THE WOLFS: O COMEÇO DE TUDO
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CAPÍTULO 1 - Mudanças
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Mudança é uma situação corriqueira que insiste em acontecer quando menos esperamos. Aquele elemento surpresa que a vida guarda para nós. As coisas podem estar indo às mil maravilhas, e então, como se a felicidade fosse algo impossível de se manter, lá vem o senhor destino nos pregar aquela peça. De repente, tudo que já estava construído se esvai como areia por entre os dedos. Vidas acabaram como peças perdidas em um jogo de xadrez. Tamanha é a fragilidade humana e inutilmente sustentamos o pensamento de que entes queridos são imortais. Nunca se quer perder alguém. Muito menos alguém que se gosta. Alguém que se ama.
Mas vezes isso é necessário para que outras coisas possam acontecer, coisas que mudarão drasticamente nosso futuro. Mesmo assim, nunca é fácil aceitar uma mudança de imediato.
Inuyasha estava feliz morando em Hokkaido. O clima era agradável e tinha muitos amigos na escola. No seu tempo livre adorava tocar guitarra e andar de skate. Suas notas iam bem, e sua mãe sempre o elogiava aos vizinhos por ser um bom garoto.
Quem o visse agora jamais diria pelo que este pequeno hanyou já havia passado.
Desde a morte do seu pai, Inu no Taishou, Inuyasha e sua mãe jamais tinham conseguido a estabilidade necessária para sequer se manterem vivos. A ex-mulher do empresário nunca havia aceitado o fato do homem tê-la abandonado para criar uma vida com a amante, Izayoi; e assim que o sujeito passou dessa para uma melhor, ela moveu mundos e fundos com a ajuda de advogados para que Izayoi não tivesse direito a nem um centavo da herança do ex-marido.
Vitoriosa, ela cumpriu com excelência seu objetivo alguns meses depois da morte do ex-marido. A única coisa que não foi tirada da segunda mulher foi o direito a ínfima pensão por conta do pequeno filho bastardo, Inuyasha, já que Inu no Taishou nunca chegara a se casar com Izayoi. Mas este foi um direito de seu filho pelo qual Izayoi lutou até o ultimo, com unhas e dentes de uma mãe que ama muito sua cria.
Depois deste incidente, mãe e filho tiveram que reaprender a viver. Passaram por muitas situações precárias, já que agora o dinheiro que dispunham mal pagava a comida que estavam habituados a comer. Foram inúmeros apertos até que Izayoi conseguisse um emprego fixo de cozinheira de um colégio em Hokkaido; ao qual não lhe pagavam tão bem assim, mas o suficiente para reestabilizar a sua vida e a de seu filho. Moravam em um apartamento apertado na zona leste da cidade, e Inuyasha cursava o sexto ano no colégio que a mãe trabalhava.
Até que chegaram novamente as tais mudanças.
Izayoi contraiu uma grave doença no pulmão, e seus dias de vida se tornaram delimitados. O hanyou assistiu a mãe definhar lentamente, dia após dia, até o momento de sua morte. Não a abandonou por um segundo sequer, prostrado ao seu lado dia e noite, mas isso não foi o suficiente para salvar a vida da mulher que o gerou.
Primeiramente perdera seu pai, depois sua mãe. Inuyasha estava sozinho no mundo, e havia acabado de completar doze anos. Perguntara-se inúmeras vezes o motivo dele ter que viver tudo isso, era dor demais para um garoto só. Desgraças demais em muito pouco tempo para uma só vida suportar.
Durante aproximadamente um mês, ele se manteve só no apartamento que antes dividira com a mãe. Não via motivos para sair, não tinha motivos para querer continuar vivendo. Definhava pouco a pouco, sem se alimentar direito, e pensava em inúmeras maneiras de tentar trazer sua mãe de volta, ou, porque motivos ela tinha que o deixar justo agora que estavam conseguindo viver normalmente. Pensara seriamente no que ele ia fazer da vida agora que não tinha mais a ninguém. Pensara até mesmo em se matar, para poder estar junto da mãe e do seu pai novamente, mas desistiu da idéia ao constatar que eles nunca iriam querer isso para ele. Mas Inuyasha não conseguia mais ter a capacidade de sonhar, como conseguiria continuar vivendo sem sua mãe?
Ele nunca encontrou respostas para suas perguntas. Mas amadureceu muito no tempo que teve para pensar. E descobriu um modo eficiente de extravasar suas angustias nesse meio tempo de pura solidão: a música.
Em suas piores crises, agarrava-se a guitarra e deixava fluir as notas, lentas e longas, enquanto arrastava a voz em letras tristes e melodiosas, que expressavam parte de seus sentimentos e a falta que sentia de sua mãe. Tocar se tornava um costume toda vez que lembrava que nunca mais a sentiria, que ela nunca mais o elogiaria aos vizinhos ou sorriria quando pusesse o jantar.
Ela nunca mais o abraçaria e o daria um beijo de boa noite.
Não sentiu metade deste sofrimento quando perdeu seu pai, como sentia agora que já não tinha mais sua mãe. Talvez fosse porque ela o confortara quando ele sentia a falta do pai. Agora não tinha ninguém para confortá-lo.
A música era a única coisa que o fazia se sentir pouco menos vazio. Que o trazia temporariamente para junto de seus pais, por alguns instantes que fossem. A única que o confortava agora que ele não tinha mais ninguém. E estava disposto a dedicar sua vida a ela se fosse preciso; viver o resto de sua vida trancado no apartamento apenas compondo e tocando para seus falecidos pais. Não queria nunca mais sair dali.
Mas novamente a vida o pregou uma peça. O hanyou foi arrastado à realidade na primeira oportunidade que surgiu: Inuyasha não tinha dinheiro para manter o apartamento. Se usasse sua pensão para pagar o aluguel, não teria dinheiro para comer durante o mês. Ele não sabia mais o que fazer. Seus pais eram ambos filhos únicos, de modo que não havia tios a quem o hanyou pudesse recorrer. Estava fadado a ficar sozinho e aprender a se virar na rua.
Trágica vida. Trágico destino.
Foi naquele dia nublado que o telefone tocou. Inuyasha atendeu ao telefone e recebeu a noticia de que não estava mais tão só no mundo. Seu irmão mais velho assumiria a sua guarda.
Ora essa, mal sabia que tinha um irmão mais velho.
Então tudo deu uma volta de trezentos e sessenta graus. Num instante se via sozinho no apartamento que vivera com a mãe, atracado tocando e chorando sobre sua guitarra enquanto levantava mil hipóteses de onde morar quando lhe tirassem o apartamento. No outro, estava em um carro caro, rumo a Tóquio, indo morar com um irmão desconhecido que herdara todo o dinheiro de seu pai e provavelmente não passara um terço das dificuldades que Inuyasha sofrera com sua mãe. Ele viveria naquela realidade dali em diante. Teria que se adaptar a um mundo oposto ao que vivera até agora, e aquilo era algo extremamente surreal.
Inuyasha lembrava-se bem da primeira vez que vira Sesshoumaru. Aquele moço sério de rosto angular e tamanho avantajado. Mal aparentava ter dezenove anos, se quistos seus um metro e noventa e dois. Sesshoumaru parecia um cara bem mais velho.
O hanyou lembrava-se da frieza que Sesshoumaru tinha, guardando algumas das caixas de mudança no porta-malas do carro, sem proferir muitas palavras. Só viu o semblante predominante ser quebrado quando entregou sua guitarra - guardada na própria capa - para que o aniki desconhecido colocasse no banco traseiro do veículo, já que o porta-malas estava cheio. Ele no mínimo pareceu surpreso com o instrumento. E aquilo definitivamente era uma expressão nova para Inuyasha.
Durante a viagem de algumas centenas de quilômetros, Sesshoumaru deixara tocando no rádio do carro alguns clássicos norte-americanos dos anos oitenta. Inuyasha se limitava a observar a paisagem correndo janela afora, pensando na sua situação atual. Em tudo que já havia passado. Tentava imaginar como seria sua vida de agora em diante, sem pais, com um irmão mais velho e desconhecido e vivendo em uma das maiores capitais do mundo. O dinheiro que sempre fora o problema dele e da sua mãe, agora era o que menos lhe faria falta.
-Você gosta de música, garoto? – Inuyasha quase deu um pulo quando ao ouvir a voz rouca de seu aniki ecoando sobre a música de fundo. Fitou a figura mais velha, seus cabelos prateados e longos escorrendo pelas costas enquanto ele dirigia um pouco curvado, devido a sua grande estatura. Chegaria o hanyou a ficar assim um dia? Parecia tão pequeno perto do seu irmão.
Passou inconsciente a mão pelos cabelos raspados. Eram igualmente prateados, mas nunca pensara antes em deixá-los longos. Sua mãe vivia se queixando se que ele não devia desperdiçar fios tão bonitos raspando-os... Talvez fosse este o momento de mudar.
-Gosto. – Inuyasha respondeu sem animação nenhuma, compreendendo que Sesshoumaru fazia menção a guitarra no banco de trás. –Eu já tocava, mas só comecei a compor depois que minha mãe morreu.
Um clima tenso se instalara no carro. Ao invés de dar os pêsames, como a maioria das pessoas vinha fazendo quando o hanyou tocava este assunto, Sesshoumaru manteve-se calado. Fitava a rodovia e seu semblante continuava muito sério.
-Sabe, - começou ele, surpreendendo Inuyasha, que já achava que a conversa havia se encerrado. –Eu e uns amigos formamos uma banda. Você irá conhecê-los, eles não saem do meu apartamento.
Uma banda?
...
Quer dizer, pessoas que vivem da música?
Inuyasha pensou pleonástico. Não era isto que desejava fazer de sua vida depois que sua mãe morrera? Apenas tocar suas musicas e aliviar sua amargura através delas?
-Uma banda? – ele perguntou inocente.
-É. – Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha. –Nós fazemos música. – ele deu de ombros. –Talvez você goste.
Oh-oh. Um pingo de esperança brotara no coraçãozinho do hanyou. Talvez pudesse afinal, continuar vivendo. Planejando e sonhando. Não que esperasse que aquele Sesshoumaru sério que se dizia seu irmão fosse querê-lo na sua banda, afinal, ele era novo demais para isso, até o próprio Inuyasha reconhecia este fato.
Mas poderia acompanhar de perto o fascínio que era compor músicas. Quem sabe, depois de um tempo, pudesse ajudar os caras da banda? Talvez a compor? Talvez eles gostassem de algumas das composições de Inuyasha. Para o hanyou elas não eram de todo ruim. Falavam da sua mãe. Da dor de perder alguém que se ama.
Inuyasha começou a imaginar uma banda famosa cantando as musicas que compusera para sua mãe. Sua imaginação foi além, criando uma multidão acompanhando a música. Cantando seus versos, seguindo sua melodia. Milhares de pessoas querendo ouvir, querendo comprar seus discos.
E então ele voltou à realidade.
-Vocês fazem shows? – perguntou o pequeno hanyou, enquanto encarava novamente seu irmão.
Viu um esboço de sorriso no rosto de Sesshoumaru, um pouco divertido.
-Não, ainda não. É mais uma... Banda de garagem. Nós só fazemos o que gostamos.
-Vocês têm nome?
-Uhum. – ele assentiu. –The Wolfs.
-The Wolfs... – o hanyou repetiu baixinho. –Porque lobos?
-Foi... Uma escolha em conjunto. – Sesshoumaru estranhou a repentina tagarelice de Inuyasha. Pelo visto o garoto gostava mesmo de música.
-Hm. – ele se encolheu no banco. Cruzou os braços tornando a fitar a paisagem correr janela a fora.
Não esperava que a capital fosse tão iluminada e cheia de gente. Os orbes dourados brilhavam à medida que iam adentrando a cidade e Inuyasha ia analisando o modo corrido das pessoas. Chegaram ao apartamento por volta das sete da noite, e o hanyou ajudou o irmão a subir as três enormes caixas de papelão que levavam seus pertences.
Se estivera surpreso com o tamanho da cidade, se impressionara mais ainda com o tamanho do apartamento. Não que fosse algo enorme, como os ricaços mantinham em filmes, mas era um lugar pelo menos quatro vezes maior que o que tivera em Hokkaido com sua mãe.
-Aquele será seu quarto. – Sesshoumaru apontou um tanto indiferente. Largou duas das caixas de mudanças no canto, ao lado da cama.
-Arigato. – Inuyasha respondeu baixo alojando sua guitarra sobre a mesma. Foi até a janela e tratou de pôr a cabeça para fora. Tinha uma bela visão da capital ali do vigésimo terceiro andar. Além do espaço disponível para armazenar bagunça. Em Hokkaido o hanyou dividia o mesmo quarto que a mãe, e se tudo não estivesse na mais perfeita ordem, não havia espaço para ambos dormirem.
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Sesshoumaru ficou alguns instantes observando o pequeno hanyou se deliciar com o jantar que ele fizera. Comia como um lobo, devorando o bife que assara, enquanto mandava arroz para a boca em velocidade record com os hashis. De fato era um jantar simplório, algo que ainda sim exigiu muito do dote culinário que o aniki não possuía, mas o modo como Inuyasha comia chamava a atenção do irmão mais velho.
-Você não estava mais indo à escola. – ele proferiu calmo. Inuyasha, como se um grande segredo houvesse sido revelado, ficou estático esperando seu irmão concluir sua sentença. Até parou de comer. O puniria por aquilo?
-Bem, aqui você terá que estudar. – ele continuou. – Já pedi a transferência do seu antigo colégio. Parece que você era um bom aluno... Acho que vai conseguir acompanhar as aulas do colégio Hitomiko.
-Hi... Hitomiko? – o hanyou repetiu encarando o irmão.
Ora essa, era tudo que faltava ter que encarar o desafio de uma nova escola. Novos professores, novas pessoas, novas provas. Talvez novos amigos. Aquilo causava uma reviravolta no estomago de Inuyasha.
-Suas aulas começam em duas semanas. – sentenciou o mais velho. –Amanhã irei com você providenciar seu material escolar. – ele concluiu. Inuyasha apenas se perguntou porque aquela figura estava fazendo tudo aquilo por ele.
Depois de lavar toda a louça, sem pensar duas vezes, Inuyasha se atirou sobre a enorme e macia cama que o aguardava em seu novo quarto. Sesshoumaru escovava os dentes e se preparava para dormir.
Inuyasha não podia afirmar que não tivera a oportunidade de questionar Sesshoumaru o motivo pelo qual ele o ajudava agora, mas sentia que o fizesse deixaria seu aniki constrangido.
Não que Sesshoumaru pudesse ficar constrangido. Afinal, toda a autoridade que ele lhe passava com seu porte fazia Inuyasha pensar que aquele homem pudesse ser desprovido de emoções. E talvez aquela até fosse a imagem que ele quisesse passar a todos, mas as ações que ele realizava para com Inuyasha pareciam lhe denunciar seu lado mais sentimental.
Ninguém aceitaria de bom grado a presença de um garoto que mal conhecia em sua vida. Muito menos se este garoto fosse um meio-irmão. E Inuyasha não conseguia aceitar que Sesshoumaru estivesse se sentindo solitário o suficiente para ir buscar a guarda do irmão apenas para ter companhia.
Bom, um dia ainda entenderia porque aquele cara havia aparecido tão repentinamente em sua vida, embora a resposta viesse clara em sua mente e o hanyou apenas se negasse a acreditar: para lhe salvar.
Mas esperaria o dia em que adquiriria mais intimidade com Sesshoumaru para lhe fazer tal pergunta, por ora, estavam ambos bem daquela forma.
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-Vamos, garoto. – Inuyasha retornou repentinamente de seus devaneios com a voz rouca de seu irmão o chamando. Estivera parado em frente a uma loja de instrumentos observando uma Gibson vermelha enquanto o irmão continuara andando.
Sesshoumaru carregava uma sacola amarela que continha dois CDs e algumas palhetas, e andava imponente a frente de Inuyasha. Logo atrás do irmão, o hanyou tentava equilibrar os três cadernos em um braço enquanto mantinha no outro a sacola com sua futura mochila escolar.
Impaciente, Sesshoumaru parou e esperou o irmão o alcançar.
-Não seja tão mole, Inuyasha. – o aniki advertiu pegando os cadernos do irmão. –Você é um homem ou o que? – ele reclamou emendando um suspiro mal humorado.
Inuyasha se sentiu mal por aborrecer o irmão. Tratou de caminhar na mesma velocidade do mesmo para não ser deixado para trás novamente.
Foram a mais uma ou duas papelarias e agora Inuyasha já tinha todo o equipamento necessário para encarar a escola. Sesshoumaru ainda levava seus cadernos, mas, em contrapartida, Inuyasha adquirira uma montanha de livros.
Ao passarem novamente pela loja da Gibson vermelha, Inuyasha ouviu uma voz chamar pelo nome do seu irmão em um tom um tanto quanto diferente: a voz gritara em screamo. Tomando um susto, o hanyou procurou pelo demônio que fizera aquele som do inferno. Ao olhar para dentro da loja de instrumentos, constatou que o irmão já atendia ao chamado e provavelmente aquele cara de roupas pretas deveria ser o responsável por aquele grito endiabrado.
Ao chegar mais perto, Inuyasha analisou melhor o rapaz que conversava com seu irmão. Era um rapaz novo, devia ter lá seus vinte anos. Usava uma camiseta do AC/DC, jeans escuros e rasgados e um coturno mal amarrado. Mas o que chamou a atenção do hanyou era uma marca em forma de cruz que o rapaz tinha na testa e a longa trança de cabelos negros que ele levava nas costas.
-Oh, este é o seu otouto, Sesshoumaru? – o rapaz se virara a Inuyasha de repente. Arrancara a boina vermelha do hanyou e se abaixara para olhá-lo cara a cara. Tinha uma expressão divertida no rosto quando Inuyasha se comprimiu para trás com os olhos âmbares arregalados.
-Inuyasha, este é Bankotsu. Ele faz parte da banda que eu te falei. – Sesshoumaru explicou empurrando o hanyou para frente.
-Ele se parece um tanto com você, Sesshoumaru. – Bankotsu esfregou a cabeça de Inuyasha num tom brincalhão enquanto se erguia novamente para conversar com seu irmão. Mantinha um tom zombeteiro em sua voz.
-Não seja ridículo. – o outro resmungou.
Durante a conversa, Inuyasha se alojou num pequeno banco para esperar Sesshoumaru. Enquanto isso, arrumava seu livros na nova mochila – aquele deveria ser o modo mais fácil de carregá-los por enquanto.
-E o pai de Kouga, Bankotsu? Já mandou a resposta? – o hanyou via seu irmão falar pela primeira vez com um tom ansioso.
-Aquele filho duma mãe ainda não quis nos dizer. Acho que ele ainda está tentando convencer o pai.
-Kouga sempre teve tudo que quis. Duvido que o pai dele o negaria isto.
-Aí é que tá, caro Sesshou. Aquele velho não acha que somos as melhores companhias para o filho dele. Se a banda pudesse ser apenas Kouga duvido que ele já não o teria feito estourar pelo Japão.
-Insolente. – Sesshoumaru resmungou.
-Além de que, sinto que Kaito já já vai pular fora da banda. Ontem ele me disse que a família está querendo se mudar para Okinawa por causa do trabalho do pai dele. –Bankotsu suspirou se apoiando no balcão da loja. Pelo modo que ele falava aquilo parecia um verdadeiro desastre.
-Era só o que faltava. – seu aniki bufou. O pequeno hanyou estava surpreso por ver aquele Sesshoumaru expressar tantas emoções que ele nunca vira numa única conversa. Aquilo era inédito para ele. –A esta altura não podemos ficar sem guitarrista! Quem nós colocaríamos no lugar de Kaito?
-Sei lá. – Bankotsu deu de ombros.
Os dois passaram ainda mais algum tempo discutindo sobre guitarristas e Inuyasha já estava ficando entediado. Começou a observar os instrumentos prostrados na vitrine de vidro que enfeitavam a frente da loja.
Definitivamente se apaixonara por aquela Gibson vermelha.
Depois de analisar o instrumento por um bom tempo, Inuyasha se entediara de novo. Sesshoumaru permanecia firme e forte na conversa com Bankotsu, de forma que o hanyou ainda se via esperando por um bom tempo. Passou a observar as pessoas da rua, através do vidro límpido da vitrine de instrumentos.
Dentre tantos ruídos que faziam as ruas da capital, Inuyasha constatou um em especial. Um barulho de algo rodando, como patins ou um skate. O ruído que antes era distante, aumentava à medida que a pessoa culpada por ele ia se aproximando.
O hanyou de curtos cabelos prateados decidiu ir até a porta da lojinha de instrumentos. Analisou as calçadas e as pessoas que andavam, e se surpreendeu com a visão que teve a seguir.
Bem do lado da calçada que estava, vinham duas garotas. Eram jovens, deviam ter a idade de Inuyasha para menos. As duas eram miúdas e branquinhas, mas tinham estilos completamente diferentes. A primeira suava para manter-se a frente, deslocando rapidamente as pernas para dar impulso aos patins roxos. Ela tinha cabelos castanhos e olhos cor-de-chocolate, usava uma saia preta e uma blusinha azul de mangas curtas com a frase "Do you care?" estampada em um tamanho exagerado na frente.
A outra, montada em um skate, foi a que mais atraiu a atenção do hanyou. Ela se vestia como um garoto, com peças de roupas escuras e maiores que seu tamanho. Tinha os cabelos negros presos e a franja desajeitada lhe dava um leve aspecto rebelde. Ela andava sobre o skate como um piloto de formula um, atenta a qualquer detalhe que pudesse lhe atrapalhar em seu desempenho. Inuyasha sentia que ela apenas não ultrapassava a amiga porque não queria, mesmo que pudesse fazer isso sem esforços.
Chegou a uma conclusão assim que terminou de analisá-la: ela era linda.
Tão rapidamente chegou a esta conclusão quanto elas passaram por ele sem sequer notá-lo. De longe Inuyasha não pudera perceber que mantinham esta velocidade, mas assim que sentiu a pequena rajada de vento, causada pelas duas, batendo em seu rosto viu que elas estavam compenetradas demais naquilo para notarem que ele as estava observando.
E, como um tolo, o hanyou ficou olhando as duas partirem; escorado na porta de entrada da loja de instrumentos de Bankotsu.
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-Inuyasha! – o hanyou estremeceu ao ouvir o aniki berrando seu nome, anunciando seu atraso. –Vou ir sem você desta forma, pirralho!
-Calma, já estou indo! – ele pegou rapidamente os óculos de grau sobre o criado mudo e a costumeira boina vermelha que estava jogada sobre a cômoda. Colocou-os rapidamente e partiu em direção a Sesshoumaru.
Assistir aos ensaios dos The Wolfs era a coisa que Inuyasha mais gostava de fazer no mundo. A música deles era boa, embora muito mais agitada do que as que o hanyou compunha. Mas as adorava da mesma maneira.
Havia se passado quase duas semanas desde que chegara a Tóquio pela primeira vez, e Inuyasha já se sentia muito mais confortável em relação ao irmão. Embora ainda sentisse muita falta de sua mãe, conseguia pouco a pouco se acostumar com a nova vida. Inteirara-se sobre os assuntos da banda, e era a platéia particular dos rapazes em seus ensaios. Algumas vezes, embora até o momento fossem pouquíssimas, ele até arriscara alguns palpites na música dos cinco elementos.
Sesshoumaru, seu irmão, era o responsável pelo baixo; Kaito era o guitarrista; Bankotsu tomava conta do teclado e era vocalista secundário; Naraku era o baterista e Kouga, a quem tanto ouvira o nome em seu primeiro encontro com Bankotsu, era o vocalista principal e quem cuidava dos negócios da banda.
Kouga era nada menos nada mais que o filho do dono de um famoso estúdio musical japonês. Obviamente os outros quatro caras o incumbiam de tentar conseguir que pelo menos o pai do lobo os desse algum crédito, assistisse a algum ensaio, prestasse alguma atenção na banda do filho. Se fossem apadrinhados pelo estúdio do pai de Kouga, os cinco integrantes dos The Wolfs simplesmente seriam os caras mais sortudos do mundo. A partir daquilo o sucesso seria certo.
Mas toda aquela esperança só fazia o sucesso parecer um sonho ainda mais distante. Por mais que Kouga dissesse insistir com o pai, ele reclamava que o velho não estava levando a sério a música deles. Seu discurso preferido era que eles ainda eram jovens demais e não tinham aprendido ainda o que era responsabilidade.
E como não podiam fazer mais nada, os cinco se queixavam e continuavam ensaiando suas músicas.
-Pegue um biscoito, Inu-kun. – a voz infantil da pequena irmã de Naraku atraíra a atenção de Inuyasha. Era apenas dois anos mais nova que Inuyasha, mas a baixa estatura da garota e seu timbre angelical a faziam parecer ainda mais nova. Ela o estendia uma bandeja cheia de biscoitos de chocolate.
-Arigato, Rin-chan. – o hanyou se serviu. Rin acomodara-se no puff verde ao lado de Inuyasha, e prestava atenção demasiada no baterista do The Wolfs. Definitivamente aquela pequena garota tinha uma adoração por Naraku. Inuyasha pouco sabia da relação dos dois, apenas soubera por Sesshoumaru que ambos também perderam os pais cedo, como ele, e desde então um cuidava do outro.
Estavam na garagem da casa dos Kagewaki, a casa que fora dos pais de Rin e Naraku. Não era muito longe do apartamento de Sesshoumaru e Inuyasha. Era ali que a banda costumava ensaiar, a maioria das tardes.
-Soube que você vai estudar na minha escola. – Rin começou uma conversa com Inuyasha, enquanto mordia mais um biscoito da bandeja.
-Uhum. – o hanyou assentiu; de boca cheia. –Começo na segunda.
-Você está em que ano?
-Sexto.
-Ah. –ela pareceu se decepcionar um pouco, mas logo seu rosto perdeu aquele semblante e se deixou tomar por um enorme sorriso. –Se não conseguir fazer amigos, pode ficar comigo no intervalo. Estou no quarto ano! – completou entusiasmada.
-Arigato, Rin-chan. – Inuyasha respondeu num sorriso.
Aquilo ainda era algo que o preocupava... Nunca fora muito bom em fazer amizade com pessoas novas. Não que estivesse de desfazendo de Rin, mas o hanyou pretendia ter amigos pelo menos da sua idade.
O som dos The Wolfs invadia cada centímetro cúbico da garagem dos Kagewaki, e Rin e Inuyasha faziam sua baderna costumeira enquanto acompanhavam as notas pesadas dos cinco garotos. Aquilo era praticamente um show de rock particular! Inuyasha mal via a hora de que o pai de Kouga finalmente prestasse atenção na banda de seu irmão e eles pudessem tocar para várias pessoas além dele e de Rin.
Chegando ao final da ultima música de autoria própria, todos os cinco já estavam suados e exaustos. Rin era prestativa e assim que o show particular se aproximava do fim, já providenciara copos de refrigerante para os garotos.
Enquanto guardavam os equipamentos, Kaito parecia um pouco inquieto. Bankotsu percebera isso e lançara um olhar significativo para Sesshoumaru, que arqueou uma sobrancelha observando desconfiado o guitarrista.
-Desembucha, Kaito. – o aniki de Inuyasha ordenou num tom autoritário. Este outro arregalou os olhos, surpreso, e então pareceu meio melancólico.
-Galera... – ele começou, chamando a atenção de todos. –Eu... Lembram daquele trabalho do meu pai? – Naraku cruzou os braços. O guitarrista prosseguiu. –Eu sinto muito em ter que dá-los esta noticia, mas acho que este foi meu ultimo ensaio como guitarrista dos The Wolfs.
-O que? – Kouga replicou exacerbado. –Como assim cara? Não dá pra ter The Wolfs sem um guitarrista!
-Semana que vem nos mudamos para Okinawa. – Kaito completou. –Eu sinto muito. Tentei fazê-los mudar de idéia, me deixar aqui, mas não deu.
Kouga então teve uma atitude completamente inesperada: permaneceu em silencio. Soltando fogo pelas ventas, ele bufou e agarrou sua mochila, se direcionando em passos pesados até a saída. Todo o processo foi acompanhado pelos outros quatro integrantes da banda, mais Rin e Inuyasha; a maioria deles sem entender nada do que havia acontecido.
Mas algo era claro: Kouga estava muito bravo. Fora pego de surpresa com a saída de Kaito da banda.
-Tudo bem, cara. Você não teve culpa. – Bankotsu se prostrou ao lado de Kaito, com uma mão sobre os ombros do rapaz. –Vamos ter que dar um jeito, né.
-Me desculpem, galera... Só eu sei o quanto tentei ficar em Tóquio. – ele encolheu os ombros numa expressão desgostosa. –Mas não deu mesmo. Desculpem-me por isto.
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Inuyasha havia se trancado no quarto enquanto Sesshoumaru e Bankotsu faziam qualquer coisa na sala. Pelo barulho alto da TV, jogavam vídeo games enquanto discutiam a reação de Kouga hoje à tarde.
Sentado à cama e com a guitarra no colo, o hanyou treinava alguns arranjos que vira Kaito fazendo hoje à tarde. Era de praxe ele treinar as músicas dos The Wolfs quando ninguém estava olhando. Arriscava-se até a tentar cantar como Kouga ou Bankotsu, mas nunca alto o bastante para que Sesshoumaru pudesse ouvi-lo. Entretanto, como hoje seu aniki estava distraído com Bankotsu, o hanyou pensou que não seria tão mal aumentar um pouco o volume desta vez.
Arrancou os óculos espessos e atirou-os na cama. Esta noite faria um verdadeiro show de rock em seu quarto. Tirou a camiseta que usara e vestiu no tronco apenas um colete roubado de Sesshoumaru; que combinava perfeitamente com o jeans escuro e os coturnos. Não que o hanyou possuísse aquele mesmo físico avantajado dos grandes roqueiros, ou até mesmo de seu irmão; pelo contrário, ele tinha apenas o tórax de um garotinho de doze anos. Fino e sem músculos. Mas a adrenalina de tocar semi-nu, como um grande astro de punk rock, o subiu a cabeça.
O barulho da TV continuava alto e Inuyasha já dominava o arranjo que aprendera hoje à tarde. Tocando e cantando, o hanyou pulava e se agitava encenando um grande show enquanto balançava freneticamente a cabeça. Subiu sobre a cama e começou o solo de Kaito. Tomado pela adrenalina, não percebeu quando o barulho da TV da sala cessou; muito menos percebera o ranger da porta de seu quarto se abrindo. Só se deu conta de que fora pego quando num impulso se virou, caindo de joelhos sobre a cama enquanto ainda estrelava seu solo, e se deparou com um Sesshoumaru e um Bankotsu o encarando com, no mínimo, curiosidade.
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Nota da autora: Ooooi pessoas! XD
Aqui está a short fic que eu já havia prometido às leitoras mais antigas de USD, onde serão abordados o desenvolvimento da banda The Wolfs e alguns conflitinhos InuXKag. Para quem não lê a fic e está se arriscando nisto aqui eu digo: vai com fé! IUAHSIUAH A leitura desta short fic em separado não depende em nada da fic em si, é mais um acontecimento anterior a mesma. O máximo que pode te acontecer é querer ler a fic depois disto, e se tornar mais uma vitima das minhas historias bobas :B
Mas bem, eu gostei desta short fic. Acho que estou conseguindo cumprir com meu objetivo. Ela terá três capítulos, e ainda falta um e meio para eu escrever, mas não me contive em postar o primeiro.
Reviews se acharem que mereço algum :3
