N/A: Esta fic foi escrita para o concurso "O observador", do Though the Rain, http://rain.grimmauld-place.org, e teve como fonte de inspiração a série Instantâneos, de White Cat, uma belíssima série de contos de Yuyu Hakusho, recomendadíssima para fãs da série.

Harry: Só não vê quem não quer!

Nem embarcamos no trem ainda e eles já estão discutindo. Eu suspiro, enfadado, já imaginando o que terei que assistir no decorrer da viagem. Mas eu já imaginava que seria assim. Vi o quanto Ron se ofendeu pelo fato dela ter ido visitar Victor Krum na Bulgária durante as férias em lugar de ir visitar A Toca. A maneira como ele recebeu a notícia naquela carta carinhosa que ela lhe enviou, ignorando todo o resto e fixando-se apenas na parte onde ela informava que iria recusar o convite por que iria para a Bulgária. Fui testemunha do quanto ele ficou furioso e de como rasgou a carta em pedacinhos, passando dois dias inteiros num mau humor insuportável.

Obviamente que a primeira coisa que ele fez quando a reencontrou na estação foi dar-lhe uma agulhada, a qual ela prontamente respondeu, cheia de farpas e eu, constatando aqui comigo, que o fato dele ter cumprimentado Luna Lovegood daquela maneira tão gentil quando nos aproximávamos dela não explicaria a razão para tantas farpas.

Eu não posso acreditar que eles não notem, que não se liguem no papelão que fazem batendo boca o tempo todo como um casal de velhos. Será que eles realmente acham que enganam alguém ou só estão querendo enganar a eles mesmos? Eu já cansei de tentar abrir os olhos de Ron e já estou prestes a desistir. Eu lhe disse, com todas as letras, nesta última vez, que ele estava com ciúmes dela, mas quem disse que ele me escutou? Inventou mil maneiras de fugir do assunto, isso sim! Claro que eu já havia tentado lhe abrir os olhos antes, de mil maneiras diferentes e todas igualmente sutis. Foi só nesta última que fui mais explícito. Tão explícito que teria me rendido um provável olho roxo se tivesse insistido.

Não consigo entender porque tamanho estardalhaço por causa do Krum. Será que Ron não percebe que Hermione é só amiga dele? Quando Rita Skeeter publicou aquelas mentiras sobre mim e ela, ele sequer deu de ombros. Claro que ele sabe que entre eu e ela não existe a possibilidade de nada além de amizade, mas será que ele não percebe que isso também é porque é dele que ela gosta? Ele é incapaz de enxergar que todo aquele sermão que ela me deu no ano passado, na realidade, era dirigido a ele? Ele é incapaz de perceber que ela se irrita tanto com a pobre da Luna por que sente ciúmes dele? Foi assim com Fleur também e ele não enxergou. Claro! Ele só consegue enxergar o Krum, a maior ameaça a ele. Todo o resto não importa!

Ela também não ajuda muito. Que ele não veja eu entendo, mas Hermione não ver? Se irritar por ele se interessar por alguma garota ou por alguma garota se interessar por ele, ela se irrita. Perguntar-se o por que disso parece que não! Ela não consegue ver que isso a irrita por que sente ciúmes dele e tampouco que ele briga com ela por sentir ciúmes também.

É uma coisa tão óbvia que é difícil entender por que eles não percebem! Todo mundo já percebeu! Vejo isso no olhar cúmplice e malicioso que Gina me lança cada vez que eles começam discutir. Nos olhares que os outros estudantes trocam entre si quando eles começam. Existe uma forte tensão entre os dois que parece prestes a explodir e todo mundo já notou. Exceto eles! E as vezes eu tenho minhas dúvidas se eles realmente não notaram ou se apenas fingem não notar para adiar uma decisão difícil.

Sim, difícil! Imagino que não deva ser uma decisão fácil pôr em risco uma amizade como a deles para expor um sentimento que não se sabe se é correspondido. Digo, que eles não sabem se é correspondido, por que eu sei que é. A Grifinória inteira sabe. Facilita até o diretor sabe.

Chega ser revoltante, saber que seus dois melhores amigos se amam e que tudo que um faz é magoar o outro. E, pior de tudo, saber que não há nada que você possa fazer para ajudar por que os dois são um belo par de cabeças duras.

Eu olho para eles. Pararam de discutir mas estão a encarar-se de uma maneira furiosa, só faltando lançar raios pelos olhos, como se estivessem prestes a se agarrar pelos cabelos ali mesmo, ou se beijarem loucamente como se vê nos filmes trouxas. Como sei que nem uma coisa nem outra vai acontecer, eu os arrasto para dentro do trem, com a certeza que se a coisa continuar do jeito que anda ou eles casam ou se matam. Quem sabe um dia eu encontre aquele armário que some onde Fred e Jorge trancaram Montague no ano passado e tranque os dois lá e daí, quando o armário aparecer novamente, alguns dias depois, ou os dois estarão mortos ou felizes e namorando.

Preciso me lembrar de procurar aquele armário!