Título: Bons Costumes
Autora: Olg'Austen a.k.a Prince's Apple
Personagens: OCs e Personagens de POTC
Aviso: A fic passa-se muitos anos depois da saga dos três filmes [RATED M]. Cena de sexo hétero num dos chapters.
Resumo:Pennnynão tem mais jóias, juventude ou maridos carrascos, apenas uma pequena pensão em New Orleans, e o amor do filho que teve com o Capitão Jack Sparrow (CONTINUAÇÃO DE "MAUS COSTUMES")
Bons Costumes:
Capítulo 1.
Treze
Por um momento Jack se pegou pensando em tudo que vivera até agora. Pousou a garrafa de rum sobre uns caixotes ao canto do porão daquele velho navio e divagou sobre as aventuras por que já havia passado. A última, em busca de uma fonte maldita chamada "da juventude", jamais teve seu desfecho. Nunca pensou que pudesse desistir de uma "caça ao tesouro", mas parecia que, os anos tão bem vividos, tinham enfim lhe cansado.
— Mais uma garrafa, Jack? — um colega de tripulação lhe perguntou, mas logo veio a resposta negativa — Nunca pensei que esse dia chegaria... Jack Sparrow enjoando do rum — sorriu. — Aceite, pois no Novo Mundo não terá disso aos rodos.
— Não enjoei do rum, caro colega. — o pirata pensativo lhe disse — Apenas não quero mais... Quando quiser, posso conseguir facilmente.
Havia uma estranha serenidade pairando pela voz de Sparrow... Os treze anos que passara tendo como único companheiro o mar certamente o mudara. As aventuras por que passara o fizera mudar. Alguns anos depois de partir, se descobrindo traído pelo espanhol, Hector Barbossa, voltou a Port Royal. Em sua mente ainda lembrava da paixão que ali deixara, mas as batalhas em alto mar e os desafios que fizera a própria vida o ajudaram a, pelo menos, ignorar tudo aquilo... Porem, depois de virada às avessas, sua vida não podia ser outra que não a mais insana possível.
Era um homem cheio de trejeitos, com as desculpas na ponta da língua, com o coração acelerado e temperamento nervoso... Quem o conhecia bem o achava adorável, mas a verdade, naquele instante, é que o mundo dera voltas e consigo a cabeça do eterno capitão do Pérola. Sim, eterno, por que mais uma vez o perdera pro esperto espanhol. Aquela era a sua sina; viver a correr atrás de Barbossa e do seu navio furtado.
De repente não se sentia mais incomodado com o fato do Pérola possuir um outro capitão. Talvez o navio já tivesse sido do velho por tanto tempo que acabara o escolhendo como dono. A única coisa que naquele galeão ainda lhe era fiel chamava-se Gibbs, mas o imediato estava deveras idoso pra continuar naquela vida.
Sparrow ainda era jovem, não como antes, mas sua fraqueza era mais mental que física. — Pois bem... — o homem que ainda o acompanhava brincou, roubando o tricórnio de sua cabeça — Quando chegarmos lá. Não precisará desse chapéu!
— Com licença, meu jovem Phillip. — Jack fingiu um sorriso, tomando o tricórnio de volta — Disso jamais me desfarei. Agora vá andando que eu tenho mais no que pensar.
— Credo! Reclama como um velho!
— Me chame de velho de novo e seus miolos enfeitarão o chão do convés!
Depois de estar com uma tripulação, uma dama e um ferreiro amaldiçoados, vendo a morte de perto... Matar pelo seu antigo chapéu era o mínimo que faria.
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O sol raiava nos céus de Louisiana, Nova Orleans, uma choupana às margens do Mississipi se destacava em meio à extensa plantação de índigo. O terreno apesar pantanoso rendia o suficiente para a pequena família que ali vivia; uma mulher e o seu filho. Penélope Lane e seu filho... Mas sua situação naquela terra não era tão fácil assim. Na verdade, era deveras incerta. Esta lhe havia sido arrendada por um velho fazendeiro Inglês, porem, o domínio francês se expandia à cada ano, amedrontando-a.
— Logo estaremos vivendo dentro do rio, numa canoa. — era a conversa entre os vizinhos — Plantaremos no topo da cabeça.
Próximo à localidade em que Lane vivia, havia o pequeno vilarejo onde moravam os empregados do proprietário da terra.
— Logo, com a chegada dessas embarcações, não teremos nem mais como navegar no rio, Srta. Penélope. — um de seus amigos lhe dizia.
Por treze anos estivera ali, acuada com os próprios pensamentos, receando ser descoberta no novo mundo, mas Nova Orleans acabara se tornando sua casa. Ali construíra seu pequeno teto, ali plantava e dali colhia... Ali também criara seu único filho.
Em treze anos Penélope amadurecera mais do que fizera em trinta a perambular em busca da felicidade de sua família. Tivera dois maridos, nenhum amor por eles. Tivera um único amor, o pai de Benjamin, mas desse não lhe agradava nem recordar. A si, bastava a labuta, o amor de seu filho e a esperança de que este viesse a se tornar um homem de bem, distante de qualquer má influencia.
O liquido dourado, cheirando a camomila, fumegava na xícara que trazia em mãos, Penny o bebericava às prestações, encostada no velho balcão em pedra. Contra a própria vontade se deixava pensar, lembrando de quando aquela bebida lhe caía bem, tomada à varanda da Mansão dos Lanes, há muito tempo atrás.
Voltar à realidade era o mais duro de tudo aquilo, e isso sempre acontecia.
— Me dê um bom motivo... — ela surpreendera o rapaz, passando por trás de si com a discrição de um felino. —... Para sair escondido a esta hora da manhã, Benjamin Lane! — disse, voltando-se à porta da cozinha, onde seu filho, encabulado, fingia-se invisível.
— Ahn, mãe! — o jovem reclamou — É o meu aniversário!
— Então, meus parabéns — cumprimentou-o beijando-lhe a testa — Torna-se um homem a cada dia que passa — seguiu, assanhando os cabelos finos do garoto.
— Big Sam disse que tinha algo para mim! — falou — Como posso ser um homem se nem à vila vou sozinho?
Penélope riu — Deixe de besteira, Ben! — bradou — Vai sair sim, mas depois de comer alguma coisa. Não chegará à casa dos outros com o estomago vazio!
— Tá! — o rapaz concordou, escolhendo uma maçã da fruteira.
Quando contrariado, erguia uma sobrancelha, bufando, descontente. Penélope não lutava mais contra as manias do filho. De fato, os trejeitos de Benjamin lembravam muito os do pai... Lutar contra seus modos não adiantaria de nada, afinal neurótico ou não, os olhos escuros do garoto sempre estariam ali, como dois fantasmas do passado a lhe assombrar.
— Uma maçã não basta! — ela disse — Encha essa barriga direito... Está magro, Ben! Coma... Pois também tenho algo a lhe dar!
A última frase dita por sua mãe não passara despercebida. Enquanto ela sumira casa adentro, à caminho do quarto, o garoto correu à cesta de pães, contrariando o próprio fastio.
Benjamin completava treze anos naquele vigésimo dia de Agosto. Era verão e, assim como seu pai, nascera num dia quente. Disso Penélope recordava bem... Talvez por isso fosse dono de uma personalidade explosiva. Ninguém diria que, quando queria, era o filho mais doce e carinhoso que havia. Decerto que treze anos não dá coragem ou experiência a ninguém, mas havia algo dentro de si que fazia Benjamin Lane se sentir o mais bravo dos rapazes de sua idade. Sua aparência não dizia muito disso, afinal, apesar de ser mais alto que os demais, Ben era um tanto franzino, a cor de sua pele era clara como leite e o cabelo mais comprido que o normal, castanho-escuro, liso, sempre cativo atrás das orelhas.
— Gosta de sair sozinho... — Sua mãe voltara, lhe entregando algum dinheiro — Vá ao centro e corte os cabelos!
— Só isso? — o menino reclamou — Digo... Não falo do dinheiro, eu só...
— Claro que não! — Penélope mencionara a mão cativa atrás das próprias costas, sorrindo — Aqui está! — disse, lhe mostrando um embrulho que trazia consigo — Não deixaria esse dia passar em branco, deixaria?
— Oh, mãe... Não precisava...
— Anda, Ben! — Penny lhe entregou o pacote — Abre logo.
De pronto ele desfez o embrulho, revelando o contido — Dante Alighieri! — estava escrito. — Divina Commedia.
— Li esse livro quando tinha a sua idade. — ela disse — Digamos que é diferente! Certo, não devia ter lido... Mas a ilustração sempre me atraiu e... A biblioteca de meu pai ficava sempre aberta. —sorriu — Há tempos eu andava atrás dele. Por sorte, Big Sam encontrou este exemplar num sebo perto do cais...
— Obrigado mãe! — o garoto disse, correndo os olhos pelo texto em versos. — Comédia?... É engraçado?
— Terá de ler. — foi a resposta — Agora vá, depois passe no barbeiro por favor.
— Ah! Por quê? — ele praguejou baixinho, limpando a boca na manga da camisa.
— Porque sim... — a voz de Penélope saíra impaciente, recolhendo os pratos da mesa — E olhe esses modos! Às vezes mais parece mais um...
... Um pirata?
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Jack acelerou os passos para fora do navio, nunca viu em vida uma tripulação tão enfadonha; a começar pelo tal que insistia em lhe puxar conversa; Philip. Tamanha chatice seguia pelo capitão e à dezena de marujos mal passados, sem um pingo de experiência... Não poder provocar um motim e tomar o navio para si era a pior parte. Bons ou ruins foram eles que lhe acolheram quando não tinha nada além de uma bussola velha... Jack os ludibriou, numa busca incansável a fim de encontrar o seu amado Pérola Negra.
— Já vai, velho Jack? — o mais moço, Phillip, olhou para si — Subiremos o rio em dois dias.
— Vocês são dementes ou o quê? — o pirata se empertigou — Teremos de subir em botes. Tamanho galeão não navega naquelas águas. Principalmente nos trechos pantanosos... Navios precisam de água. E a dali mal enche um barril de rum!
— E o que pensa em fazer, Jack Sparrow? — aquele que parecia ser o capitão lhe perguntou, jocoso.
— Me vou, meu caro capitão! — fingiu uma reverencia — Deixo-os aqui, meus amigos. — ele disse — O rio me chama e creio que nossas dívidas já estão devidamente sanadas, não?
Phillip e o capitão lhe entreolharam, lembrando-se da tamanha perda de tempo que Jack os fizera passar, atravessando as Ilhas do Caribe em busca do tal navio perdido.
— Só se você se atinar pro fato desse seu navio aí ser uma assombração, Jack. — o mais velho falou — Conhecemos as histórias da tripulação amaldiçoada, homem!
— A verdade é que... — o marujo tomou a palavra, dando-lhe um tapa nas costas —... Nosso amigo parece estar pirando a cada dia que passa, Capitão.
— Perdão, mas, se conhecem tanto sobre o Pérola Negra, como não podem recordar da grande reunião dos piratas? Aquela que silenciou, de uma vez por todas, um certo lorde das Companhias das Índias Orientais e toda sua frota de navios! — seus companheiros se calaram — Pois bem, se acreditam ser mentira tudo o que ouviram não sou eu que lhes farei entender.
— De verdade, Jack — Phillip seguiu — O que pensa em fazer?
— Pirataria. — sorriu mostrando os dentes dourados — Por mais cansado que esteja, hei de recuperar aquele navio. Se pensam em subir o rio daqui a alguns dias, lhes digo que subirei hoje.
Era pra lá que a bussola apontava, oras. E, apesar do mau jeito e do jogo já dado como vencido, Jack só tinha o galeão à desejar. Afinal, que outra coisa havia deixado pra trás? Que outra coisa desejava mais em todo o mundo? Rio acima era onde o ladrão espanhol deveria estar!
... Lembrava-se apenas do navio, ou fingia lembrar-se apenas dele.
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— Big Sam! — Benjamin gritara à porta do amigo — Big Sam!
— Ô! Rapaz! — o homem chamado aparecera aos fundos, lhe sorrindo — Não pensei que apareceria tão cedo, Benjamin!
— Como não?
Samuel morava ali há tanto tempo. Há muito mais de meio século sua família servia ao senhor, dono das plantações de índigo. Nascera ali e certamente ali morreria. O mesmo podia ser dito de sua esposa... Para todos os feitos, eram felizes. O patrão nos lhes tratava como escravos, apesar de que, trabalhar na terra dos outros não era o que se podia chamar de liberdade.
— Parabéns, menino! — o homem negro lhe aninhou os cabelos. — Como se sente? — perguntou
— Mais velho...? — Benjamin arriscou, provocando riso em Big Sam.
— Nem tanto, rapaz! — ele disse — Vamos, entre!
A casa era demasiado simples, mas nada muito diferente da sua. Benjamin, já a conhecia muito bem. Passava longas tardes ali ouvindo as histórias da Sra Smith, esposa de Big Sam. Histórias de uma terra longínqua. Histórias às vezes tristes de família.
— Benjy, meu garoto! — a mulher exclamara ao vê-lo em sua sala, correndo para um abraço — Veja o que Sam lhe comprou. Vai adorar! É tão...
— Ótimo, mulher! — Big Sam torcera o nariz — Agora estragou a surpresa.
— Não, não! Corra lá e traga para ele. — ela insistiu, mencionando uma cadeira ao aniversariante — Como tem passado, Benjy?
— Bem, Sra. Smith. — respondeu
— Está magro, menino! — a voz da mulher saíra contundente — Penélope não está conseguindo fazê-lo comer, não? Já é um homem, tem que se alimentar bem, do contrário o que serão das plantações sem um braço forte à colher o índigo? Vamos... Prove — disse, trazendo um prato ao seu encontro — É bolo de milho, sei que gosta. Vamos! Tenho que ensinar algumas receitas à sua mãe!
Ben aceitou o bolo, um tanto encabulado, mas logo comprovou que a gostosura do cheiro se seguia ao gosto. — Está... Uma delícia, Sra. Smith.
— Ben! — Big Sam voltara trazendo algo para si — Achei que iria gostar. — disse lhe entregando o agrado — Um forasteiro me vendeu.
— Uma bússola! — o garoto exclamou tomando o artefato em mãos. — Agora saberei pra onde fugir sem me perder quando mamãe ficar doida.
— Benjy! — a mulher o censurou — Não diga isso. Essa bussola é para as grandes aventuras que te aguardam, rapaz!
— Ahn... Er, obrigado, Big Sam! — ele disse meio sem jeito — Obrigado, Sra. Smith- -!
Benjamin pretendia continuar com o agradecimento, mas as mãos de Samuel foram ágeis tomando o presente de volta — Ora essa! — o homem resmungou, batendo no visor — Quebrou-se? Veja, Netty!
— Não aponta pro norte, homem! — a mulher disse — Como compra uma coisa quebrada pro garoto?
Continua:.
Agradecimento Especial: A todos que ficaram comigo até aqui!
. à Tati C. Hopkins; Mulheeer, muito obrigada por ter me aguentado nessa demora toda *-* Sei que você não lê POTC, mas te agradeço muito por me acompanhar nessa fic tão prolongada o/
. à Jodivise; Amigaaaa, tudo que eu colocar nessa segunda parte eu deverei a você, moça! Você me ajudou tanto! :surto: To te devendo do contexto histórico ao nome do pequeno Sparrow :horror: Vou te agradecer pra sempre pela ajuda e pelas dicas! \o/
