Capítulo 1 - Viva?!
- Seis meses – ele falou seriamente – Creio que não mais que isso... Sinto muito.
A garota recostou-se pesadamente na cama. A voz do medi-bruxo se perdeu, ela não escutava mais nada. Seis meses de vida, era isso que lhe restava. E, pelo visto, isso se ela tivesse sorte. Um filminho começou a passar por sua mente, aquilo parecia muito irreal. Ela ia morrer. Depois de tudo, ela ia morrer.
Gina Weasley encontrava-se internada no St. Mungus há quase três semanas, duas nas quais estivera inconsciente. Ninguém sabia explicar exatamente o que ela tinha, os medi-bruxos insistiam que devia ser algum trauma causado pela batalha, pois Gina estivera na grande batalha do século, e foi graças ao seu coração repleto de amor e bondade que o Lorde das Trevas pôde ser derrotado.
Ela sentiu a vista embaçar um pouco e lembranças borradas vieram à sua frente. Ela estava numa câmara escura, havia alguém deitado em seu colo. Era Harry, Harry Potter. Ele estava ferido, a respiração era lenta. A poucos metros, uma figura assustadora observava a cena. Estava todo coberto de preto e seu rosto cadavérico contraía-se em um riso malévolo, os olhos vermelhos possuíam um brilho sinistro de obsessão. Ao seu lado, uma gigantesca cobra olhava cobiçosa para o casal ao chão.
- Está vendo, pequena Weasley? Você pode sentir a morte chegando, não pode? Aceite, jovem ruiva, seu namoradinho perdeu. Por que você simplesmente não o entrega para mim?
- Eu ainda não desisti, Tom – a garota respondeu pausadamente, parecia fazer esforço pra falar, mesmo que em seu corpo não houvesse sinais de muita luta – Nem o Harry deistiu. Ainda não acabou, você ainda não venceu.
- Sempre esperançosa, não é, pequena? – ele riu – Aposto como nenhum deles conhece essa sua força, seu poder. Aposto como esse tolo nem ao menos faz idéia... Veio aqui pra te proteger, e só não morreu ainda graças a você. Será que vale mesmo a pena, Gina? Se você quiser juntar-se a mim, essa é a hora. Pense, Gina, juntos nós podemos ser grandes, poderosos... Lembre-se da nossa amizade, ruivinha, não seria bom viver com o Tom pra sempre?...
- Não se atreva a tocar nesse assunto, Voldemort - Gina de repente ficou rígida e o encarou furiosa – Você não é o Tom, não é meu amigo. Meu amigo morreu há muito tempo, no dia em que tentou me matar, aliás.
- Nós poderíamos esquecer esse pequeno infortúnio, Weasley – o sorriso de Voldemort falhou ao sentir aqueles olhos pesados sobre ele, e por alguns poucos segundos não foi capaz de sustentar aquele olhar – Nós poderíamos começar de novo, só você e eu. Só você e o seu Tom.
- NÃO! Cale-se, você não é o Tom, você o destruiu! Meu amigo Tom só permanece vivo em minhas lembranças, e isso você não vai me tirar isso. Existia um Tom Riddle antes desse monstro aí, e ele possuía uma parte boa. Pequena, maltratada, mas eu conheci esse lado dele. Só que, na hora decisiva, ele foi fraco... - uma lágrima solitária brilhou nos olhos de Gina, mas ela sorriu ternamente e olhou para Voldemort, depois pra Harry e fechou os olhos – Eu não cometerei o mesmo erro que você, Tom, eu não tenho medo... Não tenho medo de amar, nem de sofrer. Não tenho medo de viver, nem de morrer... Seja lá o que estiver a minha espera, eu estou pronta.
Nesse momento, Gina colocou as mãos sobre o peito de Harry, na altura do coração. Suspirou algo em seu ouvido e então beijou ternamente seus lábios. Do outro lado, Voldemort observou a cena estático. Ele não esperava aquilo dela... Ele esperava que ela se levantasse, lutasse, colocasse pra fora todo aquele poder que ela tinha. E que ele queria.
Mas, ao invés disso, ela falava coisas tolas e deitava-se sobre aquele idiota. O que ela estava pensando? Queria transformar aquilo em um leito de amor?! Oras, ela estava brincando com o Lorde das Trevas, e aquilo não se fazia, ele não iria permitir! Estava na hora de pôr um fim definitivo naquela história. Estava na hora da nova era começar.
Voldemort segurou firme a varinha e preparava-se pra avançar, quando aquela visão o deteve. Ela o estava beijando... Algo dentro dele, muito escondido e perdido, deu sinal de vida. Por questão de segundos, seus olhos amoleceram e ele sentiu uma batida forte dentro do peito. O que seria aquilo? Não lembrava de jamais ter sentido nada igual. Algo em sua cabeça despertava, Gina estava beijando Harry Potter. Sua pequena ruivinha estava beijando...
- Chega! – a voz de Voldemort soou rouca por instantes, ele não se reconheceu. Aquela maldita bruxa devia estar fazendo algo com ele... Gina levantou os olhos com lágrimas nos olhos e o encarou. Estava um pouco pálida e parecia fraca. Com o resto de forças que tinha, balbuciou:
- Adeus, Tom, meu velho amigo. Essa é por você – e desfaleceu ao lado de Harry.
Depois disso, Voldemort se recompôs. Não sabia o que havia sido aquilo, mas estranhamente lhe lembrou um toque de... fraqueza. Essa palavra, entretanto, não fazia parte do vocabulário do Lorde das Trevas. Em segundos, seu coração estava enterrado de novo, coberto de fúria. Ódio. Ele iria acabar com aquilo de uma vez.
– Nós já brincamos demais, acabou... – falou em seu habitual tom frio, girando a varinha, aproximando-se do casal deitado – Está na hora de eu fazer o que devia ter feito muitos anos atrás... Finalmente irei tirar essa maldita pedra do meu caminho. Tolos! Realmente acharam que podiam brincar com o Lorde das Trevas? Mas vou realizar-lhes um último desejo... E deixarei que morram juntos! – e riu sinistramente.
- Só haverá uma morte aqui hoje – para a surpresa de Voldemort, a voz veio do chão. Potter não só estava acordado, como estava se levantando novamente – Como você acabou de dizer, acabou.
- Ora, ora, Potter... Sempre me surpreendendo, não posso negar. Achei que já estivesse morto. Não se cansa de sentir dor? Claro que não... Um Potter jamais se da por vencido, não é mesmo? Bem... Assim é mais divertido! CRUCCIO!
O feitiço foi proferido com agilidade, de muito perto, Harry não poderia desviar. Mas, para espanto de ambos, o feitiço desviou dele. Era como se houvesse aparecido um campo de defesa ao redor do garoto, poderoso. Voldemort olhava assombrado, e proferiu o feitiço novamente, e mais uma vez. Em todas as tentativas, o feitiço era desviado, perdia-se no vazio da câmera. Uma sombra de dúvida apareceu nos olhos de Voldemort e Harry sorriu.
- Ainda não entendeu, Voldemort? Acabou, i você /i perdeu! Você sabe o que isso significa, não sabe?
- Não... impossível... Ela, ela não pode ter feito isso! – ele olhava petrificado para o corpo inerte de Gina no chão. Não podia ser! – Esse feitiço... Ela teria que... Ela está...
- Ela não está morta. – Harry assegurou com uma falsa segurança – E se eu acabar depressa com você, ela será salva, e nós seremos felizes. Felizes, Voldemort. Apesar de tudo, você não foi capaz de me impedir de ser feliz, nem de ser amado...
- Cale-se, Potter! – Voldemort ordenou, e habilmente conjurou uma bela espada em sua mão – Lute, vamos! Você não me derrotará.
Harry o encarou inexpressivo. Estendeu a mão e nela surgiu uma bela espada de prata, que irradiava um brilho ofuscante. Ele não tinha certeza também do que estava acontecendo, era como se agisse automaticamente... Ele riu; Voldemort recusou-se a acreditar, estava desesperado. Sem pensar direito, avançou, atacando. O choque das espadas foi assustador. Cada uma emanava o seu próprio brilho, e um estrondo era ouvido a cada toque.
Os lutadores moviam-se com rapidez, os golpes eram deferidos com vontade. No começo, as coisas pareciam equilibradas, mas foi quando Voldemort acertou o primeiro golpe que ficou claro quem sairia vencedor. A espada simplesmente ricocheteou no nada, não foi capaz de encostar em Harry. Ele estava protegido, o maldito garoto estava protegido!
- Co-como?... – Voldemort arfava, ele estava acuado. O grande Lorde das Trevas, assustado.
- Você cometeu o mesmo erro duas vezes, Voldemort, e esqueceu de uma arma importante: o amor. Minha mãe uma vez deu a vida por mim, lembra? Eu já tinha uma proteção dentro de mim e Gina não precisará morrer para fortalecê-la... Bastava declarar seu amor na hora verdadeira, desejar... Entregar sua alma, lembrando do momento em que fomos um só corpo.
- Isso... Isso quer dizer que... – Voldemort havia perdido o controle, não era ele. Estava caído a poucos passos de Gina e a encarava com dor. Seus olhos haviam perdido aquele brilho obsessivo, eles estavam derrotados – Não, Gina...
Era aquele o momento. Ele estava sem defesa, a espada estava caída. Harry segurou sua própria espada com força, respirou fundo. Ele devia fazer isso, era a única chance. Ele devia isso a sua mãe, que se sacrificara para que ele pudesse ter uma vida. Ele devia isso a seus amigos, que lutavam bravamente lá fora com os comensais. E ele devia isso a Gina, que se entregara a ele, e que com doces palavras lhe passara todo seu poder.
- "Nenhum poderá viver, enquanto o outro sobreviver..." - ele murmurou baixinho, depois um pouco mais alto. Fechou os olhos. Era agora ou nunca – MORRAAAAAAAA!!!!!!
- GINAAAAAA!!!!!!!! – foi isso que Voldemort gritou quando a espada perfurou seu corpo e atingiu seu coração. A lâmina estava quente, emanava um sentimento gostoso... Mas que o queimava, fazia doer.
A câmera ficou escura, a luz vinda da espada e do corpo de Voldemort oscilava pela escuridão. Ele foi encoberto por uma névoa espessa, de onde começou a surgir uma voz...
"Nenhum deverá viver enquanto o outro sobreviver... O Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá o poder que o Lorde das Trevas desconhece... O Lorde sabia de tudo, descobriu feitiços... Vida e morte. Ele não tinha vida, um corpo sem coração... Só uma vida poderia acabar com uma semi-vida... Um coração para acordar, um coração para parar. Nenhum viverá, enquanto o outro sobreviver... Mas uma vida inocente também sofrerá. Aquele com o poder de derrotar o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar... Mas não é mais suficiente. Poder, vida, morte... Nenhum viverá, enquanto o outro sobreviver"
- Nâããããããão! GINAAAAAAAAA!!!!!
Houve um clarão, e dessa vez a luz se espalhou por toda a câmera. O corpo de Voldemort estava em chamas, Harry estava ajoelhado ao seu lado, sentia aquele calor. O que aquilo significava? De onde vinha aquela voz? Uma vida inocente? Ele olhou instantaneamente para Gina. Seria possível? Não, não...
- Tom...
- Gina, você está bem?! – Harry engatinhou até ela, enquanto o corpo de Voldemort transformava-se em cinzas. Ele deitou-se ao lado dela e pegou sua mão. Estava exausto, mas não pôde deixar de notar como a mão da garota estava fria – Gina, fala comigo... Por favor! Me diz que está tudo bem.
- Você conseguiu, Harry... – ela disse baixinho – Você salvou o mundo, o futuro. Não fique triste pelo preço que tivemos que pagar... Você não teve culpa, você não sabia. Seja feliz, por favor. Eu te amo. – e ela fechou os olhos no exato momento em que as chamas se apagavam e a câmera voltava à escuridão.
- Tom... – Gina piscou os olhos, estava de volta ao seu quarto no St. Mungus, o medi-bruxo a encarava, havia uma enfermeira ao seu lado.
- O que disse, querida? – ele perguntou, encarando-a nos olhos – Você me pareceu fora do ar por alguns minutos, acho que não deveria ter-lhe dito isso, assim. Quer que chame algum parente, seus pais?
- Não – ela disse séria e rapidamente, assustando os outros dois – Por favor, doutor, eu não quero que eles saibam. Se eu vou morrer... Bem, não há motivos para que eu faça minha família inteira sofrer por seis meses inteiros. Eu me sinto ótima, vou aproveitar o tempo que me resta...
- Admiro sua coragem – o medi-bruxo a encarou significativamente – Eu não consigo entender o que aconteceu com você, mas seus órgãos parecem trabalhar em contagem regressiva... Não consigo entender que tipo de feitiço poderia ter feito isso, nada do que fiz funcionou. Você ao mesmo tempo parece morta, e viva... Se minhas suspeitas estiverem certas, eu temo que você não vá poder esconder isso por muito tempo, haverá sintomas... – Gina baixou os olhos, tentando manter-se firme – Mas eu continuarei buscando uma solução durante cada minuto dos próximos dias, Sta. Weasley, eu garanto.
- Eu... eu estou um pouco cansada.
- Tudo bem, descanse agora. Não falarei nada para ninguém por enquanto, não se preocupe. Você mesma poderá falar quando achar que é a hora. Se precisar de algo, é só chamar.
Assim que se viu sozinha no quarto, Gina deitou-se e abraçou o travesseiro. Aquilo era muito estranho, ela não deveria estar viva, em primeiro lugar. Como ganhara seis meses assim? E ainda sentia-se tão bem... Será que devia estar feliz? Mas ela não estava... Seis meses para viver em paz, e temer a morte... Antes tudo tivesse acabado enquanto estava pronta.
Tom... – com lágrima nos olhos, a garota adormeceu.
