— Gintama e seus personagens pertencem a Hideaki Sorachi;

— Essa é uma fanfic yaoi, ou seja, contém relacionamento homossexual entre os personagens. Se você não gosta ou sente-se ofendido com esse tipo de conteúdo sugiro que vá ser feliz lendo shoujo;


Parte I

Anytime I need to see your face, I just close my eyes

Sempre que preciso ver seu rosto, somente fecho meus olhos

And I am taken to a place where

E eu sou levado a um lugar onde

your crystal mind and Magenta feelings take up shelter

sua mente cristalina e sentimentos magenta se abrigam

in the base of my spine

Na base da minha espinha

Sweet like a chic-a-cherry cola

Doce como um refrigerante de cereja

I don't need to try and explain;

Eu não preciso tentar e explicar;

I just hold on tight

Eu somente a/o abraço apertado

And if it happens again,

e se isso acontecer novamente

I may move so slightly

Eu poderia me mover tão levemente

To the arms and the lips and the face

Para os braços, os lábios e a face

of the human cannonball

do homem canhão

That I need to, I want to

Que eu preciso, que eu quero

So can we find out?

Então, podemos descobrir?

I want you – Savage Garden

Ele não ousaria sequer piscar.

De onde estava seus olhos fitavam aquele que desfilava pelo quarto completamente alheio ao efeito que causava. Ele está andando engraçado. O homem pegou a roupa de baixo vinho que estava jogada perto da porta, passando-a com graça por suas pálidas pernas. O kimono negro pousou perfeitamente sobre seus ombros, sendo ajeitado com maestria e omitindo a nudez que Gintoki tanto adorava. A última peça foi a faixa e, quando ela finalmente foi passada pela cintura, um longo e triste suspirou chamou a atenção de sua companhia.

"O quê?"

"Nada..." Ele estava deitado de lado sobre a cama e oferecendo as costas à grande janela do motel. "Parece que mal chegamos e você já vai embora."

"Ao contrário de certas pessoas eu tenho um emprego."

"Se você chama de emprego sugar o dinheiro dos contribuintes..."

"Oi..." Hijikata olhou ao redor, como se procurasse por algo. Graças aos deuses a espada está do outro lado do quarto.

"Aqui..." Gintoki esticou a mão, tocando a parte alta da cama e entregando a carteira do moreno. "Eu pago dessa vez."

Hijikata nada disse, ajeitando-a dentro da manga do kimono para que fizesse companhia ao maço de cigarros. O silêncio do cômodo contrastava totalmente com as vozes animadas que vinham da janela aberta. Aquela área era famosa pela vida noturna e subversiva, visto que o local era reservado para motéis e prostíbulos. Eu gostaria que tivéssemos ido para minha casa. Ele não se importava em pagar ou dividir quartos com largas camas que cheiravam a incenso e cigarros baratos, mas preferia o conforto de casa. Havia alguma coisa diferente quando faziam sexo em seu futon, embaixo da pequena janela de seu quarto. Soa familiar...

"A próxima vez," a voz roubou seus últimos pensamentos, "eu estarei livre na próxima sexta-feira."

"Uma semana? Gin-san não sabe se conseguirá suportar." O Líder da Yorozuya arrastou-se para fora da cama, pegando sua roupa de baixo listrada e a vestindo antes de ficar em frente ao amante. "Vamos para minha casa. Eu mandarei Kagura para a casa de Tae."

O moreno o encarou, porém, rapidamente desviou os olhos. Aquela atitude não era inédita e Hijikata dificilmente mantinha contato visual se não fosse extremamente necessário. Gintoki deu um passo à frente, diminuindo a distância e subindo as mãos pela cintura, sentindo o tecido grosso do kimono e um pouco saudoso do corpo que ele havia amado pelas últimas duas horas. Sua companhia fingiu tentar se desvencilhar, no entanto, desistiu quando os lábios se encontraram em um longo e intenso beijo. As línguas se esbarravam com experiência, velhos dançarinos que conheciam aquela música bem o suficiente para torná-los profissionais.

"Tsk, eu não quero te deixar ir." Ele surpreendeu-se um pouco por ouvir-se dizer aquilo. Sua voz soou rouca, como um segredo, e seus lábios tocavam o espaço entre o maxilar e a orelha esquerda.

"Eu trabalho amanhã." O timbre de Hijikata era o mesmo das horas passadas sobre a cama de motel. Não havia agressividade ou irritação.

"Eu sei, mas..." Gintoki juntou as sobrancelhas e sentiu-se corar. O que você está fazendo agindo como uma garotinha colegial! Você tem quase trinta anos!

"Gi... Gintoki, eu..."

O Vice-Comandante calou-se e os dois se encararam. Naquele momento, ele sentiu o peito apertado e uma estranha ansiedade o fez esperar pela continuação que não veio. Hijikata desviou novamente o rosto e afastou-se de seus braços, deixando o quarto sem dizer sequer um mero adeus. Gintoki suspirou, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos. Está ficando difícil. Me despedir dele sempre foi um pouco embaraçoso, mas ultimamente esses momentos me deixam deprimido.

Ele sentou-se na cama, encarando o lençol desarrumado e os preservativos usados jogados pelo chão. Não era fácil definir aquele novo sentimento, contudo, Gintoki acreditava que não passava de uma fase, já que eles não estavam em um relacionamento e durante aqueles cinco anos os encontros foram puramente sexuais. E eu já passei da época de acreditar em certas fantasias.

O momento de reflexão durou muito pouco e ele seguiu até o pequeno banheiro unido ao quarto, retirando a roupa de baixo pelo caminho e deixando a porta aberta. Aqui vai o restante do meu dinheiro do mês e ainda estamos no dia 10. Quartos como aquele, com vista para a rua e com chuveiro, eram mais caros, entretanto, às vezes valia a pena usufruir um pouco de conforto. O banho foi rápido, o suficiente para que ele tirasse o suor do corpo e não retornasse para casa com o cheiro do amante. Os preservativos foram jogados no lixo e Gintoki limpou qualquer vestígio evidente do que havia acontecido antes de descer até a recepção para pagar aquelas maravilhosas duas horas.

O outono começara há poucas semanas, todavia, era evidente que o verão havia definitivamente terminado. As noites abafadas deram lugar ao frescor e o céu estrelado exibia um azul escuro e pesado.

E, independente de qual estação estivessem, o Líder da Yorozuya seguia sozinho pelas ruas, como havia feito sempre, e como desconfiava que faria até o dia que deixasse de existir neste mundo.

Ao contrário do que ele desconfiou a semana foi bastante atarefada, com trabalhos quase diários. Gintoki saia cedo ao lado de Kagura e Shinpachi, retornando para casa depois da hora do jantar e completamente exausto. Os dias passaram como se vivesse no piloto automático, e ele só se deu conta de que teria algumas horas de alegria quando se lembrou de o porquê a sexta-feira estar marcada em seu calendário. Na quinta-feira Kagura avisou que passaria o final de semana na casa de Tae, o que lhe poupou o trabalho de enviá-la ele mesmo.

A sexta-feira amanheceu nublada, mas nem o clima fresco e nem o céu acinzentado foram o bastante para desanimá-lo. Gintoki acordou estranhamente bem-disposto e, ainda que houvesse trabalho, sua mente esteve o tempo todo focada na noite que teria. Kagura e Shinpachi se despediram no final da tarde, e ele tomou o caminho contrário, indo até uma loja de conveniência e comprando dois grandes obentos e um engradado de cervejas. Meu dinheiro só cobre esse tipo de jantar. Seus lábios assoviaram durante todo o caminho e ele tomou um demorado banho ao chegar em casa, com direito a bolhas de sabão na banheira.

Gintoki sentou-se em seu sofá e degustou uma latinha de cerveja enquanto assistia ao telejornal, aguardando ansiosamente a previsão do tempo e o momento em que sua gloriosa Ketsuno Ana apareceria. Durante aqueles minutos ele não desconfiou que aquela noite não seria como planejado e futuramente, quando se recordasse daquele fatídico dia, sentiria-se tolo por não ter percebido que havia algo diferente. O telejornal terminou e foi seguido por um programa de variedades. Os olhos escarlates fitaram o relógio do outro lado da sala e, ainda que achasse que Hijikata estava atrasado, em nenhum momento sua esperança vacilou.

A realização, porém, chegou conforme as horas passaram e sua companhia não apareceu.

O engradado de cerveja foi bebido e os dois obentos degustados enquanto ele terminava de assistir ao último filme da madrugada. Gintoki levantou-se do sofá e arrastou-se até o quarto, caindo sobre seu futon e perdendo a consciência quase imediatamente.

Era difícil definir o que ele sentiu, um misto de solidão e desapontamento. Ele é um policial, já era de se esperar que alguma eventualidade acontecesse. Independente dos fatos que sua razão tentava expor, o sentimento no fundo de seu estômago era muito mais do que a precoce resseca que certamente teria. Não é a primeira vez. Nós já marcamos e desmarcamos compromissos antes. Nada mudou.

Mas Gintoki sabia que estava errado e para não precisar assumir aqueles sentimentos ele preferiu fechar os olhos e deixar-se imergir no mundo dos sonhos.

x

O silêncio de Hijikata não se limitou somente àquela sexta-feira.

Gintoki tentou entrar em contato no domingo, mas o celular caía diretamente na caixa-postal. Nem mesmo o Comandante-Gorila pôde ajudá-lo quando, na terça-feira, ele passou rapidamente após um trabalho na casa de Tae. Ela disse que ele não aparece há alguns dias. Quem diria que um stalker tiraria férias. A ideia de ir direto à fonte descobrir o paradeiro de seu amante soava absurda e o fazia até mesmo arrepiar-se. Ele me mataria. Se Hijikata soubesse que eu apareci por lá somente para vê-lo eu levaria uma bela e merecida surra. No entanto, a ideia não soou tão incoerente na segunda semana e certamente ele teria feito uma visita ao Shinsengumi se naquela manhã seus deliciosos dangos não fossem atrapalhados por uma inusitada companhia.

"Danna..." A voz arrastada fez seu dango perder metade do sabor.

"Perdido?" Gintoki pousou o palito sobre o prato e bebericou seu chá.

"Trabalhando..." Okita aproximou-se, esticando a mão para pegar o segundo palito, este com quatro dangos, mas recebendo um tapa na mão. "Deve ser bom ser desempregado e vadio."

"Eu não saberia..." Ele sorriu. "Já que estou descansando antes do meu próximo trabalho."

"Entendo..."

O pedido de Okita chegou e ele sentou-se ao lado para degustar seus quatro dangos, arrumados meticulosamente no palito de madeira. Nenhum deles disse nada e ambos pareciam aproveitar o raro sol que havia surgido naquela manhã e que os agraciava com a morna luz típica do meio do outono. O último gole de chá desceu morno por sua garganta e Gintoki ponderava se deveria ou não perguntar sobre o paradeiro de Hijikata. Aquela relação era vivida nas sombras e não era de seu conhecimento que alguém sabia o que eles faziam quando se encontravam. Contudo, quando o assunto era Okita Sougo, nada era garantido.

"Ele está vivo, se é isso o que você quer saber." A voz soou um pouco baixa, mas ainda arrastada. "Mas eu desistiria de vê-lo... por enquanto."

"Por quê?" O Líder da Yorozuya tentou soar o mais displicente possível, embora, internamente, ele amaldiçoasse a sagacidade daquela pessoa. "O Vice-Comandante Demoníaco foi enviado para alguma missão?"

"Não, mas ele ficará ausente por um tempo, pelo menos é o que Kondou-san disse."

A curiosidade falou mais alto e ele decidiu que a vontade de saber o que estava acontecendo era muito mais forte do que o receio de demonstrar o mínimo interesse por alguém que, aos olhos dos outros, compartilhava o seu nível de desdém. A ausência de Hijikata no dia combinado e a total falta de notícias por mais de uma semana não eram raras ou preocupantes, entretanto, ele precisava saber e aquela peculiar ansiedade o impossibilitava de permanecer indiferente às provocações baratas.

"O que aconteceu, Okita?"

O rapaz virou o rosto, o último dango tocando seus lábios e uma expressão completamente branca.

"Hijikata-san se foi." A boca brilhava por causa da calda do dango. "Por hora."

"Como assim 'se foi'?"

"Há dois dias Kondou-san marcou uma reunião cedo, logo depois do café da manhã, mas Hijikata-san não apareceu. Ele pediu que eu o acordasse e eu estava particularmente animado para testar algumas coisas que havia comprado, porém, foi tudo em vão." Okita pareceu genuinamente frustrado por não tê-lo explodido. "Quando eu arrastei a porta do quarto ele já estava lá."

"Ele? Ele quem?"

"O outro," o último dango foi devorado em duas mordidas.

Gintoki sentiu os cabelos de sua nuca se arrepiar e arrependeu-se parcialmente por ter ido a fundo com aquele assunto. Imaginar que o otaku parasita estava de volta no corpo de Hijikata o deixava cansado uma vez que, de um jeito ou de outro, ele sempre acabava envolvido na história. Okita deixou algumas moedas sobre o prato vazio de dango e acenou antes de se afastar e deixando-o sozinho com seus pensamentos. É um bom motivo. Hijikata não aparecerá por algum tempo. Ele espreguiçou-se e bocejou, levantando-se depois de pagar por seu rápido lanche. O novo trabalho ficava próximo, mas seus passos foram lentos e preguiçosos.

Sem o prospecto de vê-lo tão cedo, a vida perdia um pouco de suas cores.

Após o encontro com Okita, nenhuma notícia sobre o Shinsengumi chegou aos seus ouvidos e as noites de Gintoki voltaram a se resumir a pachinko e cerveja barata ao lado de Hasegawa. A demanda de trabalho havia aumentado, mas sem precisar gastar com quartos de hotel e apetrechos, não havia realmente nada para investir seu dinheiro além das edições da JUMP. Eu voltei à velha vida de antes. O Líder da Yorozuya refletiu ao arrastar a porta de sua casa, tomando o cuidado necessário para não acordar Kagura. Era pouco mais de sete da manhã e ele passara a noite jogando pachinko e retornado com uma terrível resseca que deixara dormente o braço direito.

A garotinha ruiva não apareceu e Gintoki seguiu direto para o banheiro, mergulhando na água morna da banheira e cozinhando por longos trinta minutos. O corredor estava vazio e sua nova troca de roupas foi vestida em velocidade reduzida. O futon foi arrumado, um fino e macio cobertor colocado por cima e, ao pensar que finalmente poderia ter seu merecido descanso, as batidas na porta demonstraram que ele estava errado. O baixo palavrão foi dito entre os dentes enquanto deixava o quarto, indo para a entrada para calar seu visitante antes que Kagura acordasse e expulsasse o possível cliente com seu mau humor matinal.

"Desculpe, desculpe, Cliente-san, mas estamos fechados no mom–"

As palavras morreram quando seus olhos se abriram.

A pessoa do outro lado compartilhava seu nível de surpresa, mas assim que os olhos se encontraram ele os desviou, apertando a espada em sua cintura de maneira desajeitada e parecendo visivelmente incomodado por estar dentro do kimono negro.

"B-Bom dia, G-Gintokicchi..."

Gintoki ouviu quando Kagura arrastou a porta do armário e perguntou quem havia chegado. Ele sabia que aquela não era a mesma pessoa, mas foi impossível não sentir saudades após aquelas longas semanas. Seu corpo moveu-se para o lado, dando espaço para que ele entrasse, não sem antes, claro, pedir licença várias vezes e desculpar-se ao mesmo tempo.A porta fechada foi acompanhada por um longo e cansado suspiro.

Ao contrário das outras vezes, ele não fazia ideia de como lidaria com Tosshi.

Continua...