Presente

Dedos magros e compridos batiam irritados sobre o teclado prateado do laptop.
Ao lado, uma xícara de açúcar com café; já que se via claramente o montinho arenoso manchado de um singelo marrom.
Os pés pálidos sobre a cadeira de couro, onde um dedo sobrepujava o outro nervosamente.
As imagens na tela pareciam ir e vir, sem algum contexto interessante pelos olhos escuros.

Nada de interessante.
Ou a espera pelo bolo que pedira por telefone , a mais ou menos meia hora atrás, se tornava exaustiva.

Além de sentir a abstinência corroendo cérebro, estômago, pele, olhos.
Não. Ele diria que era a causa da falta de glicose no sangue.

Esperou alguns minutos; sempre voltando o rosto na direção da porta, na esperança de ver Watari com o doce em mãos.
E mais dez minutos, nenhum Watari e nenhum doce havia passado pela entrada.

Levantou apressando os movimentos, prestes a correr atrás do senhor que lhe servia, e mandá-lo comprar um maldito bolo, em qualquer maldito lugar que não atrasasse esse maldito tempo todo.

L nunca fora alguém de fácil irritabilidade, mas o caso, era de desespero.
Precisava suprir sua abstinência.
Ou como ele perferia dizer, aumentar as taxas de glicose.

Mais do que nunca, precisava do doce.

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O olhar de repente se transformou em contemplativo ao ver o velho segurando cuidadosamente o embrulho.
Tomou habilmente o pacote cor de rosa.
O sorriso mostrava toda a excitação por apenas, imaginar o doce.
Se o embrulho era assim pesado, teria válido a pena da torturosa espera.

A ansiedade percorria cada nervo, fazendo as mãos correrem desesperadas, na tentativa de rasgar o papel bem lacrado.
Ao fim, o papel rosa estava desfeito e rolando nos pés descalços.

E num ato rápido e sem qualquer cerimônia, abriu a caixa de papelão branco.

Os olhos cresceram repentinamente, a boca se entreabriu e deixou escapar um leve urro.
A caixa se desvencilhou das mãos e caíra no chão espelhado.

E a cor vermelha e grossa se apoderava do espaço ao redor da caixa.
O conteúdo despejado no solo, de forma brusca, mostrava o seu formato, cor e cheiro acre.
Ainda era capaz de ver as artérias azuladas, os ventrículos, as fibras; sinal de que fora arrancado recente.

L ainda parecia soluçar com o susto, e com certo asco analisava o coração humano. Percebeu um papel costurado na carne.
Agachou, ainda entre o perplexo e assustado; e leu claramente:

"Happy Valentine's Day, L"

- B

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Notas: Foi um lapso de idéia.

E que presente interessante e romântico, não é?