CAPÍTULO UM

O FIEL SEGREDO DA ORDEM

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OS FRIOS VENTOS NOTURNOS PERSISTIAM em King's Cross, apesar da estação de verão, fazendo com que os estudantes se aconchegassem ainda mais em suas vestes amarrotadas pelo longo dia de viagem até Londres. Muitos deles já não estavam ali, por terem deixado Hogwarts antes mesmo daquele dia, embora aquele também fosse um dia e término do ano letivo antes do usual, uma vez que uma série de acontecimentos na semana anterior desencadeara uma tremenda crise em Hogwarts e em todo o Mundo da Magia, fulminando no retorno antecipado dos alunos às suas casas, suspendendo os tão temidos exames finais.

King's Cross parecia, pela primeira vez, um lugar sombrio e frio. Os estudantes desciam silenciosos e receosos ao encontro de seus pais, que os recebiam com igual falta de emoção. As famílias se abraçavam por estarem juntas finalmente e alguns até mesmo choravam ao se juntarem aos seus entes queridos. Por segurança, alguns aparatavam com seus filhos e ainda outros utilizavam a Rede Flu - através da lareira da pequena sala da Administração da Plataforma 9 ½ - para chegarem a salvos em seus lares.

E ainda no interior da cabine do trem, esperando o fim da tumultuada saída dos outros estudantes, Harry, Rony, Hermione e Gina olhavam pela vidraça tentando encontrar em meio à multidão de pais aflitos algum sinal dos Weasley ou qualquer outro membro da Ordem da Fênix.

Hermione realizava um último feitiço para juntar suas coisas e estar pronta para entrar no habitual período de férias "sem-magia" junto ao mundo dos trouxas, embora soubesse que esta seria diferente de todas as outras férias por ela já vivenciadas.

Rony tentava endireitar Pichitinho enquanto Gina apontava freneticamente para os recém-achados-na-multidão Molly, Arthur e Gui Weasley, que para a infelicidade de Gina, estava (como era de se esperar) acompanhado de Fleur - ou Fleuma, como a própria Gina a preferia chamar, mesmo que em tom de deboche.

Harry apenas acariciava levemente Edwiges, passando os dedos por entre as grades da gaiola e tocando suas macias penas e, ao mesmo tempo, pensava em tudo o que tinha lhe ocorrido nos últimos dias em Hogwarts. Recordava com bastante nitidez a pavorosa expressão de Alvo Dumbledore ao ser atacado pelo Príncipe Mestiço, ou por melhor dizer, Severo Snape. Por que tinha de ser assim? Justo Snape, que apesar das suspeitas de todos era considerado de tamanha confiança pelo Professor Dumbledore, fora capaz de matá-lo! Por que Dumbledore não suspeitou de Snape? E por que confiava tanto em Severo, como ele mesmo tantas vezes lhe disse? O que Snape teria feito para adquirir tanta confiança se já mostrava, por vezes, alguns indícios de relação com as Artes das Trevas?

Estas eram perguntas que rondavam a cabeça de Harry Potter, quando Rony interrompeu sua reflexão:

- Acho que quase todos já saíram - disse ele em voz alta enquanto terminava de verificar o corredor do trem - Vamos?

Harry foi o último a sair da cabine e, posteriormente, do trem, carregando seu malão, sua Firebolt e a gaiola de Edwiges.

- Ah, queridos! - disse Molly entusiasmada - Quase chegaram antes de nós! - e ela olhou para o Sr. Weasley que balançava ligeiramente a cabeça confirmando - Voltamos à pouco de Hogsmeade! Sabe, tivemos uma séria e decisiva conversa entre alguns membros da... - por um momento ela hesitou em continuar, talvez pela presença de Fleur -... Da Ordem e depois fomos a Hogsmeade para tratar do caso de Rosmerta. Pobre Madame Rosmerta! - e ela balançou a cabeça de um lado para o outro e tocou os outros de braços abertos e começou a caminhar, como se indicassem aos outros para fazerem o mesmo.

- Vejo que está melhor, Gui! - exclamou Hermione com certa animação, tentando quebrar o clima tenso e silencioso predominante entre eles - Madame Pomfrey conseguiu curar você em um instante, não?

- Infelizmente não me curarei em tão rápido instante, e nem por completo, como já era de se esperar - respondeu Gui em tom quase alegre - Terei graves cicatrizes no rosto e permanecerei com certa queda por carnes vermelhas.

- E de prreferrência muite mal cozides as carrnes verrmelhras, non querride? - acrescentou Fleur, que não viu a cara de deboche de Gina Weasley quando ela fez o comentário.

Eles continuaram andando em direção à saída da plataforma, quando Arthur comunicou-lhes:

- Lupin e Tonks estão nos esperando do lado de fora da plataforma e McGonagal nos encontrará mais tarde, ainda hoje, creio eu. Acho que ela está bastante ocupada e também, com toda razão, desorientada com tudo o que está acontecendo – e neste momento eles atravessaram a aparente parede sólida que separava Londres da plataforma 9 ½.

Harry permanecera em silêncio durante todo o tempo. Não via interesse em tudo aquilo agora que Dumbledore se fora para sempre e, de certa forma, sentira muito a morte do Professor, talvez até mais que a de seu padrinho, Sirius Black, que morrera a um ano aproximadamente.

Tonks e Lupin conversavam algo com Molly e Arthur enquanto todos andavam em direção à saída da estação.

- Ah! – exclamou Rony, atraindo a atenção de todos, inclusive de Harry que estava absorto em pensamentos longínquos – Acabei de me lembrar que EU sou maior de idade! – e falando isso, de certa forma, se considerava superior, ao menos em alguma coisa, em relação a Harry, Mione e Gina.

E neste exato momento ele retirou a varinha, pronto para realizar seu primeiro feitiço fora de Hogwarts, como era permitido a alunos maiores de dezessete anos de idade.

- Nem pense nisso! – exclamou Hermione Granger, segurando a varinha de Rony com certa força – Ou quer realizar o seu ÚNICO feitiço fora de Hogwarts? Quero dizer, terá a varinha quebrada pelo Ministério se a usar na frente de trouxas, é claro!

E Harry pode ver que o rosto de Rony quase se transfigurou, passando a mostrar uma cara um tanto quanto aborrecida.

É claro que Harry não podia esperar que os Dursley viessem lhe buscar, uma vez que ele voltara de Hogwarts duas semanas antes do previsto, o que garantia a Harry alguns momentos extras de tranqüilidade longe dos tios e do primo. Pelo menos ele esperava que sim!

- Harry, querido! Temos uma importante tarefa a cumprir, por isso receio que não volte para a casa de seus tios por hoje – disse Molly, dando certeza às suspeitas de Harry sobre os "momentos longe dos Dursley" – Tudo bem, querido?

- Claro – respondeu Harry com certo entusiasmo

- Prontinho! – ofegava Hermione que acabava de chegar correndo – Acabei de conversar com os meus pais (de fato, ninguém nem notou a breve ausência de Mione!) e eles concordaram em me deixar passar as férias com vocês! – e ela corou ao perceber que todas a olhavam, como se não achassem que o que ela dizia era realmente importante – É claro que eu não lhes contei que o Mundo da Magia está em guerra e realmente espero que eles não descubram isso! Na verdade, acho que nem há muitos meios de eles ficarem sab...

- Pois bem, Harry. – interrompeu (sem esta intenção, é claro!) Lupin – Como Molly ia dizendo, temos de tratar de alguns assuntos ainda hoje. E rápido, pois já é tarde! Bem, não sei o que pretende fazer com a casa dos Black, mas asseguro-lhe que ela é totalmente sua agora. Isso já foi resolvido pelo Ministério e Dumbledore antes de... bem, não vem ao caso. O fato é que com todo esse tumulto, não foi difícil para Dumbledore convencer o Ministro, há certo tempo atrás, a respeitar a vontade de Sirius.

- Pretendo deixá-la à disposição da Ordem, Professor Lupin – respondeu Harry, que percebeu certo ar de gratidão em Lupin ao ouvir a palavra "Professor".

- Sei, sei... – disse Lupin – Agradecemos sua oferta, Harry e acredito que teremos de aceitá-la. E é justamente em relação a ela que teremos uma tarefa a cumprir hoje. Acredito que não haverá problema algum em todos irmos agora mesmo, não é Arthur?

- Sim, claro! Mas aconselho que Tonks vá se encontrar com Fred e Jorge no Beco Diagonal, número 93. Claro, se não for incomodo algum, Tonks – disse Arthur que olhava enquanto Tonks o acenava positivamente com a cabeça – Não acho aconselhável que estes dois destrambelhados fiquem andando de bobeira por aí nestes tempos. Quem sabe eles aceitem fechar a loja por uns tempos, não é Molly?

Molly não respondeu e Tonks aceitou a sugestão, seguindo à pé rumo ao Caldeirão Furado. E ali, em frente à estação de King's Cross, os nove restantes se encontravam, até que Molly sugeriu que continuassem andando.

Não sabiam para onde estavam indo, mas todos a seguiram, dobrando uma esquina e entrando num apertado e escuro beco onde Molly podia jurar não haver uma sequer alma que os pudesse ver.

- Mas não podemos aparatar, mamãe! – exclamou Gina depois que Molly disse iriam todos aparatar.

- Tecnicamente não! Mas foi desenvolvido há pouco tempo um modelo de aparatação em grupo – dizia Molly

- Sabe como é... – continuava Gui Weasley – Com toda essa confusão, o Ministério tinha de arranjar um jeito com que as pessoas pudessem fugir com seus filhos rapidamente e com segurança, mesmo que eles fossem menores de idade.

- Parrticularrmen, non achei nade agrradavel lê idéie der Ministérrio! Isse pode até mesmo colocarr em risque a vide ders pessoas e menorres porr falte de instruccione! – Fleur estava convicta de sua opinião, embora nenhum dos outros parecia concordar com ela

- Quer dizer que vou poder aparatar? – espantou-se Gina – É claro que não deve ser tão emocionante quanto aparatar sozinha, mas já é alguma coisa, não?

- Pare de falar, Gininha querida... – dizia Molly – Vamos segurar nossas coisas e...

- Gininha? Ela te chamou de Gininha? – implicou Rony rindo de Gina

- Roniquinho, querido, pare você também de falar ou não estaremos lá tão cedo! – exclamou a Sra. Weasley enquanto o rosto de Rony ficava tão vermelho quanto seus cabelos ruivos após ouvir a forma com que sua mãe o chamou.

Os outros se comportavam e mantinham silêncio enquanto guardavam seus pertences.

- Todos prontos? – perguntou Arthur – Harry, segure o braço de Lupin! – e Lupin se ofereceu a segurar a Firebolt e a coruja quando viu a expressão de Harry do tipo "Como vou segurar tudo isso ao mesmo tempo?" – Rony, segure no meu braço e deixe-me levar o seu malão! Hermione, segure-se em Molly! Bem... Gui, vá sozinho e... – como se procurasse ver quem restou – Gina, segure em Fleur – e a garota fez uma cara de quem odiou a ordem recebida, como se aquele fosse o maior sacrifício que ela pudesse fazer no mundo.

- Atenção! – disse Lupin – Vamos todos ao Largo Grimmauld!

Harry nem teve tempo para receber o nome do destino a que chegariam e tomar um último ar, antes que a estranha sensação de estar sendo comprimido por um tubo invadisse todo o seu corpo. Apesar de esta ser a terceira aparatação de Harry, ele ainda não se acostumara bem com a sensação e mantinha sua opinião sobre preferir as vassouras. De repente, o vento leve voltou a tocar seu rosto e Harry sentiu novamente a liberdade de se estar em solo firme, sem que haja nenhuma estranha sensação de estar preso em um tubo que o comprime e o sufoca.

- Uau! Então é assim que é a aparatação? – se espantava Gina- Muito legal essa magia, não? – e Harry sentiu que Gina se sentiu arrependida de ter dito isso após lembrar-se que tinha vindo com Fleur

Ninguém parecia prestar muita atenção ao que Gina dizia e Harry, a princípio, não se lembrava para onde eles tinham ido, lembrança que foi subitamente lhe devolvida quando Harry virou-se e mirou o ambiente estranhamente conhecido e calmo, sem nenhum murmúrio ou indício de trouxas.

Ali eles se encontravam: no Largo Grimmauld.

Harry não entendia porque não via a casa de número 12, que fora sede da Ordem da Fênix. Ele tinha certeza de que ela deveria estar ali. O mesmo ocorreu a Rony, Hermione e Gina – ao que Harry percebeu -, até que Arthur Weasley começou a lhes explicar.

- Não conseguimos enxergar a casa dos Black – e todos olhavam com atenção para o local onde a casa deveria estar, entre os números onze e treze, exatamente na frente de todos – É claro que não! Sabe... Quando um bruxo passa desta para a melhor... quero dizer, quando um bruxo que era o Fiel Segredo de algo... morre...

- O Feitiço se tranca para sempre, escondendo o segredo de todos aqueles que por ventura o conheciam por meio do Fiel Segredo – e todos se voltaram para Hermione Granger que iniciava sua breve e quase-decorada explicação sobre o assunto – Estou certa de que li isto no livro "Encantamentos Desencantados" na biblioteca de Hogwarts no mês passado! – disse ela com um leve sorriso nos lábios – Ou não teria sido no liv...

- Pois bem! – Lupin a interrompeu novamente (mais uma vez sem esta intenção, é claro!) e o rosto de Mione corou enquanto mostrava uma expressão zangada – Como nossa querida Hermione ia nos dizendo, o feitiço se mantém quando alguém morre, porém aqueles que ficaram sabendo do segredo, é óbvio que por meio do Fiel Segredo, passam a desconhecê-lo novamente, ocultando-o. É uma forma de garantir que o segredo seja mantido mesmo depois que alguém faleça.

- Mas então, como vamos entrar na casa? – perguntou Harry intrigado

- Bem, acho que já deve ter percebido que Alvo não era tão descuidado assim, não é Harry? E acho também que você deve nos responder a sua pergunta – Lupin dizia enquanto Harry expressava grande indagação em seu rosto – Dumbledore me disse que deixaria um pergaminho com você Harry, escrito por ele mesmo, em caso de qualquer coisa dar errado.

- Mas ele não deixou... – dizia Harry, enquanto tentava lembrar de algo que recebera de Dumbledore.

Harry não tinha nenhum pergaminho de Dumbledore. Não tinha recebido nenhum papel, ou tinha? As únicas coisas que Dumbledore lhe enviou foram os bilhetes convocando-o para mais uma sessão com ele, mas estes não se encontravam mais ali. Há muito tempo já tinham sido jogados no lixo e o Professor Dumbledore não parecia ser burro o suficiente para lhe dar algo que ele pudesse jogar fora... O que então seria? Harry teve um impulso, quase como uma idéia. Largou a gaiola da coruja e abriu o malão cuidadosamente para esconder dos outros o que estava fazendo. Ele pegou cuidadosamente o medalhão e o abriu, retirando de dentro dele um pequeno pergaminho dobrado, e depois guardou o medalhão novamente, fechando o malão.

Aquele era o único papel que Harry tinha e que tinha entrado em contato com Dumbledore. Será que Dumbledore não tinha...?

- Rony, Mione! Venham aqui – chamou Harry enquanto todos os outros os olhavam com ar de desaprovação. – Quero conversar um minutinho com os dois, se não se importam e... – Harry andou com os dois cerca de dois passos para trás a fim de afastar-se mais dos outros.

Olhou bem para tudo ao redor para verificar se tinha algum trouxa olhando e sussurrou a Rony

- Use o Abbafiato! – disse Harry – E antes que possam impedir!

- Abbafiato! – bradou Rony, pronunciando rapidamente as palavras e alegrando-se por realizar seu primeiro feitiço fora de Hogwarts.

Harry pôde perceber a expressão de susto que os seis levaram por, provavelmente, nunca terem ouvido este feitiço antes e não fazerem idéia do efeito que traria. Harry tratou de chamar Rony e Hermione para perto dele, de tom bem alto, para que eles percebessem o efeito do feitiço e, quando não conseguiram escutar nada que eles diziam, fizeram uma cara de reprovação ao trio.

- Hermione, - começou Harry abrindo o pergaminho sobrado que mostrava a conhecida mensagem assinada por R.A.B., que os três não tinham a mínima idéia de quem seria. – Acha possível que Dumbledore tenha ocultado a mensagem verdadeira deste pergaminho?

E ela olhou novamente para o pergaminho:

Ao Lorde das Trevas

Sei que há muito estarei morto quando ler isto,

Mas quero que saiba que fui eu quem descobriu o seu segredo.

Roubei a Horcrux verdadeira e pretendo destruí-la assim que puder.

Enfrento a morte na esperança de que, quando você encontrar um adversário à

Altura, terá se tornado outra vez mortal.

R.A.B.

- Existem muitas possibilidades, Harry. Há muitos feitiços que revelam ou escondem algo em pergaminhos – explicava Mione – Não creio que Dumbledore correria o risco de usar um feitiço, pois desta forma qualquer um que conhecesse alguns Feitiços de Revelação saberia ler o que está oculto, se é que há algo oculto aí – dizia ela com tom de preocupação – Talvez algum termo, palavra ou frase que só você ou nós conheçamos...

- Acha mesmo, quero dizer, tem certeza de que esse pedaço de papel contém o que queremos? – perguntava Rony desconfiado – E se não...

- É o único que tenho que esteve com Dumbledore – disse Harry rapidamente

Os outros, que não conseguiam ouvir faziam gestos e se mostravam indignados com a exclusão. Pensa, Harry... Pensa... Pensa... Tentou em seguida dizer em claro tom a última senha da sala de Dumbledore... Nada! Depois tentou a última senha da Grifinória e nada! Chegou a dizer "sorvete de limão" (o sorvete favorito do Professor Dumbledore) e até mesmo "Eu sou Harry Potter", sem contar com as estúpidas "Abra", "Revele-se" e coisas do tipo.

Desfizeram o Abbafiato – ouvindo inúmeras reclamações, é claro – e começaram novamente as suas coisas quando uma idéia repentina surgiu na mente de Harry.

- Esperem! – disse ele em voz alta para que Rony e Mione pudessem ouvi-lo – Acho que esqueci de tentar algo.

Ele desdobrou o papel mais uma vez e encarou os dizeres estranhos do desconhecido que ali se encontrava. Olhou-os fixamente e disse:

Pateta - e então as frases começaram a ser trocadas de acordo com as sílabas que ele ia pronunciando -, Chorão, Destabocado, Beliscão! – e por fim, toda a nova mensagem estava ali, nítidas, na frente dos olhos de Harry, Rony e Hermione (embora todos os outros também se aproximassem para ler, sem sucesso).

A caligrafia conhecida de Dumbledore preenchia todo o pergaminho e por vezes era preciso apertar os olhos para ler devido ao minúsculo tamanho da letra de Dumbledore.

A Harry Potter (e provavelmente também a Hermione Granger e Ronald Weasley)

Isso apenas o confundiu, eu sei, mas sabia que conseguiria enxergar esta mensagem, meu caro Harry. Nem tudo ocorreu como planejado, mas a segurança é que você novamente sabe que a sede da Ordem da Fênix, ou seja, a casa dos Black - agora sua graças a mim -, se encontra no Largo Grimmauld, número 12.

E sobre AQUILO, fique tranqüilo, Harry: Já foi destruído. Tomei a precaução de colocá-lo no bolso interno de minhas vestes que fica na altura exata do lado esquerdo do peito, onde o feitiço Avada Kedavra atinge com mais força. E sabia que se algo desse errado, eu tinha a minha "imitação barata" no bolso por segurança.

Graças a ela aqui estou escrevendo para você, Harry.

A única coisa que eu queria lhe dizer é que você deve ser forte e nunca, nunca desistir. Dê um alô a todos por mim e lembre-se do que eu já lhe disse uma vez, Harry: Às vezes é preciso escolher entre o que é certo e o que é fácil. Você já deve saber o que escolher...

Alvo Dumbledore

p.s.: E Mione, não quebre a cabeça tentando disfarçar este pergaminho novamente! Basta dizer "obrigado"!

Harry se emocionou lendo as palavras do diretor, mas se conteve.

Quando os três ergueram os olhos, enxergaram, como se estivesse ali o tempo todo, a Muy antiga e nobre casa dos Black. Estavam de volta ao Largo Grimmauld, número doze.

Harry não sabia descrever o que sentia ao rever aquele cenário frio e calado que repousava diante dos seus olhos. Sentia uma tristeza enorme por lembrar que ali era a casa de Sirius – agora dele, como Lupin o lembrara a pouco -, e ao mesmo tempo ainda maior tristeza por lembrar que aquela casa fora a sede da Ordem e que esta já não contava com a participação do maior bruxo que Harry já conhecera: Alvo Dumbledore. Embora Harry tentasse esconder suas lágrimas, ele chorava e aquelas, embora tristes, o erguiam e o motivavam a continuar lutando, cada vez mais.

Todos leram os dizeres de Dumbledore sobre a localização da casa e depois disso, todos podiam enxergar que estavam de frente a ela, prontos para entrar.

No entanto, todos continuavam parados em frente à casa fracamente iluminada pelo lampião de rua mais próximo. Ela parecia mais velha do que nunca e a fraca luz azulada pela escuridão da noite não parecia conseguir penetrar e atravessar os vidros das janelas que estavam cobertos por uma camada espessa de fuligem. As paredes estavam ainda mais sujas do que quando Harry vira a casa pela primeira vez, a cerca de dois anos. A vizinhança parecia estranhamente calma, sem qualquer sinal de trouxas por perto, embora não passasse das dez da noite.

- Antes de entrarmos – disse Lupin – precisamos definir um Fiel Segredo à sede da Ordem.

- Como assim, Lupin? – perguntou Hermione – que eu saiba o Fiel Segredo nunca deixa de ser o Fiel Segredo. A não ser que o segredo não exista mais.

- Certo, Mione! – respondia Lupin – Mas é possível adicionar quantos Fiéis Segredos quisermos para determinado segredo. Contudo, deixo bem claro que é um ato inseguro, uma vez que se mais de uma pessoa souber, menos segredo este segredo será! Concorda?

- Sim, professor... Mas e se... – e ela não sabia o que perguntar

- Como podemos saber que Dumbledore foi o primeiro Fiel Segredo da Ordem? – Harry indagou - E se houverem outros que foram Fiéis Segredos da Casa dos Black?

- Como deve saber, Harry, Sirius não tinha muitos parentes vivos e se houvesse algum Fiel Segredo anterior a Dumbledore, este estaria morto. Contudo, com a mesma dúvida que você, Harry, Alvo Dumbledore fez um minucioso estudo da casa para descobrir se haviam magias em relação a ocultar a casa e certificou-se de que seria o primeiro.

Todos ficaram em silêncio por um minuto

- Harry - continuou o Sr. Weasley – Como a casa está em sua propriedade, você deve realizar o feitiço do Fiel Segredo. Temo que não saiba como realizar, certo?

- Realmente, não sei.

- Espere! – interrompeu Mione – Harry não pode realizar feitiços fora de Hogwarts ainda! Como vamos fazer?

- Simples – disse Harry certo do que faria – Entrem, todos!

Todos entraram curiosos para ouvir o que Harry teria a dizer.

- Vejam bem – começou o jovem – o Ministério pode detectar a exata localização de feitiços realizados por estudantes fora de Hogwarts, ou seja, o endereço. – Logo, após realizar este feitiço, as corujas do Ministério não saberão encontrar o endereço. Logo acharão que é um engano, uma vez que o endereço não existe. E além do mais, não se pode saber qual feitiço foi utilizado.

- Certo... – dizia Gui – Mas o Ministério poderia desconfiar de algo, não?

- Com este tumulto todo, você acha mesmo que eles se preocupariam com um feitiçozinho bobo realizado por um aluno fora dos terrenos da escola? Rufo tem muito mais com o que se preocupar! – dizia Arthur

- Pode serr. Mas continue sendo un risque – acrescentou Fleur

- Que precisa ser corrido! – disse Harry por fim

Dali prosseguiu-se uma breve explicação de como realizar o feitiço. Remo dizia que Harry deveria apontar para aquele destinado a ser o Fiel Segredo da Ordem e dizer as palavras, com bastante clareza: Fidelis Incantaten. Uma linha arroxeada sairia da ponta da varinha de Harry e envolveria lentamente o Fiel Segredo, que neste momento deveria fazer seu juramento.

- Quem será o Fiel Segredo da Ordem? – perguntou Gui

- Eu poderria se quisessem... – respondeu Fleur. Uma péssima sugestão, por sinal, pois ela, embora entrasse brevemente para a Ordem, não participava dela.

- Molly, o que você acha de você... ? – perguntava Arthur Weasley

- Não, não, Arthur. Acho que você seria o mais indicado ao caso – mas o Sr. Weasley não pareceu gostar da sugestão da mulher

- Lupin, você poderia, não? – perguntava Gina

- Acho arriscado, Gina. – respondia Lupin – Você sabe como é... Estou no meio dos lobisomens e não seria seguro. Que tal Arthur? Ou Mcgonagal, se ela concordasse.

- Receio que McGonagal não vá chegar muito cedo, Lupin – dizia Molly.

A discussão se estendeu por mais alguns instantes até que Hermione disse:

- Harry! Que tal Harry? – e todos olharam para ela – Bem, ele parece ser o único que não nos trairia de forma alguma e que não representa tanto risco por não poder ser usado como isca por... – ela hesitou em falar o nome, mas continuou - Voldemort, uma vez que já é o alvo principal!

Todos silenciaram por um minuto, mas Lupin começou a falar:

- Sim! Parece a decisão mais certa a se fazer! – e sorriu – Harry, prepare-se para ser o mais novo Fiel Segredo da Ordem da Fênix.

- Mas senhor, não sou maior de idade e nem mesmo sou da Ordem...

- Creio que já passou da hora de você entrar. Sem dúvidas Dumbledore concordaria, já que não esta aqui presente para lhe representar, Harry. Você enfrenta o mal de vez agora, Harry... e não há como enfrentá-lo sozinho. Por isso você é o mais novo membro da Ordem da Fênix. – dizia Remo Lupin – E de qualquer forma, você fará dezessete anos em pouco tempo.

- Certo, mas... devo apontar para... meu próprio braço? – perguntou o jovem aflito

- Exato.

E por um momento Harry hesitou em continuar e permaneceu parado, pensando ou se preparando, não sei ao certo dizer. Os outros pareciam ansiosos para ver Harry realizando o Feitiço e não podiam deixar de transparecer isso ao olharem ininterruptamente para o garoto de cabelos negros atrapalhados, olhos verdes e uma cicatriz na testa, que ali estava no meio de todos.

- Fidelis Incantaten! – disse Harry baixinho, apontando a varinha para seu próprio braço esquerdo, que se encontrava levemente estendido, com a palma da mão aberta, porém relaxada.

Um fio de luz brilhante e roxa saiu da varinha de Harry vagarosamente, dançando no ar em espirais, iluminando toda a sala da casa dos Black, que anteriormente não presenciava grande quantidade de luz. O fio foi se movimentando, do mesmo modo e numa lentidão entediante, ao encontro da mão de Harry e, ao se aproximar, começou a contorná-la nos mesmos movimentos em espiral, sem tocar na pele de Harry.

- Deve fazer seu juramento, Harry... – aconselhou Lupin

Harry continuava olhando o fio de luz, que agora alcançava seu punho e continuava em movimento. Harry não sabia o que dizer, mas por um momento, pareceu-lhe que todas as palavras lhe vieram em mente, exatamente como deveriam ser ditas.

- Juro solenemente ser o Fiel Segredo da Ordem da Fênix e sua sede no Largo Grimmauld, número 12, e somente contá-lo a quem eu realmente julgar digno de confiança. – disse Harry em baixo tom de voz, porém com bastante confiança e clareza.

Quando Harry terminou, o fio que percorria desde a varinha de Harry até o seu braço, parou de se movimentar e, de repente, se tornou ainda mais brilhante e luminoso. Harry insistia em olhar e, como se alguém puxasse as duas extremidades – a da varinha e a ponta do fio – do fio de luz, este se prendeu no braço de Harry com tamanha força, se esticando e, quando a força era tão grande que Harry achara que o fio de luz arrebentaria, ele sumiu num estampido, deixando em sua exata posição, um filete de fumaça arroxeada que indicara, por alguns segundos antes de se misturar com o ar, o local onde o fio estava.

Harry sentiu um enorme alívio quando aquilo acabou. Rony, Hermione e Gina ainda olhavam boquiabertos para Harry como se aquilo tivesse sido um grande momento. E de fato era! Harry, agora, era o Fiel Segredo da Ordem da Fênix.