Prometo que não vão perder o seu tempo. Pelo menos deem uma chance para a história, OK? :)
Como vocês sabem, nenhum desses personagens são realmente meus. Eu só os peguei emprestado.
1. Aeroporto de Port Angels.
O tremor que percorreu o meu corpo foi o bastante para me fazer abrir os olhos.
Não precisava procurar o meu relógio para saber que eu tinha acordado antes da hora. Isso já estava saindo de controle.
Todas as noites era isso.
Todas as noites, sem exceções.
Eu me sentei na cama procurando alguma coisa que pudesse afastar as mechas de cabelo do meu rosto. Como sempre, eu precisava derrubar alguma coisa. Os objetos na mesa ao lado da minha cama foram as vítimas, e graças ao silêncio, fizeram um barulho muito maior do que originalmente fariam.
Ótimo.
Pulei da cama e fui até o corredor para ter certeza de que não tinha acordado Charlie. Houve uma pequena interrupção nos seus roncos, mas logo meu pai pareceu voltar aos seus sonhos.
Sonhos. Quem me dera.
Apesar de irritada, não pude conter o suspiro de alívio que escapou pelos meus lábios. Era constrangedor demais olhar para Charlie de manhã quando ele sabia que eu tinha passado metade da noite acordada. Ambos não tínhamos tato para lidar com demonstrações de afeto, e saber o quanto ele se preocupava em me ver vagando pela noite me deixava mais desconfortável do que o normal.
Como de costume, voltei para o meu quarto e me joguei na cama novamente.
Pouco me importava se tinham papéis e livros espalhados pelo chão. Eu estava cansada demais para colocá-los em cima da mesa de novo. Tudo o que eu queria agora era dormir. Algumas horas sem pesadelos, até mesmo sem sonhos. Só fechar os olhos e me desligar.
Há quase um mês minhas noites têm sido interrompidas pelo mesmo pesadelo. A mesma droga de pesadelo todas as noites. Frustrada, apertei as mãos contra os meus olhos com força. Por favor, eu só queria que isso terminasse!
Já sabendo que não dormiria mais essa noite, eu deixei a minha mente vagar pelas imagens que tiraram a minha calmaria noturna.
Começava no aeroporto de Port Angeles e como já era de se esperar, estava chovendo. Na primeira vez que vi essa cena, imaginei que fosse a chuva a causadora do meu desconforto. Depois da primeira semana de repetições percebi que não importava o tempo. Talvez a Bella desses sonhos não sentisse tanta falta do sol como eu sinto agora.
Eu olhava a minha volta procurando algo que o meu consciente não parecia saber o que era. E quando eu entendia que não estava lá, um grande desespero se apoderava de mim.
Então eu começava a correr.
Ignorando tudo á minha volta, eu corria com todas as minhas forças pelo aeroporto, o ar entrando e saindo com dificuldade dos meus pulmões, que pareciam prestes a se queimarem. Eu pensava que o caminho era interminável, até que eu fazia a última curva.
Um alívio momentâneo era o único aviso que eu tinha antes de cair de joelhos em frente ao portão de embarque.
Então, não havia mais nada. Só o vazio. O breu que se infiltrava no meu peito durante todas aquelas noites. A impressão de que um buraco negro se apoderava de mim.
Era nessa parte em que a dor ficava grande demais para que eu continuasse com os olhos fechados. Frustrada, suando frio e ofegante, como se todos aqueles sentimentos tivessem de fato sido sentidos, eu acordava de madrugada.
Por mais que esses pesadelos não fizessem sentido nenhum, eu me esforçava em acreditar que um dia iriam significar algo. Mesmo assim, não vinha sendo fácil. Por sorte, havia breves momentos em que conseguia lutar contra o instinto de correr. Era nessas horas que eu conseguia ver os detalhes a minha volta, como a chuva do lado de fora.
Um dia, tive breve deslumbre do relógio, mas não foi o bastante para ver o horário certo. Em outro, vi que o aeroporto estava quase vazio, e que as poucas pessoas que estavam por lá me observavam como se sentissem pena de mim.
Iria ficar louca se continuasse assim. Talvez eu realmente fosse digna de pena.
Era quase impossível fechar os olhos depois de acordar. Eu realmente tentava fingir que nada aconteceu, mas o choque era grande demais para que eu pudesse ignorá-lo de uma hora para outra.
Inúmeras vezes o vazio durava tempo demais, e eu me perguntava se tudo isso não passava de um aviso para eu voltar para Phoenix.
Antes que a idéia se instalasse na minha cabeça, eu me lembrava do mais importante. Eu era feliz aqui. Não muito, mas mais do que já fora em qualquer outro lugar. Mais até do que em Phoenix. Se eu precisasse voltar, teria plena consciência de que isso era o certo.
A chuva batia com força contra a minha janela. Eu me enrolei nas cobertas com frio. Faltava pouco para o nascer do sol – mesmo que ele não fosse de fato aparecer. A espera pela manhã costumava durar pouco. O tempo parecia voar quando eu quebrava a cabeça para entender o causador da minha insônia.
Logo o meu despertador tocava, e logo eu me levantava para mais um dia na verde e úmida cidadezinha de Forks.
- Bom dia, Bells - Charlie disse quando eu apareci na cozinha. - Dormiu bem?
- Claro - menti rapidamente. Sempre fui uma péssima mentirosa, mas já havia contado essa mentira tantas vezes que já soava convincente - O que tem para o café? – desconversei.
- O de sempre - ele respondeu voltando os olhos para o jornal, um pequeno sorriso aparecendo em seu rosto - Cereal, leite e café.
Eu me sentei com ele á mesa e um silêncio confortável se deu entre nós.
Era bom poder ter essa calmaria, não ter que ficar sorrindo depois de noites como essa. E era um alívio que Charlie não insistisse em me manter falando. Não tinha necessidade de preencher espaços entre as conversas, ficávamos confortáveis assim.
- Alice vem te pegar hoje pra escola? - ele perguntou quando eu terminei de me servir.
- Droga, eu tinha esquecido!
Antes que eu me levantasse da mesa, a conhecida buzina do Porshe soou do lado de fora.
Maldita mania de sempre chegar cedo!
- Acho que alguém vai pra escola sem comida hoje - Charlie implicou quando eu saltei da cadeira e coloquei a mochila nos ombros.
- Eu não estava com fome! - gritei da porta da frente antes de sair.
Hoje era sexta-feira, e de acordo com Alice, esse era o nosso dia de sair de Forks. Salões, shoppings, e todo tipo de comércio feminino próximo a nós estava sujeito a visitas daquele pequeno furacão em forma de fadinha quando ela resolvia me arrastar com ela – o que, para falar a verdade, acontecia todos os dias desde que nos tornamos amigas.
Nós sempre íamos depois da aula, e várias vezes eu tentei fugir do nosso passeio na minha picape. Claro que nunca adiantou. Quinze minutos depois da minha fuga, Alice sempre aparecia em casa com o olhar mais triste do mundo na minha porta da frente. Era quase impossível resistir áquele olhar. Logo eu pegava o meu casaco e me sentenciava a mais uma tarde excruciante de compras.
Alice sempre conseguia me fazer a acompanhar, mas depois da segunda tentativa a pequena cansou de perder o seu tempo valioso de diversão. Disse que era importante demais para ser gastado com ela dirigindo até a minha casa, então ficou estipulado – contra a minha vontade, que todas as sextas ela me buscaria, só para evitar que eu fugisse.
"Você pode tentar ir a pé se quiser" ela rira balançando o cabelo espetadinho, "pelo menos vou te encontrar na metade do caminho."
Admito que por mais que eu odiasse passar horas e horas experimentando as roupas que ela jurava me "gritar pelo nome", eu não podia negar que no fundo eu gostava de passar esse tempo com Alice.
Era a minha melhor amiga, afinal.
- Você está péssima - disse assim que eu entrei no carro.
Uma das coisas que me assustavam sobre Alice era o fato de ela me conhecer bem até demais.
- Bom dia para você também - resmunguei colocando o cinto.
- Estou falando sério, Bella. Você não dormiu de novo?
Pensei seriamente em mentir para ela como menti para Charlie, mas eu sabia que não iria conseguir esconder isso. Ela parecia saber de tudo antes que acontecesse. Com certeza me descobriria.
- Não. E não quero falar sobre isso, OK?
- Pesadelos de novo, não foram? - ela ignorou meu último pedido e ligou o carro.
- Sim - murmurei ainda sem levantar o olhar para o dela. - Eu não consigo entender, Alice. É tão incrivelmente confuso tudo isso. E tão real, eu não sei o que-
- Pensei que não quisesse falar sobre isso - ela me interrompeu com um sorriso travesso no rosto.
- Você não vale nada, Cullen - eu ri a provocando. Alice piscou os olhos angelicalmente.
- Tudo bem, conversamos sobre esses assuntos tristes mais tarde lá em casa - ela exclamou de repente animada - Temos que resolver mil coisas-
- Lá em casa? - a interrompi.
- Hoje você vai comigo. Jasper vai pra lá jogar alguma coisa com Emmett, e você sabe como os dois podem ficar chatos - ela explicou - Esme e Carlisle precisam ir ao jantar da Associação de Medicina, por isso, vamos ter a casa só para nós até sábado de manhã. O jantar vai terminar um pouco tarde e Esme acha melhor dormirem em Seattle. Sem contar que você precisa de uma noite de garotas.
- Pensei que fossemos falar sobre os assuntos tristes mais tarde - eu sorri para ela, e o seu rosto se iluminou.
- Então você vai?
- Só uma maluca para te deixar com Jasper e Emmett em casa!
- Ótimo. Então temos certeza de que você vai estar lá? - ela me pressionou, parando o carro em seguida.
- Como chegamos tão rápido? - perguntei surpresa quando vi que já estávamos na escola. - Você corre demais com isso, Alice!
- Isso não, ele é o meu bebê! - ela resmungou abrindo a porta.
Eu imitei o seu gesto, e como de costume, antes de fechar a porta nós nos viramos para o interior do carro de novo.
- Você tem certeza que vai estar lá? - ela perguntou novamente.
- Tenho. Por que eu não iria? - e dizendo isso, fechei a porta.
A aula de Biologia sempre foi uma das minhas preferidas, porém tudo o que eu mais queria era estar livre disso hoje.
O professor havia nos passado uma atividade sobre bases e ácidos. Infelizmente, eu não tinha como fazer a experiência sem um segundo par de mãos para despejar a amônia sobre o bicarbonato.
Na maioria das vezes eu adorava o fato de poder passar uma aula inteira sem ter que conversar e ser simpática, mas hoje eu preferia ter alguma coisa para ocupar a minha mente.
Por algum motivo o meu pesadelo ficava indo e voltando quando eu não estava prestando atenção a minha volta. O dia inteiro eu tentei pensar em como seria divertido dormir na casa de Alice, ou como era bom ver que Angela e Ben pareciam cada vez mais felizes juntos.
O silêncio se deu no laboratório de Biologia. Senti o vazio daquela noite me acertar no peito novamente. Distrações não seriam o bastante. Seria uma longa hora.
Baixei a minha cabeça sobre a mesa e fechei os olhos até ouvir o sinal batendo.
Levantei consciente apenas do som que me perturbou e acompanhou pelos últimos meses. Peguei minhas coisas lentamente, com os olhos vazios que claramente não pareciam conseguir enxergar nada. Eu supus que na visão de outra pessoa eu deveria estar parecendo um zumbi. Mas, sinceramente, isso não me importava. Eu tinha certeza de que era a aluna mais contente em poder dar o fora dali.
- Sabe o que é uma pena, Bella? - Mike disse de trás de mim, e eu presumi que ele estivesse me esperando para irmos para a aula de Educação Física. "Que surpresa" pensei ironicamente.
Mike era um grande amigo, mas a nossa convivência estava ficando um pouco complicada.
Desde o início ele havia me acolhido como se me conhecesse há anos. Lembro de ele ter me acompanhado para a nossa primeira aula de Educação Física juntos. Para variar, Mike falara sem parar sobre a sua antiga vida na Flórida. O que facilitou as coisas para mim que estava quase paranóica por causa dos olhares que recebia. Naquele dia, tinha concluído que Mike era a pessoa mais legal que conhecera na minha primeira ida á Forks High School.
Isso até conhecer Alice e Emmett, mas essa é outra história.
A questão é que Mike vinha agindo como um cão de guarda há dias, andando fielmente atrás de mim entre os intervalos de todas as aulas que tínhamos em comum.
- O quê? - perguntei colocando o meu caderno na mochila.
- Você não ter um parceiro de Biologia - ele disse um pouco próximo demais do meu ouvido e eu me afastei.
Hoje não estava sendo o melhor dos meus dias. Ele realmente estava fazendo isso? Ele não conseguiu enxergar que eu não queria conversa?
Teria que fazer alguma coisa em relação á Mike, concluí com um suspiro. Eu podia não estar aqui há muito tempo, mas eu sabia perfeitamente que em cidades pequenas como Forks, tudo era ouvido e espalhado. Diplomacia é essencial, afinal. Pena que não seria fácil, eu nunca tive muita prática em lidar com garotos amigáveis demais.
- Sr. Banner diz que é melhor assim por causa do meu nível em Phoenix – dei os ombros sem me esforçar em sorrir, - e eu gosto de fazer aula sozinha.
- Ah - ele murmurou meio perdido em pensamentos, mas logo se recompondo - Quando alcançarmos o seu nível me avise. Vou ver se troco de parceira.
Com um pequeno aceno de concordância, me levantei e fui em direção a porta. Pude ouvir os passos de Mike logo atrás de mim, mas tentei não deixar aquilo me chatear. Era a escolha dele, e eu não tinha nada haver com isso. Esse era o meu último horário de aula e ele não ia estragar isso.
Caminhamos em silêncio da sala de Biologia até os armários, e eu comecei a me perguntar se ele ainda estava esperando uma resposta ou se eu realmente havia o magoado. Mike costumava falar demais. Sempre tinha alguma novidade para contar ou algo para planejar, e agora ele estava calado. Uma pequena pontada de culpa me atingiu.
- Bella - ele finalmente quebrou o silêncio quando eu parei para guardar os meus livros. Graças a Deus - Você não vai pra aula?
- Eu me machuquei em La Push no final de semana passado, lembra? - eu sorri sem graça o mostrando o meu pulso esquerdo.
Ainda podia ver o roxo que havia ficado. Realmente doeu.
- Por que não me disse? Eu teria levado os seus livros - ele exclamou rapidamente pegando o último que havia ficado na minha mão.
Ótimo, meu amigo cão de guarda estava de volta
- Pensei que você já estivesse bem – ele continuou - desde quarta você não usa a faixa.
- Eu sei – suspirei relembrando o sermão que Charlie me dera quando a achou no lixo de casa. - Parou de doer, então, achei que já era hora de me livrar daquilo.
- Que bom - ele sorriu, seus olhos azuis um pouco brilhantes demais. – Você devia tomar mais cuidado quando for para La Push.
- Vou me lembrar de dizer isso ao Jacob – eu disse deixando escapar um risinho. Realmente não era uma boa idéia aprender a lutar com alguém tão duro.
- Preciso ir pra aula – murmurou mudando de humor rápido demais - Te vejo esse final de semana?
- Não sei – eu sabia que não era certo dar esperanças, mas se dissesse não ele ficaria ali até a eternidade.
- Ok. Eu te ligo, Bella!
Quando Mike virou o corredor, eu me voltei para o meu armário pegando o livro que ele guardara novamente. Eu gostava muito dele, mas assim as coisas ficariam cada vez mais difíceis.
Foi pensando nisso que caminhei rapidamente até o estacionamento, ansiosa em poder sair da escola. Eu ainda tinha esperança de que Alice iria me deixar em casa e dizer que as compras de hoje estavam adiadas, mas bastou vê-la sentada no capô do seu "bebê" que eu desisti de dormir um pouco.
- Vamos? - perguntei já abrindo a porta. - Quanto mais rápido sairmos daqui menores são as chances de nos pegarem matando aula.
- Você está matando aula Bella querida. Eu pedi autorização - ela acusou entrando no carro, em seguida tirando as chaves do bolso.
- Ah, é? - eu ri sem realmente enxergar o humor daquilo - E qual é a sua desculpa?
- Vou buscar o meu irmão no aeroporto.
- Alice, essa é uma péssima desculpa – disse, colocando minha mochila no banco de trás.
- Eu estou falando sério. Edward está voltando.
Engoli seco.
- Bella? Ei, respire. Você está ficando mais pálida. Não é grande coisa. Edward está de volta, só isso.
- Você está brincando, não está? - murmurei vendo o nada.
- Não - disse, e eu pude ver que ela me observava pelo canto do olho - Edward realmente está voltando da Itália hoje.
- Alice!
- O quê?!
- Você podia ter me avisado! - disse entre dentes.
- E que diferença faria? Te avisando agora ou depois, você ficaria nervosa em conhecê-lo do mesmo jeito. Fique feliz, te poupei de horas de preocupações - disse com um sorriso brilhante no rosto.
- Mas, Alice, provavelmente ele quer ficar com a família, o que eu vou-
- Sem mas, Isabella Swan - ela me cortou - Esme e Carlisle vão ter que sair hoje de todo jeito. Se ele quiser ficar com a gente vai ter que ser amanhã. E mesmo assim, você é família e sabe muito bem disso.
Eu até podia ser considerada parte da família, mas duvidava muito que Edward pensasse igual aos seus outros irmãos. Mordi a minha língua com força para não dizer isso em voz alta.
Alice só podia estar brincando. Era isso, ela estava mentindo.
As árvores passavam com pressa pelo carro amarelo, e cada vez mais eu tinha certeza de que estávamos entrando na rodovia principal de Forks.
O verde tão forte na paisagem de Olympic ia aos poucos se mesclando com as poucas cores que ousavam estragar seu predomínio, dando a impressão que tudo não se passava de uma mistura nova.
Edward teria os mesmos problemas para se re-acostumar a Forks como eu tive?
Ele morava na Itália há mais de um ano, numa pequena cidade turística da Toscana conhecida como Volterra. Eu pouco sabia sobre ele, Alice e Emmett evitavam falar sobre o irmão. Esme já me contara algumas histórias de infância sobre os três, entretanto, não era como se eu soubesse alguma coisa concreta. As pessoas mudam ao crescer.
A única informação que tinha certeza era Edward ser o músico da família. Foi para isso que ele abriu mão da companhia dos pais e irmãos por tanto tempo e foi para a Europa. Estava lá para aperfeiçoar mais ainda a sua paixão pela música.
Talvez ele sentisse falta de Forks, provavelmente gostava do verde contínuo e a umidade. Assim como todos os outros Cullen, ele morava aqui há bastante tempo. Não tinha ido embora quando bebê e voltado há menos de seis meses.
Essa era eu.
- Eles também não me avisaram - Alice murmurou baixinho, me acordando dos meus pensamentos.
- Quando você ficou sabendo?
- Ontem de tarde, pouco tempo depois de voltar para casa.
- Por que não te falaram?
- Emmett disse que Edward pediu para não ter uma festa o esperando - ela resmungou fazendo bico, e eu não consegui conter uma risada. - Ele pediu para fingirmos que não era grande coisa.
- E você não conseguiu planejar uma festa em vinte e quatro horas? - eu a provoquei.
- A decoração não chegaria a tempo - Alice suspirou, apertando com mais força o volante. - E você sabe, uma festa sem a devida decoração não é uma festa.
Um pequeno "oh" escapou pelos meus lábios.
- Você realmente tentou?
Ela deu os ombros como se fosse óbvio.
- Não é todo dia que Edward volta pra casa.
- Você é impossível – ri, me virando novamente para a janela. Alice pareceu não se importar.
- De todo jeito, Esme preparou um almoço hoje – ela continuou falando enquanto eu deixava minha mente vagar pela paisagem – Só para nós mesmo, e ela faz questão de que você vá. Tenho certeza de que Edward vai gostar de te conhecer. Eu conversei com ele ontem, ele disse que não ia se importar se nós duas fossemos o buscar. Ele disse que estava ansioso pra te ver, porque desde que você chegou parece estar no meio de todas as histórias que eu conto para ele. Acredita nisso? Até por telefone ele tem coragem de implicar comigo! Mas mesmo assim-
Alice tinha um dom incrível de começar a falar sozinha.
E continuar falando.
- eu estou doida para vê-lo. Sinto tanta a falta dele, Bella! Não é como se eu não gostasse do Emmett, mas é que eu não vejo Edward-
- Alice!
- O que foi? Não sabia que você gostava tanto assim do Emmett. E francamente Bella, eu não disse que o Edward é o meu preferido, só que sinto saudades.
- Não, Alice! A estrada!
- O que foi Isabella?
- Você devia ter pegado a estrada para Seattle.
- Por quê? – ela indagou com visível impaciência. Ligou o carro e de novo estávamos correndo.
- Não vamos buscar Edward? – perguntei. Tinha que me prender em toda ou qualquer possibilidade de não ter que ir até aquele lugar.
- Bella, o vôo de Edward chega a Port Angels. Ele vem de Nova York.
No aeroporto de Port Angels. O cenário dos meus pesadelos. Venho tentando ignorar esse lugar há dias. Isso não estava acontecendo.
- Que escândalo você deu. E depois eu é quem sou exagerada! – ela continuou quando não a respondi.
Eu sinceramente não sabia como reagiria aquele lugar. Provavelmente nada aconteceria. Porque afinal de contas, aqueles sonhos nada mais eram do que sem sentido. Só eram pesadelos.
Pesadelos capazes de me manter acordada durante toda a madrugada.
As palavras de Alice soavam como meros barulhos na cabine do carro, eu não fazia questão de prestar atenção no que ela dizia. Me perguntei se ela se incomodaria se descobrisse que não tinha espectadores.
- Alice? – sussurrei com a voz fraca quando ela finalmente deu uma pausa prolongada.
- Hum?
- Por favor.. Posso ficar na porta esperando você e Edward?
Por via das dúvidas, era melhor não arriscar. Eu não sabia como reagiria a isso e realmente não queria saber o que aconteceria. Sentir o tremor percorrer a minha espinha toda madrugada já era o bastante.
- O que você tem, Bella? E não me diga que você só quer me dar privacidade porque eu sei que tem algo errado.
Ela desviou o olhar da estrada por um segundo, e só com esse pequeno contato com o seu castanho claro eu soube que ela não estava blefando. Alice não blefava, ela não precisava disso. Ela sempre tinha certeza.
- Eu só.. – gaguejei pateticamente.
Nunca tinha lhe dito na íntegra qual era o motivo da minha insônia. Ela sabia que havia algo errado, mas toda vez que eu decidia lhe contar sobre o sonho, algo me impedia. Tinha medo de que Alice dissesse o que eu tinha certeza; que aquilo não significava nada.
Eram apenas sonhos.
Se eu não conseguia dizer, não era por falta de confiança. Essa pequena de cabelos espetadinhos era uma das únicas pessoas em Forks pela qual eu colocaria minha vida em risco, entretanto, sonhar com a mesma cena todas as noites acabou trazendo certo interesse. Era masoquismo ficar remoendo tudo aquilo ao invés de esquecer, mas deveria haver algum motivo. Eu queria que tivesse. Eu não podia estar perdendo noites e noites de sono sem nada para justificar.
- Deixa para lá – completei rapidamente. Alice já tinha coisa demais para se preocupar por hoje. Eu contaria depois – Eu vou com você.
- Não, Bella.. Fique na porta se quiser, eu realmente não me importo – ela sorriu compreensiva – Sei que tem sido difícil, e eu não vou obrigá-la a me contar o que está acontecendo antes que esteja preparada.
Ela era boa demais para ser de verdade.
- Obrigada – encarei minhas mãos no meu colo aliviada – Desde quando não dormir causa tanto problemas, em? – eu tentei rir para amenizar o clima de repente pesado, mas tudo o que consegui emitir foi um barulho estranho.
- Desde quando – ela concordou com uma risada não muito melhor do que a minha.
O resto do caminho foi silencioso. Quando dei por mim, Alice estava me acordando, mas não parecia que eu realmente tinha adormecido. Ficara apenas perdida na névoa envolvendo as florestas. Era muito fácil e tranqüilizador se distrair com aquilo. Impedia que a minha cabeça tentasse ter consciência daquilo que eu não queria saber.
- Chegamos – ela se aproximou de mim e balançou o meu ombro de leve. Quando virei o rosto, ela sorria divertida – Aqui estamos Bella adormecida. Hora de conhecer o meu irmão.
A palavra irmão me fez dar um pequeno pulo. Ainda tinha que conhecer Edward.
Sem uma palavra, soltei o meu cinto e desci do carro, um nervosismo fora do comum me dominando.
- Vamos? – voltei o olhar para dentro do carro como de costume e Alice acenou com a cabeça rapidamente.
- Como eu estou? – ela perguntou de repente apreensiva.
Precisei morder o meu lábio para segurar uma risada.
- Você está ótima – disse com um sorriso. Isso deveria ajudá-la – Não se preocupe, aposto que você continua a mesma baixinha e irritante de um ano atrás.
- Será mesmo?
- Alice, é o seu irmão. E você já me trouxe até aqui, não me faça ter que a arrastar do carro!
- Tudo bem – ela respirou fundo – Vamos lá.
Ela saiu do carro apressada, a segui depois de puxar o capuz do casaco para não molhar o meu cabelo. Port Angels não era como Forks, mas por alguma ironia, estava chovendo. Era como se a chuva estivesse disposta a me seguir.
Quando saímos do estacionamento, eu não pude deixar de me sentir incomodada com os olhares curiosos que passavam por nós. Alice podia não acreditar, mas andar com um porshe amarelo canário realmente chamava a atenção. Não era sem motivo que Carlisle lhe pedia para usar o Volvo prateado. Mas ela sempre se negava.
"É o carro de Edward, não o meu", ela e Emmett sempre afirmavam quando o Sr. Cullen insistia em serem discretos com seus mimos.
- Acho que o vôo dele já está chegando – ela murmurou quando nos aproximamos da entrada.
- Eu fico aqui – disse rapidamente, nostalgia já me consumindo.
Péssima idéia vir com ela.
- Tudo bem – ela concordou, os olhos fixos em algum ponto a frente – Te vejo daqui a pouco.
Ela se virou e caminhou com elegância em direção ao portão de desembarque.
- Alice? – gritei ficando na ponta do pé para que ela me visse.
- O quê? – ela gritou de volta, e eu não pude conter o sorriso quando percebi a cena patética que estávamos encenando.
- Boa sorte!
Um sorriso quebrou sua expressão séria, e ela tomou ar antes de se virar novamente. Era isso que melhores amigas faziam, cuidavam uma da outra mesmo quando nós mesmas não nos sentíamos bem.
Eu parecia estar esperando há uma eternidade. Ele não estava chegando? Olhei o relógio do aeroporto e me desapontei com o que vi. Dez minutos se passaram. Só dez minutos. Por que parecia ser muito mais do que isso?
As pessoas passavam por mim, mas não encaravam mais. Eu podia ouvir aviões decolando e pousando, e me perguntei se quem vira Alice e eu saindo do porshe já não estava em direção a outra cidade. Talvez sim. Elas iam e voltavam dos aeroportos, nunca choravam correndo atrás de sabe-se lá o que.
Respirei fundo tentando me acalmar. O que eu senti era uma mistura de alegria com nervosismo. Alegria porque eu sabia que Alice esperava por isso desde que nos conhecemos. Por mais que não falasse, ela sentia muita falta do irmão. Só não tinha coragem de mostrar a todos o quando sofria por isso.
Nervosismo, bem. Eu nunca tive sorte em conhecer novas pessoas - Forks era um caso a parte. Em Phoenix, a única pessoa que eu me dava bem era a minha mãe. E mesmo assim, nunca estávamos na mesma sintonia.
Como seria com Edward? Fácil como foi com Alice e Jacob? Ou impossível como fora com as garotas de Phoenix? Era esperar para ver.
Também havia algo mais. Eu estava curiosa para ver os olhos brilhantes de Alice, ansiosa por vê-lo, e acima de tudo, feliz em saber que a família que tanto gostava estaria unida novamente.
Uma mãe e uma filha passaram por mim animadas, e eu senti um ímpeto de segui-las. Meu olhar acompanhou o caminho que fizeram, e eu tive que frear as minhas pernas para que eu não corresse na mesma direção que elas. Estavam indo para o portão do desembarque.
Eu podia.. podia ir até lá. Qual mal me faria? Eu só saberia se tentasse. Alice provavelmente estava ansiosa demais, não pararia de falar um segundo. Isso era o bastante para me distrair.
Mais uma vez, respirei fundo, então, adentrei o aeroporto.
Olhei a minha volta e esperei pelo choque, mas ele não veio. Dei mais alguns passos, e pude ver o portão de embarque do outro lado do salão. Esperei pelo vazio, mas ele também não veio.
Sorri confiante para mim mesma. Eu tinha conseguido afinal. Aquilo parecia uma espécie de conquista pessoal, melhor, aquilo era uma conquista pessoal. Tudo não se passava de um pesadelo bobo, minha calmaria em relação ao aeroporto era a prova disso.
Continuei em direção ao portão de desembarque e quando consegui ver Alice, me apoiei numa pilastra um pouco afastada do movimento. Não estava muito cheio, só havia mais cinco pessoas esperando. Fiquei a observar a mãe e a menininha que eu vira correrem em direção ao pai da sua família.
Uma família completa. Pai, mãe, filha.
Um aperto no meu peito.
- Edward! – o grito agudo de Alice ecoou no salão e eu ri ao vê-la pulando no colo do irmão.
Eu não pude ver o seu rosto, estava escondido no abraço da irmã. Mas ele parecia dizer alguma coisa no ouvido de Alice. Pude ouvir sua típica risada e não consegui evitar sorrir com essa cena. Ela parecia tão feliz!
Pelo pouco que via, percebi as descrições de Esme não fugiam da realidade. Edward era mais magro do que Jasper e Emmett, mas estava longe de aparentar fraco. Ele tinha um ar mais jovem do que os outros. Enquanto Emmett e Jasper pareciam estar prestes a se formarem na faculdade, Edward podia perfeitamente estar começando uma. Seu cabelo era cor de bronze era meio bagunçado, mas eu não podia saber se isso era culpa de Alice ou se ele realmente o usava assim.
Quando Edward colocou Alice no chão, eu pude ver o seu rosto pela primeira vez.
Era lindo.
Um pouco pálido, mas não tanto quanto Alice e os demais Cullen. Imagino que na Itália ele tenha tido a sorte de ver o sol brilhando.
Todos os seus traços eram perfeitamente retos e angulares. Mas não foi por isso que eu senti o chão vacilar sobre os meus pés. Seu rosto era humanamente impossível de ser real. Tão diferente, tão lindo. Era o tipo de rosto que você via em quadros da Renascença. Aqueles quadros em que só havia anjos desenhados.
- Quero que você conheça alguém – ouvi a voz de Alice abafada pelo barulho em volta de nós.
- Bella, não é? - um leve sorriso se abriu nos seus lábios indefectíveis, e eu não pude fazer nada senão sentir um arrepio descer a minha espinha. Meu nome soava tão bem na sua voz.
Fiquei surpresa comigo por gostar disso.
- Sim, ela mesma – Alice concordou com a cabeça, um sorriso brilhando em seu rosto de fada.
- Quem mais seria? – ele riu dando os ombros - Você só fala nela.
- Vai entender quando conhecê-la – sorriu dando um soco no braço do irmão. Imagino que ele nem sentiu a agressão da pequena – De verdade, tenho sorte de tê-la conhecido. Ela está longe de ser como Jessica Stanley.
- Então Jéssica ainda existe? – ele perguntou erguendo uma sobrancelha fina.
- Te conto no caminho para casa – ela exclamou divertida com alguma coisa e o puxou pela mão.
Nervosismo tomou conta de mim quando os dois caminharam na minha direção. Alice vinha na frente, e Edward levava o carrinho com as malas alguns passos atrás. Ela parecia ansiosa.
Seus olhos rápidos não se distanciaram do portão onde eu deveria estar nem um minuto sequer, mas quando estava prestes a passar por mim, ela me viu. Como se fosse possível, o sorriso de Alice pareceu ficar ainda mais feliz do que já estava.
- Edward, essa é Bella – ela disse se aproximando e fazendo um gesto com a mão. Mordi o meu lábio inferior ao vê-lo me observar.
Ele largou o carrinho onde estava, e se aproximou mais do que Alice. Uma evidente curiosidade marcava sua expressão perfeita e eu tive que me segurar para não o perguntar qual era o problema.
Quando estava próximo o bastante, ele estendeu a mão para mim.
- É um prazer, Bella – seus olhos verdes caíram como duas esmeraldas sobre mim, por sorte eu conseguia lembrar que deveria apertar sua mão.
- Também é um prazer, Edward – assenti com um sorriso idiota no rosto.
Não pude deixar de notar a corrente elétrica que percorreu o meu corpo quando apertei sua mão.
Deixei-a escorregar para baixo de novo, o chão começando a sumir sobre os meus pés graças aquele olhar verde esmeralda sobre mim. Edward Cullen me observava abrindo um sorriso ainda mais encantador do que o primeiro que eu vira.
Torto e incrivelmente encantador.
Um bom início? :)
Sim, a Bella está completamente sem rumo. Digamos que a chegado do Edward vai clarear a sua vida.
O segundo capítulo é no POV do Edward. E sim, essa é uma história é alternada. Uma parte contada pela Bella, outra pelo Edward. No final, quando os dois não estiverem emocionalmente capazes de conversar com ninguém, outras pessoas assumem a narração.
Mandem reviews, certo? Quero saber se vocês gostaram, e se eu devo continuar!
Mari xx
