Cicatrizes da Alma
Capítulo 1: Diminuindo a dor
Sangue. Escorria por sua pele pálida e delicada, uma mão estava fechada, assim como os olhos... e na outra, um punhal de 15 cm aproximadamente. Os cabelos ruivos voavam com o vento que batia de leve no rosto da garota. O brilho prata do objeto, lhe parecia único. E ela gostava de tocar com o objeto na sua pele branca, repetidas vezes, apenas para poder ver o intenso brilho vermelho do líquido que escorria lentamente pelo seu braço.
Lágrimas. Desciam, imponentes traçando um caminho por entre as sardas da menina de cabelos vermelhos, estava cansada de tudo o que já sofrera e sofria... seus olhos estavam ardendo, como costumavam ficar depois de horas chorando escondida na solidão da sua cama de dossel. Já não tinha mais muitos amigos, todos se afastaram pensando que a pequena ruivinha, havia se tornado uma pessoa um tanto quanto fria, que já não sorria com tanta felicidade.
Já não era mais a menina que alegrava sua família, aliás... o pai havia morrido na guerra, e a mãe não lhe dava mais tanta atenção, pensando que seus problemas eram coisas de adolescente. Mas, já não eram mais coisas de adolescente, havia extrapolado essa barreira há muito tempo, e isso estava se tornando um caso muito sério. Gina Weasley de 16 anos de idade... seu ex-namorado estava lutando na guerra, e era o foco principal de todo o alvoroço do seu coração. Mas ela estava tentando esquecê-lo, e todo seu esforço estava refletido nas cicatrizes do seu braço.
- Weasley... – Gina deu um pulo e enfiou o punhal dentro da gaveta que ficava ao seu lado. Anne abriu a cortina e, ao ver que Gina já estava acordada sorriu. – Eu pensei que estivesse dormindo... oh Merlin, mas o que é isso? – perguntou ela, puxando o braço da garota.
- Não é nada Anne! – disse ela sorrindo fracamente. – Eu me cortei ontem de noite, quando dei uma passada na cozinha... mas, agora eu estava mexendo na ferida e ela acabou abrindo de volta... – Anne não pareceu acreditar muito, mas acabou aceitando a explicação de Gina.
- Estou indo...! Vim aqui, apenas para acordar você! – deu um aceno e desapareceu, Gina estava sozinha de volta, em pleno Sábado... era sempre a última a se levantar, e Anne sempre a chamava antes de sair. Mesmo que Gina nunca tivesse deixado tão evidente a garota que possuía cortes terríveis nos braços.
Estava entrando no salão, para tomar o seu café da manhã... quando percebeu um grande alvoroço entre as mesas da Grifinória e Sonserina, não reconheceu a fonte de toda a briga, que os professores tentavam a todo custo separar. Escutou vozes gritando algo como: "Ele não pode ficar aqui... é perigoso!"
- Mas o que houve? – perguntou para uma garota de olhos verdes que estava ao seu lado.
- Malfoy!
- O quê? – perguntou, derramando a metade do seu suco na mesa.
- Draco Malfoy!!
- Mas o que...
- Ele voltou!! – disse a menina pouco se importando com o espanto de Gina.
- Mas ele não pode...
- Disseram que ele havia passado por um teste psicológico, com alguns bruxos poderosíssimos... e eles alegaram que ele não é um perigo a sociedade bruxa, agora colocaram ele em Hogwarts, pra que ele se torne um bruxo como nós!! – a menina revirou os olhos como se aquilo fosse absurdo... e Gina concordava plenamente que isso fosse absurdo. Se Malfoy fosse realmente ficar ali a vida dela seria um total inferno.
- Mas não podem!! – disse ela tentando argumentar mesmo sabendo que isso não funcionaria.
- Disseram que é para o bem da sociedade bruxa... que se Malfoy for tratado como louco, talvez ele se transforme em um! – a menina se levantou sem dar tchau a Gina, que não se importou muito com isso.
Gina deixou que a briga entre a Grifinória e a Sonserina se apaziguasse, e então se levantou indo em direção aos jardins. Continuava atraindo a atenção de muita gente, por sua mudança quase repentina de atitude, usava um moletom preto, para poder esconder os seus braços, mas como o dia não estava tão frio, acabou por chamar mais atenção do que gostaria.
Sentou-se num lugar distante, pouquíssimo visitado, embaixo de uma árvore que a maioria das pessoas considerava amaldiçoada... pois diziam que Slytherin enterrara um segredo ali embaixo, que era impossível ser desenterrado e que Slytherin jogara um feitiço ali para que ninguém se aproximasse... ela não acreditava nessa lenda desde que se tornara o que era. E adorava passar o tempo na parte do jardim que era praticamente deserta. A árvore era magnífica, e o campo em volta dela também, ficava no lado do castelo, e as pessoas praticamente ignoravam sua existência.
- Também gosto daqui! – falou uma voz atrás dela, ela não virou-se para o dono, mas não sabia de quem se tratava. – É tranqüilo... e a lenda é falsa! – pareceu pensar, e por fim sentou-se atrás da pequena Weasley.
- O que faz aqui? – perguntou ela ao desconhecido.
- O mesmo que você...
- O que EU faço aqui?
- Tenta se isolar do mundo, e fugir dos seus problemas! – disse aquilo com tanta convicção que assustou a menina.
- Quem lhe disse isso? – perguntou começando a ficar alterada.
- Ninguém... mas acho que dá pra perceber que você não é mais uma adolescente normal, Weasley! – disse ele.
Gina estava começando a se deixar intimidar pelo garoto que estava sentado atrás dela. Não queria virar-se e deparar com alguém que sabia de seu segredo mais íntimo, sem ela ao menos ter falado. Pelo menos ainda não tinha visto seus cortes, o que era um grande avanço.
- Você precisa de ajuda, garota! – disse o menino, logo depois se levantando e saindo. Gina segurou o seu ímpeto de olhar para trás, e ver quem estivera conversando com ela. Estava com vontade de liberar novamente suas lágrimas, mas se segurou ao ver que uma menina de cabelos encaracolados e loiros se aproximava...
- Gina... não fique aqui, sabe que é perigoso... vamos pra lá!
- Eu não quero ir Anne! Me deixa... – disse ela estupidamente. – ... sozinha!!!
- Ta bem, Weasley... só não precisa me tratar assim! – disse Anne, que saiu reclamando.
A coberta lhe chegava até os olhos, estava sem sono, virando de um lado para o outro... lembrando-se do estranho no jardim. Estava com vontade de gritar, estava com vontade de chorar, ou de encontrar o estranho que sabia o que estava sentindo. Tateou no escuro até achar a gaveta, puxou a gaveta e pegou seu punhal que estava dentro dela... mas de repente veio uma voz na sua cabeça: "...você não é mais uma adolescente normal, Weasley!". Largou o punhal, fazendo um estrondo, quando o material tocou na madeira, Gina empurrou rápido a gaveta e se arrumou embaixo das cobertas. Ninguém pareceu escutar... mesmo assim ela tateou novamente, agora a procura da milagrosa poção que ficava ao lado de sua cama, para suas noites de insônia. Ingeriu um gole da poção e deixou a cabeça cair no travesseiro.
Mais um dia de vida, e menos um para a sua morte. Era assim que Gina pensava, todos as manhãs... o pensamento mais desgraçado que podia passar em sua mente era qualquer um que ela pudesse imaginar-se morrendo.
- Boa dia Weasley! – disse Anne sentando-se ao lado de Gina, que lhe acenou com a mão direita. – Nossa... tudo bem?
- Não sei por que insiste em perguntar todos os dias isso! – disse Gina, sorrindo falsamente. – Está tudo ótimo!
- Eu lhe pergunto porque há dias em que não estou bem... pensei que isso acontecesse com você também! – Anne se levantou e deu um beijo no rosto de Gina. – Vou me encontrar com o Tom, a gente se fala depois!
Gina terminou o seu café, lentamente... era Domingo, apesar de não ser um grande dia, mas ela poderia passar alguma parte do seu tempo, tentando aprender aquelas poções dificílimas. Se levantou e correu ao dormitório para pegar seu caldeirão e o livro, desceu para a árvore e se encostou no tronco... mas a vontade de estudar não era muito grande, então encostou a cabeça e fechou os olhos.
- Weasley... – chamou. Gina deu um pulo e bateu a cabeça no tronco, enquanto massageava a cabeça, virou-se para ver quem a chamava, um loiro alto estava parado na sua frente. Gina o encarou, e virou os olhos.
- Malfoy!!
- Você estava mais simpática ontem Weasley! – disse ele sorrindo desdenhoso e sentando-se ao lado dela.
- Como pode saber? – perguntou ela irônica. – Nós nunca conversamos, e não vai ser hoje que iremos conversar!!!
- Ontem nós conversamos Weasley!
- Não sei de onde tirou essa idéia ridícula... – disse ela levantando para ir embora.
- Você realmente não é uma adolescente normal Weasley!!! – disse ele balançando a cabeça afirmativamente.
Estacou. Virou a cabeça devagar e desceu os olhos até Malfoy, que a encarava sério.
- Era você?
- Sim, era eu...
- Mas, como? – perguntou abismada, se atirando no chão ao lado de Malfoy.
- Weasley... anda tão depressiva que esqueceu o mundo a sua volta? – perguntou ele em tom de desafio.
- Não Malfoy!! E eu não sou depressiva.
- Você é Weasley!! Eu sei que é... conheço seus sintomas, seu jeito... e sei porque você só usa blusa de manga comprida... – estava mais agressivo e puxou o braço de Gina, arrancando o tecido que cobria o braço branco, com cortes profundos e cicatrizes.
- Larga o meu braço! – disse ela, com algumas lágrimas já na bochecha... – Pára!! – disse ela, tentando tirar o braço da mão de Malfoy.
- Não Weasley!! Você não passou quase três meses em cativeiro, sendo testado de todas as formas para verem se você estava louco... você não sabe o que é ser cortado todos os dias sem você querer!! Você não sabe o que é quase morrer de fome, e ser persuadido a contar os seus desejos mais pessoais diante de algumas gotas de poção da verdade, você tem uma vida perfeita, uma família perfeita, uma educação perfeita... e você é perfeita Weasley... só não aceita isso!! – Malfoy tinha levantado e agitava Gina com agressividade, o que fez a menina chorar mais ainda.
- Me larga Malfoy! – implorou ela. – Não me machuca... SEU LOUCO! – disse ela, e depois caiu em um choro profundo, que comoveria o mais covarde dos homens. – Por favor!!
Draco a olhou nos olhos... apesar de tudo o que tinha passado nos últimos meses, desde a humilhação, até os testes que fizeram nele, ele nunca havia tido tristeza parecida com a dessa menina fraca e sem rumo... ele não podia compreender como alguém como ela poderia ser daquela maneira, e olhando mais nos olhos dela, ele pôde ver que a tristeza dela, vinha do coração... e não vinha dos cortes no braço, e nem da humilhação que ela passou... ela estava assim porque seu pai havia morrido, e porque o maldito Potter poderia morrer também... ela estava assim, porque se sentia sem chão... porque no momento sua família não estava sendo perfeita, porque sua vida não estava perfeita... e porque ela pensava não ter perfeição alguma nela. Draco estava segurando Gina pelos braços, e de ímpeto abraçou a garota afagando-lhe os cabelos.
- Me desculpe... me desculpe! – disse ele baixinho. – Eu não devia ter gritado... eu sou um estúpido!!! – e então, depois de todos aqueles meses em cativeiro, Draco Malfoy finalmente se permitiu chorar.
N/A: Oii pessoas!
Aqui eu, começando fic nova... espero que vcs curtam, e pleeeaseee... façam uma autora feliz! Review-me '
Beijus
Desih.
