Sinopse:
Renji é professor cálculos de uma universidade, o qual tem estranha obsessão pelo professor de literatura, o misterioso Kuchiki.
Num dia normal de inverno, Kuchiki tem seu carro vítima de sabotagem no estacionamento da universidade, o que serve de ponto de partida, para que o relacionamento entre os dois colegas de trabalho mude completamente.
Byakuya x Renji (ByaRen)
...
A neve despencava vigorosa naquele vinte e três de novembro, do lado de fora das janelas da Universidade de Karakura. O instrutor de cálculos mantinha os olhos fixos nos galhos secos detrás da vidraça da sala dos professores, os encarando nostálgico, com seus traços robustos, num semblante vago e sereno, ignorando o burburinho de vozes e passos ao seu redor, pois a única pessoa a qual lhe chamava atenção dentre o corpo docente da academia, ainda não se encontrava por ali.
Entrelaçou os dedos compridos, entre seus fios ruivos e despenteados, cerrou os olhos erguendo a xícara de café, e sorveu amargamente o último gole, como se amargasse a ausência sepulcral do elegante professor de literatura no recinto. Depositou a xícara sobre a bandeja de inox sobre a mesa, num estalido agudo, e levantou-se olhando desinteressado para o relógio. Abandonando a eterna espera, a qual confiava que o homem fosse entrar por aquela porta a qualquer instante, apanhou descuidadosamente seus materiais, e deixou a sala rumo a mais um dia ordinário de trabalho.
Enquanto caminhava, com seu típico ar de desleixado pelo corredor que ligava ao saguão, assistiu com cuidado através das janelas, o homem de longos cabelos negros, o qual trajava um longo sobretudo grosso e cinzento de lã, terminando de trancar a porta do seu carro, e correndo em direção à entrada principal da escola fazendo seu cachecol branco agitar-se atrás dele, juntamente aos fios que esvoaçavam o acompanhando na corrida veloz, a fim de evitar a neve que lhe caía sobre as vestes.
Retardou os passos, na intenção de ter a chance de encontrá-lo, e seguiu lentamente pelo corredor, com suas expectativas eriçadas ao máximo simplesmente pelo breve momento, o qual cruzaria o caminho com o renomado professor de literatura.
Quando o professor de cabelos morenos, e de corpo delgado, cruzou o corredor com ares dos seus vinte e sete anos, esbanjando graciosidade, Renji sentiu os finos pêlos de sua espinha arrepiarem-se em efeito dominó.
– Bom dia, professor Abarai. – Cumprimentou o outro, tremendamente apresado.
– Bom dia, Kuchiki-san. – Respondeu o ruivo com sua notável tensão na voz, o que era habitual, sempre que dirigia a palavra ao colega.
Renji sentiu o rastro do perfume deixado por ele, permitindo que aquele cheiro penetrasse vigorosamente pelas suas narinas, o inebriando a ponto de sentir que mergulhava o rosto em meio aos fios negros e sedosos do professor.
– Hey... Abarai-san. – Chamou a voz altiva atrás dele. – Por acaso esta indo para o terceiro andar?
– Sim. – Assentiu-lhe girando o corpo, com as têmporas latejando num sobressalto. – Por quê?
– Como pode ver, estou um pouco atrasado. – Falava enquanto remexia papéis dentro da maleta. – Pode me fazer um favor? – Perguntou esticando os braços, entregando-lhe um bloco de provas.
– Claro.
– A professora Rangiku-san está substituindo minha primeira aula, será que pode lhe entregar estas provas?
Tomou-lhe a papelada dos longos e finos dedos alvíssimos, detendo atentamente os olhos sobre as unhas bem cuidadas do professor.
– Sem problemas. – Conferiu-lhe o ruivo, retomando a atenção subitamente para o rosto afilado de Kuchiki, deixando ser estudado pelos seus estranhos olhos azuis cinzentos.
O homem deu as costas, deixando o colega com as provas em mãos, na expectativa de ouvir um "muito obrigado", que não foi dito.
Ele estava com pressa, pensou.
As aulas passaram no ritmo preguiçoso do inverno.
Os olhos do professor de cálculo não abandonaram as janelas das salas de aula, observando com os olhos estáticos a neve que ainda caia insistente lá fora, como se isso fosse um calmante natural para os seus nervos aflitos, em reflexo aos pensamentos teimosos, quase que invasivos, a respeito de Kuchiki Byakuya. O homem o qual atordoava seu bom-senso, e sua personalidade impetuosa, da mesma maneira que se encharca centenas de dinamites prestes a explodirem. Não tinham praticamente nenhum tipo de intimidade relevante, mas Kuchiki o domava por completo, e isso era tudo que Renji podia afirmar a respeito daquele homem.
Quando o sinal soou estridente avisando o término das aulas, o ruivo ficara dentro da sala, ainda entretido com as provas que começara a corrigir. Não gostava de levar serviços irritantes como aquele para casa, e às vezes passava horas a fio ainda na universidade, tomando tempo com seu trabalho de professor, para quando chegasse em casa, se dedicasse a qualquer coisa, menos aos deveres de escola.
Enquanto mantinha-se mergulhado em seus afazeres, vez ou outra encontrava-se perdido, fitando o manto puro da neve cobrindo a cidade lá fora, com os pensamentos vagando aleatoriamente, se lamentando pelo homem que lhe era querido, não poder fazer parte dos mesmos, como ele gostaria que fizesse. Em uma dessas ocasiões, o ruivo fitou no vidro da janela, o reflexo ofuscado do professor Kuchiki, passar pelo corredor atrás dele. Se não fossem os passos apressados que ecoaram através do terceiro andar, Renji teria calmamente concluído, que aquela imagem turva refletida, era nada mais que sua imaginação se materializando sobre a vidraça. Sentiu um sobressalto lhe arrebatar o coração, e repreendeu-se mentalmente pela atitude patética. Ignorou extraordinariamente o trabalho acumulado, o metendo sem cuidados dentro da maleta, vestiu a jaqueta bege sobre a cadeira, ajuntou suas coisas e desceu atrás do colega.
Ao vê-lo no saguão, imediatamente diminuiu o ritmo dos passos, na tentativa de disfarçar sua ânsia em rever o professor Kuchiki, que por sua vez, atravessou diretamente o corredor que levava à entrada e saída principal da escola, rumo ao estacionamento.
Renji alarmou-se tentando lembrar, se não deixara nada pessoal para trás na sala dos professores, levou as mãos automaticamente no bolso traseiro das calças, certificando-se de que as chaves da sua moto estavam ali. Soltou um suspiro de alívio, e logo em seguida estranhou à si mesmo, por precipitar-se de maneira tão infantil, por uma paixonite platônica, por alguém que jamais lhe aceitaria como nada mais além de um mero conhecido, e para piorar por um homem! Um homem! Como ele foi deixar isso acontecer? As professoras, tudo bem caírem pelos encantos do sedutor instrutor de literatura, era perfeitamente normal. Mas ele, logo ele? Patético!
– Indo embora tão cedo, Abarai-san? – Perguntou-lhe a senhora simpática da portaria.
– S-sim! Dia cheio, sabe como é... – Mentiu ele.
– É uma pena, pois o cafezinho está do jeito que o senhor gosta! – Informou ela, sabida do vício e da fraqueza do ruivo.
– Fica para a próxima. – Despediu-se ele, correndo de encontro ao estacionamento, na torcida para que o outro ainda não tenha partido.
Sim, cafés eram o vício e a fraqueza do professor de cálculos. Mas não mais do que aquele misterioso homem de cabelos negros, o qual parecia impaciente falando no celular, com as mãos na cintura, desferindo murros com a mão cerrada sobre o capô de seu carro. Renji observou a cena em silêncio e mantendo a distância segura. Espreitou os pneus do carro do homem, e constatara de que algum aluno insatisfeito com o professor resolvera se vingar, o que era muito comum em universidades.
– Parece que alguém por aqui não gosta de professores de literatura. – Falou ele, logo que o outro desligara o telefone.
– É, parece... – Respondeu Kuchiki, girando o corpo de frente para o ruivo.
– É uma pena. – Disse Abarai, batendo a palma das mãos sobre seu capacete. – Digo, o carro... É uma pena. – Tratou ele de consertar o sentido confuso da frase.
– Vou dar um jeito. – Afirmou Byakuya, num leve sacudir de cabeça.
– Se quiser... – Ponderou Renji, sobre o que estava prestes a dizer. – Posso lhe oferecer carona. – Deu de ombros, para não demonstrar seu nervosismo.
– Está falando sério? – Respondeu o outro, lançando um olhar desagradável para a moto turbinada do colega. – Não acho que me daria bem, em viajar sobre essa coisa.
– Tem medo de motocicletas? – Riu o ruivo, mais descontraído.
– Não, claro que não. É só que... São perigosas. Não fazem muito meu estilo.
– Qual é? Acha que vou meter minha belezinha aqui, no primeiro automóvel de uma curva em alta velocidade, fazendo nossas cabeças voarem contra o tráfego?
– Não sei... Talvez... – Revidou Kuchiki, lançando-lhe um olhar sério, mas ao mesmo tempo curioso, o que fez Renji sorrir.
– Ok. Vou deixar você ai esperando, sob a neve, até que consiga um mecânico por essas redondezas, ou quem sabe tenha a chance de pegar o próximo ônibus daqui a... – Olhou no relógio. – Duas horas.
– Você não está ajudando... – Falou o outro, sacudindo nervoso o molho de chaves entre os dedos.
– Bom, eu tentei. – Botou o capacete na cabeça, dando partida na motocicleta.
Houve um breve momento de sigilo entre os dois, cortado apenas pelo motor furioso da moto, sendo em seguida interrompido pela decisão de Byakuya:
– Ok. Você venceu. Eu aceito a carona.
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Continua!
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NOTAS FINAIS:
A segunda e última parte serão postadas depois.
Espero que em breve
Deixem reviews :)
