Quantos anos sem postar nada aqui. Caramba! E nem achei que fosse voltar a postar, mas é que de uns tempos pra cá deu uma saudadezinha de escrever, e aqui estou eu com outra fanfic R/H. Mais um drama, claro. Espero que gostem, e comentem. Boa leitura!
Disclaimer: Nenhum dos personagens de Harry Potter me pertencem, blá, blá, blá...
Sinopse: Talvez aquele "adeus" não tenha sido para sempre.
O Estranho
Hermione Granger olhou para o relógio em seu pulso. Harry estava atrasado. Ok, ele sempre estava atrasado, mas vinte minutos era com certeza um novo recorde. Ela bebericou seu café, e olhou pela janela para as pessoas que passavam do lado de fora daquele restaurante no Beco Diagonal. Mais no fim da rua, a Gemialidades Weasley explodia em fogos e em clientes. Ela imaginou que os gêmeos logo teriam que expandir a loja mais ainda pra dar vazão a tantas pessoas. Era bom saber que o negócio deles estava prosperando tanto.
O sino na porta do restaurante, indicando que alguém estava entrando, tocou e Harry Potter entrou, caminhando em sua direção. O amigo se sentou do outro lado da mesa.
_ Você está atrasado_ Hermione disse seriamente.
_ Desculpe. Fiquei preso numa reunião.
_ Certo. Só não vou ficar brava, porque sei que foi promovido_ o rosto de Hermione imediatamente se suavizou e ela sorriu.
Harry fez uma careta. Não que não tenha gostado de ser promovido a supervisor dos Aurores. Por um lado, era realmente maravilhoso ser o Auror supervisor mais jovem a assumir essa posição em cem anos. Mas sempre odiou a ideia de estar num cargo que demandava tanto poder, primeiro porque estar na posição de dar ordens sempre o incomodou. Segundo, porque não se sentia de verdade pronto para isso. E terceiro, as coisas que sempre quis, não faziam mais tanto sentido quanto antes. O bom é que só assumiria o cargo em dois meses, depois que Aresto Dallas se aposentasse.
_ É, acho que é uma coisa boa_ ele disse dando de ombros.
_ Boa? É maravilhosa. Mas você não parece estar muito contente.
_ É muita responsabilidade, Hermione. Eu não me sinto realmente preparado pra isso_ Harry confessou, evitando os olhos da amiga.
_ Harry, se tem alguém preparado pra isso, esse alguém é você_ Hermione sorriu, o olhando com carinho_ Por Deus, você venceu Voldemort, salvou o mundo bruxo, salvou tanta gente...
Houve um momento de silêncio em que Harry ficou olhando pela janela e Hermione o encarando. Havia mesmo salvado muitas vidas quando derrotou Voldemort. Mas não havia conseguido salvá-lo...
Harry deu um suspiro, fez sinal para o garçom e pediu um café.
_ Bom, ainda faltam dois meses para o cargo ser realmente meu. Espero me sentir mais seguro até lá.
_ Não tem ninguém melhor que você pra isso. E imagina, daqui há alguns anos quem sabe, você se torna chefe dos aurores.
_ Vamos voar mais baixo, por favor.
_ Só estou dizendo que é o caminho natural.
Harry deu um pequeno sorriso, e Hermione ficou repentinamente séria. Precisava falar com ele sobre o motivo principal que a levou a marcar aquele encontro.
_ Hum, Harry, preciso te contar uma coisa.
_ O quê?
_ Bom, é que..._ nesse instante o garçom chegou trazendo o café de Harry. O jovem agradeceu e voltou a olhar para Hermione esperando que ela continuasse, mas a amiga parecia tensa.
_ Qual o problema? Você tá com uma cara estranha.
Hermione o olhou bem. Não sabia como contar a ele, e já imaginava como ele iria reagir. Mas sua mãe sempre lhe dissera que quando quisesse dizer algo difícil a alguém, o melhor era que dissesse de uma vez. "É como arrancar um band-aid, Hermione. Tem que puxar de uma vez". Ok então.
_ Elliot me pediu em casamento_ ela falou muito rápido, e Harry quase se engasgou com o café quente.
Os dois se encararam por alguns instantes, então Harry colocou a xícara sobre a mesa e sua voz se tornou estranhamente formal.
_ Suponho que pela sua cara de culpada, você tenha dito sim.
_ Não estou com cara de culpada, até porque não tenho que me sentir culpada por nada_ Hermione adicionou depressa, o olhando um pouco irritada_ E sim, eu aceitei.
Outra pausa.
_ Parabéns então_ Harry falou secamente, tomou outro gole de café e olhou para fora da janela. Hermione deu um suspiro.
_ Harry, por favor, não seja assim.
_ Não sei o que espera que eu diga.
_ Você é meu melhor amigo e eu preciso que me apoie. Não foi fácil tomar a decisão de aceitar. Preciso que fique realmente feliz por mim.
Harry voltou sua atenção para ela. Nunca iria entender Hermione. Tinha muita coisa que ele não conseguia mais entender.
_ Desculpe, Hermione, mas não posso fingir uma coisa que não estou sentindo.
Hermione o olhou, magoada. Mas ela sabia do que aquilo se tratava, do que Harry nunca conseguiria deixar para trás. Daquilo que o amigo nunca superaria.
_ Harry... Já faz quatro anos... Ele está morto_ Hermione sentiu seu peito se comprimir. Algo tentava sufocá-la toda vez que ela se permitia pensar nele. Ela respirou fundo tentando se controlar.
Harry de repente se tornou muito rígido, suas mandíbulas se apertaram, e ele deu o seu melhor para manter a voz uniforme.
_ Eu sei disso_ ele respondeu num tom mais formal do que antes.
_ Então... Então pare de agir como se ele fosse voltar há qualquer momento, porque ele... Ele não vai. Você precisa seguir em frente.
_ Eu segui em frente_ Harry se defendeu. Sentiu seu rosto esquentar de raiva. De indignação. De tristeza.
_ Seguiu mesmo?_ a jovem o analisou_ Harry, você só sai de casa pra ir trabalhar, nunca se diverte. E qual foi a última vez que foi a Toca?
_ Eu não sei o que uma coisa tem a ver com a outra.
_ Tem absolutamente tudo a ver.
_ Eu sou um cara ocupado, Hermione. O trabalho toma todo o meu tempo.
_ Não. Você se fechou. Você... Você parou de viver_ ela disse aquilo com tristeza. No fundo não sabia se ela própria havia continuado a viver ou apenas se forçado a isso.
_ Me desculpe então se não fiz as coisas direito_ Harry rebateu com ironia_ Talvez eu devesse ter tido algumas aulas com você, não é? Você parece especialista em superação. Afinal, superou o Ron tão rápido. E isso porque supostamente ele era o amor da sua vida. Bom, vá em frente e se case então.
Os dois se encararam por longos segundos. Hermione pareceu ter levado um tapa.
_ Isso foi um erro_ ela disse, se levantando e jogando alguns galeões sobre a mesa_ Nós conversamos quando você estiver agindo como uma pessoa sensata.
_ A gente tem uma opinião diferente sobre o que é sensatez_ ele falou sem encará-la. Hermione lhe deu uma última olhada, antes de dar as costas e sair do restaurante.
Harry suspirou. Ele terminou o café muito lentamente, então deixou o dinheiro sobre a mesa e foi embora.
Resolveu que o melhor seria caminhar um pouco pelo Beco Diagonal, esfriar a cabeça. Ainda tinha meia hora de almoço e não precisava voltar ao Ministério antes do horário como havia feito tantas vezes.
Um caixão vazio foi tudo o que restara. Nem sequer puderam lhe dar um enterro digno, Harry pensou. Não sabiam exatamente como havia acontecido. Em algum momento durante a batalha de Hogwarts, Ron ficou para trás duelando com Rodolfo Lestrange, enquanto Harry foi ao encontro de Voldemort. Quando finalmente o derrotou, e a batalha teve fim, Ron não foi encontrado em nenhuma parte do castelo, nem vivo nem morto. Procuraram muito, até que dois quartanistas da Corvinal disseram que o viram ser nocauteado por um comensal da morte que o atacou por trás, em seguida, Lestrange e o outro comensal desaparataram levando Ron e Draco Malfoy, que havia dado informações importantes sobre Voldemort e os Comensais para a Ordem da Fênix. O maldito Malfoy conseguira fugir dias depois e deixou Ron pra trás. O infeliz não pôde dar nenhuma informação útil, não a tempo pelo menos. E quando o outro Comensal da Morte fora capturado algumas semanas depois, ele confessou que haviam matado Ron e jogado seu corpo no mar. E Harry se contorcia de agonia toda vez que imaginava o corpo do amigo apodrecendo nas águas. Não era justo. Seu amigo merecia um enterro. Merecia que tivessem velado seu corpo e não uma foto na droga de um altar. Não, na verdade, Ron não merecia nada disso. O que ele merecia era estar vivo. Feliz. Ser um Auror ao lado de Harry, e quem sabe ser o cara com quem Hermione iria se casar. Isso sim era o justo. Enquanto caminhava, Harry passou as mãos nos olhos, enxugando as lágrimas teimosas.
Ele sabia perfeitamente bem que não havia seguido em frente. Mas toda vez que parava pra pensar a respeito, não sabia como poderia. Quer dizer, haviam se passado quatro anos. Somente quatro anos, e ele ainda teria a vida inteira para remoer a morte de Ron. Para viver com aquilo. Então como poderia seguir em frente sabendo que não importava o que ele fizesse aquela dor sempre estaria com ele? Tudo que ele poderia fazer era tentar levar sua vida da melhor maneira que conseguisse. E bom, aquilo, no momento, era o máximo que conseguia. Se Hermione superou Ron, se iria se casar com outro, bom para ela. Harry não iria fingir que tudo estava bem só para agradá-la. Não fez isso quando ela começou a namorar o "Ellidiota". Não faria isso agora. E talvez não fizesse isso nunca.
Hermione jogou sua bolsa com demasiada violência sobre a mesa do escritório que dividia com seu chefe no Ministério da Magia. Estava contente por ele ainda não ter voltado do almoço, precisava de um momento sozinha. E agradecia ainda mais de quase nunca cruzar com Harry pelo Ministério, não aguentaria a presença dele naquele momento. Se jogou em sua cadeira e suspirou. Por que Harry tinha que ser tão difícil? Será que era tão impossível torcer pela felicidade dela? Por Deus, eram melhores amigos, ele devia ser o primeiro a querer que ela seguisse com sua vida. Mas ao invés disso, ele só estava dificultando tudo. Toda aquela devoção desmedida a alguém que estava... que estava morto, e pra quê? No que isso mudaria as coisas? Em nada. Em absolutamente nada. Ele continuaria morto. Morto. O rosto dela se contorceu numa careta e ela nem sequer notou. Então olhou na direção da gaveta em sua mesa e sem pensar a abriu. Dentro, brilhava um colar com um pingente em forma de gota com uma minúscula letra R. Ela balançou a cabeça e fechou a gaveta rapidamente.
Estava fazendo aquilo de novo. Fazendo aquilo que se policiava todos os dias para não fazer. Estava relembrando. E ela sabia que aquilo era proibido. Era proibido, pois uma vez que ela trouxesse aquelas lembranças de volta, mandá-las embora seria inimaginavelmente difícil. Já havia passado por aquilo inúmeras vezes e sabia exatamente como era. Primeiro ela pensava nele, depois simplesmente não conseguia parar. E quando a dor a estava quase destruindo, ela tinha que encontrar um jeito de voltar à tona, e essa era a parte mais difícil. E foi assim até conhecer Elliot Daniels, há dois anos. De alguma forma, ele abrandou o sofrimento dela. Pôs um curativo em suas inúmeras feridas. E foi então que aquela sensação de torpor a tomou. E foi um alívio tão grande, que ela mal pôde acreditar. E era por tudo isso, que nunca, jamais, ela se atrevia a pensar nele. Hermione então fechou os olhos com força, respirou fundo diversas vezes e esperou seu coração se acalmar, esperou pacientemente a dormência voltar, para que ela pudesse continuar o que vinha fazendo no último ano; desfrutar aquela semivida.
Se havia uma coisa que Draco Malfoy sempre odiara, era o mundo trouxa. Odiava aquelas pessoas sem graça, desprovidas de magia. Odiava suas vidinhas comuns, sua falta de adjetivos interessantes. Sempre, sempre abominara cada trouxa existente na face da terra. Mas ainda assim, lá estava ele, andando entre essas pessoas, tentando conter a expressão de desprezo em seu rosto. Era muito irônico que o mundo trouxa fosse o único lugar onde ele poderia viver em paz. Sim, porque um simples passeio no meio dos bruxos se tornara um grande teste a sua paciência que nunca foi das melhores. Não conseguia mais socializar com sua gente. Não desde a morte de Ron Weasley. As pessoas não pareciam tolerar o fato, dele, um ex-Comensal da Morte ter sobrevivido, enquanto Weasley, o melhor amigo de Harry Potter, um herói de guerra, havia sido assassinado. Draco passou meses recebendo berradores por conta disso.
Ninguém levava em consideração que Draco havia mudado de lado e virado informante da Ordem da Fênix e dos Aurores. E é claro que ninguém acreditava que ele havia tentado ajudar Weasley enquanto os dois estavam presos naquela caverna horrenda. Ninguém acreditava que tentaram fugir de lá juntos. Potter e aqueles irmãos imundos de Weasley espalharam para quem quisesse ouvir que Draco, provavelmente tinha deixado Ron pra trás, enquanto corria para sua liberdade.
Mas Draco sabia a verdade. E a verdade é que ele e Ron Weasley fizeram companhia um ao outro enquanto estavam naquele lugar sendo torturados pela maldição Cruciatus e sendo alimentados com restos de comida. A verdade é que poderiam ter se tornado amigos se tivessem tido tempo pra isso. A verdade é que tentaram fugir, mas Weasley infelizmente ficou para trás, estava fraco demais, muito machucado e mal conseguia correr. A última coisa que disse a Draco_ enquanto podiam ouvir os gritos dos Comensais atrás deles_ foi para que corresse e buscasse ajuda. E foi o que Draco fez. Ele correu por aquele corredor de pedra, correu pela floresta que cercava a caverna, até ultrapassar os feitiços que os comensais jogaram no lugar e conseguiu a proeza de desaparatar, mesmo fraco, apavorado e com a varinha quebrada que conseguira roubar do pai de Crabbe na última hora. Só se deu conta do lugar onde tinha aparatado quando deu de cara com o grande portão de sua casa. Mal pôde acreditar na sua sorte quando imediatamente fora amparado por alguns aurores que estavam por lá, vigiando pra ver se algum Comensal da Morte apareceria.
E foi nesse momento que tudo foi perdido. Pois Draco desmaiou e só acordou 11 horas depois. E só então pôde dar a localização do cativeiro aos aurores e a Ordem da Fênix. Mas era tarde demais. Não havia mais ninguém na caverna quando os aurores chegaram pra tentar resgatar Weasley. E era aí que entrava a culpa de Draco. Se ele não tivesse desmaiado... Se tivesse dado a localização do lugar e desmaiado só depois... Tudo seria diferente. Ninguém o odiaria ou talvez as pessoas não o odiassem tanto. Ele poderia andar normalmente entre seu povo sem ser apontado na rua, sem ser desprezado como um cão sarnento. E o maldito Weasley estaria vivo.
Agora ele era obrigado a andar no meio de trouxas e reprimir tudo que tinha vontade de dizer a eles. Realmente havia caído muito baixo. Não tinha mais nenhum amigo, era obrigado a vagar longe de seu mundo, sua mãe estava morta e de seu pai ele queria distância. Não tinha ninguém. Estava longe de ser até mesmo a sombra do Draco Malfoy que fora um dia. E não via como isso poderia melhorar.
Deu um longo suspiro e parou em frente a um pub trouxa. Suas noites eram mais ou menos iguais: um pub trouxa por noite, e muito, muito desapontamento com si mesmo. O pub dessa noite, ele não conhecia. Nunca tinha estado nele, mas não achava que pudesse ser melhor que os outros que visitara. No fim, era apenas um estabelecimento trouxa, então não podia ser melhor que um pedaço de merda. Deu outro suspiro e entrou no lugar.
Não estava muito cheio. Havia umas mulheres bêbadas num canto, alguns gordos jogando sinuca e gritando em outro canto, e ninguém que valesse a pena um pingo de sua atenção. Ele caminhou até o bar e sentou num dos bancos em frente ao balcão. Revirou os olhos ao ver o barman de costas, mexendo em algumas garrafas de bebidas nas prateleiras.
_ Uma vodca com gelo, por favor_ Draco pediu sem esperar o barman se virar.
Ele se voltou para as pessoas no estabelecimento, e ficou pensando se seria mal interpretado se começasse a vomitar. Se apenas o lugar fosse nojento, ele até poderia aceitar, mas as pessoas também precisavam ser? Mas é claro, não poderia esperar nada melhor daqueles trouxas imundos. As coisas que ele era obrigado a fazer para ter o mínimo de paz. Ouviu o barulho do copo sobre o balcão e soube que sua vodca havia sido servida. Se virou para pegar o copo, mas quase caiu do banco quando deu de cara com o barman que finalmente estava de frente pra ele.
Não era possível, não podia ser possível.
Parado à frente dele do outro lado do balcão, havia um rapaz alto e muito ruivo. As sardas subiam pelos seus antebraços expostos e terminavam naquele rosto estranhamente, morbidamente familiar. Os olhos azuis eram os mesmos, o nariz comprido também. Draco engoliu em seco, enquanto encarava de olhos arregalados o homem a sua frente.
_ Algum problema, amigo?_ o rapaz ruivo perguntou, o olhando com curiosidade.
Era a mesma voz, um pouco mais grossa, mas ainda assim... Draco fechou os olhos com força. Só podia estar ficando louco. Pensava tanto no passado, que agora estava vendo coisas, sendo assombrado por ele. Quando abrisse os olhos o barman seria totalmente diferente... Porque simplesmente não era possível. Mas quando o fez, seus olhos voltaram a se arregalar. Não estava louco, não estava tendo alucinações. Ali, parado à sua frente, o encarando preocupado e curioso, estava...
Ron Weasley. Vivo.
N/A: Espero que gostem. Até o próximo capítulo. Bjks!
