CAPÍTULO I
O herdeiro
Noite fria, céu pintado de pontos claros e uma escuridão profunda na mansão Malfoy. Uma mulher que fazia jus ao sobrenome que herdara do marido, gemia de modo constante no maior quarto da mansão. Um elfo e dois curandeiros do Saint Mungos e uma parteira de confiança da família. A bruxa era velha e fizera o parto dos últimos três Malfoys.
Draco Malfoy estava na grande sala, que em tempos remotos havia sido cenário do fim de muitas vidas, agora o som que ecoava pelos corredores e ambientes era de vida. Ali iria nascer uma mãe, um pai e um filho, ao menos era o que se esperava. A priori era para estar presente somente a parteira e o elfo da família para auxiliá-la, contudo a coisa se complicara de um jeito que a própria velha mulher disse para o dono daquela casa que deveriam ser chamados curandeiros ou haveria a possibilidade de não serem salvos ambos, a mãe e a criança. Não sabia-se os motivos que levaram até aquela situação, mas agora tinham de lidar com ela. O copo de uísque de fogo na mão e os olhos vidrados num ponto qualquer da lareira, mostravam o estado de espírito de Draco. Não podia perder o filho, muito menos a esposa. O rosto que geralmente era pálido estava com cor por conta do álcool. Mais um grito longo de dor. O homem não se movia, se o fizesse iria piorar a situação, iria chamar todos de incompetentes e acabaria perdendo o que de mais precioso tinha na vida.
- É um menino, senhora Malfoy, é um menino!
Depois de muitas horas trancafiada naquele quarto tendo a criança, finalmente Astoria podia ver o rosto de seu filho. A vista tinha ficado turva, não demoraria muito a desfalecer, mas um sorriso choroso se fez no rosto da mulher quando lhe encostaram o filho no rosto. Não teve forças para segurá-lo, apesar da dor a felicidade era imensa! O menino berrava em plenos pulmões indicando o quão saudável era ao mesmo tempo que sua mãe finalmente se entregava ao cansaço.
- Cuidem dela, vou levar o menino para ver o pai
Ao ouvir a voz da parteira a primeira coisa que se ouviu da boca de Draco, que levantava-se do sofá e bebia o resto do uísque, foi:
- Como está Astoria?
A mulher que tinha os olhos bem claros e cabelos já grisalhos suspirou enquanto observava a criança em seus braços, limpando-a com um pano branco.
- Os curandeiros estão cuidando dela... Veja, seu filho, Draco, neto de seu pai, tão forte como você quando veio
A criança estava bastante vermelha, não era só pelo sangue, mas de tanto berrar. O menino só havia parado quando a voz de Draco tinha sido ouvida. Os olhos claros do menino de cabelos cheios demais para um Malfoy, porém tão claros como um, estavam perdidos piscando, procurando por alguma referencia.
- Deixe-me segurá-lo.. dê-me o Scorpius
A velha bruxa colocou o menino nos braços do pai como havia sido dito. No mesmo instante em que os olhos claros se encontraram, de pai e filho, o bebe finalmente se acalmou. Algo que há muito tempo Draco não fazia, ele fez: chorou. Os olhos ficaram mais vermelhos e se tornaram brilhantes de lágrimas. Os dedos compridos do mais velho tocaram levemente a cabeça do pequeno antes de acarinhar de forma delicada o rosto da criança.
- Meu filho.. ele finalmente nasceu, meu filho! Mande uma coruja para meus pais
Finalmente seu herdeiro ganhara vida, respirava. Naquele momento Malfoy sentiu-se completo no que se referia a família; sempre vira em seus pais todo o esforço que faziam por eles mesmos, mas agora entendia o porque de se arriscar tudo pela vida de alguém que veio de ti; era parte de você ali, aquilo era família.
- Você vai ser astuto como um escorpião, sua constelação vai te proteger, vai ser forte, você já é um Malfoy
- Scorpius, você não é como eles, você é muito mais. Não se deixe levar por punhos, você é um bruxo, não um trouxa. Vá com sua mãe e limpa teu rosto, nós não damos o troco, no fim do mês ficamos com tudo.. deixe estar meu filho, deixe estar, você ainda vai herdar coisas muito além da imaginação daquele moleque
Uma grande festa; um salão repleto de políticos sociais e uma noite com o céu pintado de estrelas. Banhados pela lua se viam duas figuras loiras; um homem e um garoto, ambos de cabelos tão loiros que quase chegavam ao branco.
- Mas pai, ele começou, ele ficava falando que a nossa família não prestava, que você não prestava, pai! Não consigo me controlar..
-Vai ter de se controlar sim! E ponto final! Sabe como temos de recuperar nosso prestígio, você ainda vai pegar tudo o que aquele mestiço queira, vai ter o que é mais precioso aos olhos dele. É só questão de tempo
O menino de não mais que oito anos assentiu com a cabeça emburrado; sempre fora muito mimado pelos pais, mas de uma coisa sabia, sua família não tinha mais o mesmo prestígio de outrora por culpa de gente como aquele moleque e seu pai andava político demais para fazer alguma coisa mais assídua contra aquele tipo de pessoa. O sangue ainda escorria do nariz do pequeno loiro até que num passe de mágica tudo se foi e o rosto do menino estava limpo outra vez.
-Entendeu?
- Sim, pai
- Ótimo, procure William ou Lucas para brincarem
Mais uma vez o garoto anuiu com o semblante nem um pouco contente; apesar de não concordar com algumas coisas que o pai fazia, ou da forma como agia, o menino o obedecia e de certa forma até compreendia o motivo do pai ser como era.
