Nota do autor: Esses personagens não me pertencem, ou pelo menos a aparência já que a fic é não-mágica. História sem qualquer fim lucrativo e de autoria própria; qualquer semelhança com qualquer outra é apenas uma infeliz coincidência...
Espero que aproveitem!
When the sun rises
PRÓLOGO
Já podia sentir seus músculos doerem por estar tanto tempo naquela mesma posição. O fato é que por mais que seu corpo estivesse implorando para que livrasse daquela tensão toda, não conseguia se mover. A ideia de levantar daquela cadeira mais uma vez para andar de um lado para o outro naquele pequeno corredor onde suas únicas companhias eram a delicada mesa de vidro posta no meio de quatro cadeiras, sendo uma delas a que estava sentado, o irritava.
Ainda para aumentar sua tensão, aquela ala do hospital recém criada estava silenciosa. Embora pudesse ouvir o barulho das pessoas passando conversando nas outras repartições, ou mesmo o barulho dos carros ou das ambulâncias passando apressadas do lado de fora, tudo estava em completo silêncio ali dentro. Não conseguia ouvir o barulho das jovens enfermeiras que estavam lá na recepção próxima ao fim do corredor; também não conseguia ouvir o barulho das portas se abrindo e fechando, ou mesmo de telefones e campainha soando alto como era de se esperar. Talvez sua única companhia fosse o quase inaudível tic-tac do relógio pendurado na parede em frente à mesinha.
Como se não bastasse, aquele cheiro tão impertinentemente característico de desinfetante dos hospitais já impregnava o local e invadia sua narina o impedindo de esquecer que, a alguns metros de onde estava sentado encontrava-se uma pessoa que lhe era importante, lutando por sua vida numa mesa de cirurgia enquanto estava ali de mão atadas sem poder fazer nada para ajudar.
Sabia que por mais especialista que todas as pessoas naquela maldita sala de cirurgia, não conseguia deixar de pensar que algo poderia dar errado, algo que poderia levá-lo para o mais longe possível e nunca mais poder ouvir aquelas risadas tão exageradas, mas tão calorosas e, principalmente, vivas; não poder acordar e ver aqueles gigantes olhos verdes brilhantes sorrindo para ele ou ainda aquele calor que emanava daquele corpo e que sempre lhe aquecia quando estava com frio.
Passou as mãos por seus cabelos desalinhando-os... Odiava essa mania que havia adquirido depois de passar tanto tempo ao lado dele. Um pequeno e tímido sorriso nervoso surgiu em sua face ao lembrar-se de como adorava aqueles cabelos indomáveis e tão pretos, do quanto eram cheiros e macios; do quanto gostava de senti-los entre seus dedos e mais ainda de ouvir o dono deles ronronar como um gato manhoso ao sentir um afago na cama.
Já não conseguia imaginar mais sua vida sem aquele idiota, prepotente e grande filha da puta charmoso-galanteador. Saber que ainda quando eram completamente desconhecidos aquele ser lhe irritava mais do que qualquer outra coisa no mundo. Só não conseguia saber quando e onde tudo aquilo havia mudado, ou se fora ele mesmo quem havia mudado para passar a amar tudo aquilo. A única coisa que sabia é que havia acontecido.
O soar da campainha próximo a onde estava assustou-o, tirando-lhe do meio de seu devaneio e agradeceu intensamente por isso, mesmo que quase tivesse lhe causado um ataque do coração.
Olhou em volta tentando entender o que estava acontecendo, mas tudo continuava praticamente do mesmo jeito de antes. A única diferença é que agora uma enfermeira toda sorridente entrava num dos quartos e começava a conversar com o paciente que ali estava.
Suspirou pensativo.
Não acreditava muito em Deus, Buda, Alá ou mesmo Bruma e todas as outras divindades religiosas... Era uma pessoa de fatos e não tinha muita fé, mas desde que estava ali já tinha pedido até para mesmo para "São Longino" iluminar a mão e mente dos médicos. Tudo tinha que correr bem... Tudo ia correr bem. Ele precisa do seu amor de volta.
Olhou para o relógio em seu pulso. 22 horas e 48 minutos. Já estava ali naquele hospital há quase 12 horas e destas, 11 horas, 12 minutos e 49 segundos sem nenhuma noticia do que realmente estava acontecia naquela sala operatória.
Tinha consciência de que independentemente do que estivesse acontecendo lá dentro, de pouco poderia ajudar. Por mais que seu pai quisesse que tivesse se tornado um excelente médico, nunca poderia. Tinha pavor de sangue, sentia-se mal apenas ao vê-lo e já desmaiara uma vez quando preciso fazer um exame que necessitava do mesmo. Seria cômico, se não fosse tão sério. Gostava da ideia, mas nunca poderia ser...
Sentia-se inconformado com a notícia desde que a descobrira há pouco menos de um mês. Por quê? Por que tinha que demorar tanto esse tipo de operação? Por que existia esse tipo de doença? Por que ele a tinha?
Como estava com raiva também! Raiva de si próprio. Raiva por não ter parado para escutar o que tinha para ser escutado, ou por não ter notado os óbvios sinais de que algo estava errado; mas, mais raiva ainda de ter brigado com ele por algo tão estúpido quando aquela sua última briga.
Balançou a cabeça descontente. Não acreditava que tinha sido estúpido o suficiente e passado três longas semanas separado de seu moreno; tinha perdido mais de 20 dias que poderia tê-lo beijado, sorrido e tê-lo amado das mais variadas maneiras. Poderia ficar observando-o dormir como um anjo safado, como realmente era... Poderia ter decorado os mais ínfimos detalhes daquele corpo, a mais pequenina das pintas ou ainda uma cicatriz sem muita importância.
Não que já não soubesse daquilo. Eram 39 pintas espalhadas pelo corpo com os mais variados tamanhos e cores, contas e recontadas em várias vezes... 7 Cicatrizes, sendo dessas apenas 3 maiores que eram bem perceptíveis para quem parasse para reparar, quando este não estivesse usando alguma roupa. Inclusive uma desse ele havia sido o responsável e não podia deixar de se sentir orgulho por tê-lo marcado deixando bem claro para que quisesse saber que ele pertencia a um dono possessivo e ciumento.
Mas, isso não o impedia de sentir certo remorso por não ter prestado atenção onde pisava e ter derrubado uma panela quente com chocolate derretido em cima de sua perna. Não era sua culpa se o imprestável do namorado gostava de andar pelado pela casa depois terem tido um orgasmo que havia impossibilitado os dois de andarem por alguns minutos numas das espreguiçadeiras perto da piscina.
Levantou-se num pulo da cadeira assustando a enfermeira que saia do quarto e murmurando alguma coisa desconexa andou até a janela observando a correria do lado de fora do hospital.
De onde estava, podia ver algumas pessoas caminhando pela calçada alheia a tudo o que acontecia ali dentro, seguindo sua vida normalmente esperando nunca ter que passar por algo ali dentro.
Era assim que ele mesmo teria sentido em outros momentos. Não se importava, não queria saber e também não ligava para quem estava ali dentro. Não tinha interesse em saber quem eram aquelas pessoas desconhecidas, o que faziam da vida ou se estava tudo bem... Bem diferente do que acontecia naquele momento.
Olhou para uma jovem mulher do outro lado da calçada andando tranquilamente segurando a mão de um homem que contava-lhe algo que a fez abrir um enorme sorriso em seu delicado rosto alvo. Em seu interior estava se perguntando o que é que o homem havia dito para ela...
Quem era o homem? O namorado? Irmão? Marido? Talvez um desconhecido qualquer que a estava sequestrando sem ela perceber? Descartou a ideia desesperadamente de sua mente. Não podia pensar em coisas tristes e angustiantes naquele momento.
Tinha que crer que o mundo estava carregado de felicidade e coisas boas. Precisava acreditar que no futuro iria rir daqueles momentos, que iria se irritar com o namorado por estar sendo alvo de graçinhas por causa do desespero que a cada minuto que passava apenas aumentava exponencialmente. Não podia perder as esperanças. Não iria!
Uma ambulância passou apressadamente pela janela parando seco na entrada do hospital onde já havia uma médica, talvez enfermeira, esperando pelas pessoas que saiam de dentro do carro com uma cadeira de rodas.
Acompanhou atentamente com os olhos a mulher que estava toda descabelada e parecia suar frio com a mão pressionada em sua grande barriga. Não conseguiu conter um sorriso feliz aparecer em sua face.
Será que seriam gêmeos? Perguntou-se observando o tamanho da mala que traziam junto. Quem seria o pai? Qual seria a história dos dois... Ou duas? Achou interessante o fato de outra mulher descer pela mesma escadinha e acompanhar apressada a mulher grávida. Será que as duas eram um casal? Ou era ele que estava imaginando isso. Uma irmã, ou amiga, beijaria a grávida nos lábios brevemente após parem por breves instantes no balcão de atendimento? Será que eram um casal mesmo?
Quando não conseguiu mais acompanhar as duas ficou pensando se algum dia para frente os dois teriam algum filho... Sabia que biologicamente era impossível os dois terem qualquer tipo daquela experiência presenciada há poucos minutos, mas havia outros meios de se conseguir um filho.
Era chato quando o assunto era organização... Seu namorado sabia muito bem disso. Tinha dó do quanto o coitado havia sofrido quando começaram a morar jutnos. E ainda particularmente não tinha muita vontade de ter um pirralhinho correndo e fazendo bagunça pela casa, gritando numa manhã de domingo quando o que mais queria fazer era dormir até tarde, ou ficar deitado na cama o dia inteiro.
Não tinha certeza sobre o que o moreno pensava a respeito do assunto, porém alguma coisa lá no fundo lhe dizia que ele gostaria de ter pelo menos uma "coisinha" correndo pela casa, fazendo bagunça e gritando numa manhã de domingo. Talvez até pudesse gostar da ideia no futuro... Talvez.
Mas seu futuro não estava incerto naquele momento. Tudo dependeria do que acontecesse naquela cirurgia e não tinha certeza do que poderia acontecer. O médico havia dado menos de 10% de chances de sucesso quando chegaram ao hospital. Era pegar esse pequeno valor de certeza de vida, ou ter 100% de certeza de morte nas poucas horas que se seguiriam.
Foi impossível pensar nessa última alternativa. Precisava dizer mais uma vez o quanto lhe amava, o quanto lhe era importante e o quanto queria passar o resto de sua vida ao seu lado.
Escutou o barulho de passos se aproximando e virou a cabeça rapidamente sentindo seu pescoço estralar e avistou os dois melhores amigos do namorado se aproximando. Eles pareciam tão preocupados e tão amedrontados que parecia que podia sentir o medo emanando de seus poros, principalmente da morena.
Não gostava dela. Não gostava desde o momento que a viu pela primeira vez. Por mais que o casamento dela com o ruivo estivesse indo da melhor maneira possível com dois ramelentinhos ruivos fofinhos – e nunca iria admitir esta última parte – sentia que existia algo nela que lhe atraísse ao seu moreno, do mesmo jeito que as abelhas são atraídas pelas flores ou que ele era atraído por um bom chocolate.
O jeito que eles conversavam juntos, muito próximos para o seu gosto... Os toques nada inocentes, ou alguns olhares que só os dois entendiam... Argh! Como detestava ver os dois se comunicando pelo olhar e não conseguir entender o que era dito. Não importava que os dois se conhecessem desde os 11 anos de idade ninguém poderia ter muita intimidade com o seu moreno.
Não acreditava que não havia nada entre os dois, não queria acreditar; mas infelizmente sabia que era paranoia causada por sua grande e possessiva imaginação. Pelo menos o sexo depois dessas discussões bestas sempre era... Bem, não precisava dizer.
Para sua infelicidade, quando os três estavam bem próximos ela o abraçou tão apertado que fez algumas de suas costelas começarem a reclamar.
- Vai tudo ficar bem... – Ela murmurou baixinho.
Não soube dizer se aquilo havia sido dito para lhe confortar, afinal sua aparência não deveria ser das melhores e suas feições tão pouco, ou confortar a própria.
Os dois amigos pareciam também bem abalados pela noticia... Quando havia ligado para avisá-los, ninguém queria acreditar. Ele também não acreditaria. Não tinha como aceitar que seu amado estivesse com a vida por um fio.
Grossas lágrimas começaram a escolher por sua face naquele momento e foi a sua vez de apertar a amiga entre os braços, parecia que todas as barreiras que haviam colocado para impedir que as lágrimas aparecessem durante o tempo em que estava ali se romperam de uma vez.
Por sorte seu pai não estava junto naquele momento para lhe reprender por estar deixando transparecer tantas emoções de uma só vez. Não havia mais força para lutar contra elas, e também não precisava. Ele só precisava ser forte o bastante para conseguir aguentar o médico lhe dizendo se tudo estaria bem... Ou não.
Quando se afastou um pouco pode finalmente perceber que os três estavam ali abraçados no meio daquele corredor e sentiu um pouco menos sentimental ao ver que não fora o único a deixar que suas emoções aflorassem em seus olhos.
O ruivo se afastou um pouco e pegou um pacote que havia trazido junto.
- Pelo que o Harry fala de você, acho que não comeu nada desde que a... Desde que começou. – Falou e estendeu o pacote para o loiro. – Água, café preto puro e um sanduiche de queijo. Era tudo o que tinha na cantina.
- Obrigado. – Murmurou o loiro estendendo a mão para pegá-lo sentando na cadeira mais próxima.
Só naquele momento havia percebido que seu corpo já implorava por algum alimento ou bebida. Deu uma mordida insegura no lanche, como se não soubesse o que estava falando e notou o olhar dos dois em cima de si e permitiu-se um leve rubor aparecer em sua face. Pra que deveria se preocupar com coisas sem importância?
Quando o líquido preto quente desceu por sua garganta não pode deixar de lembrar que era outra mania que havia ganhado desde que começara a viver com Harry. Este era tão viciado que não conseguiu parar o impulso de evitar tomar aquela bebida amarga, tudo por que para o moreno... As feições que o moreno faziam quando tomava era a de mais puro prazer e satisfação e queria sentir aquilo também, mesmo que nunca conseguisse.
Deu mais uma mordida no pão e continuou mastigando enquanto olhava atentamente os dois amigos de mãos dadas um apoiando o outro naquele momento. Queria que o seu moreno estivesse ali com ele também... Precisava dele. Ele era a rocha na qual havia construído tudo em cima. Não podia perder o alicerce de sua medíocre vida.
Engoliu com dificuldade e quando se virava para a mesinha para colocar ali o alimento, viu o médio caminhando lentamente na direção dos três ali no corredor.
Levantou-se rapidamente batendo na mesa derrubando tudo o que havia em cima. Não se importou com o chão sujo, com a sujeira em sua calça, com o vidro quebrado ou o barulho que havia feito. Seu olhar não conseguia desviar naquele médico baixinho de cabelos grisalhos. Ele parecia emanar uma aula de calma e paciência, mas, naquele momento nada daquilo parecia surtir efeito.
- Ele vai ficar bem? – Hermione disparou a pergunta agarrada ao braço do marido.
O médio suspirou pesado e apertou suas mãos parecendo estar nervoso e um pouco preocupado.
- E então, doutor? - Draco perguntou quase entrando em desespero. – Ele está bem?
- HD –
Nota do autor:
E ai, galera? O que acharam? Mais uma fic... kkkkk Sei que não deveria estar começado outra história sem ter acabado MPF, mas não consegui não escrever essa ideia que me surgiu.
O que acharam? Posso continuar ou acham que está chata e que não vale a pena lê-la?
Espero que tenham gostado do capítulo. Foi legal escrevê-lo, embora tenha sido bem dramático e tudo o mais... Perdoe-me qualquer erro, fic sem correção.
Beijão, pessoal.
Conto com a resposta de vocês para a continuação...
Yann
