Olá, leitores.
Essa fanfic é baseada no anime Ergo Proxy, de Shukou Murase e Dai Satou. Meu enfoque, porém, não é sobre toda a história de Ergo Proxy, mas apenas sobre o período de tempo em que Vincent, Re-l e Pino viajam até Moscou.
Minha história é uma releitura desse recorte do anime.
Espero que gostem.
COGITO, ERGO SUM*
I – 23D02M3021A**
Enquanto escrevia no diário — como vinha fazendo todos os dias desde que partira com Vincent —, ela ouvia a música irritante da escaleta de Pino do lado de fora do barco. Na verdade, não achava que aquele barulho pudesse realmente ser chamado de música.
Acordei antes das 08:00 da manhã, como sempre. As horas no relógio são o único tempo que temos nesse lugar, nesse nada que não parece ter fim, porque lá fora é sempre a mesma escuridão.
Nada especial aconteceu hoje.
E Pino está fazendo aquele barulho outra vez.
A porta da cabine se abriu e Vincent entrou, duro de frio. Abraçava a si mesmo numa tentativa de manter o pouco calor do corpo e soltava o ar como nuvens de vapor que logo desapareciam. Re-l torceu a boca numa careta de desgosto ao vê-lo bater a cabeça no teto baixo sobre os degraus da entrada — mais uma vez — e se perguntou como um Proxy podia ser tão desastrado.
Vincent Law.
Ela o observou colocar uma panela com água sobre o fogão e aquecer as mãos próximas da chamas, e pensou que ele parecia um homem comum, daqueles que nascem e morrem do mesmo jeito sem nunca terem feito qualquer coisa que valha a pena. Pensou que ele parecia fraco — porque qualquer um poderia acertar-lhe um tiro bem no meio da testa, inclusive ela — e ridículo com aquele seu olhar que dizia que tudo, de alguma forma, ficaria bem.
O mundo que eles conheciam havia sido destruído, assim como os mundos que existiram antes. Como alguma coisa poderia ficar bem no nada que restara?
Mas então Re-l pensou que não o conhecia, aquele homem que não era nem máquina nem humano. E, apesar disso, sentia que toda a verdade que procurava estava nele. Sentia que precisava segui-lo até Moscou, até o fim, porque percebera que não havia sentido em viver sem saber para que. Quem eram os Proxies? Quem era o homem a sua frente? Quem era ela mesma? Agora que a cortina havia caído e ela podia ver o outro lado, Re-l precisava daquelas respostas.
Vincent Law.
Ele a olhou por sobre um ombro e tentou adivinhar no que ela pensava.
— Re-l... O que foi?
Como não houve resposta, ele desligou a chama e serviu a sopa de feijão nos dois pratos sobre a mesa.
— Venha comer enquanto está quente.
— Essa droga de novo?
— Bem... Não é tão ruim assim.
E sorriu para ela daquele modo que a deixava desconcertada, porque ao mesmo tempo em que a fazia sentir-se revoltada — quase ao ponto de bater-lhe com o primeiro objeto que encontrasse pela frente —, varria aquela raiva para longe. E no fim, tudo se resumia a uma cara feia.
* Do latim, "penso, logo existo". Citação do filósofo francês René Descartes.
** Numeração correspondente à data do dia 23 do mês de Fevereiro do ano de 3021.
