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Antes,

você costumava a ser o sol.

O sol que entrava sorrateiramente pelas frestas das venezianas achando que, finalmente!, naquele dia teria a chance de me acordar. O sol que sempre se decepcionava porque eu pouco dormia.

O sol que sorria ao nos ver sair pelas gloriosas e imponentes portas que se abriam de bom grado para deixar os pequenos príncipes passarem. O sol que nós permitia brincar o dia inteiro.

O sol que brilhava em seu cabelo dourado. O sol que fazia cócegas na pele.

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Agora,

você é tempestade.

A tempestade faz as pessoas ficarem dentro de casa. A tempestade que proíbe as crianças de brincar lá fora.

A tempestade que, de vez em quando, não é tempestade é só garoa. A tempestade que cai sobre mim de uma vez só, sem avisos.

A tempestade que deixa o meu humor tão escuro quanto deixa os céus. A tempestade da qual você é deus.

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Ás vezes,

o sol brilha quando a chuva cai e eu não sei o que isso significa.

Antes, quando o sol, que era você, iluminava o céu sob o qual corríamos e nós tínhamos os braços e as pernas menos compridas, corações com mais sonhos e cabeças com menos realidade, eu sabia dizer se aquele dia teria o segundo casamento de uma senhora que já perdera o marido ou se era o casamento de uma espécie de mortal. Agora, que a maior parte dos dias, sejam estes claros ou escuros, são dias de tempestade - são dias de você - pra mim, eu não sei.

Nesses dias, eu tenho eu fico muito mais consciente de que eu sei que sou Loki, o deus da trapaça, o traidor e que não sou mais seu irmão. Mas, Thor, eu não sei mais quem é você e nem o que vai ser de mim.

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Eu sinto falta dos dias de sol, mesmo sabendo que nunca vou tê-los de volta. Eu odeio os dias de tempestade, mas são os dias que mais tenho vivido. Eu tenho que aprender a gostar dos dias mistos, são os únicos que você me trata como se lembrasse de que algum dia eu talvez eu também tenha sido os seus quentes raios sol que fizeram o seu dia um bom dia, e não suas geladas gotas de chuva que fecham o tempo e o seu rosto.

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