Uma das minhas histórias originais.
Agradeço feedback.
A imperfeição da perfeição
Capítulo 1
Raiva, era o sentimento que me controlava naquela manhã.
- Mãe! Por favor! Eu tenho lá razão para ir para a escola. Tudo o que eles ensinam eu já sei! Se ter de frequentar uma escola é chato por natureza agora imagina só frequentar duas! E numa dessas já saber tudo! – Disse eu à minha mãe logo de manhã querendo ficar em casa o resto do dia para poder descansar.
- Não quero saber Alex! Eu e o teu pai temos de trabalhar e ainda hoje à noite temos reuniões e não nos queixamos! – Ripostou a minha mãe para tentar convencer-me.
- Mas… – Comecei eu.
- Nem meio mas, nem nada, meu menino! Agora sobe até lá acima e vai buscar as coisas, vais ver que assim que estiveres com os teus amigos a escola de cá vai passar muito mais rapidamente. – Disse a minha mãe a tentar colocar um ponto final na conversa.
- Pai! Ajuda-me! – Gritei eu ao meu pai que estava em frente ao fogão a fazer ovos mexidos.
- Alex, a tua mãe tem razão. E ainda mais, eu não me quero meter nessa pequena guerra. Agora vai-te vestir que eu levo-te à escola. Já estou a apanhar o jeito de conduzir. – Disse o meu pai para fazer aquela conversa acabar.
Apesar de a minha mãe parecer mais agressiva, o meu pai acaba por ser muito mais, basta irrita-lo até certo ponto e eu descobri-o da pior forma…
Subi as escadas a correr e fui para o meu quarto.
O meu quarto é bastante grande e refiro-me apenas á parte que está à vista. Tem um grande armário e uma estante, um monte de posters de bandas e raparigas espalhados por uma das paredes e pelo tecto, uma grande secretária com o meu portátil e os meus livros, na outra parede um plasma e a minha consola e claro que a um canto está a minha cama.
Em menos de 2 minutos estou pronto, nunca gostei de demorar muito tempo a despachar-me, é quase uma perda de tempo.
Ao chegar à mesa já a minha mãe estava a lavar alguma da loiça, o meu pai a acabar o seu prato e havia outro prato cheio á minha espera. Discretamente bato palmas e ao sentar-me toco com a mão na mesa fazendo uma pequena parte dela tornar-se num garfo e numa faca de metal.
- Nada de alquimia á mesa! – Grita a minha mãe assim que me ouve tocar na mesa. – Se queres um garfo e uma faca vem aqui buscar.
- Oh mãe! Se tenho de aturar o facto de ter 2 escolas, ao menos deixa-me tornar parte do dia interessante. – Digo eu.
- Nada de alquimia! – E ao dizer isto a minha mãe mesmo de costas atira um garfo e uma faca limpinhos contra mim que eu apanho antes de me acertarem.
A minha família é toda constituída por alquimistas* e magos. A minha mãe e o meu pai conheceram-se na escola, mas não me refiro á escola normal. Todos os alquimistas que tenham auras puras* entram para uma escola de alquimia especializada, aí aprende-se a controlar a aura e a realização de transmutações mas é claro que as auras podem matar, até o próprio utilizador. Cada alquimista tem a aura de uma única cor, claro que existem especiais.
A minha mãe tem uma aura cinzenta e o meu pai tem uma aura laranja. Eu sou dourado, uma das cores mais raras e especiais… deve ser da junção das cores dos meus pais e graças a isso tenho capacidades melhoradas. Uma delas é a rápida aprendizagem e reflexos mas a melhor é não precisar de utilizar círculos de transmutações.
As cores mais raras são o ouro e a prata e quando normalmente aparece ouro, a prata também aparece mas ainda não conheci ninguém com essa cor, faríamos grande duo. Mas tambem há o lado mau, existem as auras negras, essas auras existem para a destruição. Só existem para destruir e criar o caos. A minha mãe e o meu pai nos seus tempos jovens combatiam grande parte das auras negras e talvez no futuro seja eu a combater.
- Despacha-te a acabar o pequeno-almoço, Alex, já são 7:50. Vou começar a ligar o carro. – Diz o meu pai ao levantar-se da mesa.
- Sim, sim, já lá vou ter. – Respondo-lhe eu.
Assim que o meu pai sai da cozinha a minha mãe vira-se para mim.
- Alex, nós já falámos sobre isto. Eu e o teu pai queremos que tenhas a vida alquimia e luta que tu tens desde criança mas tambem queremos que tenhas a vida de um rapaz normal. Infelizmente não é possível misturar os dois estilos de vida, pelo menos por agora. Sabes que os humanos não podem descobrir a existência da alquimia nem das auras. Não agora. No futuro pode ser que tudo melhore, mas agora, apenas aguenta. Dentro de poucos anos não precisarás mais disto, é só para poder-mos passar mais despercebidos entre os humanos. – Diz-me a minha mãe com um tom de voz mais calmo.
- Sim mãe, eu entendo, não que não me importe de esperar mas é que parece que já não tenho tempo para mim e tambem parece que tenho de ser duas pessoas diferentes todos os dias!
- Não te preocupes, vais ver que tudo vai melhorar, ok? Agora vai antes que chegues atrasado. Beijos. Tem um bom dia.
- Sim mãe. – Disse quase já fora de casa. Nem tive tempo de acabar o pequeno-almoço por completo por isso agarrei numa torrada e vim a comer pelo caminho.
Na rua o meu pai estava com o carro ligado a ouvir musica e quase não me ouviu a entrar.
- Podemos ir pai. – Disse eu ao mesmo tempo a estalar os dedos tentando trazê-lo de volta para a realidade.
- Ah, sim, claro. – Disse o meu pai ao abaixar a música e ao pôr o carro a andar – Então Alex, afinal que se passou hoje de manhã?
- Hum, isso… eu é que não queria ter de ir para "esta" escola. Ter duas escolas tira-me bastante tempo que eu podia utilizar para ler ou estudar e praticar alquimia e transmutações.
- Mas Alex, tu já sabes que eu e a tua mãe …
- Sim já sei, querem que eu tenha uma vida mágica e uma vida normal. Já sei disso. – Interrompendo o meu pai antes que ele tenha tempo para me voltar a dizer o que a minha mãe me tinha dito.
- Apenas tem calma. Talvez, quem sabe, possas juntar as duas coisas mais rápido do que tu pensas. – Disse o meu pai tentando-me dar um pouco mais de esperança.
- Sim… Quem sabe…
Durante o resto do caminho nenhum de nós pronunciou mais nenhuma palavra. O meu pai tinha metallica a tocar e por vezes começava a cantar as letras das músicas num tom muito baixo o que me fazia rir de vez em quando. Enquanto ele cantava eu fitava o céu. Era uma bela manhã, isso sim era verdade. Sem nuvens, o céu num belo tom de azul e o sol ainda estava a elevar-se no horizonte. Uma manhã que eu adorava e graças a isso consegui acalmar-me até chegar á escola.
- Bom, chegamos filho. Tem um bom dia. Não te esqueças, tens de estar em casa no máximo às 18:00 ok?
- Sim, pai. Às 18. Até logo. Ah não te preocupes, nem tu nem a mãe, a me virem buscar, ok? Eu vou a pé e antes ainda vou sair com uns colegas. – Avisei eu.
- Ok filho. Desde que chegues a casa a tempo. Adeus.
Muito bem Alex, sorri, calma. É apenas um dia de aulas… um dia de aulas tal como todos os outros. Ao entrar na sala de convívio da escola dou uma vista de olhos pelo lugar á procura dos meus colegas e para meu espanto… estavam no mesmo lugar de sempre! Que imprevisível… As minhas manhãs de dia de semana são todas iguais… Acordar, ir para a escola, turma sempre no mesmo lugar, quase sempre o mesmo tema de conversa, esperar sempre que passem 4 ou 5 minutos que passe o toque de entrada, nas aulas quase não prestávamos atenção, depois do almoço jogar um ou dois joguinhos de cartas depois mais aulas e finalmente… casa.
Rotinas para uma pessoa como eu são a pior coisa que pode existir… Faz com que nos tornemos fáceis de perceber, previsíveis e fracos. É exactamente o oposto da minha verdadeira personalidade.
- Bom dia. – Cumprimentei-os.
- Bom dia. – Responderam-me apenas alguns deles enquanto que o resto acenou com a cabeça.
- Fizeste os Tpc's? – Perguntou-me a Helena.
- De?
- Química.
- Claro que sim. Porquê?
- Conseguis-te? – Perguntou-me o João quase como se estivesse espantado.
- Claro… Não era difícil.
- Bem, nem todos acharam… – Disse a Filipa num tom muito baixo.
- Queres que te ajude? – Perguntei-lhe eu.
- Bem, até que me dava jeito.
Nesse momento toca a campainha.
- Já vamos. – Disse o Pedro. – A professora ainda não saiu.
Enquanto a Filipa tirava os livros eu sentei-me ao lado dela e apenas olhei para os lados e só voltei a olhar para ela quando ela me dá um toque no braço e com um lápis já na mão.
Quando finalmente vou começar explicar-lhe o André diz-nos em voz baixa.
- Wow, olhem só que está a chegar tarde. – Exclamou o André a olhar para a entrada da sala de convívio com cara de espanto.
O resto dos meus colegas e eu olhamos todos para ver quem era. Era a Rita, a presidente da associação de estudantes… Não era normal ela chegar tarde a escola, esse era o espanto.
A Rita era uma rapariga de cabelos castanhos ondulados, olhos verdes, bem formada, não tinha negativas mas tambem não era uma aluna de 18 e 19. Ao passar pela nossa turma disse.
- Bom dia. Então? Não estão atrasados? Toca a ir para a sala de aula. – Disse-nos ela.
A Rita era uma aluna do 12º ano enquanto que nós estávamos no 10º. Era considerada a mãe de todas as turmas pelo facto de ser extremamente simpática e carinhosa. Despedimo-nos dela e fomos para a nossa aula.
A primeira aula do dia era Biologia, uma das disciplinas mais interessantes, o professor é que podia fazer algo para incentivar os alunos. Sinceramente, esta é a minha disciplina favorita. Também, quem é que não se interessa pelo tema da vida? É pena que a alquimia discorde com algumas das teorias da geologia e da biologia mas na mesma, são só detalhes…
Tudo o que se ensina nestas escolas eu já sei até ao ínfimo detalhe! E não posso mostrar isso! Basta mostrar algo do meu conhecimento e pode dar para o torto, por isso só posso mostrar pelo menos um décimo do meu conhecimento ou das minhas capacidades… Regras "deles".
Ok, 1ª aula já está, só faltam 2.
Outra coisa que gosto nesta escola são as tardes livres. São perfeitas para eu puder descansar.
O primeiro intervalo foi bastante calmo, normalmente há bastante barulho mas hoje parece que foi um daqueles dias em que estão todos calmos ou deve-se apenas ao bom tempo. Aqui nesta escola quando há sol, normalmente está toda a gente na rua a ouvir música graças ás pessoas da associação de estudantes que colocaram colunas nas ruas.
A minha turma preferiu as bancadas direccionadas para o campo de futebol. Uma turma do 11º desafiou uma do 12º e ao que parece estavam a ganhar. Eu na verdade nem estava a prestar muita atenção. Estava mais concentrado em apanhar um pouco de sol. Não é todos os dias que estava um tempo perfeito. Quando dou por mim já se estão todos a levantar, a campainha tinha tocado e eu nem tinha reparado.
A segunda aula é Físico-química, outra das minhas favoritas. A Professora é muito calma, adora o que faz e arranja sempre forma de entendermos a matéria, é até capaz de repetir varias vezes a matéria para ter a certeza que entendemos. Infelizmente, eu já sei tudo o que se passa ou o que se está a explicar...Esperemos que a próxima passe tão rapidamente como esta passou.
Ok, aqui vinha o momento que eu realmente detesto… o almoço. Odeio almoçar naquelas filas de mesas onde quase não cabem 2 tabuleiros e estão sempre tão ocupadas que para encontrar espaço é quase como encontrar uma agulha num palheiro.
Mas não foi só isso que me irritou neste dia, um estúpido qualquer deu-me um encontrão e parte do conteúdo do prato caiu na minha blusa. Nem sei como não me passei e activei a minha aura ali mesmo. Ouviram-se alguns risos das pessoas que tinham visto o que me tinha acabado de acontecer. Eu realmente nem queria saber. Decidi nem almoçar e coloquei o tabuleiro para lavar e corri para a casa de banho dos rapazes. Ao entrar saiu outro que assim que viu soltou um riso. Tranquei a porta assim que ele saiu e olhei-me ao espelho.
Tinha uma mancha enorme sobre blusa e alguns pedaços de comida. Retirei os pedaços de comida mas mesmo assim estava parte do molho que não dava para retirar. Fechei os olhos para tentar ouvir, graças ao meu sentido auditivo bastante apurado, um bater de coração a mais na casa de banho para alem do meu. Nada, nicles, estava sozinho.
Bati palmas e toquei com uma mão sobre a mancha na minha blusa tornando o molho em água e depois toquei com a outra fazendo a água evaporar. A blusa estava quase como nova, da mancha só se via uma pequena sombra.
Assim que sai da casa de banho havia uma pequena fila a porta, eram apenas uns 3 ou 4 mas com cara de zangados, nem olhei para eles, só queria ir buscar a minha mochila e ir para a próxima aula.
Quando cheguei à mesa onde a minha turma costumava almoçar já se estavam a levantar-se para ir para a aula. Agarrei a minha mochila e fui tambem.
-Por onde andas-te? – Perguntou-me a Filipa.
-Ah, pois. Fui á casa de banho limpar a camisa. Um parvalhão qualquer deu-me um encontrão e parte da comida que estava no tabuleiro caiu-me na camisa. – Disse eu com um tom de voz irritado.
- Ainda bem que conseguis-te limpar. Praticamente não se nota! Mas, não devias ir comer algo? Quer dizer, não tiveste tempo para almoçar. – Disse-me ela.
- Não, deixa estar. Eu também não tenho muita fome. Vamos mas é para a aula.
Eu não costumo meter-me nas conversas dos meus colegas, em vez disso prefiro ouvir, não sou daqueles de dar a opinião.
Agora vinha ai a ultima aula, Filosofia... Sinceramente, nós, os alquimistas, não utilizamos a filosofia, usamos mais a pura ciência e a imaginação, a fonte do nosso poder. Mas a filosofia é algo interessante mas não é algo que me atraía muito. É subjectivo, a beleza da filosofia está em quem a vê. Interessantemente, a aula foi rápida… Coisa rara. Agora sim, sem aulas por umas horinhas. Parte da minha turma tinha combinado ir dar uma voltinha pela cidade mas desta vez algo ia mudar.
Tínhamos acabado de passar pelos portões da escola quando a Helena vira-se para mim e diz:
- Alex, porque não vens connosco? – Perguntou-me ela. Helena era alta, olhos cor de chocolate, uma pele num tom de bronze e o cabelo liso até aos ombros.
-Hum? – Perguntei eu um pouco incrédulo. Rara era a altura em que eu era convidado para a Árcade.
- Dois… Vem connosco. Vai ser divertido. Nós vamos á que abriu na semana passada aqui perto da escola. Vá anda. – Disse-me ela agarrando-me no braço e puxando-me.
- Mas… Mas… Ah ok, vamos lá. – Disse eu desistindo. Raios, tenho de começar a dizer não de vez em quando.
- Hey Alex, tambem vens? – Pergunta-me o Pedro.
- Ao que parece… - Sussurrei quase para mim próprio.
- Não te preocupes, ouvi dizer que aquele lugar é espectacular! Para alem da zona de jogos e do bar, têm uma zona de computadores e a net é muito rápida! – Disse o Pedro num tom de entusiasmo, a sua voz mostrava excitação e felicidade.
- Interessante… - Disse eu num tom inexpressivo.
- Não julgues o livro pela capa! – Exclamou a Helena.
- Eu apenas não aprecio assim tanto jogos… Ah, quem sabe pode ser que eu goste. – Disse eu com um tom um nadinha mais feliz.
- Isso mesmo! Vais ver que te vais divertir imenso! – Respondeu-me o Tiago.
O árcade ficava bastante próximo da escola, até já haviam muitos cartazes espalhados pela escola e pela rua. Ainda não tinha passado por esta rua desde que começaram as construções, ninguém podia passar por ali, como será que era o árcade?
Bem, a resposta, estaria em frente dos meus olhos em menos de nada.
