Disclaimer: Todos os personagens de Saint Seiya são propriedade de Masami Kurumada, eu apenas imagino coisas com eles...
N/T: Esta fic também não me pertence, ela é uma tradução da fic "Entre un Panal de Abejas y una Cabelera Rubia", de Shakary. A autora me autorizou a traduzi-la.
ENTRE UMA COLMÉIA DE ABELHAS E UMA CABELEIRA LOIRA
Quinta-feira ao meio-dia, grande sala de jantar do Templo Principal
Quinta-feira de almoço entre os Cavaleiros de Ouro e o Grande Mestre. O hábito fora instaurado por Shion desde que eles voltaram à vida, depois da última batalha contra Hades; a idéia era resolver as diferenças e fortalecer os laços entre os sobreviventes da Ordem, já que havia muitos ressentimentos por tudo o que tinha se passado (alguns até mesmo tinham assassinado traiçoeiramente a outros companheiros). Por outro lado, o Grande Mestre era um homem observador, e agradava-lhe aproveitar a oportunidade com a qual o momento lhe presenteava para estudar a conduta dos seus Cavaleiros, principalmente porque, no momento em que morreram pelas mãos de Ares, os Cavaleiros de Ouro, em sua maioria, eram pouco mais do que crianças. Aquele dia era especial porque o santo Patriarca tinha três Amazonas de Prata como convidadas espaciais.
Casa de Aquário, quinta-feira, antes do almoço
Naquele dia, Milo traçava uma pequena, mas cruel, vingança contra Kanon, por causa daquele trote com o vinho tinto, na semana anterior (*). Tudo estava perfeitamente calculado, o planejamento tinha sido meticuloso, então, o que poderia dar errado ? Kanon não iria participar do almoço, tinha se desculpado com o pretexto de ter que sair para Rodorio, para fazer uma diligência urgente (sim, claro, "diligência urgente" era, sem dúvida, a forma pela qual ele se referia a um problema de saias).
Como Kanon era realmente um general de Poseidon, não fazia diferença, seu pai não podia obrigá-lo a participar de um almoço na companhia de doze pessoas que, segundo ele, acusavam-no de trair Atena. O General-Marina gostava de ir visitar a sua família no Santuário, e se hospedava sempre no Templo de Gêmeos, aproveitava também para fazer algumas brincadeiras de mau gosto aos seus ex-companheiros e de assustar Kiki com histórias de fantasia e de terror (só pelo prazer de ver Mu quebrar a cabeça, inventando algum exercício de meditação que fizesse com que o rapazinho parasse de pensar que o que ele havia lhe contado era verdade).
Milo surgiu rapidamente no telhado do Templo de Aquário. Kanon saía da décima Casa e descia até os arredores do Santuário, como ele esperava. O cavaleiro de Gêmeos seria surpreendido quando passasse pela oitava Casa. Após dar uma última olhada, pôs-se a caminhar para o encontro com os outros Cavaleiros de Ouro e com o Grande Mestre.
Milo chegou até onde estavam os seus companheiros e as Amazonas de Prata, já sentados e prontos para a refeição. A grande mesa estava disposta de forma simples, mas elegante. Grandes bandejas de prata com cordeiro assado e frango com frutas secas, que pareciam deliciosos, tigelas com pães e frutas frescas, legumes em conserva, queijos, saladas, e várias garrafas de vinho, o cheiro era embriagante, o cozinheiro do palácio tinha caprichado outra vez.
O cavaleiro de Escorpião sentou-se ao lado dos seus amigos: Camus à direita, à sua esquerda estava Afrodite, o qual ultimamente mostrava-se mais amistoso. Afrodite havia mudado desde que eles tinham voltado à vida, há poucos meses, a princípio parecia muito relutante quanto a se misturar com os outros, mas, conforme o tempo passava, começou a se aproximar de Milo, Camus, e principalmente, de Saga. Ao lado deles, as três Amazonas de Prata. Na cabeceira, estava Shion, à sua direita, Dohkho, e, à, sua esquerda, Mu. Máscara da Morte e Shura conversavam calmamente e sorriam dissimuladamente, uma cadeira vazia, e Aldebaran com os braços cruzados e o seu característico rosto bonachão, seguido por Saga, Aioria e Aioros.
Milo continha as risadas, só de pensar no susto que Kanon iria levar. Felizmente, ele não iria ao banquete e ninguém iria perceber a peça que ele lhe pregaria, tudo estava correndo perfeitamente bem.
- Você tem certeza absoluta de que isso não vai se tornar uma hecatombe ? - sussurrou Camus ao amigo, com o seu acentuado sotaque francês - Você calculou tudo direitinho ?
- Está tudo bem, meu querido Camus, tudo está friamente calculado. Kanon se desculpou por não vir ao almoço e eu me certifiquei de que ele passaria pela minha Casa. Eu o vi descendo por Capricórnio, todos os outros estão aqui. O pior que pode acontecer é algum Cavaleiro de Bronze ou o aluno de Mu passar por Escorpião antes que o cavaleiro de Gêmeos - disse Milo, com a voz igualmente sussurrante, e muito seguro se duas palavras.
- Bem, meus queridos cavaleiros, amazonas, assim que Shaka chegar, nós daremos início à refeição, embora eu realmente estranhe o atraso. Normalmente ele costuma ser sempre muito pontual.
Naquele momento, Milo sentiu como se água gelada lhe descesse da garganta até o estômago, e, com voz entrecortada, perguntou a Afrodite:
- M-mas Shaka não estava na Índia ?
- Sim, na semana passada, ele retornou ontem cedo... você precisa dele, por acaso ? - respondeu Afrodite calmamente, e continuou, vendo a expressão torturante do cavaleiro de Escorpião - Ele está demorando, e tomara que chegue logo, porque eu me sinto faminto - repentinamente, ele riu, e disse: - Falando no diabo, que bom, ali está ! - a silhueta do cavaleiro de Virgem delineava-se na entrada do templo, mas por alguma razão, ele não saía do lugar.
- Boa tarde, Shaka, que bom que você chegou. Senhores, senhoritas, nós já podemos começar, a verdade é que tudo parece delicioso - disse Shion, convidando-os a se servirem - Shaka, venha, ande, há muitos pratos vegetarianos para você !
Shaka permanecia com o semblante abaixado, alguma coisa estava errada, seu sossegado cosmo estava muito alterado, seus braços estavam caídos e ele apertava os punhos com força.
- MILO DE ESCORPIÃO ! - gritou ele, furioso. Todos ali presentes pararam de se servir, estavam desconcertados, aquilo ninguém podia esperar de Shaka. O cavaleiro de Virgem apareceu de repente onde Milo estava e ali, sob a luz, puderam vê-lo: escorria mel da sua cabeça, todos os seus belos cabelos estavam se parecendo com uma massa. Milo tivera a engenhosa idéia de que, ao passar pela saída da oitava Casa, um barril de mel de melaço caísse sobre a "vítima", depois uma colméia se soltaria do telhado, então, as abelhas, ao baterem no chão, se lançariam contra quem ali estivesse e ficariam emaranhadas nos seus cabelos, a pobre pessoa que caísse na armadilha certa e irremediavelmente teria que raspá-los.
Máscara da Morte não conseguiu evitar e caiu na gargalhada, sem conseguir se conter...
- Você vai... vai ter que raspar a cabeça, Rapunzel - as lágrimas lhe brotavam, copiosas, por causa das risadas, e algumas pessoas não conseguiram evitar imitá-lo, por causa do comentário - Quanto a você, Milo, eu vou começar a recitar as minhas orações... a loira vai lhe cobrar por cada fio do seu cabelo arruinado... ele parece furioso... - Máscara da Morte quase não conseguia falar.
Shion, que não o vira chegar, ficou de pé e, com um olhar severo, silenciou as piadas dos que ali estavam com relação ao assunto, estava preocupado pelo que sentia no cosmo de Shaka, pois o loiro sempre se caracterizara por manter a calma, ele era a viva imagem da paciência.
- VOCÊ É UM IRRESPONSÁVEL, O QUE DIABOS ESTAVA PENSANDO QUANDO FEZ TAMANHA TOLICE ! - disse o cavaleiro de Virgem, furioso, e arrastou o pobre Milo, aterrorizado, e, com o braço direito, segurou-o pelo pescoço, contra a parede, e, com o outro, dispôs-se a golpeá-lo.
- SHA... SHAKA, A ARMADILHA NÃO ERA PARA VOCÊ... ERA PARA KANON ! - gritou Milo, com voz entrecortada. Quando viram que o ataque realmente aconteceria, algumas pessoas ficaram de pé, Camus correu para segurar o braço livre de Shaka, com o qual ele estava prestes a fazer uma lobotomia no cavaleiro de Escorpião. Shion decidiu intervir. O cavaleiro de Virgem estava tão irritado que não percebia os olhares dos seus companheiros. Mu correu, alarmado, até onde eles estavam, e tentava acalmar o seu melhor amigo. Máscara da Morte continuava a gargalhar.
- SE HÁ ALGO QUE ME IRRITA, É QUANDO SE METEM COM OS MEUS CABELOS ! - disse Shaka, impensadamente; as outras pessoas ficaram atônitas com estas palavras. O loiro estava prestes a dar o golpe, todos sabiam que ele podia matar Milo, se o quisesse. Alguns preferiram fechar os olhos... no entanto, o instante caótico foi interrompido por uma voz feminina.
- Se... senhor Shaka, não faça isso, por favor. Eu posso ajudá-lo a tirar as abelhas dos cabelos.
Yuzuriha tinha falado. Shaka parou o golpe diante dos olhares assombrados de todos, respirava ofegante por causa da cólera, e, tentando se recompor, voltou a olhar para a jovem e começou a baixar a guarda. A jovem segurou gentilmente o braço com o qual ele ia golpear, aos poucos a expressão do Cavaleiro de Ouro se suavizou, e um afortunado Milo viu-se finalmente livre.
- Tome cuidado, Yuzuriha - disse o Grande Mestre.
- Não se preocupe, Mestre, acho que tudo vai ficar bem - disse a jovem, sem deixar de olhar para Shaka - Eu irei com ele e o ajudarei a resolver este problema...
- Por que você está fazendo isso ? - perguntou o cavaleiro de Virgem, com uma expressão intrigada, e já totalmente calmo.
- Bem... porque eu gosto muito de você, e, além disso, eu tenho paciência com cabelos longos - disse ela, fazendo um movimento de flerte com a cabeça, e mostrando ao Cavaleiro de Ouro a sua longuíssima cabeleira acomodada impecavelmente em um rabo-de-cavalo - Vamos, mestre, verá que eu não vou ter de cortar um único milímetro.
Shaka não disse nada, apenas deixou-se ser levado pelo braço pela amazona. Eles saíram do templo e foram para a Casa de Virgem, para desemaranhar e limpar o emaranhado de mel e de bichos que era a cabeça do cavaleiro.
Shion e Mu suspiraram aliviados, a cor não voltou ao rosto de Milo. Ele não queria admitir, mas a reação de Shaka o assustara muitíssimo, ele suava frio, e perdera totalmente o apetite, tanto que não falou mais durante toda a noite.
"Por que, de todos os que podiam passar por ali, tinha de ser Shaka de Virgem a fazê-lo ? Kanon vai se acabar de rir, quando souber do que aconteceu", pensava ele, atormentado.
- Hahah, você passou por maus bocados com Rapunzel, bicho demoníaco - disse Máscara da Morte, sem parar de rir e secando as lágrimas - Todos escutaram bem, não se metam com o cabelo do pequeno Buda, sob o risco de pena de morte.
- Nós já havíamos discutido o assunto dos trotes - disse Shion, bastante sério - Eu sei que é parte da convivência entre vocês, vocês são jovens e é inevitável. Mas tenham cuidado, fazer Shaka se enfurecer é muito difícil, mas vocês viram que, quando acontece, ele pode sair do nosso controle. Estou certo de que, se não fosse por Yuzuriha, ele o teria decapitado de um só golpe, meu querido Milo - disse ele, dirigindo-se ao jovem de cabelos azuis, que ainda continuava com o rosto pálido, e continuou: - Bem, meus jovens, tudo já passou - disse Shion, de forma paternal - Não se fala mais no assunto. Milo, depois você, Shaka e eu conversaremos sobre isso - Milo assentiu, cabisbaixo. A simples idéia de ter que enfrentar Shaka para falar sobre o assunto fazia a sua pele se arrepiar.
Todos sentaram-se, e Shion virou-se para Mu, que estava ao seu lado, e disse-lhe, em um sussurro:
- Eu nunca tinha visto Shaka parar um ataque só porque alguém lhe pediu. Não lhe parece estranho, meu querido Mu ?
Mu respondeu afirmativamente, com uma risadinha.
- Ultimamente, ele tem me visitado muito, em Áries, e sempre procura uma oportunidade para dirigir a palavra a Yuzuriha, mesmo que seja para falar do tempo. Além disso, ele está familiarizado com ela, isso é muito, muito estranho, vindo de Shaka - Shion assentiu, sorridente e, dirigindo-se aos outros, ergueu a taça desejando saúde, e o banquete começou, sem mais comentários sobre o assunto.
Casa de Virgem
- Vamos ver, aqui há mais duas - dizia Yuzuriha, com um pente na mão e um tufo de cabelos dourados, naquele momento ela tirava mais duas abelhas. A jovem colocava os animaizinhos em um frasco de vidro para soltá-los depois (se é que sobreviveriam ao trauma), o mel de melaço escorria por todos os lados, Shaka estava sentado à frente dela, de costas e com a cabeça agachada, sentia-se humilhado diante da jovem - Vamos demorar um pouco, mas não há porque se envergonhar, mestre - disse ela, adivinhando o que podia estar sentindo o Cavaleiro de Ouro - Foi uma brincadeira de muito mau gosto, é preciso dar uma lição no senhor Milo - ela sussurrou-lhe ao ouvido, com uma voz suave - Se eu fosse o senhor, me vingaria...
Shaka sorriu timidamente, e lhe respondeu:
- Obrigado, e, por favor, não me chame de senhor, pode me chamar de você, se assim desejar...
Yuzuriha sentiu que o seu coração batia com mais força, ele era, já há algum tempo, o anjo dos seus sonhos, e agora deixava-se ajudar por ela. Por isso, com uma profunda alegria, ela limpava com cuidado aqueles fios dourados que tiravam-lhe a respiração todas as vezes em que podia estar perto de Shaka. Ela não se importava por estar com fome, tampouco por ter se lambuzado de mel até à medula, queria apenas que aquilo não terminasse, ali onde estava, poderia acariciá-lo disfarçadamente, sem que ele percebesse, e talvez aquela fosse a sua única oportunidade.
FLASHBACK
Yuzuriha estava no campo de treinamento das amazonas, alguns dias depois que a ordem de Atena foi libertada do Mundo Inferior, dia em que sua alma foi tirada à força do Cócito por um dos Três Juízes, para realizar o desejo do seu irmão gêmeo, de permitir que ela tivesse uma vida normal na Terra - desde então, já tinham se passado três meses. A jovem estava colocando a sua proteção de couro para o treinamento diário, assim como fazia todos os dias. A amazona não mostrara interesse em se misturar muito com o restante da Ordem, e, apesar de morar com Mu, na Casa de Áries, não tivera tempo nem vontade de conhecer a todos os Cavaleiros de Ouro.
De repente, alguém gritou:
- Amazonas, cubram-se com as máscaras, nós temos visitas ! - sem sombra de dúvida, a voz era de Marin, a única com quem ela se dava mais ou menos bem. Como era uma ordem, cobriu-se com a máscara, lembrava que, quando viveu pela primeira vez, sempre desconsiderou esse hábito estúpido.
Quando ela voltou a olhar para a entrada do Coliseu das Amazonas, ficou sem palavras.
"Ashmita de Virgem ?". Ela congelou, tinha-lhe um certo rancor por ter prendido o seu irmão, mas, ao mesmo tempo, nunca tinha conseguido olhar para ele sem sentir o seu coração capotar. No entanto, era nulo o contato que ele sempre manteve com o restante da Ordem. Ashmita parecia ter uma aura que dava-lhe um ar divino. Além disso, ela era uma Amazona de Prata, e ele, um Cavaleiro de Ouro, nunca poderia nem deveria...
- Mestre Shaka de Virgem, que prazer tê-lo aqui - Marin cumprimentou-o respeitosamente - A que nós devemos há honra, por demais estranha, da sua visita ?
"Shaka ?", pensou Yuzuriha. "Mu falou muitas vezes sobre ele, mas eu não o conhecia".
- Bom dia, Marin, Shaina, e... - perguntou Shaka, educadamente - Eu a conheço, senhorita ?
- Yu... Yuzuriha de Grou - ela mal conseguiu responder, não conseguia deixar de olhá-lo. "Como ele sabia que eu estava aqui, se é cego ?", pensou ela, ao vê-lo com os olhos fechados.
- Mestre, ela é a pupila de Shion, a Amazona de Prata que saiu do monólito com vocês, ela esteve na Guerra Santa anterior - respondeu Shaina, ao ver que Yuzuriha tinha permanecido impassível - Ela está morando temporariamente com o senhor Mu de Áries.
- Muito bem - disse Shaka, muito interessado - Você é lemuriana, espero que seja muito menos imprudente do que o aprendiz de Mu - ele finalizou, sorrindo, e, com a cabeça a um lado, estendeu a sua mão para pegar a de Yuzuriha, gesto ao qual ela correspondeu educadamente, isso diante dos olhares atônitos de Marin e de Shaina - Prazer em conhecê-la, e seja bem-vinda ao século 21, senhorita - ele terminou com elegância.
- O...obrigada, é um enorme prazer para mim também, senhor- conseguiu dizer Yuzuriha com uma reverência, o coração não parava de bater aceleradamente...
Shaka tinha ido ao Coliseu das Amazonas para pedir a Marin para que lhe emprestasse aquele campo de treinamento para treinar em combate corpo a corpo ao seu aprendiz, no dia seguinte. Não queria treiná-lo do outro lado porque o jovem estava um pouco inseguro, já que seria o seu primeiro combate corpo a corpo depois que começara a treinar com Shaka, por isso sentia-se afetado com a presença dos outros cavaleiros, e, principalmente, dos seus irmãos.
Após ter conseguido a permissão de Marin, ele despediu-se elegantemente, com uma reverência ao melhor estilo hindu, e caminhou calmamente até as Doze Casas.
- É estranho ver Shaka, mais estranho ele vir até aqui, e ainda mais estranho que ele tenha falado conosco - comentou Shaina, intrigada - Mas o que é mais surpreendente é que ele tenha lhe tratado tão amavelmente, Yuzuriha.
- Não o critique - disse Marin - Você sabe como ele é. Porém, desde que voltaram, ele tem tentado se comportar mais como um "ser humano" - disse a amazona, fazendo aspas com os dedos - Se ele veio, é por causa do carinho e senso de proteção que Shun desperta nele, esse rapazinho suavizou-lhe o coração, ele o protege como a uma criancinha.
- Shun tem a habilidade de despertar a ternura no coração de qualquer pessoa, até o grande Shaka de Virgem caiu nos encantos daqueles enormes olhos verdes - afirmou Shaina, caindo na risada.
- De minha parte, eu acho que Shaka é muito simpático - revelou Yuzuriha, perturbada diante da visão do cavaleiro subindo ao longe os degraus do Santuário, até a sua casa - E tem um porte de príncipe, como ele é elegante.
- Shaka, simpático ? - perguntou Shaina, rindo - Agora, sim, eu já escutei de tudo na minha vida. Olhe, garota, nem pense em se iludir com Shaka, isso é missão impossível, é complicado demais, está muito além do que você poderia conhecer em qualquer ser humano.
Yuzuriha não disse nada, mas, com o passar do tempo, se deu conta de que Shaina tinha razão. Shaka era divino e inalcançável, aquele belíssimo ser não podia ser tocado por mãos humanas, seria um sacrilégio... sentia-se pecadora só por ter pensado nele como homem...
Fim do flashback
- Mestre Shaka - disse Yuzuriha, voltando a si - Acho que é a última.
Tinham se passado várias horas e já estava anoitecendo. O tempo tinha se passado muito rapidamente, para ela, e, bem, embora não quisesse, tinha que terminar a tarefa, ou Shaka iria perceber que ela estava demorando de propósito, só para estar ao seu redor.
Shaka levantou-se e virou-se para ela pela primeira vez em toda a tarde.
- Você deve estar cansada e faminta, está com todas as roupas lambuzadas de mel. Vá tomar um banho no quarto de Shun, eu lhe darei uma roupa limpa dele. Acho que vai ficar um pouco larga em você, enquanto isso eu vou tomar um banho, e preparar algo para você comer - disse ele, caminhando até o quarto contíguo, e acrescentando sorrindo, antes que Yuzuriha agradecesse: - É o mínimo que eu posso fazer depois de você ter ficado sem almoçar por minha culpa.
Depois de terem tomado banho, Yuzuriha foi procurar o Cavaleiro de Ouro na pequena cozinha da sexta Casa, o cheiro do que Shaka estava preparando era delicioso. Ela usava uma camisa longa de cobertor indiano branco, sem adornos, e uma calça negra, também de cobertor. Ambas as roupas ficavam-lhe um pouco largas nos ombros e na cintura. Quanto ao cumprimento, estavam bem, no entanto ela sentia-se confortável com aquela roupa. Não usava sapatos, mas aquilo tampouco a incomodava. Entrou timidamente na cozinha, e viu que Shaka já estava pondo a mesa.
- A roupa de Shun ficou bem em você, ele é magro - e sorriu-lhe - Sente-se, eu vou servi-la. Tenho curry de grão-de-bico, arroz basmati , tzazique (contribuição grega) e pão nan feito em casa. Peço desculpas pela falta de carne, mas eu não a como, então isto é o que eu posso lhe oferecer - E continuou: - Para beber, tenho vinho tinto, refrigerante, cerveja, chá verde ou água.
"Que contraste entre a comida e a bebida", pensou ela.
- Cerveja e refrigerante, mestre ? - perguntou Yuzuriha, sem esconder o seu espanto, e sorrindo - Eu não sabia que os monges budistas consumiam esse tipo de bebida.
- Que vergonha, Yuzuriha - ele lhe disse, com um belo sorriso - Milo, Afrodite e Camus vêm jantar de vez em quando, e como eu apenas lhes ofereço água ou chá, eles decidiram encher a dispensa com o que eles gostam de beber.
- Uff - riu Yuzuriha - Eu disse, não se preocupe com a carne, mestre, nós também somos vegetarianos na Casa de Áries.
- Tudo bem - disse ele, mais sossegado, estava acostumado aos protestos de seus amigos quando não lhes servia um bife toda vez que chegavam, mas, embora não quisessem admitir, a comida vegetariana que Shaka preparava era deliciosa, e começaram a comê-la com gosto, apesar de Milo comentar de vez em quando que parecia comida para coelhos - Que bom, minha querida Yuzuriha, então aproveite, coma sem pressa, eu vou ficar com os olhos fechados - Shaka fez o comentário ao sentir a máscara que estava sobre a mesa.
- Você não... não é cego ? - perguntou, assustada, a jovem, já que, por causa do mau hábito de andar sem máscara, tinha esquecido de pô-la em um dia no qual Shaka fora visitar o mestre Mu, com quem ela nunca a usava; eles tinham discutido a respeito, e o lemuriano considerava que era um hábito opressivo, por isso, sempre que ela estava no Templo de Áries, não tinha que usá-la. Ela não exigiria nenhum compromisso da parte dele, e ele tampouco iria se queixar. Além do mais, Mu suspeitava de um parentesco distante com a jovem, acerca do qual estava investigando.
- Não - disse ele, adivinhando a aflição da amazona.
- Então, por que você sempre está com os olhos fechados ? - perguntou ela.
- Para aumentar o meu cosmo - disse ele, sem rodeios - Além do mais, desde que eu nasci, a minha visão não é boa, então eu renunciei a ela voluntariamente, para aguçar os meus outros sentidos.
- Você viu o meu rosto, no dia em que visitou Mu ? - perguntou ela, medindo as palavras.
- Sim - ele nunca dizia mais do que o necessário - Depois fechei os olhos, para não incomodá-la - ele finalizou.
Yuzuriha decidiu começar a comer, realmente não sabia o que poderia dizer, sentia-se perturbada, não se atrevia a reivindicar-lhe nada, não podia... fora sua culpa ter sido tão descuidada. Continuaram comendo em silêncio; de qualquer maneira, o loiro não era muito conversador.
- Você é muito linda - disse Shaka, ao terminar de comer, sempre muito direto, e continuou a beber o chá verde. Percebia-se um rubor no seu rosto, ao dizer isso.
Yuzuriha congelou... olhou-o de frente, e não conseguiu dizer nada.
"Ela era linda ? Shaina era linda, Atena, June, mas ela ? Ele, aquele anjo tão belo, conseguia enxergar beleza nela ?"
De repente, ele ficou de pé, e fez menção de retirar-lhe o prato.
- Você terminou ?
- Sim - foi o que ela conseguiu dizer - Estava delicioso, obrigada - ela fez uma reverência - Acho que é melhor eu ir, Shaka, Mu deve estar me esperando.
- Você vai porque quer - disse ele, suavemente - Lamento tê-la colocado em uma situação tão desconfortável.
- Não, Shaka, eu estou bem - disse ela, apressando-se a recolher a sua roupa suja para ir embora, mais uma vez tinha deixado a máscara na mesa - Espero que os seus cabelos estejam bem, nós nos vemos.
- Yuzuriha - disse ele, segurando-a pelo braço - Eu não quero que você vá embora.
Ela sentiu-se estremecer da cabeça aos pés, aquele contato estava prestes a enlouquecê-la.
Ele a virou gentilmente e abriu os olhos devagar. Para ela, revelava-se o amanhecer mais lindo, era como o bater de asas de milhares de borboletas Morpho, que mostravam os seus mais belos tons de azul. Impressionada, a jovem deixou cair a embalagem com as roupas sujas que tinha nas mãos. Ela ficou imóvel, contemplando aqueles olhos azul-celeste tão profundos, que deixavam-na sem respiração.
- No dia em que nós voltamos à vida, eu comecei a me questionar sobre o porquê de mudar o destino da nossa morte prematura que estava escrito nas estrelas, minha harmonia espiritual viu-se em risco de ser alterada para sempre, por isso me ocupei em meditar sobre o que permanecia, e me lembrei de uma frase que tinha dito o meu amigo Mu: "Não é preciso se apressar para atingir o seu objetivo, apenas aproveitar a viagem" - tudo isso ele disse à jovem, que olhava-o com uma expressão assustada - Então, a partir dali, eu decidi aproveitar a minha vida da melhor maneira possível - terminou ele.
- Sha... Shaka... - disse a jovem, com os olhos bem abertos.
- Já faz um tempo que eu queria lhe pedir... não sei como... você quer... gostaria de me acompanhar nessa viagem ? - perguntou ele, olhando para a jovem - Se você não quiser ou não puder, não importa, ponha a máscara, e esqueçamos que isto aconteceu. Eu não direi nada... nunca - disse ele, soltando o agarrão e afastando-se, realmente sentia-se muito envergonhado com ela. Yuzuriha era a única pessoa que o desarmava.
Yuzuriha afrouxou o corpo ao escutá-lo dizer isso, achava que ia desmaiar de felicidade, no entanto sentia-se estúpida por deixar-se dominar por um homem... um homem que a tinha feito experimentar algo que imaginava que jamais iria sentir. O único homem que a tinha feito sentir amor em toda a sua plenitude tinha sido o seu irmão; porém, o amor que ela sentia por Shaka era diferente, não era fraternal, ela desejava aquele homem, queria tocá-lo, beijá-lo, fantasiá-lo... em sua loucura por ele, ansiava mais do que tudo na vida por aquele contato e por aquela presença.
- Shaka... - disse ela, determinada a não perder aquela oportunidade que lhe era dada - Ser sua companheira de viagem seria a melhor coisa que poderia acontecer na minha vida... me faria muito feliz...
O loiro não podia acreditar no que estava escutando, desde que visitara Mu e vira o rosto da jovem, as suas noites nunca mais foram as mesmas, não conseguia tirar aquela imagem da sua cabeça, queria estar com ela, porém não tinha certeza do que ela poderia pensar dele. Mas aquele dia, em que a teve perto por um longo tempo, havia percebido, no cosmo de Yuzuriha, a perturbação com o seu contato.
Shaka virou-se lentamente, seu coração batia rapidamente, tinha o rosto corado, a jovem olhava com os olhos úmidos e com um sorriso tímido. Ela caminhou até ele, segurou-lhe as mãos e beijou-as suavemente. A jovem estava enrubescida e tremia por causa da emoção. Então o loiro agarrou-a, levantando-lhe o queixo, e, pouco a pouco, inclinou-se para se aproximar daqueles lábios rosados, que desejava provar mais do que qualquer coisa no mundo, beijou-os com ternura... e foi correspondido.
"Quando eu me encontrar com Milo", pensou nesse momento o cavaleiro, "vou ter de lhe agradecer..."
N/A: (*) Isso eu conto em outra oneshot.
N/T 2: E aqui está a minha terceira tradução de Cavaleiros do Zodíaco. Aliás, de três traduções deste fandom, esta é a segunda com um ship não tão comum (pelo menos, foi o que me pareceu). Mas espero que vocês gostem dela.
E, se gostarem... reviews, please ?
