"Você está destinado a amá-la. Destinado a cair e a amá-la eternamente. Essa é minha palavra final. Esta é sua benção e sua maldição. Em todos os dias, em todas as vidas, você a amará. Sem descansos, sem desculpas."

Destinado a amá-la. Era algo simples, prático e objetivo. Ninguém discutiria. Amá-la e pronto. Sem interrupções. Sem idiotices alheias. Algo tão simples quanto respirar era amá-la. Simples como enfeitiçar alguém, como caminhar, como fechar os olhos... E adormecer.

Amá-la era como respirar. Presente, contínuo, natural. Era como enfeitiçar alguém. Fazia parte dele, algo inquestionável e simplesmente certo, pois lhe fora ensinado assim. Não que alguém tivesse ensinado a amá-la. Não tinham. Surgiu como um ato involuntário. Era tão simples quanto caminhar. Um passo após o outro, fazendo outra coisas enquanto pratica o ato de amar. Ele podia conversar, podia estudar, podia até mesmo dormir. Ele continuaria a amá-la seja lá qual fosse a situação.

Porque amá-la era como dormir. Sereno, simples, seguro. Ninguém questionava o ato de dormir. Por que questionar o ato de amar? Não questionavam. Não sabiam. Mas para ele ninguém precisava saber, pois era inexorável. Se colocassem uma objeção, ele não escutaria. Amá-la já era parte de si. Sonhava com ela. Sonhava com seus olhos. Com seu riso e com seus cabelos. Sonhava com ela, e a tinha. Ao menos em sua cabeça enevoada.

Amá-la era tão simples quanto chorar. Chorava o tanto que podia. A dor o consumia todas as noites, e ele dormia, pois pensava nela. As lágrimas quentes as quais não podia dar-se o luxo de secar. A dor ardente que pulsava em seus braços e não podia interromper. Ele o chamava, o queria. Precisava tê-lo por perto. Mas ele não queria. Não o respondia. Não precisava ter um dominante por perto. Ele apenas precisava amá-la.

Mas amá-la lhe parecia tão difícil! Quanto mais tempo passava, mais dor, mais lástima, mais dificuldades e ainda mais lágrimas o impediam de amá-la. Não que ela, ou qualquer outro soubesse. Não que ele próprio tivesse remota ideia do que passava por sua cabeça, tomada pela névoa espessa feita de dor e ódio. Ele não conseguia mais amá-la.

Não conseguia porque doía, e machucava, e o esmagava lentamente como se uma mão gigante o empurrasse para o chão, lugar que nunca antes havia estado. Era estranho sentir o frio, e o granito, ou a areia, ou a água, ou a terra, entrar em seus olhos e cortar sua pele. Doía quase tanto quanto perdê-la. E suas lágrimas irrigavam o solo onde estava, porque ele não entendia mais a razão de estar chorando. Era algo tão simples, tão ininterrupto quanto amá-la.

Mesmo que tentasse, era algo impossível, uma maldição crucial para sua existência. Parte dele era ela. Outra parte era chorar, outra ainda era chorar por ela, quando não chorava por ele. Doía tanto... Chorar doía como amá-la. Amá-la doía como chorar, pois seu coração parava, seus pulmões não funcionavam, sua garganta fechava, seus lábios tremiam... Em certo ponto, ele não conseguia mais distinguir o que era o que. Distinguia, ou pensava que o fazia, a dor. Porque era tudo, ou nada, que o restava.

"Está destinada a amá-la como o Sol ama a Lua. A perseguirá para sempre, todos os dias e noites de sua vida, mas como o Sol não pode ter a Lua, você também nunca a terá."