Disclaimer: Saint Seiya pertence a Massami Kurumada, TOEI e empresas licenciadas. A fanfic Darkest Night pertence a Metal Ikarus. A personagem Charlotte "Charlie" Vermont é de minha autoria para a fic antes mencionada.
Olha eu aqui de novo.
Pois é... há alguns dias eu estava conversando no antigo chat do grupo de Ficwriters de SS no Facebook com o Ikarus e a Jules e eles me lançaram um desafio: contar como foram os sete dias de Saga e Charlie mencionados no início de Darkest Night. Meio tenso de aceitar pq né... muita tensão e... er... Pois é. Mas eu resolvi aceitar. E agora parece que é um desafio geral pras participantes da fic. xD Escrever uma one-shot ou uma mini-fic com a sua personagem. Bom aqui vai a minha.
A mini fic é uma side story e se passa durante os acontecimentos que envolvem os Senhores do Submundo, logo, pode haver spoilers (se vc ainda não leu a fic, sem mimimis ok? É por sua conta e risco).
Capítulo 1: Já assumi os riscos.
Cansada. Extremamente cansada. É assim que eu me sinto. Mental, física e psicologicamente falando. Mas não posso negar que o alívio me consome. Pelo menos por esse episódio. Cada dia que passa se torna mais difícil sobreviver nesse lugar. Já me perguntei várias vezes como essas outras mulheres conseguem ficar... tranquilas. Não. Não tem ninguém tranquilo aqui. Foda-se. Não ligo. Só o que eu queria mesmo era que isso tudo terminasse de uma vez e eu pudesse enfim ficar em paz com ele.
"Ficar em paz". Ri de mim mesma. Isso é algo impossível aqui. Ainda mais com a mão e o pescoço roxos. Foda-se de novo. Desde o início eu nunca fiquei em paz mesmo. E desde o início eu nunca imaginei que tudo o que me aconteceu até agora pudesse realmente me acontecer.
Quer dizer, eu estava ali, sentada naquela poltrona, me afogando na garrafa de uísque, matando meu corpo mais um pouquinho a cada tragada de cada cigarro que eu acendia, velando seu sono e talvez correndo o maior risco da minha vida caso ele acorde e não seja ele de novo. Acho que mandar o Aiolia e o Dite se foder e tomar no cu não foi a decisão mais sábia que eu tomei até agora. Mas já foi. Já assumi os riscos. Por Saga. Por ele. Só por ele. Aliás, já tem um bom tempo que eu venho fazendo isso não é? Desde o dia em que nos conhecemos.
- Saga... – me aproximei e afaguei seus cabelos. Os fios negros espalhados pelos lençóis brancos. A expressão serena em seu rosto. Completamente diferente da expressão injetada e demoníaca de antes. Seu tórax subindo e descendo calmamente com a respiração.
Tomei sua mão entre as minhas. Seu pulso ainda marcado pelas correntes que antes o prendiam. As marcas pela recente briga com Aiolia para conter o demônio que vivia dentro dele. Todas já começavam a desaparecer, mas enquanto estivessem ali, me causavam um misto de angústia com... sei lá com o que. Só sei que essa outra parte era boa. Gostosa. Sabe, quando alguém se arrisca por você, pra te salvar ou proteger de algo? É algo meio insano e egoísta.
Tive de me segurar pra não chorar outra vez e senti falta do uísque.
- Tive tanto medo por você. Por nós. Tive tanto medo dele. – droga. As lágrimas me pegaram outra vez.
Corri outra vez para a garrafa. Não queria chorar. Quer dizer. Já estava tudo bem, não estava? Não havia mais motivos pra chorar. Mesmo que fosse de alívio. Ou havia? Será que quando ele acordar vai ser o meu Saga ou vai ser Insanidade? Vai me amar ou vai tentar me matar outra vez?
Me sentei no batente da janela, carregando comigo a garrafa, o cinzeiro, o maço de cigarros e o isqueiro. Não havia muita coisa a fazer e eu não queria deixá-lo ali, sozinho. Se ele acordasse como o demônio, eu queria estar lá. Meu plano continuava o mesmo. Ainda que ele fizesse de mim uma suicida. Como se já não bastasse ser autodestrutiva. Foda-se. Eu to nessa há tanto tempo que já perdi a conta. Além do mais, apesar de estar com a porta trancada, eu sei que Aiolia e Dite devem estar montando guarda caso algo aconteça e irromper por essa mísera folha de madeira não é nada pra nenhum deles.
Namorar o Saga é assim. Morar nessa mansão tem sido assim. Ironicamente era uma insanidade.
Sorri do meu trocadilho. Encostei a cabeça no caixilho e sorvi mais um gole do uísque.
"- Eu te amo, Saga... Pode me ouvir? Eu te amo..."
Quantas vezes eu evitei dizer aquilo. Mesmo que me corroesse, mesmo que me angustiasse, mesmo que me causasse uma puta bebedeira e uma puta ressaca no outro dia. Quantas vezes eu sonhei em ouvir isso dele. No entanto eu me submetia a ser a amiga colorida. O estepe sexual. Tentava não procurar sinais de algum outro tipo de sentimento, além da amizade, em qualquer gesto ou palavra que ele me lançasse. Tentava não fantasiar com isso e tentava aceitar aquela situação. Mas sempre foi difícil. Eu sempre soube que ele carregava consigo – e ainda carrega – a culpa de ter me machucado e isso sempre foi um fantasma vivo assombrando a ambos. E não posso mentir dizendo que isso não me assombra, não mais. Não depois que Pesadelos, o demônio de Aiolos, me pegou aquela noite.
Não me arrependo. Nenhum pouco. É um peso a menos dentro do peito. E quem me garante que ele tenha ouvido? Ele tá apagado até agora. É claro que não ouviu. E tenho certeza de que Aiolia e Dite não diriam nada a ele. Os caras estão mais preocupados em cuidar dos problemas que espocam debaixo dos próprios narizes do que fofocar algo para alguém. E quer saber? Eu não teria problemas em repetir isso.
O fato é que eu estou totalmente de quatro por ele. Há anos. E acho que desde a primeira vez que o vi. Eu não era metade do que sou hoje e ainda conhecia pessoas que achavam que jeans, camiseta e all star eram um ótimo disfarce pra mim.
Eu era uma Caçadora. Mas eu nunca quis ser algo do tipo, na verdade. "Herdei" essa coisa toda do meu pai. Charlles Vermont. Ele também era Caçador. Dos bons.
Cresci ouvindo que os Senhores do Submundo eram criaturas da pior estirpe, "portadores" de todo mal que paira sobre a Terra. A corja de tudo que poderia existir e coexistir. Quando lembro as definições sobre eles sinto vontade de rir. Eles faziam de tudo pra nos enfiar o ódio pelos Senhores goela abaixo. Na boa, se você quer que eu odeie alguém, me dê motivos que realmente me convençam. Ódio por associação não funciona comigo. Mas eu nunca tive motivos pra isso.
Talvez eu até tivesse. Eu poderia ser como as irmãs japonesas e culpar um deles pela morte da minha mãe. Mas a culpa não foi deles. Minha mãe morreu numa troca de tiros onde um deles estava presente, num jantar de gente engomada. Não sei qual. Nunca me preocupei em saber porque a culpa foi do velho. Única e exclusivamente do velho. Sempre tão focado em atingir seus objetivos, sempre tão esperto, sempre ele. Aquele que nunca errava, errou. Meu pai sempre me disse pra controlar a raiva independente do que acontecesse. "A raiva é como uma faixa negra que nos cobre os olhos e não nos permite enxergar o que devemos" ele dizia e foi exatamente o que aconteceu com ele. Fanático com essa história de caça e caçador, ele se deixou tomar pela raiva e esqueceu de todo o principal. Cuidar da evasão de pessoas importantes. Proteger quem realmente importava. Me dei bem porque eu já tava nesse caminho há algum tempo. Fugir de um tiroteio e buscar um local seguro era o básico de sobrevivência. Eu tinha que saber isso, mas minha mãe, não. Ela não morreu por culpa deles. Morreu por culpa do velho.
Depois desse episódio pareceu que eu tinha a obrigação de ser a melhor em tudo, pra nunca decepcionar ninguém daquela maldita organização e não cometer o mesmo erro do meu pai. De novo. Eu nunca quis ser uma Caçadora. Nunca quis perseguir ninguém. Nunca quis odiar quem eu nunca tinha conhecido na vida. Nada disso fazia sentido pra mim. Só o que eu queria era viver minha vida, sem filho da puta nenhum cacarejando no meu ouvido que eu devia fazer isso e aquilo. O único barato que eu curti mesmo nessa merda toda foi tudo o que eu aprendi a fazer. Até porque, não importava o que eu fizesse lá dentro, eu nunca era a Charlotte. Eu sempre era a "filha do Charlles".
Quando o velho morreu eu vi minha chance de mudar isso. Sair em missão seria uma boa. Mas a missão tinha que ser grande. Missão de caça. Eu nem sei porque me deixei levar por isso. Nunca nem quis fazer nada daquilo. De repente eu queria buscar reconhecimento e sair loucamente numa missão que eu sequer sabia o que esperar. Totalmente fora dos meus padrões. Mas eu fui.
Então lá estava eu, sabendo que, se aquela porra toda desse errado e eu não conseguisse me salvar, o resto ia estar se fodendo pra mim. Já tinha levado uma comida de rabo da chefia por não usar o disfarce que eles queriam que eu usasse. Ah qual é? A missão era seduzir o cara. Como caralhos d'água eu poderia seduzir alguém não me sentindo bem com o que eles queriam que eu usasse? Eles até poderiam saber muita coisa sobre muita coisa, mas de sedução esse bando de cuzão não entendia nada!
E não que eu fosse também uma mestra no quesito, mas porra! Essa era outra coisa que eu obrigatoriamente deveria saber pelo menos o básico!
Me mandaram pra Grécia. Não podiam ter me mandando pra um lugar melhor. Passar uma temporada indeterminada naquela maravilha de lugar seria mágico.
Assim que me estabeleci por lá eu iniciei a caçada. Já tinha gente no encalço dele então meu trabalho ficou mais fácil. Já sabia mais ou menos o que ele costumava fazer. Só precisava entrar em ação. Não demorou muito. Me lembro bem. Foi num bar. Eu usava uma saia pouco rodada de jeans escuros até os joelhos, um corset azul royal e meu par de botas favorito. A noite tinha dado uma leve esfriada, então levei junto uma jaqueta de couro preto. Ele estava sentado no balcão, a calça jeans, também escura, marcava levemente o contorno das coxas, a camisa branca de botões e manga longa, a cascata dourada e ondulada caindo pelas costas. Me aproximei mais e pude ver que ele tomava uma cerveja e comia amendoins, enquanto assistia, sem dar muita importância, a uma luta qualquer na TV. Sentei ao lado dele e em pouco tempo estávamos conversando. E era tão natural a maneira que as coisas fluíam.
O bom de estar agindo sob disfarce é que você pode falar o que der na telha que as pessoas que estão te monitorando nunca vão saber se é verdade ou não. No meu caso, em momento algum o que eu falei pra ele foi mentira.
-Estamos nos falando há horas e você ainda não me disse quem é e nem o que faz, Saga...
- Digamos que seja algo um pouco complicado. Por que você não começa?
- Comigo também é um pouco complicado. Nem sempre eu sou quem gostaria de ser e nem sempre faço coisas que gosto ou quero. Tudo depende das circunstâncias.
- Interessante. Intrigante. E perturbador.
- Perturbador? Por quê?
- Você não me parece o tipo de garota que não faz o que quer.
Lembrar disso me arranca sorrisos até hoje. Saga sempre soube quem eu era e o que eu queira. Sempre percebeu meus humores e o que eu sentia. Podia não falar ou fazer algo, mas eu sei que ele sempre percebia. E ainda percebe.
- Nem sempre o que parece é.
- Não. Acho que isso não funciona com você. Está estampado.
- Você parece ir pelo mesmo caminho.
- Eu tento. Mas não sou o melhor exemplo de quem faz o que quer ou não.
- Perturbador.
- Você não sabe o quanto. Às vezes é como perder o controle. Tentar fazer o que quer e não conseguir.
- Acho que sei como se sente.
- Não. Você não sabe. Mas tudo bem. Já estou habituado com isso.
- E tem algo que você queira nesse momento?
-Duas coisas.
- Está controlado pra isso?
- Estou.
- E o que seriam essas coisas?
- Primeiro, mais uma cerveja. – que ele pediu ao bartender – Segundo, isso.
Fui totalmente pega de surpresa. Quando me dei conta, seu braço me apertava forte pela cintura, reduzindo o espaço entre nós a quase nada e seus lábios se colaram aos meus, num beijo avassalador e possessivo. Sua língua era exigente no início, como se buscasse a minha a todo custo e não houvesse nada que a fizesse parar. Mas depois se tornou gentil, sem deixar de ser quente. Ele dominava aquela situação e não se parecia em nada com o monstro truculento que a Organização nos passava em seus "contos de fadas" sobre os Senhores, apesar de em alguns momentos ser um pouco rude. Mas eu também nunca fui o tipo de pessoa delicada, apesar da minha origem, então estávamos de igual pra igual.
Nunca fui santa. Já tive vários caras entra as minhas pernas, sem qualquer tipo de envolvimento mais sério, mas nenhum deles me causou o êxtase que Saga me causou com somente aquele beijo. Ele sorriu entre meus lábios antes de parar e se afastar. E eu ainda me sentia zonza.
- Você... Seus lábios são altamente tentadores. Você me intriga, me encanta... Você tem algo que... Não sei.
- Fui pega de surpresa.
- Desculpe por isso.
- Não se desculpe. Eu gostei. Gostei muito, por sinal.
Continuamos conversando. Vez ou outra nos beijávamos novamente. Mas eu precisava fazer o que tinha que fazer. Não podia tratá-lo como um desses carinhas quaisquer que eu estava acostumada a conhecer e ir pra cama na mesma noite só pra me divertir e se a trepada fosse boa ou o carinha fosse de certa forma interessante, as coisas se prolongavam um pouco mais. Eu tinha que fazer ele ficar interessado de verdade. Eu tinha de fazer com que ele quisesse me encontrar outra vez. Então dei um puxão na sua camisa e dessa vez o beijo avassalador foi meu. Não sei se o deixei sem reação com o beijo, mas a agitação que ele teve logo em seguida, quando eu levantei e me dirigi até a saída foi exatamente o que eu queria. Senti sua mão me apertar o braço.
- Aonde vai?
- Pra casa. Está tarde.
- Tarde?
- Pra mim sim. E apesar de morar aqui perto, não acredito estar imune a assaltos ou coisas do tipo. Então, enquanto você continua curtindo a sua cerveja, eu vou curtir a minha cama.
- Certo. Como faço pra encontrar você de novo?
- Podíamos nos reencontrar aqui, o que acha?
- Não. Procuro não frequentar os mesmo lugares por muito tempo.
- Por que não me leva pra jantar? Surpreenda-me.
Entreguei a ele meu endereço e nada mais e sai em direção à rua, pronta para chamar um taxi. Ele me acompanhou até lá.
Continua...
