Título: Mais que um sonho

Capítulo 1: Prólogo I

Sinopse: Gambit chega ao Instituto sem imaginar que alguém o espera ou o quanto a sua presença mudará suas vidas para sempre.

xXxXx

"Há momentos na vida em que sentimos

tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa

pessoa de nossos sonhos e abraçá-la."

xXxXx

Debruçada na sacada, ela contemplava toda a beleza à sua frente e se perguntava o porquê de nunca ter percebido o quão deslumbrante o céu poderia ser.

Observava com os olhos cheios de esplendor como o mar se fundia ao céu no horizonte enquanto a luz da lua fazia a areia da praia brilhar intensamente; esta era como um tapete estendido aos pés do mar enquanto ondas incansáveis vinham lhe beijar.

Não se fazia baralho algum, salvo pelo som das ondas se deitando. Era como se o mundo inteiro estivesse em sono profundo. Entretanto, a garota não se sentia mais sozinha nem perante a imensidão do mar. Agora, ela se julgava a pessoa mais afortunada que já viveu.

Parecia mais um sonho do que a própria realidade.

Então o Céu é assim.

E naquela praia deserta seus olhos buscavam alguém. Ela se admirava que, mesmo depois de tanto tempo, ainda sentia o mesmo frio na barriga e a mesma excitação enquanto esperava pelo seu retorno.

Em algum momento ela fechou os olhos e se deixou levar sentindo o frescor da brisa noturna que batia em seu rosto e fazia as leves cortinas brancas dançavam ao seu som.

Ela só voltou à realidade quando pensou ter ouvido um leve ruído vindo da porta. Voltando para dentro do quarto, ela fixou os olhos na maçaneta, mas para a sua decepção, esta não se moveu.

Ela, então, decidiu retornar à sacada, mas antes mesmo que pudesse dar o primeiro passo, sentiu uma respiração quente em sua nuca e dois braços fortes a envolvendo pela cintura.

Ela soltou uma gargalhada insuprível. "Você nunca usa a porta?"

Ele também riu; uma risada máscula e genuína que sempre percorria o corpo dela com prazer. "E perder a chance de te surpreender? Acho que não" ele murmurou ao pé do ouvido e então lhe deu um beijo prolongado perto da orelha, onde ele sabia ser sensível. "E além do mais, velhos hábitos não morrem fácil" ele acrescentou, entre beijos.

Ela pendeu a cabeça para o lado assim que os lábios dele começaram a descer pela sua nuca, deixando um rastro que queimava tal qual fogo. Extasiada, ela se virou para poder olhar nos olhos do homem que amava. Envolvendo os braços em torno do pescoço dele e ficando na ponta dos pés, ela lhe beijou de leve os lábios e os braços dele a trouxeram para perto. "Você demorou" ela disse com aquele sorrisinho que ele nunca foi capaz de compreender por completo. Ele duvidava que um dia seria capaz.

"Eu sei disso. Levou mais tempo do que eu havia planejado. Mas lamentos não servem para nada. Viemos aqui para ficar a sós, sem nada para nos atrapalhar."

Ela sorriu timidamente. "Foi o que você prometeu."

"E eu sempre cumpro o que eu prometo" ele garantiu num murmúrio.

"O que foi?" ela perguntou, percebendo o sorriso malicioso crescendo nos lábios dele.

Ele inclinou a cabeça até que a sua testa encostasse de leve na dela. "Você está muito sexy nessa camisola."

Ela gargalhou satisfeita deixando a cabeça pender para trás, assim lhe dando pleno acesso ao seu pescoço. A boca dele voou para o pescoço dela, chovendo-a com beijos.

Os lábios dele finalmente pararam sobre os lábios dela, e eles se entregaram a um beijo apaixonado. Tão intenso quanto o primeiro ou mesmo o último.

Ela suspirou em silêncio enquanto tentava desesperadamente extrair o máximo de todas aquelas sensações ainda tão novas. E ele continuava a surpreendê-la dia após dia.

Assim as mãos dela iam bagunçando ainda mais os longos fios dos cabelos dele enquanto dedos ágeis iam escorregando lentamente pela sua coxa. Em um segundo, as pernas dela estavam envoltas na cintura dele. Silenciosamente ele a levou para a cama quando as palavras já não se faziam mais necessárias.

Ele se sentou com ela no colo, pois as pernas dela se recusavam a se soltar da sua cintura. Logo, ela começou a levantar a camisa dele vagarosamente; chegando à altura do peitoral, ele ergueu os braços para facilitar a retirada.

As mãos dela se deitaram sobre o peito dele e seus dedos curiosos não tardaram a brincar na perfeição do corpo dele. Seus olhos seguiam cada movimento. Ele sentiu seu corpo inteiro se arrepiar ao simples toque dos dedos melindrosos dela. Ela sorriu ao ver os músculos se contraírem, sem imaginar que o estava levando à loucura.

Ele suspirou e os olhos admirados dela voaram de encontro aos dele. O que ela viu se resumia a puro desejo. Até que ela não conseguiu ver mais nada quando os lábios dele caíram com paixão sobre os seus.

Invertendo as posições, ele a deitou na cama. O olhar de paixão que ela lançou foi o suficiente para que ele a enchesse com mais dezenas de beijos. Ela ria com prazer à medida que os lábios dele iam tocando aqueles lugares que lhe faziam cócegas. Mas ela adorava isso, adorava os beijos dele mais do que quase tudo na vida.

De joelhos, ele começou a erguer a camisola dela provocante. O tecido leve ia deslizando suavemente por suas pernas.

As risadas da garota não tardaram a se transformar em suspiros assim que ela sentiu as mãos dele subindo junto com a camisola. Chegando à altura da barriga, ele passou a beijar lentamente as partes que iam se revelando até finalmente chegar à boca mais uma vez e se livrar totalmente da peça inconveniente.

Em instantes, eles se viram livres das calças dele e de qualquer outra peça de roupa restante, tendo agora nada mais que os lençóis roçando seus corpos.

E, mesmo em meio a todo o prazer, suas bocas sempre arranjavam uma maneira de se encontrar, assim como seus dedos fortemente entrelaçados.

A luz da lua contemplava os corpos dos dois amantes naquele quarto semiescuro de onde eles pareciam ser um só...

De repente, ela acordou.

Seus olhos se arregalaram e deram de encontro com as sombras no teto. Olhando ao seu redor, ela viu que estava em seu quarto. Segura em seu quarto. Kitty dormia como uma pedra na cama ao lado. Estava tudo em seu devido lugar. Foi apenas um sonho.

"Apenas um sonho" ela murmurou para si mesma, sentando-se na cama. Seu coração batia tão acelerado que parecia estar prestes a subir pela garganta. As imagens do sonho que acabara de ter enchiam sua cabeça sem pedir permissão.

Ela perdeu completamente a noção de tempo.

"Vampira?" chamou Kitty de repente, com a voz sonolenta. Ela acordara e acendera o abajur, achando que havia algo errado. Acabou encontrando a colega de quarto sentada na cama ao lado, com um olhar perdido. Levantou-se e deu alguns passos cautelosos em direção à cama de Vampira. "Você está bem?"

"Estou" ela respondeu após uma longa pausa. Quando seus olhos finalmente recuperaram foco, ela olhou para Kitty parada perto da sua cama. Percebendo o seu semblante preocupado, Vampira tentou sorrir. "Está tudo bem, Kitty."

Lince Negra não pareceu convencida. Vampira não mentia tão bem quanto imaginava. Então se sentou no chão, ao lado da cama. "Está acordada há muito tempo?" perguntou, cautelosamente.

Por mais que considerasse Vampira sua melhor amiga, Kitty sabia que era muito fácil enfurecê-la, o que acontecia com certa frequência desde o dia em que elas passaram a dividir o mesmo quarto. Mas, com o tempo, Kitty aprendeu a não pressioná-la, e elas acabaram se tornaram verdadeiras amigas, mesmo Vampira demonstrando isso de maneira pouco convencional. Kitty entendia as limitações que Vampira enfrentava e a respeitava ainda mais por isso.

"Eu não sei ao certo" respondeu Vampira, ainda bastante distraída.

"Teve mais um daqueles sonhos?" perguntou Kitty, franzindo a testa em preocupação.

"Acho que desta vez foi só um sonho mesmo."

"Por que acha isso?"

"Porque o que eu vi nunca poderá acontecer" ela respondeu com imensurável tristeza. "Mesmo tendo parecido tão real" acrescentou com intensidade. "Não vai acontecer."

"O que você viu?" perguntou Kitty, deixando a preocupação se misturar à curiosidade.

Vampira desceu os olhos até os da outra garota e respondeu com certa aspereza: "Por que você tem que ser sempre tão intrometida?"

Para Vampira, fora uma simples pergunta, mas para Kitty pareceu demais.

"Por quê? Porque eu sou sua amiga" respondeu Kitty sem se exaltar, porém evidentemente magoada. "Já vi você passar por tanta coisa ruim... quando você tinha pesadelos com o passado de quem tocou e agora... agora sonhando com o futuro" ela fez uma pausa. "'Tá na cara que você ficou perturbada com esse sonho. Você sempre tem essas reações estranhas. Eu me preocupo com você apesar de às vezes eu esquecer do porquê" ela então se levantou e voltou para a sua cama.

Vampira sentiu as palavras de Kitty e foi imediatamente tomada pelo remorso. Sabia que não tinha o direito de falar daquela maneira com a garota, mas responder àquela simples pergunta significaria revelar uma parte íntima sua, e Vampira não estava disposta a fazer isso. Agredir era sempre mais fácil, por mais que ela se esforçasse para mudar.

"Kitty! Eu não... eu não quis..." ela não sabia como fazer aquilo, não sabia pedir desculpas.

"Eu sei" disse Kitty, deitada em sua cama, com as costas para Vampira. "Você nunca quer magoar os outros, mas sempre se sai muito bem nisso."

"Você quer mesmo saber?"

Kitty deu de ombros como se não se importasse. "Falar sempre ajuda" ela se virou para Vampira e se sentou na cama com as pernas cruzadas. "Nós temos pontos de vista bem diferentes. De repente você interpretou mal esse sonho" ela disse sorrindo, toda a mágoa que sentira instantes antes simplesmente se dissipara como se nunca tivesse existido. Saber perdoar era, sem sombra de dúvidas, uma de suas maiores qualidades.

"Está bem. Mas sem detalhes" Vampira afirmou, séria.

"É claro" Kitty aceitou, feliz pela vitória. "Foi muito ruim?"

"Ruim? Não" ela chacoalhou a cabeça com veemência. "Foi justamente o oposto."

"Será que é por isso que você ficou tão aturdida?"

"Talvez. Eu tenho tantos pesadelos que um sonho agradável me parece mesmo fantasmagórico" ela riu com frieza.

Kitty ofereceu um sorriu confortante e esperou pacientemente até que a amiga continuasse.

Instantes depois, Vampira voltou a falar. "Tinha um rapaz—"

"Um rapaz?" Kitty ecoou, interrompendo Vampira. "Você o conhece?"

"Não."

"Como ele era?"

Vampira lhe lançou um olhar de repreensão. "Eu disse sem detalhes."

Kitty encolheu os ombros e sorriu ingenuamente "Vai que eu conheço ele."

Colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, Vampira continuou, agora um pouco mais tímida. "Eu não me recordo direito" ela começou mentindo. Lembrava-se perfeitamente de cada detalhe imaginável, como se aquela cena tivesse mesmo acontecido há pouco. Ela não fora uma simples espectadora, era como se estivesse realmente lá, vivendo aquele momento.

"Diz o que você lembrar" continuou, Kitty. "Ele tinha, sei lá, alguma característica marcante?"

Os olhos, Vampira pensou. Mas ela não iria contar sobre eles e nem como a fizeram sentir. Ela nem saberia como.

"Ah, ele era alto, jovem" ela disse com casualidade, sem responder nem que sim nem que não à pergunta de Kitty, "cabelo castanho... muito bonito" ela completou rapidamente, tomada pela vergonha. A admissão tornou Kitty ainda mais curiosa, ela nem piscava. Vampira nunca dizia coisas do tipo. "E... e nós nos beijamos. E é isso. Só isso. Pronto. Fim" ela tagarelou com nervosismo. Era mais do que ela estava disposta a contar.

Kitty soltou uma gargalhada alta. "Isso é maravilhoso! Você não o absorveu, não é?" Vampira confirmou com um aceno. "Isso é simplesmente maravilhoso" Kitty repetiu ainda com mais empolgação. "Isso quer dizer-"

"Não quer dizer nada" Vampira a cortou com irritação. "Foi apenas um sonho."

"Eu me recuso a acreditar nisso, Vampira. Eu tenho certeza de que não foi só um sonho."

Ela queria tanto que fosse verdade. "Como você pode saber?"

"Se fosse só um sonho como qualquer outro você não teria ficado tão mexida. Vampira... você disse que pareceu real."

Vampira caiu em contemplação. Fechou os olhos e respirou fundo. "Pareceu" disse num sussurro quase inaudível.

Com um sorriso de satisfação Kitty se deitou novamente, sem dizer mais nada.

Vampira permaneceu por mais alguns instantes sem reação até finalmente voltar a si.

Já aconchegada em sua cama, ela fechou os olhos, ousando cair no sono mais uma vez. Ela adormeceu ainda conseguindo sentir aquele sonho em todos os sentidos. Um sorriso não deixava o seu rosto. Pela primeira vez em muito tempo, ela se permitiu ter esperanças.

xXxXx