Eu odeio aniversários, especialmente o meu. Não que eu seja uma revoltada com a vida ou algo assim, mas é que sempre, sempre, acontece algo ruim nesse dia em especial. Isso começou no meu aniversário de seis anos e, a partir daí, foi como uma maldição. Lembro-me bem de querer um leão de presente, mas um de verdade. Papai prometeu que me compraria um, embora ele pensasse que eu me referia a algo fofo e inanimado – um bichinho de pelúcia. Passei o dia inteiro esperando, até aceitei que mamãe prendesse meu cabelo e me colocasse em um vestido laranja horrível, igual ao da minha irmã gêmea Petúnia. Felizmente, nós somos fraternas, então, nem um pouco parecidas.
Naquela época, nós nos dávamos bem. Quero dizer, não havia ofensas, murmurações e brigas sangrentas, nós éramos irmãs normais e, aparentemente graças a mim, isso mudou. Após horas de preparação, a nossa festa estava pronta, as pessoas já haviam chegado – inclusive minha horrível tia Alfreda, que gostava de apertar bochechas –, já havia comida, mas, eu só pensava em quando papai chegaria com o meu presente. Vi Alexi e Tuney correrem de Thomas, meu futuro ex-namorado. Um idiota de grau maior, se posso expressar minha imparcial e justa opinião. Não sei como fui capaz de namorá-lo, muito menos beijá-lo. Eca, mil vezes eca.
Enfim, mamãe estava circulando pela casa, conversando com todos os meus tios, primos, avós, etc. Que não eram muitos, nós sempre fomos uma família pequena; embora o lado de papai fosse mais numeroso, mas acho que isso é uma compensação por eles serem tão franzinos, enquanto o lado da minha mãe é de pessoas corpulentas. Acredite em mim, você olharia umas cinco vezes se visse um casal como meus pais andando pela rua. De qualquer modo, estou me distraindo. Eu estava me balançando em meus pés e até cheguei ao ponto de ver meu pequeno rei leão em todos os lugares. Uma prova do quanto eu queria esse presente.
Aconteceu no meio da festa. Eu olhei por cima do ombro, ouvindo a voz de papai e visualizando um pequeno monte de pelos alaranjados. Pensei na juba de Simba imediatamente. Eufórica, corri até meu presente, escutando papai chamar meu nome, mas determinada a chegar no meu objetivo. Quando pulei em cima da juba, puxando-a para meus braços, ouvi um grito. Um grito humano e que não era de dor, não podia ser, afinal, eu estava segurando a peruca da tia Linda. Fiquei apavorada ao mesmo tempo em que tia Linda se levantava, desesperada, as mãos no seu cabelo ralo. Ela acabou tropeçando em cima do meu patinete, caiu no bolo e derrubou todo o refrigerante em cima dela mesma.
Em uma palavra: trágico.
Ninguém chegou realmente a me culpar, bem, exceto por Petúnia. A partir daí, todos os meus aniversários terminaram em desastre. Sem brincadeiras.
Sete anos – rasguei a roupa da prima Jenny e ela estava usando uma calcinha do desenho Banana de Pijamas. Ela nunca me perdoou.
Oito anos – Deus sabe como, mas coloquei fogo no cabelo do tio Arnold. Desde então, quando ele ficava nervoso, a família sempre dizia: "Cuidado, Arnold, não esquente demais a cabeça ou ela vai pegar fogo!".
Nove anos – quebrei o pé de Alexi, melhor amiga de Tuney. Mais uma para me odiar.
Dez anos – aniversário na pista de gelo. Uma tragédia envolvendo a Macarena e várias crianças caídas, raladas e com alguma parte do corpo quebrada.
Onze anos – acabei vendo primo José, que era casado, beijando uma moça que não era Dora. Gritei – porque eu achei que ele estivesse machucando-a, devido aos barulhos que ela fazia – e atraí todo mundo para o local do jardim. Descobri depois que aquela era a melhor amiga da prima Dora. Ela se separou do meu primo, mas ainda vem visitar meus pais.
Doze anos... Okay, deu pra entender.
O problema é que não era apenas o meu aniversário que eu estragava, mas também o da minha irmã. Quando fizemos quinze anos, ela exigiu ter festas separadas e eu não poderia – de jeito nenhum – estar presente na dela. Mamãe e papai ficaram horrorizados, mas, realmente, o que eles poderiam fazer? Eu nem queria mais uma festa, para ser honesta, apenas ficar no meu quarto, esperando esse dia horrível passar.
Esse dia horrível. Hoje. Meu aniversário de 16 anos.
Gemi ao som do meu celular. Eu normalmente amo The hardest part do Coldplay, mas tudo o que queria era dormir o resto do dia e só acordar amanhã. Talvez eu devesse fazer isso. E perder as cinco provas que teria em Hogwarts, só isso.
_Não, não, não...
Sim, eu era tal simpatia pela manhã. Puxei meu edredom sobre minha cabeça, minha visão ainda embaçada. Alguns fios de cabelo estavam no meu rosto e na minha boca, estes completamente babados. Levantei a cabeça, vendo a mancha no meu travesseiro. Eu era nojenta enquanto dormia.
Permaneci de olhos fechados, buscando ouvir qualquer barulho. Havia um som de pratos e copos, então, papai estava na cozinha, fazendo o café. Também consegui ouvir minha irmã se mexendo pela casa, não que fosse algo difícil, afinal, ela era silenciosa como um elefante. Com um espinho na pata. Além disso, podia detectar meu irmão cantarolando alguma música estúpida, então, mamãe não estava em casa. Ela nunca deixaria meu irmão cantar a música da Rihanna que quer correntes e algemas, ele era seu menininho precioso afinal.
Alguém bateu na minha porta, ou melhor, tentou derrubá-la.
_Acorde, aberração! Papai está chamando você.
Aberração.
Não doía mais, na verdade, eu até gostava.
_Eu já vou – gritei de volta – e pare de tentar derrubar minha porta!
Revirei meus olhos, mas me levantei. Após usar o banheiro, colocar meu uniforme e jogar todo meu material na mochila, corri até a cozinha. O cheiro característico me bateu.
_Panquecas! – joguei meus braços ao redor de papai, tomando o cuidado de não esmagá-lo. – obrigada, pai.
Ele riu, beijando minha bochecha afetuosamente.
_Feliz aniversário, princesa.
Olhei para seus olhos verdes, sorridente. Eu havia puxado para ele em quase tudo: olhos, altura, constituição física... Menos no cabelo e no temperamento. Nessa parte, eu era um reflexo da minha mãe.
_Sim, esse será o melhor aniversário de todos! – Tuney gritou, balançando seu cabelo loiro seboso na minha direção – todo mundo que é importante da escola confirmou presença. Eu vou ser a sensação da semana.
Revirei meus olhos, simulando o gesto de como se estivesse vomitando.
_Jura? Até mesmo Black disse que viria?
Por mais nojento que seja, minha irmã era uma adoradora de Sirius Black, o prostituto de Hogwarts. Ela até tinha um santuário em sua homenagem, o que era um pouco assustador. Nem sei como ela não tem medo dele, eu tenho muito medo de pegar uma DST só de conversar com ele.
_Black? Quem? O menino que está na cabeceira da sua cama, Petúnia?
Pisquei para ela, sentando-me à mesa. Eu apostava que papai teria uma conversa sobre sexo mais uma vez. Ri silenciosamente, sem sentir um pingo de pena.
_Eu sei qual é o seu presente – meu irmão cantarolou.
Ele sim era um pequeno monstro. De onze anos, cabelo escuro e olhos tão azuis quanto o de mamãe, ele vivia com o nariz enterrado em livros, principalmente os de química. Ou ele está indo para salvar o mundo, ou explodi-lo.
_Por que você está me dizendo isso? Não vai me contar mesmo.
Ele só era um pequeno provocador. Revirei meus olhos quando o vi sorrir enorme.
_Não, mas só queria deixar você saber.
Eu tive que rir. Era bem típico dele e não é como se isso realmente me irritasse. Diferente de Tuney, eu e ele nos dávamos bem.
_Eu juro, papai, eu não tenho nenhum namorado. Sirius não é...
_Mas bem que você queria, não é, Tuney?
_Cale a boca, Sev!
Eu ri, piscando para o meu irmão.
Papai suspirou, provavelmente de saco cheio. Ele odiava nossas discussões, mesmo que elas fossem muitas vezes inevitáveis.
_Chega, vocês. Eu deveria ter arrumado peixes ao invés de filhos – seus olhos se estreitaram para meu irmão – não diga nada, Severus, eu ainda posso mudar de ideia.
_Se for pra se livrar de alguém – disse ao mesmo tempo em que mastigava minha deliciosa panqueca de queijo, ignorando a careta de nojo que Tuney exibia – deve ser Petúnia. Ela é a mais velha.
Sev começou a rir, engasgando com seu suco de abacaxi.
_Eu só sou dois minutos mais velha do que você, aberração!
_Já chega! – papai estava esfregando a cabeça – Tuney, você não disse que iria encontrar Alexi na casa dela? Já está na hora.
Era como se ele tivesse dito as palavras mágicas. Petúnia gritou um tchau, pegou sua mochila e voou até a porta.
_Uau – Sev parecia realmente impressionado.
Sim, nossa irmã cara de cavalo poderia ser furtiva quando queria. Uma proeza admirável de fato. Após comer todas as minhas panquecas, abrir a boca e mostrar minha comida deglutida para o meu irmão e ganhar mais um beijo de papai, eu estava pronta para pegar o ônibus.
Encontrei Lene na minha varanda, sorrindo muito. Em poucas palavras, ela era minha única e melhor amiga, além de ser a garota mais bonita que eu já havia visto. Longo cabelo liso preto, rosto simétrico, olhos azuis convidativos e tatuagens espalhadas pelo corpo, além de piercings, ela era o tipo de parar o trânsito. Dois anos mais velha do que eu, Lene trabalhava num estúdio de tatuagens e vivia fazendo cursos de pintura. Ela era muito boa tatuadora e tinha o sonho de ter o seu próprio estúdio um dia.
_Há quanto tempo você está aí, esquisita?
Ela sorriu, exibindo todos os seus dentes.
_Desde que a fedida saiu.
Eu tive de rir. Até imaginava o desespero da minha irmã ao encontrar Marlene. As duas se detestavam e as provocações entre elas não tinham fim. Enquanto Lene apelidou minha irmã de fedida, Tuney a chamava de aberração. Eu sei, nenhuma criatividade aí.
_Por que você não entrou...?
_Eu fiquei aqui, apenas admirando meu futuro marido.
Gemi, rindo e choramingando ao mesmo tempo. Lene vivia dizendo que ela iria se casar com meu irmão um dia e, nada contra minha melhor amiga, mas eu preferia ver o inferno congelar antes disso acontecer. Ninguém namoraria o meu irmão, ninguém. Ele seria eternamente uma criança, como Peter Pan.
_Vamos logo.
Eu a arrastei para fora e ela me acompanhou até o ponto de ônibus. Após garantir que não, eu não queria fazer uma aparição surpresa na festa de Tuney, ela me garantiu que apareceria em casa à noite para assistirmos ao filme que eu quisesse. Eu já sabia o que queria, nós veríamos Poltergeist, tanto o antigo quanto o novo.
Assim que meu ônibus chegou, ela me deu um rápido beijo na bochecha, tagarelando sobre a nova tatuagem que faria. Cumprimentei Hagrid, o motorista, com um sorriso. Eu sempre gostei muito dele e de conversar com ele. Hagrid era enorme, um cara corpulento e que mais parecia um gigante, mas, na verdade, ele tinha um coração muito mole.
_Tchau, Hagrid, vejo você mais tarde. Você ainda tem que me contar sobre a senhora francesa.
Ele suspirou. Senhora francesa era a mulher por quem ele estava apaixonado.
_Não acho que isso vai dar em alguma coisa – ele suspirou novamente – tenha um bom dia, Lily.
Sorri, acenando enquanto me afastava. O problema de Hogwarts era aquele jardim enorme, até chegar na entrada, eu já estava suada e desgrenhada. Dei uma olhada rápida para minha saia cinza e fiz uma careta. Ela era horrível, mas era o uniforme. Acho que, dessa forma, Minerva tentou fazer com que os adolescentes perdessem todo o furor hormonal. Era realmente triste olhar para essa saia. Ninguém conseguia ficar bem nela.
Prendi meu cabelo num rápido rabo de cavalo, olhando para o único grupo que parecia feliz a essa hora da manhã. Eles estavam sentados sob uma das árvores, rindo e se comportando como estúpidos, como se fossem os donos do mundo. Bufei, revirando meus olhos, o que as pessoas viam nos marotos, afinal?
Okay, eles eram bonitos. E inteligentes. E divertidos. Mas extremamente convencidos.
Havia Sirius Black – objeto de desejo da minha amada irmã – e sua atitude de menino mau; Remus Lupin, com aquela expressão ingênua e enganadora; Peter Pettigrew, sempre com algum doce nas mãos; e James Potter, parecendo estar feliz o tempo inteiro. Havia também a prima de Potter, Héstia, talvez a única garota com a qual nenhum deles havia saído e pela qual tinham algum tipo de respeito. Eu não entendia bem a relação, mas não era como se fizesse questão disso.
Por estarem no time de basquete, com exceção de Pettigrew, que era a mascote, eles eram adorados. Assim como as garotas do vôlei e por isso eu era grata, afinal, foi por jogar bola que Tuney conseguiu uma bolsa em Hogwarts. Ela nunca teria entrado por notas altas, como eu.
Prestes a entrar para a aula de química – professor Slughorn era o melhor no ramo – trombei em alguém. Gemi interiormente ao dar de cara com Megahn, seu cabelo escuro batendo em meu rosto. A garota era insuportável e uma completa puta, afinal, todo mundo sabia sobre os inúmeros pares de chifre que ela colocou em Potter. Não era à toa que o rapaz a evitasse a qualquer custo.
_Olhe por onde anda, garota.
Deus, eu odiava esse tom condescendente.
Ignorando-a, porque era o que eu fazia de melhor, entrei na sala, ocupando meu lugar de costume. O dia passou com extrema lentidão; algumas pessoas falavam sobre o aniversário de Petúnia – engraçado que quase ninguém sabia sobre o nosso parentesco –, outras estavam se agarrando no corredor e eu tentei fugir da aula de gramática, mas foi impossível.
Gelei ao ver Malfoy passar pelo corredor. O pequeno hipócrita esnobe. Não sei como, mas na semana passada, nós acabamos na mesma festa e ele pensou que poderia tentar passar a mão em mim. Nojento. Engraçado que, aqui, ele evitaria qualquer bolsista, mas, é claro, o idiota pensou que poderia me manter como um segredinho sujo. Eu preferiria furar meus olhos a sair com ele, andar em brasa viva, ver Slughorn nu ou... Deu pra entender. Não foi com um bom pressentimento quando o vi passar por mim com um sorriso arrogante.
Por favor, deuses dos aniversários, não envolvam Malfoy em minha maldição.
Afora esse pequeno incidente, eu costumo ser invisível. Algumas poucas pessoas sabiam o meu nome e um número menor ainda já tinha conversado comigo. Não foi uma atitude proposital, mas aconteceu. Eu me sentia melhor assim, como se protegida por esse casulo de ser anônima. Na hora do almoço, eu costumava me sentar em uma das mesas localizadas ao fundo, com fones de ouvido e um caderno ou livro à mão, nada excêntrico, algumas vezes observando minha irmã e seu grupo pavonear pelo refeitório. Tuney não era a rainha da popularidade, mas ela tinha a sua quota, principalmente por fazer parte do time de vôlei. É claro que ninguém batia Héstia Jones, chefe das líderes de torcida, nem mesmo Megahn, por mais que esta se esforçasse para tal.
Após todas as minhas aulas, o almoço, e duas sessões de música, caminhei até meu armário, guardando meus livros e puxando meu celular da bolsa.
Apresse-se, Red. Já estou no seu quarto.
Ri baixinho, alheia às pessoas circulando ao meu redor. Marlene deveria impaciente e tentada a acabar com toda a comida.
Estou a caminho, não coma todas as panquecas. #NoitedoTerror.
Sim, filmes e filmes de horror. Eu sequer conseguiria dormir essa noite.
#AindabemquetenhoFralda. Não prometo nada, elas parecem estar deliciosas.
De jeito nenhum que ela iria acabar com as minhas panquecas! Enfiei meus livros todos de qualquer jeito, desesperada para pegar meu ônibus.
_Hey, Evans.
Meus olhos subiram para encontrar James Potter, sorrindo. Nenhuma novidade aí, o rapaz parecia sorrir o tempo inteiro. Era meio enervante.
E como, diabos, ele sabia meu nome? Ou sobrenome, dá na mesma.
_Sim?
Não era provável que ele fosse pedir meu dever de casa, era? Potter normalmente se saía bem, ele era inteligente, além do mais, tenho certeza de que Lupin poderia ajudá-lo com qualquer tarefa.
O sorriso dele aumentou, expondo uma pequena covinha na bochecha esquerda. Se eu não estivesse tão confusa, poderia até ter achado isso bonitinho.
_Eu vou à festa da sua irmã, hoje.
Pisquei algumas vezes.
Como ele sabia que nós éramos irmãs e, principalmente, por que estava me dizendo isso? As pessoas já estavam começando a olhar para nós, não que eu as culpasse, isso estava mesmo muito estranho.
_Bom pra você.
O que mais eu poderia dizer? "Sim, ótimo, mas isso não é da minha conta". O rapaz podia ter batido a cabeça ou algo do tipo, quem sabe? Eu não iria ajudá-lo a achar seu bando, ele que se virasse.
_Talvez nós pudéssemos tomar alguma coisa e conversar.
E, olhando para aquele rosto sorridente, a ficha caiu. Ele estava flertando comigo. James Potter estava flertando comigo.
Não espere que eu corra para isso de braços abertos, há algo de podre no reino da Dinamarca. Posso sentir o cheiro daqui. Olhei por cima do ombro dele, mas não havia nenhuma câmera, apenas o resto dos marotos, conversando entre si, aparentemente indiferentes ao que ocorria aqui. Algo estava muito errado.
_Não – muito rude – mas obrigada, Potter.
Fechei meu armário com força, não esperando por uma resposta. Talvez o rapaz tivesse batido a cabeça ou algo assim, ou estava tentando provar que tinha superado a puta da sua ex-namorada.
_Espere... O quê?
-O-
Mais tarde, travesseiros jogados no chão, colchões espalhados, sorvete, bolos e salgadinhos; além de um notebook quase minúsculo, eu e Lene estamos jogadas nos lençóis, enquanto relato o estranho incidente envolvendo Potter.
Marlene me diz que ele pode ter sido substituído por um alienígena, mas descarto a possibilidade porque, honestamente, tudo para ela é culpa dos aliens. Tuney já bateu na minha porta, rindo feito uma hiena, deixando-me saber que a festa dela seria sensacional. Mal sabe ela que eu dediquei-lhe uma pequena surpresa.
Um pouco depois disso, mamãe subiu para me ver. Nós tínhamos comemorado o aniversário no final de semana passado, sem risco para incidentes e, hoje, ela e papai estavam saindo em um jantar romântico. Não era preciso me preocupar com Sev, dado que ele tinha ido dormir na casa da vovó.
_Vejo você amanhã. Comporte-se.
Mamãe, Claire Evans, era um pouco diferente das demais. Ela não era muito sensível ou dada a toques maternais e protetores, esse era mais o estilo de papai. Ela tinha cabelos vermelhos – mais puxado para o alaranjado, como o meu – bem curto, olhos castanhos e uma personalidade estrondosa. Mamãe era simplesmente enorme e só não era ainda maior porque fazia academia, na qual ela trabalhava como personal trainer. Foi assim que ela e papai se conheceram.
_Tudo bem, mãe. Divirta-se.
Ela sorriu.
_E se você quiser aparecer na festa da sua irmã, tem a minha permissão.
Eu ri com isso. Ela obviamente estava brincando, se eu aparecesse na festa de Tuney, cabeças iriam rolar.
_Hey, senhora E., mostre pro senhor E. quem é que manda.
Eu vomitei um pouco na minha boca com as palavras de Marlene. Eeeew. De jeito nenhum gostaria de imaginar meu pai ou minha mãe mostrando quem é que mandava. Muito nojento.
_Eu vou – mamãe piorou com uma piscadela – a propósito, Marley, eu gostaria de fazer uma nova tatuagem bem...
Desliguei meu cérebro, revirando os olhos. Mamãe era uma cliente assídua do estúdio onde Marlene trabalhava. Era estranho ter uma mãe tatuada com uma caveira. Quando as duas finalmente terminaram a conversa, enxotei mamãe do meu quarto e pulei para debaixo dos lençóis, muito animada para ver o começo do filme.
Lene riu horrores quando contei a ela sobre o meu plano de presentear Tuney. Mais cedo, eu havia mexido na sua seleção de música e posso, talvez, ter trocado todas as músicas pop por algo mais infantil. Meus olhos brilhavam de emoção, antevendo a reação da minha irmã.
Nós estávamos vendo o segundo filme, agarradas, quase fundidas em uma pessoa só, quando dei um pequeno grito.
_Você ouviu isso?
Meu Deus, tende misericórdia.
_O quê? Eu não ouvi nada. Não faça gracinhas, Red, não é legal.
Dei pause no filme, em completo silêncio, esperando. Eu tinha certeza de que havia ouvido alguma coisa.
_Eu não acho que... PUTA MERDA!
Posso ter gritado também. E muito.
Havia um menino na minha janela. Ele aparentemente havia subido pela árvore, provocando os barulhos ouvidos anteriormente, e agora estava ali, batendo no vidro. E sorrindo.
_Nós devemos matá-lo? – perguntei pateticamente, minha voz saindo num ganido.
Marlene, porém, já estava à minha frente. Ela abriu a janela e puxou o menino pelo colarinho.
_Que diabos, meu filho? Você se perdeu da sua mãe ou o quê?
_Você é Lily Evans?
O garoto não estava prestando atenção em Lene, mas sim em mim. Ele sorriu, um sorriso enorme, cheio de covinhas. Os olhos eram muito azuis, quase violetas. Ele devia ter onze, doze anos no máximo.
_Cabelos vermelhos, olhos verdes. Eu sou Tonks.
Ele sorriu, tirando seu boné e revelando um longo cabelo castanho todo emaranhado. Era uma menina.
Marlene piscou na minha direção, tão confusa quanto eu estava.
_Você conhece ela? – ela me perguntou, soltando Tonks um momento depois.
A menina sorriu ainda mais – como se isso fosse possível – e, tirando seus tênis, sentou-se na minha cama. Ela usava uma camisa velha azul, dos Beatles, e uma calça de agasalho marrom.
_Bem, sinta-se em casa – bufei, um pouco maravilhada com a falta de noção daquela garota.
_Isso é tão divertido! – ela riu – você não me conhece, mas eu sou a prima mais nova do James. James Potter. Quarto legal – ela assoviou, olhando ao redor – eu adoro Chuck!
Okay. O mundo estava louco, só poderia ser isso. Arrisquei um breve olhar para Lene, mas esta parecia igualmente confusa e chocada. A prima de James Potter. O que a prima dele estava fazendo no meu quarto às, espere, onze e meia da noite?
_Você não deveria estar em casa, dormindo?
_Neh. Eu ia dormir na casa do James, mas não podia ficar sem vir aqui.
Marlene caminhou até a pequena invasora, cutucando-a para o lado.
_Fale o que você quer de uma vez, nós não temos tempo pra enrolação.
Tonks assentiu, cruzando as pernas e sentando sobre elas.
_Bem, veja só, não é uma história muito longa – ela garantiu, agora se concentrando em mim – eu estava subindo para ver Remus, meu futuro marido, quando ouvi eles conversando. Até tentei entrar e tal, mas, como sempre, eles me expulsaram e Remus sequer me olhou!
Ela poderia ser louca?
_Então eu decidi apenas espiar, você sabe. E eles falaram de você, Lily Evans, ruiva de olhos verdes. Quieta, sem sal e dócil, seja lá o que isso significa.
Quieta, sem sal e dócil?
Antes que eu pudesse expressar meu descontentamento, Marlene explodiu em gargalhadas. Ela riu tanto que seus olhos chegaram a lacrimejar.
_Oh, meu Deus! Essas pessoas não te conhecem nem um pouco.
_Posso continuar?
Revirei meus olhos, sentindo-me irritada.
_O que eu ouvi foi, James fez uma aposta com Malfoy, um idiota. Ele apostou que conseguiria namorar você até o jogo contra Durmstrang. Ou, então, Malfoy seria o novo capitão do time.
Raiva pura escorreu em minhas veias. Eu queria a cabeça de James Potter e a de Lucius Malfoy e queria agora. Levantei-me de um pulo, disposta a rasgar a garganta de alguém. Antes que pudesse ao menos chegar à porta, braços me envolveram, apertando-me.
_Lily, se acalme.
O inferno que eu ia! Eles pensavam que eu era o quê? Alguma vadia estúpida? Alguém tinha que pagar por isso.
_Pare com isso, Red. Pense! Pense no que você pode fazer.
Parei de me debater, minhas costas rígidas como tábua.
_O que você quer dizer?
_Brinque com eles.
Eu já podia enxergar, uma vez que comecei a me acalmar. Desvencilhei-me de Lene, respirando pesadamente. Ela tinha um brilho maníaco nos olhos.
_Brincar com eles?
_Exatamente! – Tonks pulou em minha cama, parando imediatamente diante do meu olhar – faça James perder a aposta. Saia com ele e termine antes do jogo.
Se eu não estivesse em torpor, poderia ter me assustado com aquela pequena mente psicopata.
_Por que você nos disse tudo isso? – Marlene tirou as palavras da minha boca.
A pequena psicopata Tonks sorriu.
_Simples. Eu cansei de ser tratada como criança por todos eles e... – seus olhos ficaram um pouco opacos nesse ponto – Remus me magoou.
Meu Deus, alguém devia dizer a ela que ela era uma maldita criança! Eu não poderia reclamar, contudo, não quando isso fez com que ela abrisse a boca e contasse tudo aquilo para mim.
_Brincar com os marotos, é isso?
Fazê-los engolir todo aquele orgulho e prepotência. Eu poderia massacrar os reis da escola. Eu os faria chorar, perder seu orgulho diante de todos os alunos. Era preciso trabalhar em um plano, mas meus lábios já estavam se esticando em um sorriso ante a perspectiva de ver, finalmente, aqueles quatro humilhados. Eu faria isso por todos os garotos nos quais eles pregaram peças, pelas meninas que tiveram seu coração quebrado e, sim, pela minha satisfação. Eu faria James Potter e Cia caírem.
_É uma boa ideia.
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Foi mesmo uma boa ideia postar essa história?
Eu juro, não era a que eu pretendia, mas havia mais três e essa acabou me dominando para escrever, pelo menos o primeiro capítulo. Vocês é quem vão me dizer: vale a pena continuar ou não?
Bem, como proposta, eu prometo fugir dos clichês básicos, por isso é que a Lily já sabe de cara que há uma aposta rolando. Essa história é bem mais leve que o Retorno e não será tão comprida. Talvez uns quinze capítulos, no máximo. Vocês provavelmente vão se lembrar de "Como perder um homem em 10 dias" porque Lily tentará ser o pior encontro possível... Não vai adiantar! Kkkkkkk
E o que falar do meu Severus? *-*
Beijos* P.S.: Sim, eu estou trabalhando nos extras, mas ta difícil de sair. Prometo que, nessas férias, as coisas vão agilizar! ;)
