Titulo:
Encontros e Desencontros
Autora: Suryia Tsukiyono
Pares: Aya + Omi, Ken + Yohji, Ken x Omi
Classificação: Yaoi, Lemon, Angst
Weiß Kreuz não é meu. São de propriedade de Takehito Koyasu e Project Weiß.
Esta fic é dedicada a minha amiga Evil Kitsune, obrigado por sua amizade e incentivo.
Encontros e Desencontros
Por Suryia Tsukiyono
Parte I
Seus olhos estavam perdidos sobre o quadro negro, a voz imponente do professor não lhe transmitia nada, seus ouvidos pareciam estar fechados para qualquer coisa adversa de seus pensamentos. Rolava o lápis sobre o caderno numa continuidade irritante até que sentiu um cascudo ser acertado fortemente na sua cabeça. Olhou para o colega da carteira ao lado e este lhe sorriu advertindo.
"Terra chamando Omi-sam, hora de aterrissar...", disse o menino sem querer chamar muita atenção. "É melhor começar a prestar atenção na aula ou o professor vai começar a implicar com você".
Omi sorriu de volta em agradecimento, não havia percebido que sua distração estava sendo algo visivelmente perceptível. O sinal tocou, o garoto recolheu seu material devagar e levantou-se caminhando até a porta. Aquela manhã não havia sido muito diferente dos outros dias, mas naquele dia em especial Omi sentia-se estranho. Foi tirado de seus pensamentos quando na porta do colégio uma menina lhe gritou. "Estude para a prova de amanhã!". Prova? Que prova? Omi acenou de volta concordando, mas a verdade era que não reservava nenhuma preocupação quanto aquilo. Nada conseguia tira-lo de sua reflexão e isso tinha um motivo, um motivo chamado Aya.
Voltou a ficar imerso em seus pensamentos enquanto caminhava de volta para a casa, não conseguia fazer a imagem do ruivo sair de sua cabeça, isso havia começado quando havia incumbido a ele próprio da árdua missão de tentar entender o comportamento do espadachim. O que ele ainda não tinha percebido é que com o passar do tempo suas considerações sobre Aya deixaram de ser um mero objeto de seu estudo particular em questão, mas havia passado a ser algo muito alem disso. Aya era agora uma pessoa por quem nutria sentimentos profundos e ao perceber isso Omi deixou de tentar entender Aya para tentar entender seus próprios sentimentos. De onde aquilo teria surgindo? O ruivo jamais havia dado qualquer demonstração de afeto que pudesse levar o chibi a despertar tais sentimentos e isso deixava Omi confuso, por mais que refletisse sobre aquilo sua mente não apresentava nenhuma resposta satisfatória.
Parou em frente à porta do Koneko e respirou fundo reunindo coragem para entrar. Abriu a porta e entrou cuidadosamente, "Konnichiwa! Já estou de volta!", saldou Omi aos outros três rapazes com um sorriso.
Yohji também lhe sorriu de volta, "Que bom que chegou! Estávamos mesmo precisando de ajuda, parece que o movimento hoje vai ser grande na loja".
Ken se aproximou do garoto tomando gentilmente a pilha de livros das mãos de Omi. "Nossa, você vai mesmo ler tudo isso?", perguntou Ken fazendo uma cara de poucos ânimos.
"Hai, é dever da escola. Não se pode fazer muita coisa quanto a isso", respondeu com um muxoxo. Foi nessa hora que seus olhos percorreram a floricultura em busca do ruivo, ele estava sentado num canto preparando um arranjo. Os olhos azuis de Omi esperaram por alguma reação de Aya, mas não ouve nenhuma manifestação por parte deste. O Espadachim apenas levantou o olhar observando os outros três e quando seu olhar encontrou com o de Omi voltou a se concentrar no arranjo no ponto onde havia parado praticamente ignorando a presença do garoto. O olhar do loirinho encheu-se de decepção ao ver que suas expectativas não passaram de mero delírio. Por que ele ainda tinha que ter expectativas? Sentiu-se um idiota. Substituiu rapidamente o olhar decepcionado por um de seus sorrisos. O que seriam dos seres humanos sem suas mascaras?
"Vou subir para trocar de roupa e já volto", informou pegando de volta os livros das mãos de Ken e disparando para dentro de casa.
O jogador observou a figura franzina do menino desaparecer na porta, não pode deixar de pensar como Omi era encantador. Perguntara-se muitas vezes como Omi conseguia levar aquele tipo de vida. Não devia ser nada fácil viver três vidas como o garoto fazia, era um assassino frio enfrentando todo tipo de perigo durante a noite, mas durante o dia encantava a todos com seu sorriso por mais que o trabalho estivesse sendo penoso, havia dias em que o movimento na loja era grande e mesmo assim Omi sempre estava disposto. Pensou que alem de tudo Omi ainda tinha as obrigações escolares precisando fingir ser um garoto normal, fingir era uma boa palavra para definir a vida de Omi, pois definitivamente ele não era um garoto normal, tendo que se dividir entre todas essas tarefas, e alem do mais Omi não podia ter amigos como todos os outros, devia se sentir muito só. Mas o garoto ostentava sempre aquela alegria, muito embora Ken soubesse que aquilo não passava de um subterfúgio para disfarçar toda a amargura que o pequeno sentia pela vida.
"Pronto! Já estou aqui", avisou Omi aparecendo na entrada. "Me dêem logo as tarefas de hoje".
'Ele nunca se cansa', pensou o jogador refletindo sobre de onde Omi tirava tanta energia.
"Ei Ken! Faça alguma coisa de útil na vida e me ajude a carregar esse vaso. Essa coisa pesa muito!", Instigou Yohji trazendo o moreno de volta a realidade.
Já era noite, Omi estava em seu quarto, paginava os diversos livros que tinha trazido consigo aquela tarde. E embora quisesse rapidamente executar aquela tarefa, não estava conseguindo. Ficava imaginando o que os outros estariam fazendo no andar de baixo, os outros? A quem Omi queria enganar? Era Aya que o distraía e não os outros. Sacudiu a cabeça com força, decidido a resolver aquele contratempo e saiu do quarto com a pilha de livros na mão. Da ponta da escada ao olhar para baixo Omi pode observar Aya sentado calmamente no sofá, estava lendo um livro. Pensou seriamente se deveria mesmo interromper o passatempo do ruivo, talvez isso deixasse Aya irritado, mas ainda assim iria tentar. Desceu e se aproximou devagar, não tinha a menor idéia de como iniciar aquela abordagem.
"Aya-kun, será que... será que você poderia fazer a gentileza de me ajudar com o dever de casa?", disse com a voz tímida e os olhos baixos. Tinha plena consciência de que não precisava de Aya para fazer aquele trabalho, podia pesquisar tudo que quisesse na internet, mas não sossegaria enquanto estivesse pensando nele, alem do mais era uma ótima oportunidade para estar perto de Aya.
"Tenho dever de literatura para fazer, e você sabe que eu não tenho muito tempo para ler todos esses livros e como eu sei que você lê muito pensei que... poderia me ajudar", explicou Omi mostrando a pilha de livros e fazendo uma expressão que despertaria a piedade de qualquer um, qualquer um menos o frio Aya.
Aya o olhou meio de soslaio. "Hun... isso não pode ficar para amanhã? Já está um pouco tarde, não acha?".
"Sim... claro. Desculpe por ter lhe incomodado", desculpou-se completamente envergonhado.
Omi sentiu vontade de correr para seu quarto. Como pode pensar que Aya iria se interessar por algum assunto seu? Não, o ruivo não faria isso e Omi pensou que já devia ter se acostumado com essas situações, ser repelido não era uma novidade para ele. Não passava de um rejeitado, embora pensar dessa forma lhe doesse muito. E por mais que tentasse pensar diferente aquilo era a única verdade. Deu dois passos para traz e sentiu alguém tocar seu ombro, virou-se um pouco assustado.
"Oi, Omi", disse Ken com um sorriso terno. "Eu ouvi o que disse e... Eu não sei muito de literatura, mas se você está precisando de ajuda podemos tentar entender essa coisa juntos".
O vazio que havia ficado no peito de Omi desapareceu por completo e foi preenchido de uma enorme satisfação. Achou engraçado ao notar como Ken sempre aparecia nos momentos em que seus pensamentos começavam a verter para um mundo muito sombrio, como se o jogador lhe estendesse a mão impedindo Omi de cair num abismo de dor e desespero. Aquela não era a primeira vez. Ia responder ao jogador mais foi duramente interrompido por Aya.
"Pode deixar que eu mesmo explico para ele", disse o ruivo lançando um olhar muito serio para o jogador.
"Mas você disse que não...", insistiu Ken sem entender o que fizera Aya mudar de idéia.
"Já disse que não precisa, Ken. Eu mesmo vou fazer isso. Agora... Boa noite!", respondeu Aya dispensando literalmente a presença do jogador.
"Ok, Boa noite para os dois então", disse Ken saindo da sala com o olhar meio desolado.
Omi nada conseguiu dizer, não podia mesmo compreender aquelas variações no comportamento e no humor de Aya, era melhor desistir.
"Vem, deixe-me ver o que você tem aí", disse Aya apontando para os livros e dando espaço para Omi se sentar junto a ele.
Yohji acendeu a luz da cozinha e encontrou o jogador sentado na mesa, olhou-o com curiosidade.
"Meu reino por seus pensamentos", disse o loiro sentando-se ao lado dele.
"Hun... não é nada não. Só vim tomar um pouco de chá", respondeu o jogador tentando aparentar casualidade.
"Sei... Estava pensando no garoto de novo, não é?", interpelou o playboy nada sutil.
"Não, Yohji. Não estava", respondeu enfático. Não se sentia muito à vontade falando sobre aquilo.
"É claro que estava. Ele está lá na sala com o Aya. Parecem muito concentrados no estudo", comentou Yohji testando a reação do jogador enquanto contornava seus ombros com o braço.
"É eu sei...", disse o jogador encostando a cabeça no peito de Yohji mostrando-se um pouco desapontado.
"Não esquenta. Ele ainda é muito jovem e imaturo. Vai demorar ate perceber o que você sente por ele", Yohji foi se aproximando do rosto do jogador beijando-lhe a fronte.
O jogador interrompeu o carinho levantando-se abruptamente e levando a xícara ate a pia. Yohji se levantou indo atrás do jogador. Aproximou-se bem devagar envolvendo a cintura do Ken por traz fazendo um arrepio percorrer a espinha do moreno. O Playboy sempre soube da estranha admiração que Ken sentia por Omi, mas realmente não acreditava que aquilo poderia interferir na relação com seu amante. E às vezes até usava disso para provocar o jogador.
"Você não acha mesmo que algum dia vocês dois teriam alguma coisa, ou acha?", Yohji não estava nem um pouco interessado naquela reposta, mas gostava de ver Ken ficar nervoso sempre que vinha com aquelas insinuações.
"Não, Yohji. Eu nem estava pensando nisso", retrucou Ken tentando parecer que não se importava muito.
"Mentiroso... Eu sei que você está doidinho para levar o garoto para cama", sussurrou provocativo nos ouvidos de Ken ao mesmo tempo em que pressionava mais seu corpo contra o dele.
"Pare, Yohji", pediu Ken virando-se de frente deixando as bocas quase se tocarem e sentindo a pressão do membro rijo do homem mais velho contra o seu. "Pare, ou eles vão acabar desconfiando que nós...".
"Não, eles nem suspeitam disso, nós fingimos muito bem", interrompeu saqueando os suculentos lábios de Ken. "Agora pare de pensar naquele garoto. Você não pode ter com ele o que você pode ter comigo".
"E o que eu posso ter com você que não posso ter com ele?", Ken estava se fazendo de desentendido.
"Hun... sexo... o melhor que você já experimentou", respondeu lançando-lhe um olhar malicioso e um sorrisinho maroto.
Ken até quis rir daquilo, era uma coisa bem típica de Yohji, mas era esse jeito especial do loiro que o fazia ser diferente dos outros e que tinha conquistado o jogador.
"Estou te esperado hoje à noite em meu quarto de novo, vou deixar a porta aberta", O playboy deu uma piscadela e se retirou da cozinha deixando o jogador pensativo. Yohji era mesmo um maluco.
Já estava bem tarde da noite quando Aya decidiu que deveriam encerrar os estudos, os outros dois integrantes do Weiss já haviam se recolhido e Aya achou que ele e Omi deviam fazer o mesmo. O garoto lamentou que àquelas horas em que pode ficar mais perto de Aya, por mais singelo que isso fosse, haviam acabado. Agradeceu infinitamente ao ruivo por ter desperdiçado um pouco do seu tempo com ele. Aya não lhe deu muita atenção e subiu para seu quarto antes mesmo que Omi acabasse de guardar os livros. O garoto subiu as escadas, mas ficou imóvel quando passou pela porta do quarto de Ken. Podia ouvir ruídos estranhos, o jogador arfava intensamente. Omi largou os livros no chão e colou os ouvidos na porta tentando captar melhor o som que vinha do interior do aposento. A porta estava apenas encostada Omi a empurrou alguns centímetros, estava consciente que não devia entrar assim sem pedir licença, mas foi guiado por sua curiosidade.
"Ken-kun...", chamou tímido deixando apenas o rosto aparecer na porta, mas o suficiente para averiguar todo o interior do quarto. Encontrou o jogador deitado no chão, sem camisa e todo suado. Adentrou mais um pouco e se aproximou."O que você está fazendo?".
"Ahh Oi, Omi! Estou me exercitando. Chama-se abdominal, nunca ouviu falar?", respondeu sem parar o exercício.
"Ah, sim, claro! Na verdade eu devia ter perguntado o por que e não o que...", explicou-se ajoelhando ao lado de Ken.
"Por que? Hunn, não sei... sempre faço isso antes de dormir depois eu tomo um banho e durmo me sentindo muito mais leve".
"Que disposição, depois de um dia cansativo devia estar querendo descansar logo", disse Omi surpreso admirando a performance do outro.
"Eu digo o mesmo de você, Omi. Não pense que eu não sei que você fica até altas horas da noite naquele computador".
"Como... Como você sabe?", o chibi o observou com olhos curiosos.
"Porque posso ouvir o barulho do teclado daqui", revelou com um sorriso. Não achou que isso denunciaria a Omi que ele passava muitas das noites atento a todos os sons vindos do quarto do garoto, tentando imaginar o que Omi fazia, como dormia... Deu um suspiro longo.
"Pode? Mas o barulho é quase imperceptível!", indagou Omi um pouco envergonhado, não imaginava que podia estar incomodando o sono do jogador. "Desculpe, eu não queria atrapalha-lo".
"Claro que não, Omi. Você não me atrapalha nunca. Já lhe disse isso mil vezes", Ken tentou contornar a situação, não havia sido sua intenção deixa-lo constrangido e muito menos lhe dar uma bronca.
Ken sempre era tão gentil que Omi chegava até a se achar importante, mas essa sensação não passava de um mero instante. "Bom, acho que vou para meu quarto agora. Só vim mesmo dar boa noite".
"Certo, mas não fique acordado até tarde", pediu Ken, não queria que Omi ficasse doente por não descansar de tantas atividades.
"Está bem, você também. Não se esforce muito", disse Omi já quase do lado de fora.
Ken concordou com movimento de cabeça, mas sabia que essa era uma promessa muito difícil de cumprir. Como poderia não se esforçar? Daqui a alguns minutos iria encontrar seu amante, e passar uma noite ao lado de Yohji não era exatamente o sinônimo de descanso.
***************
"Siberian!! Já podemos deixar o local. Abyssinian já eliminou o alvo", disse o playboy chamando Ken no transmissor.
"Baliness, devemos esperar o sinal de bombay, ele ainda não se comunicou. Devemos esperar que ele nos indique o caminho", retrucou o jogador atento aos movimentos a sua volta, estavam num local estranho e embora a missão aparentasse sucesso era melhor não facilitar.
"Podem seguir pela lateral esquerda, a entrada principal ainda está vigiada. Descendo as escadas do próximo corredor vocês encontraram uma porta que dá para um pátio interno. Encontro com vocês nessa porta. Não há saída nesse pátio, mas existe uma escada que dá para uma parte mais elevada, de lá é possível pular o muro". Informou o garoto dando todas as coordenadas que os outros precisavam para escapar daquele lugar sem serem descobertos.
"Você desarmou todos os alarmes, bombay?", questionou Aya, queria ter certeza que nada sairia errado.
"Sim, Abyssinian. Instalei as bombas precisamente e desarmei os alarmes, apenas um ainda continua ativo, estou indo desativa-lo nesse momen... AHHHHHHHH!!", a explicação de Omi veio seguida de um grito que preocupou a todos.
"Bambay!!! Bonbay!! Responda! O que aconteceu? Responda!!!", gritou o jogador, mas infelizmente não obteve nenhuma resposta.
A sirene não demorou o soar, logo haveriam inimigos a procura deles, o lugar era rigorosamente vigiado.
"Não podemos continuar aqui", sentenciou Aya rapidamente ao ouvir o estridente disparar do alarme.
"Mas e bombay? Aconteceu alguma coisa com ele e...", tentou dialogar Ken, mas sendo duramente interrompido por Aya.
"Ele disse que nos encontraria na saída do pátio, não disse? Precisamos confiar que é isso que ele irá fazer", explicou Aya já sem muita paciência, ou saiam logo daquele lugar ou nenhum deles conseguiria escapar, "Vamos!".
Eles correram na direção do corredor indicado por Omi, pegando a escada lateral, Ao final dela encontraram a porta que devia dar para o pátio externo, estava muito escuro. Aya empurrou a porta forçando-a a abrir e já se preparavam para sair quando Ken os deteve.
"Esperem, onde está bombay?", perguntou Siberian bastante preocupado, sabia que não teria coragem de deixar o lugar deixando Omi para traz, ainda mais sem saber o que lhe tinha acontecido.
"Estou aqui...", respondeu Omi com uma voz fraca e se esgueirando pela parede.
"Você está atrasado", disse Aya.
"Desculpe, tive um contratempo...", desculpou-se Omi sem encara-lo, estava envergonhado, Aya havia literalmente chamado sua atenção.
"Ainda bem que está tudo bem", e ao dizer isso Ken pode notar quando Omi se aproximou deles e ficou mais exposto a luz que o menino estava ferido, a perna direita tinha um ferimento feio e ele segurava o braço esquerdo com a outra mão, estava sangrando. "Omi, você está ferido? Acha que pode caminhar desse jeito?".
"Sim, acho que posso. Devemos atravessar o pátio e subir a escada que dá para o telhado, se conseguirmos chegar ao outro lado estaremos seguros", murmurou Omi sem conseguir esconder sua expressão de dor, mas sem esquecer que guia-los até a segurança ainda era sua função.
"Sinto muito interromper, mas precisamos ir agora ou vamos ver as coisas ficarem realmente sérias por aqui", interrompeu Yohji meio sarcástico.
"Isso, Vamos!!", Ordenou Abssynian já iniciando a corrida pelo extenso pátio e sendo seguido pelos demais.
Quando estavam próximos a referida escada puderam vê-la explodir diante dos seus olhos. O lugar se encheu de fumaça e eles respiraram com dificuldade.
"Merda!!", gritou Ken quando viu que a saída dos quatro havia acabado de ir pelos ares. "Os caras tem um lança mísseis".
"Não é possível que essa seja a única saída. Bombay, você não tem nenhum plano alternativo?", interpelou Yohji já imaginando que aquilo não acabaria bem.
Omi demorou alguns segundos para responder, a verdade era que não tinha mesmo nenhum plano alternativo. E talvez sua falha agora colocasse tudo a perder e o olhar reprovador de Aya sobre ele era algo que ele não suportava. Percorreu os olhos por toda a extensão da construção que deveriam subir e avistou uma corda precariamente amarrada no topo. Pensou que pudessem tentar escapar por ali, ou melhor, teriam que escapar por ali, não havia outra alternativa.
"Ali!!", respondeu Omi apontando para a corda indicando o que os outros deveriam fazer.
Todos correram, Omi foi ficando para traz aos poucos, seu ferimento estava doendo e não podia correr tão habilmente quanto os outros. Aya foi o primeiro a subir seguido por Yohji e Ken, foi na hora em que Omi se deparou com a corda foi que se lembrou do esforço que teria que fazer para subi-la. Poderia fazer isso? Não podia contar com o braço esquerdo e muito menos buscar o auxilio da perna direita que sangrava. Ainda tentou inutilmente, caindo no chão sem conseguir se levantar.
Ken e Yohji gritaram quando viram que Omi não havia conseguido acompanha-los e ao olharem para baixo podiam ver o garoto estirado no chão, estava consciente, mas não conseguia se mexer.
"Vamos, bombay! Mexa-se!! Levanta logo daí" encorajava Yohji.
"Precisa tentar, tem que sair logo daí. Você consegue", gritava Ken tentando incentiva-lo.
Omi ainda tentou, se arrastou novamente até a corda e fez força para subir, mas novamente não conseguiu. "Não consigo...", disse ele. "É melhor vocês seguirem em frente. Vão logo embora".
"Não!! Não vamos embora sem você", refutou Ken já se preparando para descer e buscar Omi. "Vou ajudar você".
"Não. Você não vai fazer isso", decidiu o espadachim segurando o braço de Ken impedindo que este voltasse para ajudar o garoto.
"Como não? Alguém precisa ir busca-lo!", vociferou o jogador encarando o olhar serio do líder de Weiss sobre ele.
"Ken... o Aya está certo, veja. A corda está quase arrebentando e não vai suportar o peso dos dois juntos. Vocês dois vão acabar ficando presos lá. Omi tem que fazer isso sozinho, ele é leve e pode subir sem correr riscos", explicou o playboy percebendo a intenção do ruivo ao dizer aquilo.
Omi ficou observando a discussão entre os três. Podia ouvir claramente o que diziam, seu coração disparou. Sentiu raiva de si mesmo. Por que? Por que tinha que ter se ferido? Por que as coisas não saíram como ele havia planejado. Enquanto isso os outros continuavam a discutir.
"Mas Yohji, ele não vai conseguir subir sozinho. E se ele ficar lá vão mata-lo! Você sabe disso", insistiu Ken em toda sua preocupação, não concebia de maneira alguma a idéia de deixar Omi para trás.
"Se ele não for capaz de sair disso sozinho é melhor mesmo que ele morra", pronunciou Aya em toda sua frieza fazendo os outros dois homens ficarem espantados.
As palavras do ruivo ecoaram na cabeça de Omi, 'Seria melhor que morresse... Se não conseguir sair sozinho...', seus olhos se encheram de lagrimas nessa hora. "É tudo culpa minha, tudo culpa minha", murmurou Omi ainda tentando controlar seu desespero, mas não queria morrer, não queria isso mesmo que fosse a vontade de Aya, pelo menos não daquela forma tão vergonhosa, não como uma prova de sua incompetência. Jamais se perdoaria por isso, precisava mostrar a Aya que era capaz de superar aquela dificuldade. Arrastou-se novamente e usando o ultimo sopro de suas forças começou a escalada.
"Isso, Omi!! Você consegue", dizia Ken tentando estimular o garoto a concluir aquela árdua tarefa.
Quando o chibi chegou na metade da corda sentiu suas forças se esvaindo e parou de subir, fechou os olhos e pensou que agora tudo estaria acabado, mas ficou surpreso quando sentiu que a corda se mexia, era Ken que o puxava pelo resto que ainda lhe faltava subir. Respiraram aliviados quando Omi se juntou a eles já em segurança. Ken o ajudou a se levantar apoiando-o em seu ombro. Todos estavam sérios e clima não parecia nada bom entre eles.
"Vamos sair logo daqui", disse Aya dando as costas para os outros.
"Aya... não posso acreditar que ia mesmo deixa-lo para traz", disse Ken sem conseguir esconder sua insatisfação.
"Deixa, Ken. Ele está certo", interferiu Omi com a cabeça baixa, estava se sentindo muito mal. "Foi tudo minha culpa mesmo... se eu não tivesse falhado na minha tarefa nada disso teria acontecido, eu... não...".
"Não fale nada, Omi. Agora está tudo bem", disse o jogador tentando acalma-lo. "Vamos para casa agora cuidar dos seus ferimentos".
Aya se afastou rapidamente deles, não sabia porque, mas ver Ken tratando Omi daquele jeito lhe incomodava.
Omi abriu os olhos, estava deitado em sua cama. Seus ferimentos já estavam devidamente cuidados e a dor praticamente havia desaparecido. Encarou o teto branco de seu quarto e procurou alguma coisa nele que pudesse distraí-lo, mas as únicas palavras que ficavam gritando em sua mente numa insistência fastidiosa eram as palavras ditas por Aya 'Seria melhor que morresse... Se não conseguir sozinho....'
Seu coração estava em pedaços, sua cabeça doía, a dor da decepção era muito maior do que a dor das feridas em seu corpo. Fechou os olhos para buscar o sono, pelo menos estaria livre daquela triste lembrança enquanto estivesse dormindo.
Continua...
Suryia Tsukiyono / Dezembro de 2002
suryiachan@bol.com.br
