...v...v...
Razão, de que me serve teu socorro?
Mandas-me não amar: eu ardo, eu amo...
Dizes-me que sossegue: eu peno, eu morro...
(Bocage)
...v...v...
MINHA AMADA IMORTAL
By Esmeralda Amamiya
O.o.O.o.O
As pesadas portas de tom escuro abriram-se para dar passagem à ele. Todo o ambiente estava tomado pela destruição, onde leves acordes da última batalha ainda soavam pelas reentrâncias. O reino de Hades completamente devastado por Atena e seus cavaleiros. Era amargo o sabor da derrota, ainda mais para uma natureza tão arrogante quanto a da Morte.
Quando cruzou os umbrais altos que davam para a antecâmara de Giudecca, as imensas e pesadas portas voltaram a cerrar-se às suas costas num surdo fragor, cujas paredes alquebradas lhe fizeram um triste retinir de desolação. Tudo parecia deserto.
- Pandora...- seus lábios murmuraram frouxamente -...Jazes, agora, num lençol de sangue!
A túnica branca, de todo enegrecida, ainda recobria seu corpo. Os cabelos em desalinho davam-lhe o ar característico de poder que emanava de toda sua figura. Nos braços, languidamente derreado, o corpo da sacerdotisa do mundo dos mortos em seu vestido negro, os braços caidos para trás, a cabeça pendente, cambaleante, os olhos apagados, mudos, frios, de todo cerrados sob as finas pálpebras onde imperceptíveis veios asulzados eram visíveis.
- Que maior vingança eu posso dar-te do que, com esta mesma mão que te feriu, atentar contra a sanidade daquele que ceifou tua juventude?
Seus pés, vagarosamente, percorreram o longo caminho até o altar. Com cuidado, depositou a jovem mulher que trazia em seus braços sobre o balcão de pedra onde, numa hora imorredoura, os turíbulos e candelabros queimaram em oferenda ao Deus do submundo.
Seus olhos crepusculares, de um cinza lavado, fugidio, vaporoso, encontraram a sua frente, enxergando através de um inusitado muro de amargura, a estátua depredada de Hades. Engoliu em seco e voltou sua atenção à bela moça sem vida, ajeitando-a em seu leito.
Foi com uma pontada de angústia que entrecruzou as suas pequenas e delicadas mãos de dedos longos por sobre o ventre. Deixou, por fim, que sua própria mão ficasse pousada sobre as dela por alguns minutos, enquanto fitava o doce rosto tão suavizado que mais parecia estar apenas adormecido.
- Pandora...
Sua voz era quase um sussurro inaudível.
- A Morte, que dos teus lábios a doçura sugou, não levou tua beleza!
Esboçou um sorriso sem graça por entre a cortina de pesar que havia descido sobre seu rosto pálido, suado, coberto de fuligem.
- Tuas faces ainda estão quentes!
Seus olhos estariam de fato marejando ou era apenas a reação de imensa solidão no ermo local?
- O pálido pendão da Morte poder não teve sobre ti! Ainda não foste vencida!
A última frase saira-lhe num murmúrio rouco, apagando-se no final. A Morte...também amava.
NESSUN DORMA! NESSUN DORMA!
NINGUÉM DORME! NINGUÉM DORME!
TU PURE, Ò PRINCIPESSA,
TU TAMBÉM, OH PRINCESA,
NELLA TUA FREDDA STANZA
NO TEU FRIO LEITO
GUARDI LE STELLE
OLHAS AS ESTRELAS
QUE TREMANO D'AMORE E DI SPERANZA!
QUE TREMEM DE AMOR E DE ESPERANÇA!
- Meu amor...
Ele abaixou seu rosto ao dela, deixando que sua respiração esbatece sobre a pele pálida.
- Minha esposa...
Sua mão encontrou a tez fina e frágil e seus dedos longos, como leves flocos de neve que caem sobre a mais delicada e bela flor do campo, tão efêmera quanto a vida, caminhou pela face desacordada, percorrendo seus contornos como se os quisesse gravar.
- Doce Pandora, por que tinhas que me trair?
Indagou indignado, como se esperasse qye ela, de alguma forma, lhe convencesse de sua inocência.
- Não quiseste acreditar que a Morte, este monstro horrendo, estava enamorada de ti? Que tinha o tenebroso desejo de preservar-te nas trevas para amante?
E os seus olhos fecharam-se por um momento, de submissão e desespero, numa ardente luta entre o amor e o ódio. Ele há muito não se pertencia e olhava aquele corpo de forma rendida, vencida. A misteriosa barreira da morte havia, de fato, sido desonrada!
Ele pendeu a cabeça contra as pequenas mãozinhas unidas sobre o abdômen, deixando que seus lábios as tocassem com delicadeza. Aquelas mãos, tão extremosas ambas e tão cruéis também, quis o Destino que acabassem se juntando e o enganando. Aquelas mãos...já não respondiam mais ao ardor efusivo de seus beijos!
- Tenho medo de fechar teus olhos...- disse -...Mas tenho medo de mantê-los abertos!
E alisando-lhe o rosto, trespassando-a com seu olhar eloquaz, cheio de profundo vazio:
- Por isso te deixarei aqui! - continou - Sem nunca mais sair de dentro da noite escura!
Seus dedos roçaram os lábios pálidos.
- Aqui erguerei meu altar, ao teu lado, com as ninfas...que serão tuas servas!
IL MIO MISTERO È CHIUSO IN ME
O MEU SEGREDO ESTARÁ TRANCADO EM MIM
IL NOME MIO NESSUN SAPRÁ
O MEU NOME NINGUÉM SABERÁ
SULLA TUA BOCCA LO DIRÒ
SOBRE TUA BOCA EU O DIREI
QUANDO LA LUCE SPLENDERAR!
QUANDO A LUZ RESPLANDECER!
ED IL MIO BACIO SCIOGLIERA IL SILENZIO CHE TI FA MIA
E O MEU BEIJO DESMANCHARÁ O SILÊNCIO QUE TE FAZ MINHA
E NOI DOVREMO, AHIMÉ, MORIR!
E NÓS DEVEREMOS, AI DE MIM, MORRER!
DELEGHA, NOTTE!
PREPARA-TE, NOITE!
TRAMONTATE, STELLE!
TREMULEM, ESTRELAS!
ALL'ALBA VINCERÒ!
EU VENCEREI AO AMANHECER!
o.O.o FLASHBACK o.O.o
Na véspera de Beltane as energias sexuais naturais atingem seu ponto máximo. É interessante notar que muitos eventos históricos se deram, precisamente, nesta época no ano. Beltane marca a parte brilhante do ciclo anual e um tempo de equilíbrio natural.
Na festa da primavera, o Sacerdote e a Sacerdotisa representam as forças da natureza no casamento sagrado da Terra e do Céu. Eles dançam ao redor do Mastro de Maio branco. Simbolizam os poderes masculinos e femininos da fertilidade, da criação e da regeneração. As fogueiras homenageiam a fonte da vida.
Era possível ouvir as vozes de pessoas, num grande círculo, clamarem, enquanto a Sacerdotisa era conduzida até o centro da clareira. Hypnos, vestido numa túnica branca cerimonial, segurando uma espada com as duas mãos ao alto da cabeça, envolveu a todos num só olhar de altivez.
- Durante a noite estivemos vagando...- disse num tom de circunspecção.
- E durante parte deste dia! - responderam as vozes.
- Ao voltarmos trouxemos um buquet de flores! - tornou Hypnos.
- E aqui estamos diante de sua porta! - falaram as vozes - São florescências lindamente germinadas!
A enorme fogueira crepitava no centro, envovida pela luz da lua cheia. As vestes de hypnos pendiam-lhe majestosamente pelos ombros, com elegância, e com um gesto, ele deu início ao ritual de Beltane, onde o Deus se uniria à Donzela caçadora. Onde Pandora, finalmente, se tornaria sacerdotisa ao ofecer-se ao Deus da Morte no casamento sagrado.
- Contemplem! - falou Sono em voz alta.- Ele está vindo!
A jovem, cuja fronte era cingidapor uma coroa de flores vermelhas e tinha o corpo coberto por uma fina túnica, quase transparente, trazia símbolos mágicos desenhados em seu corpo em volteios fálicos. Às palavras de Hypnos, ela girou seus olhos às suas costas.
- Ele vem com a face gloriosa sobre a terra! -continuou Hypnos.
Thanatos mostrou-se em todo seu explendor. Em cima de uma pedra primitiva, os pés descalços, o peito nu exibindo estranhas figuras, uma calça cerimonial de tecido leve descendo-lhe até as panturrilhas, davam-lhe, de fato, a altivez arrogante do misterioso Deus que realmente era.
Nada teria sentido se não o descrevesse tal como ela o vira naquele momento.
- Contemplem! - Hypnos abaixou a espada - Ele está vindo!
- Ele vem à mim! - completou Pandora.
Segurando um cajado, Thanatos tinha a faixa de seus olhos coberta por uma máscara de couro rústico, que fazia seus orbes se assemelharem aos de um lobo observando sua presa. Eram ferozes, excitantes, sedutores.
Hypnos aproximou-se de Pandora quando esta, levando as mãos entrezruzadas ao topo da testa, onde uma lua crescente, a marca das bruxas, se desnhava horizontalmente, reverenciou-o em sua posição de sumo-sacerdote.
- O vento sussurra! - disse ele - Os pássaros cantam! Os animais chamam!
- Contemplem! - falou Pandora - Ele vem para mim! Ayea!
- Os deuses...- a voz de Thanatos atroou pela clareira -...Nos observam com todos os seus ensejos!
Pandora votou-se para ele quando o Deus, descendo majestosamente de seu pedestal, postou-se entre ela e a fogueira, as chamas iluminando-o misteriosamente. Os símbolos gravados em seus robustos braços pareciam traços primitivos de barro, que definia todo o seu vigor.
- As três garças cinzentas...- continuou ele -...Conhecem todo tipo de dor, mas não desejam mal à ninguém!
Pandora sentiu cada fibra de seu corpo vibrar com a alta e calorosa entonação da voz dele. Era possível sentir a mágica fluir da terra. Ele encarava sua oferenda faminto.
- Por isso...- sua voz tornou-se enrouquecida -...Dance para mim! Agora é o tempo!
A CLOUDED DREAM ON AN EARTHLY NIGHT
UM SONHO NEBULOSO NUMA NOITE TERRENA
HANGS UPON THE CRESCENT MOON
AFEIÇOADO À LUA CRESCENTE
A VOICELESS SONG IN AN AGELESS LIGHT
UMA CANÇÃO SILENCIOSA NUMA LUZ ETERNA
SINGS AT THE COMING DAWN
CANTA A CHEGADA DA ALVORADA
BIRDS IN FLIGHT ARE CALLING THERE
PÁSSAROS EM VÔO ESTÃO CHAMANDO
WHERE THE HEART MOVES THE STONES
LÁ ONDE O CORAÇÃO MOVE AS PEDRAS
IT'S THERE THAT MY HEART IS CALLING
LÁ ONDE MEU CORAÇÃO CHAMA
ALL FOR THE LOVE OF YOU
TUDO PELO SEU AMOR
Ela caminhou, sensualmente, em sua direção, fitando-o através do fino véu que lhe descia pela face branca. Atrás dele o fogo ardia e seu corpo respondia às chamas com o mesmo fugor. Seus pelos se engedravam pelo vento frio que roçava pela sua pele delicada coberta com o leve tecido que definia, desejavelmente, suas formas.
Thanatos a observava aproximando-se, vendo-a requisitar o amor do Deus. Pandora sentia seu corpo mover-se sem que precisasse controlar seus movimentos. Era como se um poder maior guiasse seus membros. Seus braços ergueram-se para descerem em volteios, com um leve girar das mãos.
Estas, arredondaram seus quadris em movimentos circulares, guiando o olhar masculino para onde desejasse. Os tambores soavam ao compasso do êxtase. Quando avançou até ela, Thanatos tinha a expressão exaltada, como se pudesse ver, através da mulher, a Deusa em seu íntimo. Flores eram espalhadas ao redor.
Pandora aproximou-se e ambos caminharam em direção do altar para o cumprimento do ritual.
- Meu senhor...- Pandora o encarou -...A dádiva da terra eu lhe ofereço!
E pegando do alimento consagrado, passou-o no sal e ofereceu ao seu consorte.
- Você é a terra fértil! - repondeu Thanatos - Aceito a sua oferenda!
E comendo da massa, tomou de um outro pedaço, estendendo à ela.
- E eu usarei a minha força para cuidar do solo sagrado! - completou ele.
Pandora tomou do alimento e o comeu. Em seguida, o Deus pegou do jarro de argila e serviu um pouco de um líquido arroxeado em uma taça de estanho, passando-a à ela.
- Você me é servida como o vinho! - falou - Beba e fique purificada!
- Você é a chuva que cai do céu! - ela respondeu, pegando do cálice - Eu recebo sua proteção!
E tomando um gole da bebida, ofereceu o copo de volta ao Deus.
- Todas as águas devem retornar ao Mar!
Ele pegou da taça e sorveu seu conteúdo. Os tambores soaram mais fortemente. pandora deu um passo para trás, chamando o seu parceiro que a acompanhou deixando cair o cajado. A música tornou-se mais rápida e ela começou a dançar.
Os pés pareciam não mais lhe pertencerem. Seu corpo tornara-se um instrumento para expressar a melodia enquanto ela se curvava e se movia, ritmicamente, em sinuosas expirais. E durante todo tempo, enquanto girava, Thanatos era seu centro, para o qual ela se voltava, como uma flor para o sol.
No começo ele apenas a observava e vagarosamente aproximava-se, cada vez mais, de modo que um espelhasse os movimentos do outro. Foi quando ele, num gesto brusco, a tomou nos braços. Por um momento ficaram parados. Ela podia sentir seu coração bater forte. Em seguida ele a ergueu, com facilidade, nos braços e a carregou para o abrigo.
- Em meu caminho...- dizia ele -...Eu encontrei a Donzela vestida de prata!
- Quem és? - volvia ela - Diga-me, por favor!
- Não me conheceis?
A cabana era redonda, feita de galhos frouxamente trançados. Flores haviam sido entrelaçadas aos galhos e a claridade da fogueira lampejava pelas fendas, salpicando de dourado o suntuoso tecido que recobria o leito. Thanatos a colocou de pé e a encarou em silêncio, até que as folhas de carvalho de sua coroa não mais tremessem com a sua respiração.
- Eu sou tudo que existiu...- falou num sussurro -...Tudo que existe e tudo que existirá!
- Nenhum homem ou imortal jamais ergueu o meu véu! - respondeu Pandora.
- Eu sou o Deus...- continou ele -...Vi a luz que brilha nas trevas! Eu erguerei seu véu!
A PAITING HANGS ON A IVY WALL
UMA PINTURA EM UMA PAREDE DE HERA
NESTLED IN THE ESMERALD MOSS
ANINHADA NO MUSGO VERDE-ESMERALDA
THE EYES DECLARE A TRUCE OF TRUST
OS OLHOS DECLARAM UMA TRÉGUA DE ESPERANÇA
AND THEN IT DRAWS ME FAR AWAY
ENTÃO ME AFASTO PARA LONGE
WHERE DEEP AT THE DESERT TWILIGHT
ONDE OCULTO NO DESERTO NA HORA DO CREPÚSCULO
SAND MELTS IN POOLS OF THE SKY
A AREIA SE DERRETE EM PISCINAS DO CÉU
WHEN DARKNESS LAYS HER CRIMSON CLOAK
A ESCURIDÃO DEITA SEU MANTO VERMELHO
YOUR LAMPS WILL CALL ME HOME
SUAS LUZES ME CHAMARÃO PARA CASA
Ele estendeu os braços e com mãos firmes removeu a guirlanda da testa feminina, depois retirou o véu. Por um instante, ele apenas a olhou fixamente. Ajoelhou-se diante dela.
- Mesmo quando era uma criança, eu a reconheci! - disse ele - Mostrou-se para mim a primeira vez na figura de uma menina e esta é a minha recompensa!
Pandora engoliu em seco, fitando-lhe a cabeça curvada. Depois, inclinando-se, retirou a coroa da cabeça dele e a colocou ao lado da sua, no chão.
- Com esta coroa ou sem ela...- falou a jovem -...Para mim és o Deus!
Ele ergueu a cabeça, subindo suas mãos pelas coxas bem torneadas de Pandora, pousando-as nos quadris arredondados e puxando-a para frente, de modo que seu rosto apoiou-se na junção de suas pernas. Ela sentiu um fogo suave começar a arder entre elas.
Subitamente, seus membros não mais a sustentaram e ela escorregou para baixo, entre as mãos dele, até ficar de joelhos, peito contra peito, testa encostada a testa. Thanatos soltou um leve suspiro e num gesto brusco seus lábios encontraram os dela. E como se isso houvesse fechado um circuito de energia, repentinamente, o fogo preencheu todo o local.
- Eu sou o senhor da Morte...- murmurou ele nos lábios femininos -...Deixe-me criar vida em você!
Ele a agarrou pelos ombros, os seus braços apertaram-lhe o corpo e juntos tombaram sobre a cama. Suas roupas foram preparadas com um tecido fraco, de modo que ele, rasgando-os com efusão, em breve retirou qualquer obstáculo que pudesse haver entre eles.
O corpo dele era rijo devido aos músculos, mas a pele era macia, deslizando sobre a dela e suas mãos fortes eram dominadoras enquanto a ensinava êxtases que jamais havia mencionado durante sua instrução como sacerdotisa.
E então eles se uniram, entre um surdo gemido feminino que se misturou ao rouco resfolegar de um Deus que, passando os braços em volta dela, enquanto o poder descia sobre seu corpo, sacudindo-o até ele gritar em seu êxtase, deixou a cabeça pender, vencido, quando confiou seu mistério à ela.
E quando, finalmente, ele lhe entregou sua essência, o poder da deusa arrebatou a jovem para encontrá-lo e só havia luz.
Depois que o tempo havia voltado, mais uma vez, da eternidade e eles estavam deitados em silêncio, um envolvendo o outro nos braços, ela se deu conta de que, do lado de fora do abrigo, as voze soltavam gritos de aclamação. Thanatos estava imóvel.
- Estão nos saldando! - falou.
- Acenderam o fogo sagrado! - murmurou Pandora - Neste momento rompeu-se a cortina que separa o meu mundo do seu!
- E quanto a este fogo?
Ele a tocou novamente e ela arquejou, enquanto a chama subia em ondulações.
- Senhor...- ela sussurrou-lhe -...Acho que este fogo iluminará o mundo inteiro!
- Não teme os deuses? - interrogou ele.
- Há mais perigos em teus olhos...- ela o encarou -...Do que em todos os poderes imortais!
- Sanctissima Dea...- murmurou Thanatos.
Ela sorriu.
- Amanhã serei apenas Pandora!
Ele ergueu a mão e, delicadamente, empurrou para trás uma mecha de cabelo negro que pendera sobre a testa dela.
- Se os deuses me punissem por este atrevimento...- ele disse -...Eu teria considerado o preço bem pago!
Os deuses não o fulminaram, embora em determinados momentos bem poderia ter sido esmagado pelo êxtase. Pandora entristeceu-se.
- O que foi? - perguntou ele.
- Nada! Nada que você tenha feito!
Disse ela apressadamente, inclinando-se para beijá-lo. Sua reação foi instantânea. Ele a puxou para si e na torrente de sensações, enquanto fazia amor com ela, todo o pensamento ficou, por algum tempo, suprimido.
E hoje ele só se arrepende de não ter deixado o universo naquela mesma noite. Ele, que era tão sábio, não conseguira interpretar os indícios do destino adverso.
o.O.o FIM DO FLASHBACK o.O.o
AND SO IT'S THERE MY HOMAGE'S DUE
E ENTÃO ÉLÁ QUE MINHA HOMENAGEM É DEVIDA
CLUTCHED BY THE STILL OF THE NIGHT
CONTROLADA PELA QUIETUDE DA NOITE
AND NOW I FELL YOU MOVE
E AGORA EU SINTO VOCÊ SE MOVER
AND EVERY BREATH IS FULL
E CADA SUSPIRO É PLENO
SO IT'S THERE MY HOMAGE'S DUE
ENTÃO É LÁ QUE MINHA HOMENAGEM É DEVIDA
CLUTCHED BY THE STILL OF THE NIGHT
CONTROLADA PELA QUIETUDE DA NOITE
EVEN THE DISTANCE FEELS SO NEAR
MESMO A DISTÂNCIA PARECE TÃO PRÓXIMA
ALL FOR THE LOVE OF YOU
TUDO PELO SEU AMOR
- Minha esposa...- murmurou -...Eu trocaria a eternidade para tocá-la outra vez!
Repassava seguidamente estas desgraçadas memórias e ficava a se perguntar se foi então, no resplendor daquela noite, que se abrira a fenda em sua vida. Ou será que seu excessivo desejo por aquela mulher foi a primeira manifestação de uma particularidade nata?
Quando tentava analisar suas âncias, seus atos e motivos, entregava-se a uma espécie de devaneio retrospectivo do qual brotava uma infinidade de alternativas, fazendo com que cada caminho visualizado se bifurcasse sem cessar na paisagem alucinadamente complexa de seus sentimentos.
E ele ficou ali, olhando para ela, sabendo tão enlouquecedoramente como sabia que não tinha mais volta, que a amava mais do que tudo. Ela era, agora, o traço fugaz de perfume, o eco de uma flor murcha, se comparada àquela mulher-Deusa que por uma noite tivera em seus braços.
Mas não importava! Podiam os deuses arrebatarem-lhe sua imortalidade, mesmo então ele continuaria a chorar de ternura a simples vista daquele rosto pálido, ao simples som daquela voz altiva.
- Olhos...- sussuva fitando-a -...Olhai uma última vez!
Debruçando-se sobre ela, apertou-a contra si.
- Braços...dêem seu último abraço!
E aspirando o odor de flores mortas que brotava da inefável mulher, olhou-a com uma singeleza inominável.
- E lábios..- fazia um grande esforço por controlar-se -...Selem com um último beijo este pacto infindo com a devorado Morte!
Beijou-a.
- Seus lábios estão frios! - sussurrou - Mas você viverá enquanto eu existir!
...v...v...
Sua razão havia sido Pandora e faria pouco sentido em ficar divagando sobre o que aconteceria diante da vazia eternidade que lhe era apresentada. Logo o nome dela desapareceria da história!
A única menção de uma certa donzela que conseguira desfraldar a Morte, provinha apenas de duas estrofes, grafadas por algum poder superior, no local onde, presumivelmente, ela teria encontrado seu fim, junto a uma flor vermelha que, misteriosamente, aparecia de tempos em tempos.
Eis as palavras:
De ódio e de remorso estou morrendo
O remorso me fere, o ódio me devora!
Outra vez ergo o braço hirsuto, o punho horrendo
E outra vez no cair da noite ela chora!
Meu templo já desmorana, não resiste
A última etapa é mais longa e dura
Minha essência pára, morta, num gemido triste
E de você a saudade é tudo que perdura.
O.o.O FIM O.o.O
