Sunshine

Eu achava que ela ficava mais bonita ao sol.

Quando os raios alcançavam seu cabelo acaju, deixando-os incandescentes; e a pele tão branca reluzia na luz quente. Ela parecia um anjo que viera me salvar.

Mas ela odiava o sol.

Franzia o rosto como se estivesse sofrendo algum tipo de tortura e se escondia em alguma sombra, entrando novamente na serenidade da escuridão, o cabelo voltava ao ruivo escuro que quase ficava preto quando molhado. Os olhos ficavam inquietos, observando tudo à volta sem o sol para ofuscá-la. Suas esmeraldas verdes também ficavam mais escuras na sombra de seus grandes cílios.

Então sua boca se retorcia em um sorriso mínimo. Satisfação. Ela gostava da forma como as coisas ficavam ao sol, brilhantes. Mas ainda se mantinha na sombra, como se não quisesse ser vista nem pelo sol.

Mas eu já a tinha visto. E amava a forma como ela ficava ao sol.

Era assim com Lilian Evans.

Eu amava o verão e seu suor, ela gostava da tristeza do inverno.

De observar de longe, sem ser notada. Se esconder e manter os olhos bem abertos, não assustados, mas atentos a qualquer coisa bela que aparece a sua frente. Eu podia vê-la parar no meio do caminho para observar um abraço entre amigos, para observar flores que brotavam em meio a neve; ria alto quando lia, por mais que a piada só fosse engraçada para ela. Aconchegava-se no casaco, abraçando a si mesma e pensava sobre coisas que não falava pra ninguém.

Podia-se dizer que era solitária. Porque gostava do frio e lia muitos livros e falava muito pouco.

Nos dias de sol era única a ficar trancada dentro do Castelo, sem participar das brincadeiras suarentas.

Mas Lilian era quente. E nunca esteve sozinha.

Eu nunca soube exatamente, não percebi quando aquilo chegou.

Só senti quando descobri aquilo fervendo dentro.

Dentro de mim. Como o sol que era meu, Lilian era minha e fazia parte de mim.

Em setembro, no final do verão, quando os dias são quentes e as chuvas são más. Ela vestia verde, como seus olhos. Os braços e pernas desnudos.

Sua pele brilhava com a película camada de suor de seus poros, sua cabeça incendiava em bronze e eu tinha ganhado um troféu. Ela vinha ao seu odiado sol e franzia o rosto, escondendo as esmeraldas, suas lindas esmeraldas que incandesciam como faróis.

Era doloroso. Eu queria tocar sua pele brilhante e sentir seus cabelos queimando sob meus dedos, queria arrancar suas vestes e vê-la bilhar por inteiro. E então tomá-la sob o sol.

Sentir-me dentro dela como ela estava dentro de mim. Senti-la como o sol.

Porque eu era o filho do sol e Evans era um raio de sol.

Mais minha do que um dia pudesse saber, eu a conhecia mais do que ela jamais saberia.

Esse amor não estava escrito nas estrelas, ele estava reflexos solares. Queimando e derretendo o gelo do inverno.

Lilian nunca gostou do sol porque nunca soube entende-lo.

Não gostava como ele ofuscava seu olhar, como se a luz a cegasse. Não gostava de como ficava molenga no sol. Não gostava do suor e da vulgaridade do verão.

Mas eu soube entende-la, assim como sempre o entendi.

Ela admirava coisas belas e eu a admirava.

Lily nunca me entendeu. Talvez por isso que tenha se entregado a mim.

E eu era James Potter e amava como Lilian Evans ficava ao sol.