Lily fechou os olhos pela terceira vez seguida, bufando irritada e sentindo que alguém lhe chutava de leve por baixo da farta mesa da Grifinória, no salão principal. Ouvindo Alicia e Lucy suspirarem, uma de cada lado, ela afastou o prato de aveia que tinha a sua frente e meteu a cara na mesa.
– O que quer, Potter? – gemeu ela – Você já está me chutando a mais de meia hora!
James Potter, sentado imediatamente em frente a sua ruivinha e tendo os 4 outros marotos festeiros ao seu lado, sorriu para o topo da cabeça de Lily. Não era a primeira – e nem seria a última – vez que eles brigavam logo de manhã. Ou, melhor, que Lily brigava com ele logo de manhã.
– Você fica puxando assunto... e ainda diz que não me ama!
– Por Merlin, vocês dois. – exclamou Alicia, exasperada, ouvindo a amiga (ainda com o rosto na mesa) soltar outro gemido triste – É sempre a mesma coisa, todos os dias, desde o café. Será que você ainda não se tocou que ela te odeia?
– Hey, 'Licia... – chamou Angely Nelly, que estava ao lado de James. Ela era a única garota entre os marotos, mas não deixava de ser tão desajuizada quando qualquer um deles – É melhor você se conformar que no minúsculo dicionário do Pontas nunca existiu "cai fora, Potter".
– Nelly – interrompeu Lily, cansada – De que lado você está? Deveria convencê-lo a largar de uma vez por todas do meu pé.
Lucy se levantou, passando as mãos pela saia, ajeitando-a. Ela era a garota mais cobiçada de Hogwarts, com seus cabelos compridos e loiros, olhos azuis faiscantes, pele branca e medidas generosas que arrancavam suspiros e olhares até de Sonserinos (maus, mas não cegos).
– Nenhum de nós dormiu a noite, por culpa daquela história da poção para cansar a Lily. – James corou, enquanto Sirius revirou os olhos e olhou para Angely por traz do amigo. A garota, com seus incomuns olhos alaranjados e claríssimos, apenas deu de ombros. Estavam naquela situação a mais de três anos, mas Pontas simplesmente não conseguia entender quando era hora de desistir. Mesmo sendo muito bonito com seu cabelo negro bagunçado, com seus olhos caramelados por trás das lentes dos óculos redondos, ele não encarava com normalidade um "não". E, no caso, encarava pessimamente mal um número incrível deles vindos da mesma garota.
Remo Lupin – curiosamente mais um dos marotos – fechou o livro que tinha em mãos violentamente, com a intenção de chamar a atenção de todos para si (algo que deu totalmente errado) e bufou. Ia falar alguma coisa, mas se deteu ao olhar para o prato que Lily empurrara. A ruiva nem tinha tocado nele – exatamente como no jantar na noite passada – e quando ela levantou a cabeça, inspirou o ar com força prestes a gritar contra James, que se encolheu. Mas o grito não veio.
– Quer saber, Potter... – murmurou ela com a voz amarga, rouca, se levantando com a ajuda das amigas – Apenas vá para o inferno, você e seu ego irritante. Se couberem lá, o que duvido.
E se afastou a passos lentos da mesa.
– Sabe... – Sirius franziu a testa, observando Lily andando para longe da mesa com as amigas – Não que eu não agradeça por ela não ter gritado, mas parece que sua ruiva está realmente muito mal. Nunca a vi assim antes, nem quando o Pontas a azarou por engano e a fez sangrar pelo nariz no primeiro ano, lembram?
– O que você esperava? – exclamou James, exasperado, passando a mão impacientemente pelos cabelos – Meu plano era cansá-la e passar o dia ajudando-a a carregar suas coisas, mas me descobriram. – e, parecendo muito irritado – Raio de Orelhas Extensivas. Agora que foram destruídas, daqui a uns anos vão construir iguais dizendo ser algo novo e nunca visto antes em parte alguma. Perdemos nosso espaço no mercado, Almofadinhas.
– Não, não, James. – interveio Angely, calma – Sirius, Remo e eu trocamos a poção ao percebermos que Lily ia se encher de acne quando o cansaço passasse, então não é isso. Só o que planejamos dar a ela foi água com adoçante barato, sendo que ainda nos descobriram antes.
– E antes que você possa reclamar, - continuou Remo ao ver Pontas com uma cara de indignação – eu tive participação nisso, tentei te avisar sobre o que aconteceria a Lily. Mas, cara, você tava tão fascinado com seu plano perfeito que nem me ouviu.
– E a Evans não comeu nem hoje e nem ontem. – observou Peter Pettigrew, o talvez mais deplorável dos marotos, de boca cheia.
Angely, porém, fez sinal para que ficassem em silêncio e sentou-se mais reta no banco, colocando o cabelo negro como a noite atrás da orelha levemente pontuda e afastando a franja dos olhos. Angel já havia sido eleita como a segunda mais bonita do colégio, mas não apenas por sua beleza exótica: ela era alegre e simpática com boa parte do alunos e professores, e tinha uma aura de mistério cercando-a, além de seu rosto bonito, cílios compridos e corpo de formas delicadas. Seus sentidos eram tão aguçados que em geral ela percebia muitas coisas antes dos outros – característica que estava agindo no presente momento.
– Pontas, corra para o saguão de entrada agora! Estamos logo atrás de você.
James, sem contestar as palavras da amiga, levantou-se. Alarmado, saiu em disparada salão a fora com os amigos preocupados em seu encalço, imaginando o que acontecera. Quando Angely dava conselhos que não fossem enigmas era porque a situação estava um tanto quanto complicada.
– Lily! – berrou Pontas teatralmente ao adentrar o salão principal. A ruiva estava caída a alguns passos da escada de mármore, desmaiada e com Lucy e Alicia, petrificadas, ao seu lado.
– Potter! – exclamou Alicia em resposta, estupefata, vendo os marotos parados ofegantes a porta. Alicia era alta e magra, de cabelos castanhos e crespos que chegavam nos ombros, olhos levemente esverdeados e face bonita. Ela era um garota gentil, mas fácil de se zangar – Potter, ela estava falando e de repente desmaiou, não sabemos o que...
– Pára! – cortou Pontas, bagunçando os cabelos e tomando Lily em seus braços agilmente – Depois você explica, vamos levá-la lá pra cima.
James, enquanto subia as escadas com cautela, observava atentamente o corpo inerte que tinha junto dele. Lily tinha o rosto ainda mais delicado que o de Angel e o corpo mais bonito do que o de Lucy, embora não tão voluptuoso como o da amiga. Sob as pálpebras fechadas, olhos lindíssimos cor de esmeralda brilhavam no rosto de Lily, seus cabelos ruivos flamejantes contrastavam com sua pele branca de um jeito encantador.
– Alicia, Lucy, porque não vão chamar madame Pomfrey? – sugeriu Angely de repente – Seria mais útil do que ficar chorando em cima da Lily.
– Não. – respondeu Lucy firmemente, fechando a cara – Vá você, e carregue o Sirius contigo. Vai ser o único jeito de ela concordar em vir.
– É. – assentiu Remo ao ver Sirius corar – Angel, Almofadinhas, vocês vão chegar a enfermaria antes que James chegue aos dormitórios se forem do jeito anjo de ser... – e piscou para Angel, que fez um gesto de displicente concordância e parou com Sirius ao seu lado, esperando que os outros se afastassem.
– Huhum... – pigarreou ele, quebrando o silêncio que se formara entre os dois enquanto esperavam os outros ficarem fora de vista – Angel, sobre ontem a noite, eu realmente não queria ter dito aquilo.
– Tudo bem! – riu ela em resposta, empurrando o amigo de leve – É compreensível que um bruxo tenha ciúmes de meus poderes superiores enquanto meia elfa.
– Há! – exclamou Sirius, fingindo uma risada estridente – Vejo que ainda não entendeu, pardalzinho! O único ser superior que existe aqui sou eu e minha beleza incomparavelmente única.
Angely revirou os olhos. Ela detestava ser chamada de "pardal", mas sabia que não era maldade do amigo e, enquanto esperavam o barulho dos passos dos outros cessarem, ela lembrou de como era difícil ter de viver entre a raça de seu pai, os bruxos, quando na verdade herdara alguns dos principais dons de sua mãe já morta e desenvolvera algo bastante incomum: asas. Simplesmente asas, brancas e compridas como a de um anjo, que lhe brotavam das costas e eram seu maior segredo – e era o fato de esconder descendência e dom que a tornava uma marota, porque aquele grupo era só para quem tinha muito para esconder e mais ainda para aproveitar.
– Vamos rápido, Angel. – sussurrou Sirius envolvendo a cintura da amiga com os braços firmemente e abraçando-a, enquanto ela tirava a capa e mostrava estar com uma blusa aberta na parte superior das costas, podendo assim colocar as asas para fora da carne sem rasgar tudo – Só não me deixe cair! Podemos voar acima do chão, ali no meio entre as escadas, viu? Contamos os lances por quais passamos e logo estaremos na enfermaria, vamos lá.
Sentindo o coração disparado de Sirius contra o seu e tendo o próprio batendo rápido demais pela proximidade dos dois, Angely fechou os olhos e permitiu o crescimento das asas, batendo-as com força e alcançando vôo silenciosamente.
oOo
– Mal! – bradou James, ainda carregando Lily – Ela está muito mal! Começou a ficar gelada, precisamos chegar aos dormitórios e rápido!
– Calma, Pontas. – alertou Aluado, embora não conseguisse esconder sua própria preocupação – Foi só um desmaio.
– Você não parece estar convencido disso. – resmungou Lucy em resposta.
Entre os marotos, Aluado (ou Remo Lupin) era o mais inteligente e responsável – para não dizer que era o único. Ele tinha os olhos castanhos, cabelos da mesma cor: um cara bonito quando a lua-cheia estava longe e, sendo um maroto, Remo também tinha um segredo – e o seu era sem dúvidas o mais terrível entre todos.
Lupin, quando era tão jovem que lhe era difícil lembrar de outras coisas além do dia em que foi mordido, tinha a inconseqüência que nos acompanha no inicio da vida – e às vezes se estende pelo resto dela, como era com Sirius, James e Angely – e portanto não se importou com os avisos da mãe sobre os ataques de lobisomens que assolavam o vilarejo onde moravam. Naquela noite, Remo estava sem sono: seu cachorro cor de neve se perdera na floresta perto dali e não voltava já havia dois dias. Então ali, se revirando em meio aos lençóis ásperos, Remo ouviu um uivo seguido de latidos e correu para fora da casa, percebendo, com uma alegria afetada pelo medo de um monstro meio homem e meio lodo de aparência malignamente feroz, sedento por sangue, que seu cachorro voltara.
E por Remo agora ser um lobisomem, e isto ser um segredo absolutamente terrível que entre alunos só os marotos (e, talvez, Lily) sabiam, ele era amigo de pessoas tão diferentes dele mas que o adoravam como era, sem máscaras ou aflições.
– A-L-U-A-D-O! – berrou James pela terceira vez, mas agora bem no ouvido do amigo que se sentara na poltrona do salão comunal da Grifinória sem ter consciência disso – Será que dava pra voltar pra Terra? Isso não é hora de fazer jus ao seu apelido!
– Desculpe, Pontas. – apressou-se Lupin a absolver-se de mais broncas, balançando a cabeça – Onde a Lily está?
James, com uma expressão desesperada, apontou para o sofá confortável em frente a lareira, onde uma cada vez mais pálida ruivinha fora gentilmente colocada. Suspirando, Remo foi até a garota e constatou que ela estava com febre.
James, se largando na poltrona e sentindo a pontada de preocupação se intensificar, fixou os olhos em seu lírio. Ele vinha de família rica, amava quadribol com uma intensidade quase louca e era um orgulhoso metido a gostosão desde que nascera, e era por isso que sua doce Lily nunca aceitava os convites dele – por achar que James queria usá-la e jogá-la fora, como fizera com outras.
E, no começo, era assim mesmo. Depois do primeiro fora que tinha ganho na vida vindo exatamente da ruiva com quem brigara desde o primeiro dia de escola, Pontas decidiu que a conquistaria a todo custo, e apenas para mostrar que era "bom demais para ela". Mas a obsessão misturada com o ego ferido logo o fez sentir algo diferente de tudo o que já sentira, e foi ao saber que Lily estava saindo com um idiota da lufa-lufa, alguém com o nome próximo a Digory, que ele teve de admitir (e apenas para os marotos): estava verdadeiramente apaixonado pela ruiva.
Mas Lily respondia os convites e declarações marotas de James com gritos, objetos pelo ar e insultos não tão falsos – e ele só conseguia amá-la ainda mais, sempre pensando em como fazê-la ver que era sincero. De repente, porém, alguém o chamou com uma voz arfante, tirando-o do devaneio em que mergulhara...
oOo
– Madame Pomfrey! – chamou Sirius logo que ele e Angel entraram na enfermaria com seu jeito escandaloso e galanteador. Pomfrey estava sentada em uma cadeira, cochilando, e acordou assustada com o som da voz de um de seus queridinhos – Madame Pomfrey, que bom vê-la! Temos uma emergência no salão da Grifinória, a Srta. Evans desmaiou e parece mesmo estar mal. Não tivemos como trazê-la até aqui, claro, James não agüentaria tanto nem se o ego dele viesse a tona para ajudar.
– Evans? – Madame Pomfrey se levantou de um salto da cadeira, correndo até uma bacia com água e resmungando alguma coisa – Sim, me levem até ela. O professor Dumbledore me deu ordens diretas para ter um cuidado especial com essa menina.
Sirius, sabendo que se perguntasse o que havia com Evans não obteria respostas, saiu correndo em disparada seguido por Madame Pomfrey e, logo atrás dela, Angely, que ele sabia que no fundo estava chateada. Convivia a seis anos com aquela elfa maluca, como ele carinhosamente a chamava em pensamentos quando não entendia nada de seu comportamento, mas no começo do ano passado começara a corar diante do olhar dela, e era só chegar perto, ou tocá-la, para que seu coração disparasse. Sem contar a raiva que sentia queimar dentro de si vendo outro garoto sorrindo pra ela, olhando pra ela. Era tudo tão estranho, Sirius simplesmente não sabia o que estava acontecendo... Mas, na noite passada, muita coisa incidiu-se de uma vez só e ele acabara dizendo o que não deveria ter dito...
Flash Back
Sirius olhou pela janela com um sorriso maroto logo que os últimos quintanistas saíram, sonolentos, da sala comunal: agora os marotos poderiam conversar abertamente.
– Hey, Almofadinhas. – chamou Angel com um tom de deboche antes que qualquer um tivesse oportunidade de falar alguma coisa, logo depois de ouvir a porta do dormitório do quinto ano se fechar. Ela estava sentada preguiçosamente na cadeira, os cabelos negros caindo pelo rosto de modo rebelde – Quando eu fui atrás do Professor Slughorn, vi uma sonserina chorando a um canto das masmorras, e quando ela me viu baixou a cabeça e passou ao meu lado. Eu, claro, curiosa para saber o motivo das lágrimas venenosas dela, aproveitei e esbarrei na menina para ver se encontrava alguma evidência pras minhas suspeitas. – ela gargalhou gostosamente antes de continuar, com lágrimas penduradas em seus cílios – Por sorte a mochila dela estava aberta e tudo foi ao chão quanto nos chocamos... Bom, não importa muito. Olha o que caiu do bolso que tava aberto. – Angel estendeu uma folha para Sirius, que se inclinou para frente a fim de pegá-la. E, quando fitou o papel, primeiro enrubesceu e depois ficou branco.
– Angel... - chamou Remo com um sorriso intrigado para amiga, que se engasgava de tanto rir – Quem era a menina? E o que nessa folha?
– Não é uma folha, Aluado. – explicou Angel entre arfadas, secando as lágrimas e tendo outro ataque de riso – É uma foto, e a sonserina dona dela é a Bellatrix Black, aquela prima estranha do cachorro aí.
Sirius se levantou de um salto, correndo em direção a fogueira e com o papel em mãos, mas Angel foi mais rápida e, com um salto felino, pulou pra cima de Sirius jogando ambos no chão.
– Nem pense em queimar essa preciosidade, Don Juan. – exclamou Angel, em cima de Sirius e olhando-o nos olhos com ferocidade. Ela pegou a foto com facilidade e guardou-a no bolso, mas quando ia levantar Almofadinhas a deteu, segurando seus braços contra o peito dele.
– Está com ciúmes?. – sussurrou ele com sarcasmo.
Angel encarou Sirius por um segundo antes de soltar uma gargalhada cheia de deleite, se soltando do amigo e ficando de pé, triunfante, olhando fixamente para os três marotos que estavam sentados, rindo. Os dois se engalfinhavam com freqüência, e cada vez era mais engraçada que ao outra.
– Pontas? – Rabicho cutucou James enquanto Angel chegava mais perto deles, e Sirius continuava imóvel no chão. Mas Pontas estava longe, com o olhar perdido e uma ruga entre os olhos – Você viu tudo ou perdeu o primeiro round da semana?
– Vi sim. – respondeu ele, balançando a cabeça e sorrindo forçadamente – Mas o que raio há nessa folha?
Angel virou a foto para os amigos, e Sirius gemeu. Por um momento todos ficaram paralisados de espanto, mas logo a sala se encheu de risadas: a imagem que estava no papel mostrava Sirius e sua prima, Bellatrix, envolvidos em um beijo particularmente empolgado (a foto mostrava os movimentos de ambos, o que tornava as coisas ainda mais constrangedoras).
Pontas imediatamente começou um coro de "você me pegou, mas perdeu meu endereço e me esqueceu... me sinto tão só nesse vazio sem seus braços fortes pra me abraçar, sem sua saliva pra me afogar", ao que Angely se contorceu de rir e tentou acompanhar com certa dificuldade, entre os risos histéricos de todos.
– Seus lesados, calem a boca! – resmungou Sirius em um tom de raiva.
Aos poucos os marotos foram se aquietando (muito aos poucos), mas Almofadinhas continuou estirado no chão em um protesto emburrado, ou talvez só estivesse tentando esconder seu rosto ruborizado. Pontas, aparentemente ainda não satisfeito o bastante, pediu silêncio com gestos bruscos e alguns tapas na cabeça de Rabicho.
– Não sabia que cabelos sebosos eram o seu tipo, Almofadinhas! – exclamo ele, secando as lágrimas do riso – Desde quando tem um caso com ela?
– Eu não tenho! – defendeu-se Sirius entre dentre, ficando finalmente de pé – Isso foi uma maldita aposta!
– Sério? – desdenhou Angel, voltando a se largar na poltrona – Não foi o que a Bellatrix achou, garanhão. Ela estava acabada, realmente desnorteada sem você e seu amor disfarçado ao lado dela!
– Ahá! – exclamou Pontas com os olhos brilhando – Se o ódio de vocês se transformou nesse beijo ardente, cara, nem tudo está perdido pra mim.
– Podem parar! Se a Bellatrix gostou (o que não é de se espantar, eu sou absolutamente inesquecível), isso não nada a ver comigo.
Pontas voltou a ficar sério lentamente, e Aluado aproveitou a situação. Ele encarou Angel firmemente, tentando disfarçar um sorriso de deboche.
– Por falar em beijos e romances secretos, Angel... – começou ele saboreando as palavras – O que tanto aquele Onely, da Corvinal, queria com você? Eu os vi conversando perto do lago ontem a tarde, quando nós todos deveríamos estar na biblioteca e você não foi.
– Paier Onely, Angely? Pensei que você estivesse com o Hagrid! – exclamou Sirius, levantando da cadeira em que acabara de se sentar como se esta fosse elétrica – Ele é o capitão do time de quadribol da Corvinal e está no mesmo ano que nós, não é?
– Hmm... – Angel corou levemente e soltou um pesado suspiro – Olha, não entendam mal, ele apenas queria conversar porque vinha me observando a algum tempo e acabou ficando... é... interessado. – ela fez uma pausa e mordeu o lábio apreensivamente – E está decidido a me convencer a ir a Hogsmeade com ele.
– É mentira! – protestou Sirius – Se ele quisesse convidar, convidava e pronto! Pra que conhecer antes?
– Não sei se isso vai caber na sua cabeça, Almofadinhas, mas garotas que tem a cabeça no lugar não saem com quem não confiam, gostam de alguma forma ou apenas simpatizam. – respondeu ela, ao que Pontas começou a prestar atenção – É legal da parte dele querer ver se nos damos bem antes de sair me agarrando, sabia?
– É isso! – berrou James, levantando da cadeira com um brilho psicopata nos olhos e interrompendo o que Sirius ia dizer – Eureca! Se eu mostrar pra Lily que quero sair com ela porque gosto dela, me importo com ela, então ela vai ver que minha intenção não é fazê-la de troféu!
– Minha nossa, Pontas. – aprovou Remo com um sorriso – Finalmente você mostrou que não é tão burro quanto parece!
– Claro! – ele fez um expressão concentrada, pensando freneticamente – Vou me aproximar dela e mostrar meu lado legal, mas como?... – e, estralando os dedos – Sim! Vou dar a ela uma poção de Tireus, aquela que deixa a pessoa cansada e sem forças! É, vou passar o dia ajudando-a em tudo...
– Ah, Merlin. – os sorrisos de Lupin e Angel se apagaram, e ela soltou um resmungo desapontado – Ok, percam as esperanças, ainda é o James Potter que está tentando conquistar Lily Evans.
– Pontas, não é uma boa idéia. – interveio Remo – A Lily vai ficar com acne quando o efeito da poção passar, sem contar que quando ela descobrir que a culpa é sua... vai ser o fim.
– Angel, Almofadinhas e Aluado, vão na mala que escondo debaixo da minha cama e peguem a poção com o vidro transparente de tampa azul! – mandou James sem ouvir meia vírgula do que Remo dissera – E rápido! Vamos executar a missão essa noite, agora!
Os três se entreolharam, e instantaneamente se voltaram para Rabicho, que adormecera na poltrona. Dando de ombros, Remo subiu as escadas seguido de Angel e Sirius.
– Você tem alguma idéia, Aluado? – perguntou Angely quando chegaram no dormitório – Pontas não vai nos ouvir.
– É por isso que seremos obrigados a destruir o plano dele. – concordou o maroto remexendo na mala que James mencionara – Vamos trocar os vidros, assim. – ele pegou o frasco de tampa azul e depositou o conteúdo em outra garrafa vazia. Depois, pegou a jarra de água perto da janela e despejou seu conteúdo onde deveria estar a poção que Pontas queria, ficando de pé com pressa – Pronto, peguem essa jarra de água e levem com vocês. Eu vou na frente.
– Ok, Aluado. – aprovou Sirius ao ver o amigo fechar a porta. Ele se virou para Angel, que estava encostada na parede, e aproximou-se dela, prendendo-a com seu braço – Nelly. Você por acaso está apaixonada – ele fez uma cara de nojo – pelo Onely tapado?
– Não seja ridículo, Sirius, é claro que não. – respondeu ela, incomodada – Vamos, afaste-se de mim. Temos que ir lá ajudar o Pontas.
– Então qual é o problema? – gritou ele, e fechou os olhos. Era melhor tentar não se exaltar, afinal só estava protegendo uma amiga de um aproveitador que queria roubar informações do time de quadribol! – Não pega bem pra você ficar de conversa na beira do lago com o capitão adversário. Você joga na Grifinória, o que acha que vão pensar?
– Que eu tenho sorte? – sugeriu ela, ficando séria – Já chega, você está começando a me ofender.
– Há-há-há. – desdenhou Sirius, percebendo tarde demais que perdera o controle de si mesmo – Uma meia-elfa como você não pode ser ofendida tão facilmente, porque tenho certeza que você já ouviu coisa pior por não ser uma bruxa igual aos outros mas viver entre nós.
Angel fechou os punhos e encarou Sirius, que se afastou dela ao receber um choque incômodo. Em um silêncio que feriu mais do que qualquer azaração, a garota encontrou uma segunda jarra de água e alguns copos, pegou a varinha e os fez voar em frente a si saindo do quarto e voltando ao salão comunal, deixando um Sirius muito atordoado para trás.
Fim do Flash Back
– Osso de diabrete. – sussurrou Angel para a mulher gorda ao perceber que Almofadinhas estava perdido em pensamentos. Ao som da voz da amiga, porém, ele voltou a realidade e atravessou o retrato apressadamente, liderando o grupo.
– Pontas! – berrou ele ao ver o amigo sentado numa poltrona com uma expressão perdida e agoniada, observando que Remo tinha a mão na testa da ruiva – Como a Evans está?
– Eu não sei... – começou James, ficando de pé e sendo abruptamente cortado por Madame Pomfrey.
– É claro que não sabe. – resmungou ela se aproximando de Lily e colocando dois dedos no pescoço dela – Senhorita Nelly, por favor. Abra meu estojo, peque um frasco vermelho e gaze. – Angel concordou com um aceno positivo e logo já estava ajudando a curandeira sob os ávidos e preocupados olhares de todos os presentes quando, de repente, Aluado gritou.
– Por Merlin! – exclamou ele, alarmado – Perdemos o primeiro tempo de Transfiguração!
Madame Pomfrey olhou fixamente para Remo, que corou. Sirius, percebendo que ela estava ocupadíssima com Lily, suspirou e escondeu rapidamente um sorriso maroto.
– Madame, não se importaria de deixar-nos aqui até que a Evans acorde, não é? Estamos todos muito preocupados com ela.
– De fato, até que ela acorde, poderão ficar. – respondeu ela, levantando enquanto Angel guardava seus pertences – Porque, vejam só, ela já acordou.
E era verdade. Lily se sentou do nada, com a cor e a vitalidade recuperadas, e perguntou firmemente: – Quantas aulas perdi?
Os marotos, Alicia e Lucy riram, aliviados, e se ajoelharam em frente a ruiva. Ela se sentia extremamente melhor que antes, mas continuava um tanto atordoada e, ao ver James em frente a si, ela levantou de um salto.
– Meu Merlin! – exclamou ela, jogando os vivos e macios cabelos para trás com impaciência – O que está fazendo aqui, Potter? – e, olhando em volta e vendo os marotos – Aproveitando a oportunidade de cabular transfiguração?
– Na verdade, meu Lírio... – começou Pontas, sorrindo de modo sedutor e sendo cortado por um bufo de Lily.
– É Evans, Potter, EVANS!
– Certo, Lily. – concordou ele alargando ainda mais o sorriso – Mas fui eu que te trouxe até aqui em cima.
– Ele estava preocupadíssimo. – acrescentou Sirius seriamente, recebendo uma cotovelada de um Pontas completamente ruborizado.
Madame Pomfrey pigarreou. Ela estava segurando o retrato em um gesto claro de autoridade: transfiguração os esperava.
– Vamos, garotas. – chamou Lily, puxando as amigas pela mão e saindo do salão comunal com elas.
– E vamos nós também. – mandou Remo de modo autoritário, ignorando os protestos dos amigos – E sem reclamações. A prof. Minerva já deve estar bem irada conosco. – Angel passou o braço pelos ombros de Rabicho e Aluado enquanto andavam, ligeiramente atrás de Lily e suas amigas, em direção a sala onde teriam transfiguração.
– Vocês dois estão emanando energias diferentes, sabiam? – exclamou ela, risonha, ao que Sirius e James começaram um coro de "hu-hu-hu" e assovios. Rabicho e Aluado coraram violentamente – Será que estão apaixonados? – ela soltou os dois e rodeou Lupin, que fez uma careta engraçada – Aluado, vamos a você primeiro: tenta agir naturalmente, mas sempre que uma certa loirinha sorri, você cora. E quando começamos a discutir sobre o próximo a levar um fora dela, você arruma um livro para se esconder...
– Às vezes lamento terrivelmente o fato de ter voce como amiga. - resmungou ele.
– Não diga que ia esconder isso de nós, lobinho? – brincou James num tom falsamente magoado – Achei que não tínhamos segredos!
– E você, Rabicho... – continuou ela, voltando a andar entre Lupin e James – Faz um bom tempo que nada diz a ninguém, e some a maior parte dos fins de semana. Se você não fosse tão estranho diria que arrumou uma namorada.
– Existe louca pra tudo nesse mundo, Angel! – riu James – Se alguém é capaz de ficar com o Sirius, qual é o problema com o Rabicho?
Peter corou e baixou o olhar, encarando o chão e ignorando as vaias dos amigos e uma série de "elogios" gerais entre James e Sirius. Quando se deu por satisfeito, Pontas perguntou de modo distraído: – Mas até agora não foi explicado o grito do Almofadinhas! O que aconteceu ontem a noite entre vocês, hein? Podem ir falando, cachorro e fênix, porque não vou descansar enquanto não saber.
– Eu quebrei a jarra por distração e o Sirius berrou com o susto. – mentiu Angel de um modo tão convincente que fez Almofadinhas pensar se saber mentir era característica élfica.
– Ahm... – fez James, vagamente, acreditando em Angel e voltando a olhar para a ruiva que amava com tanta intensidade. Ela estava logo ali, mas na verdade os dois não poderiam se encontrar mais distantes um do outro – Gostaria de poder ouvir o que a Lily fala de mim.
