enquanto se aproximava, ela tentava pensar numa desculpa para dispensar rapidamente o jovem ninja, afinal tinha uma mensagem para decifrar. Tão logo suas preocupações foram desenxabidas quando o jovem passou por ela, não lhe dando qualquer atenção no trajeto,pegando a ave do parapeito. Como um bichinho obediente, o falcão se acomodou no antebraço de Konohamaru, como se ali pertencesse. A ninja de cabelo rosa encarava a cena aturdida, sem saber o que fazer.

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"Olá Sakura-sama! Espero que ele não tenha te assustado. Estou treinando ele para ser mensageiro, não é legal?"

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"Oh sim. Ele é muito bonito. Se esforce bastante."

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Despediram-se rapidamente e Konohamaru deixou Sakura sozinha novamente.

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Sozinha. Estar sozinha não era o verbo que lhe cabia neste momento, não era algo transitório, masaparentemente seria um eterno estado de espirito. Destruída, ela juntou o pouco de discernimento que lhe restava e voltou para o seu turno no Hospital.

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O amor não é uma marcha de vitória, é só um frio e sofrido aleluia.

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Ela volta pra casa arrastando-se, desolada. Abre a porta de seu pequeno apartamento já com as lagrimas lavando-lhe o rosto. Sua tristeza era um misto de descrença de que qualquer coisa boa possa acontecer em sua vida – era uma constatação – uma obscura desesperança. E raiva. Não dele, claro que não, e até disso tinha raiva. Era possível sentir raiva por não conseguir odiar alguém? Sentia raiva de si mesmo, por alimentar expectativas e simplesmente não conseguir evitar se sentir iludida. Raiva porque todos disseram, todos avisaram, abertamente ou veladamente, que o que sentia jamais seria correspondido. Raiva por estarem finalmente certos e ela errada.

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A raiva que ela sentia beirava a cólera, contida apenas por uma tênue linha de bom senso. Precisava quebrar alguma coisa. Seu apartamento, o prédio, uma montanha. Deseja socar a própria Lua até que se desfizesse por completo, até que seus punhos fossem apenas osso e sangue.

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Ela havia levantado do chão da sala onde ficou por tempo indefinido. O lugar onde seus punhos se apoiavam estava quebrado até o concreto, parte do piso destruído. Já no quarto, numa caixa Sakura jogava todas suas listas, quebrando e derrubando seus pertences pelo caminho. Nada mais importava, ninguém ligaria, ninguém a entenderia. Uma hora depois seu quarto parecia uma zona de guerra, a estante antes perfeitame te arrumada, destruída. Roupas no chão, coisa quebradas. A caixa, cheia de lembranças, listas e coisas que a faziam lembrar dele. Só faltava a peça final. O porta retrato com a foto do time Sete.

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Quando estava prestes a jogar sua mais preciosa lembrança dentro da caixa com destino ao lixo, a kunoichi ouve sua porta se abrindo. Será que tinha feito barulho demais? Não se lembrava de ter trancado a porta. Buscava traços de chakra e não conseguia sentir nada. Alguém capaz de mascarar sua presença poderia ser bem perigoso e seus instintos assumiram o controle.

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Ao chegar à sala viu de relance um vulto e estava prestes a descontar toda sua raiva naquele idiota que ousava entrar em sua casa. A trajetória de seu soco potente foi interrompida por uma mão que segurava seu pulso e só então sentiu o chakra do intruso. Ela não se considerava a melhor ninja de Konoha, ainda mais naquela condição emocionalmente despreparada, mas sabia que era preciso certo nível de experiência e técnica para deter um soco dela.

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A tentativa do invasor exigiu que ele liberasse todo seu chakra antes mascarado e só então entendeu de quem se uma vez naquela noite o coração de Sakura parecia querer fugir de seu corpo. Sua mente e seu corpo já estavam quase sucumbindo devido a carga emocional.

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Sasuke apenas a encarava, mas não soltou sua mão. Seu rosto estava sereno e um tanto triste. Sakura não conseguiu ser minimamente racional após ser levada ao seu limite mental. Apesar de sentir um imenso alívio de ver a pessoa que mais amava em sua frente e sentir seu cheiro cítrico próximo a si, seu orgulho ferido falou mais alto.

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Com sua outra mão livre, deu um tapa no rosto do Uchiha. Ela imediatamente se arrependeu do ato, temendo que ele desaparecesse novamente.

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O olhar dele permaneceu inalterado, sabendo que merecia muito mais do que aquilo. Aquele tapa era apenas um carinho perto do que ele infligiu a ela por tanto tempo.Não era seu rosto que ardia ou seu orgulho que estaria exaltado no homem que era antigamente. Era a dor dela que machucava, as lágrimas marcando seu lindo rosto, o olhar perdido. Era a possibilidade de não conseguir extinguir a saudade que sentia dela, logo agora que entendia e aceitava seus próprios sentimentos.

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Ele a abraçou e ela chorou por um tempo que ninguém se importou em medir. Aos poucos ele sentiu o corpo dela relaxar e as lágrimas cessarem. A saudade que Sasuke sentia não cabia mais dentro de si e se perguntava se era possível ficar com ela em seus braços para sempre. Beijou seu pescoço suavemente, passando pelas bochechas e até sua testa. Esperava que aos poucos Sakura o perdoasse por fazê-la sofrer por tanto tempo e ele esperaria o tempo que fosse preciso.

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Eles tinham muitas coisas para dizer um ao outro, mas a conversa ficaria para depois, apenas uma troca de olhares foi necessária naquele momento.

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"Estou em casa, Sakura".

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Oi pra todo mundo que chegou aqui, espero que tenham gostado!

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Eu gostaria muito de terminar essa fanfic com "Estou em casa, pra sempre", mas só me resta aguardar o fim do Gaiden sem matar ninguém.

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A citação do "romance idiota de vampiros" é do livro Promessa de Sangue, da série Vampire Academy, da qual gosto muito e recomendo. Mas pra Sakura, essa é uma péssima história.

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A frase "O amor não é uma marcha de vitória, é só um frio e sofrido aleluia" é da musica Hallelujah, vários interpretes.

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Um beijo para todos dos grupos de WPP e um especial pra minha beta que merece tudo de melhor nessa vida!