Traduzida em: 04/02/2008

Autora: Spurnd

Capítulo 1

O que quer que ele olhasse, não tinha importância nenhuma para ele.

Sobre a chegada no gélido interior da cidade, que ele passaria a se referir como o nono ciclo do inferno, tudo o que seus olhos conseguiam enxergar eram as árvores, fileiras e fileiras de árvores, alinhadas paralelamente à estrada, indo na direção da escassa comunidade rural, cujos simples habitantes ele ainda tinha que se acostumar. Isso o enjoava, não, o amedrontava. Havia tantas árvores ao redor. Isso não podia ser possível, podia? Eles não podiam estar vivendo aqui… Eles tinham animais de fazenda.

Ele odiou. Não, ódio era pouco... Um termo relativo para descrever ao máximo sua mágoa por conta da mudança de sua família do Canadá para... Aqui, seja onde "aqui" for.

As pessoas daquela parte do país eram muito caipiras para ele, legais demais. Eles não amaldiçoavam ou ameaçavam matá-lo com seu carrinho de compras se você cortasse a fila na mercearia. Eles eram educados, e eles tinham educação, as pessoas tinham bons filhos, e tinham dúvidas sobre deixar sua espécie se misturar com as outras crianças. Desde que Pierre tinha um skate e adorava bandas punk obscuras em vez de ter uma bicicleta e fazer favores para seus pais. Ele ficava acordado a noite toda para ficar vagueando pela internet ao invés de se recolher às 8:00 e ir para a cama.

Ele e as crianças caipiras; eles provavelmente iriam apenas se desentender. Ele não se sentia exatamente atraído pela perspectiva de nadar em lagos, caminhar próximo às árvores, contando estrelas como passatempo, cuidando de animais (isso poderia acontecer), ou apenas viver aqui inteiramente.

Pierre Bouvier sentia falta da cidade, o cheiro da fumaça dos escapamentos, a visão do asfalto sob seus pés e imponentes prédios arranha-céus, suas janelas coloridas pegando os feixes de luz solar pela manhã. Não havia sequer um shopping aqui.

Ele sentia falta do barulho. Da sujeira. Os gritos dos motoristas de caminhão e os piches da cidade. Ele sentia falta de casa.

Ele não queria estar aqui, nesse buraco infernal no meio do nada, onde as árvores excediam o número de pessoas e havia apenas uma padaria e um posto de gasolina, uma escola, e todos se conheciam, porque acontecia de todos eles freqüentarem a mesma igreja. Puxa, ele se perguntava o que as crianças dali faziam para se divertir... Contavam galhos, talvez?

Pierre, não, ele pertencia à cidade. Que é o local menos próximo, nesse momento, da sua situação atual, que é no meio do caminho ao redor do Estado.

Ele queria Montreal.

Montreal, pessoas e ruas sujas, nas quais ele vadiou ao longo de seus cinco anos de viagens diárias, metrôs que ele havia pulado a catraca por mais de um ano sem ser pego pelas autoridades, e cujo trânsito repugnante nas estradas durante o horário de rush ele havia suportado desde que ele aprendeu a andar.

A visão de grama o deixava doente, e isso apenas alimentava ainda mais seu desejo de partir imediatamente, esquecer dessa terrível situação completamente, para que ele não ficasse louco com a quietude matinal ao invés do familiar alvoroço das ruas da cidade.

Pierre estava com saudade de casa, dos seus amigos, do apartamento da sua família na cidade, e da namorada que ele nunca teve, mas poderia ter tido, se seus pais não tivessem escolhido arruinar sua adolescência o tirando de sua perfeita vida na cidade e o empurrando para o pior lugar possível na Terra, que aconteceu de ser exatamente o oposto do meio no qual ele cresceu acostumado a viver: Greenwood.

Infernowood, mais como isso.

Ele havia gritado e discutido (no carro), chutado e choramingado (sendo arrastado escada a baixo até a garagem), mas não funcionou. Sua mãe havia dito que a vida na cidade tinha exercido uma péssima influência nele. Ele estava crescendo sendo despreocupado e irresponsável. Suas notas estavam rapidamente despencando por causa de muita conversa fiada com os amigos.

Tanto para formar uma banda e fechar um contrato para um CD. As esperanças e sonhos de Pierre foram por água abaixo no momento que Greenwood entrou no seu campo de visão.

[...]

A primeira manhã deles ali e os vizinhos já estavam entregando tortas, bolos, biscoitos... Muffins. Eles eram tão legais e isso o aborrecia. Que tipo de pessoas eles eram, afinal? Sempre tão felizes que você até pensaria que eles não eram pessoas morrendo de fome em alguma parte pobre do país.

Mas ao contrário disso, a senhora Bouvier estava extasiada e, não obstante, começou a fazer amizades, tão sorridente quanto podia e atendendo à porta para os estranhos alimentos assados carregados por estranhos, enquanto Pierre, bem, ele apenas se zangou em seu quarto, tocando Three Days Grace, recusando-se a mostrar o rosto em público novamente, a não se que sua mãe declarasse que eles estavam mudando-se de volta para a cidade.

Mas, por outro lado, a escola era outra história.

Eles tinham apenas um colégio em Greenwood. Todos se conheciam lá desde o jardim de infância, então em um único momento, quando seu pé tocou o chão do hall de entrada, a atenção de todos se focou nele. Ele novo ali, e as pessoas já estavam murmurando sobre ele, como se ele estivesse numa propaganda quente de revista ou tivesse lepra e algo engraçado em seu rosto, dizendo coisas como: Ooh, esse é o garoto que mudou para a antiga casa dos Simond. Ou Eu ouvi dizer que ele se mudou da cidade, porque ele bateu em uma menina na sua outra escola. E mais algumas coisas que Pierre não sabia se deviam acreditar.

É isso que Pierre odiava em cidades pequenas, o mau de viver numa compacta comunidade rural: qualquer coisa diferente aos seus olhos, ou não usual, eles se afastam. Considerando mais o fato de que eles não têm passatempos, eles o fazem falando de outras pessoas. Pierre apenas aconteceu de ser o assunto hoje. Agora ele se pergunta se essas crianças já tiveram uma conversa próspera em suas vidas inteiras, ou se suas mentes pequenas haviam alguma vez discutido outras idéias, além do que aquele cara usa para dançar ou como aquela garota quebrou o tornozelo no vôlei.

Pierre não sabia se deveria apreciar o fato de que ele capturou o interesse deles (quando você vai para a escola com 1500 crianças diferentes, é difícil aparecer, a não ser que você seja popular), por que ele nunca ganhou tanta atenção antes, ele estava tão acostumado a não ser notado, o olhar de "o ignore, ele está falando novamente" dos estudantes quando ele costumava viver na cidade.

Mas, pelos olhares nos rostos deles, eles o consideravam algum tipo de ameaça para a hierarquia da escola. Era seu cabelo? Sua camiseta do Rancid? Ou era o fato de que ele estava usando jeans ao invés de uma calça larga?

Depois de alguns dias isso, que para Pierre pareceram ser anos, alguns caras da classe de inglês de Pierre, foram até ele e fizeram amizade. Eles estavam mais que nervosos. Um até mesmo parecera que estava prestes a vomitar quando Pierre esticou a mão para se apresentar.

O nome deles era Patrick e Sebastien. Patrick era loiro e tinha um amor pela câmera que ele levava para a escola todas as manhãs, e Sebastien era um tímido moreno de olhos azuis, que tinha a maior queda pelo presidente do clube de xadrez: Chuck Comeau.

Não era como se Pierre tivesse alguma escolha também, para poder escolher seus amigos na escola. Eram apenas algumas pessoas na sala da décima série, e alguns eram gênios em Química, grupo de viciados em internet, fanáticos por basebol, membros do teatro ou poetas atormentados. Nenhum, infelizmente, tingia o cabelo ou tinha piercings. Não que Pierre tivesse, mas tinha esperanças de que houvesse alguns do que ele gostaria de chamar de seu tipo de gente. Essa gente provavelmente nunca ouvira falar em Blink-182 ou Good Charlotte.

Mas fora isso, Patrick e Sebastien deram a ele alguém com quem falar. Ele não era mais tão sozinho quando almoçava e ele podia, periodicamente, chamar os dois para sair quando eles não estavam estudando tanto ou fazendo a lição de casa, fazendo compras para seus pais ou pondo o lixo para fora, ou levando o cachorro para passear, o que era muito raro. Pat e Seb pareciam ser ocupados com coisas para fazer, ao contrário de Pierre, que o único passatempo era ficar nos confins do seu quarto, com seu violão no colo.

Entretanto, Patrick e Sebastien eram pessoas legais, eles eram bons. Tão bons quanto um fã de câmeras e um cara gay, com uma paixãozinha típica de garotas, poderiam ser. E eles conheciam Blink-182 e Good Charlotte. Esse era o maior ponto positivo.

Mas ainda assim, Pierre não podia evitar de sentir falta de sua antiga casa. As pessoas eram gentis, o lugar era habitável, mas algo parecia faltar.

Se havia algo sobre Greenwood que confundia Pierre, era o toque de recolher. A maioria das crianças que ele conhecia (Pat e Seb, de qualquer modo), iam para casa no pôr do sol e não saíam mais. Isso era estranho. Para onde ele tinha ido era tão sem graça ter um toque de recolher tão cedo, ou seguir seus pais. Isso sempre foi como impor isso para o cara, não deixá-lo seguir seu caminho. Rumar para casa no momento em que a aula termina na tarde de sexta-feira... Isso era falta de personalidade.

Pierre perguntaria a eles para que era isso, mas ele manteve isso para si mesmo. Ele não queria parecer rude ou arrogante ou apenas natural da cidade grande. Esses eram os caras da cidade, pelo amor de Deus! Eles nunca haviam visto um Burger King na vida. Se ele perguntasse a eles sem nenhuma delicadeza sobre o toque de recolher às 8:00, eles provavelmente apenas ficariam ofendidos.

Então Pierre esperou uma semana para se acostumar com a rotina da escola, antes de jogar a bomba. Faltavam quinze minutos antes do sinal tocar, quando ele verbalizou, "O que há com vocês e seu toque de recolher?" e se repreendeu por soar tão desagradável. Desagradável demais pra não querer ser ofensivo.

Seb pareceu surpreso, saindo de seu devaneio induzido com Chuck, enquanto Patrick ajeitou a lente da câmera e encolheu os ombros, indiferente.

"Nós gostamos de voltar cedo." Ele disse.

Pierre rolou os olhos. "É isso?" ele zombou. "Vocês apenas gostam de voltar cedo? Jesus, e eu estava esse tempo todo achando que vocês estavam fazendo algo divertido durante a noite."

"Que coisas divertidas?" Seb perguntou, curioso. Ele era muito ingênuo até para seu próprio bem. O cara não reconheceria um lubrificante mesmo que isso girasse em sua frente. Pierre piscou e engoliu em seco, gesticulando de modo falho com as mãos. "Bem, você sabe, coisas divertidas."

Seb parecia ainda mais confuso. "Não, eu não sei." Ele admitiu. "Que coisas divertidas, Pierre?" Patrick suspirou um pouco ruidosamente demais, enquanto colocava a câmera na grama, rolando os olhos e balançando sua cabeça a ingenuidade de Seb.

"Hey, olha, Seb. É o Chuck!" Patrick anunciou, apontando para onde Chuck estava curvado e absorto, lendo um livro de Bronte. A confusão de Seb desapareceu instantaneamente e ele guinchou, um tom rosado tomando suas bochechas enquanto ele olhava amorosamente para o garoto de seus sonhos. Pierre apenas piscou, trabalhando para disfarçar o desconforto que sentiu.

Ookay...

"Pierre," Patrick começou, tentando criar coragem para dizer lhe dizer o que ele praticamente não podia. Isso era proibido em Greenwood. Os locais não deviam divulgar esse tipo de informação a não ser que eles quisessem perder mais habitantes, mas Patrick percebeu que Pierre merecia saber o que estava acontecendo na pequena cidade afinal. Ele já estava lá há duas semanas. "O motivo por que a gente não sai depois do pôr do sol, é..."

As orelhas de Pierre se aguçaram instantaneamente. "Yeah?"

"Eu sei que você vai pensar que é besteira," ele riu nervosamente. "Mas é verdade. Nós temos árvores nos cercando e tudo o mais, certo? Mais e mais árvores e um monte de plantas."

"Eu seria cego se não notasse," Pierre retrucou sarcasticamente. Patrick mordeu o lábio inferior antes de se mover para frente, um braço ao redor dos ombros de Pierre, enquanto ele sussurrava dentro de sua orelha. "A coisa está... Na floresta." Uma pausa. "Nós temos criaturas perambulando durante a noite."

Pierre piscou, um pouco temeroso. "Que tipo de criaturas?"

"Fadas."

Pierre quase se molhou de tanto rir. "Sério?" ele riu.

Patrick assentiu, parecendo alarmado com sua falta de interesse. "Você não está brincando comigo, está?" Pierre ofegou enquanto voltava a rir. "Quero dizer… Fadas? Nessa parte do país? Yeah, certo." Ele riu mais um pouco. "Patrick, fadas não são…" Patrick colocou uma mão sobre a boca de Pierre. "Cale a boca, Bouvier." Ele disse sob a respiração. "Elas podem te ouvir. Fadas são criaturas muito poderosas. Elas têm mágicas e essas merdas, e se você mostrar a elas qualquer sinal de desrespeito, eles vão torcer seu pescoço. Ou algo ainda mais horrível. Como te dar mais acnes."

Pierre girou os olhos, empurrando a mão de Patrick para longe. "Cara, fica frio." Ele disse. "Eu não vou falar mal das suas fadas." Então ele acrescentou, "E eu não tenho acnes!"

"Eu não estou mentindo, se é isso que está pensando." Patrick disse seriamente, ignorando seu último comentário. "Estou te dizendo a verdade. Você pode perguntar ao Seb se quiser."

"Não, eu não vou perguntar pra ele." Pierre disse, meio que ignorando o suspiro sonhador que escapou dos lábios de Seb quando Chuck ergueu seus olhos do livro que estava lendo e seus olhos se encontraram.

"Por que não?" Patrick perguntou.

"Você sabe por que."

"Não, me diz."

"Idiota." Pierre rolou os olhos.

Patrick balançou a cabeça, rindo. "De qualquer modo, não conte a seus pais sobre as fadas, okay?" ele pediu, como se os pais de Pierre fossem estar interessados nessas criaturas de qualquer modo. "Você sabe essa casa que você está morando? A antiga casa dos Simond?" Pierre concordou, as sobrancelhas se erguendo.

"O motivo deles terem te vendido a casa pela metade do preço foi porque seu jardim é o atalho para a floresta e você sabe o que vive na floresta?"

"Animais selvagens estranhamente desfigurados?"

"Sim, animais estranhamente... Hey, não. Fadas, idiota!" Patrick sibilou. Pierre rolou os olhos assim que seu amigo continuou. "Não conte para seus pais, cara. Okay? Você não quer que eles pirem, quer?"

"Pirar?" Pierre repetiu. "Sério que você acha que eles pirariam? Eles me chamariam de louco se eu contasse a eles."

"Sério?" Patrick perguntou, incrédulo. "Wow. Seus pais são tão legais. Meus pais me trancam no closet por quatro dias sem comida e água quando eu falo que a floresta está lotada de fadas."

Pierre apenas piscou.

Agora, ele queria mudar-se de volta para Montreal o mais rápido possível.

[...]

A curiosidade sempre tinha levado a melhor sobre ele. Pierre tem que admitir que a perspectiva de fadas no seu jardim, apenas o fez questionar a sanidade da cidade toda, ele não podia negar a urgência de apenas ir checar. Nada errado nisso, certo?

Aliás, era sexta à noite. Nada para se fazer desde que todos haviam escapado para os confins de seus quartos com medo da tortura das fadas, ou algo menos careta.

Pierre havia levado uma lanterna com ele, e com a ajuda dessa fonte de luz, ele saiu de seu quarto depois do jantar, e foi para o jardim, a noite criando sons que faziam sua pele se arrepiar.

Apertando seu agasalho ao redor de si mesmo mais firmemente, Pierre adentrou mais a floresta, o som dos galhos se quebrando sob seus pés sendo o único som na noite iluminada pela lua. Ele tremeu quando o vento acariciou seu rosto, parando para observar ao redor escuro enquanto o vento farfalhava as árvores.

Ele ouviu algo atrás de si, tão suave quanto o vestígio de uma risada. Ele girou ao redor, deslocando a luz da lanterna em sua mão. "Quem está aí?" perguntou, um tom ríspido com nervosismo que não estava lá antes. "Pat? É você?" a risada suave continuava, mas não era ameaçadora ou obscura, absolutamente… De fato, era quase hipnótica. Uma série de pequenas risadinhas brincalhonas. Os olhos de Pierre se estreitaram. "Pat, se for você brincando comigo, eu juro por Deus…" e, então, a risada parou.

Um fraco sussurro surgiu de trás dele e ele engoliu em seco. "Patrick? Não fode, cara. Isso é tudo besteira. Se você acha que pode me assustar com pensamentos de que fadas realmente existem…" Pierre piscou assim que o silêncio dominou todo o lugar, o estranho pressentimento de algo errado amaldiçoando-o. Estava tão quieto que ele quase podia ouvir o próprio coração batendo.

Então, ele riu de si mesmo.

Ele estava sendo idiota novamente. Havia a possibilidade, podia não ter fadas no seu jardim! Essas coisas só aconteciam em filmes! Pensando que isso era possivelmente verdade, Pierre caminhou de volta para o jardim, chutando-se mentalmente por ser tão ingênuo. Pat, definitivamente, teria sua bunda chutada amanhã.

[...]

Fadas eram criaturas de perfeição e beleza. Elas eram esbeltas, sendo graciosamente imortais, cuja pureza não podia ser tomada, a não ser que elas fossem para a cama com mortais. Elas viviam uma vida relativamente pacífica entre os humanos, apenas visíveis para as pessoas com o dom da visão, e habitavam as florestas desconhecidas do mundo.

Mas havia uma pequena e desonesta fada, o príncipe em pessoa, filho de Titania e Oberon, que detestava esse modo de vida. Seu nome era David e ele era o exemplo de perfeição: pele branca como o leite e cabelos negros cobrindo os olhos igualmente escuros. Muitas fadas (tanto fêmeas quanto machos) o invejavam. Ele era lindo e esbelto, veloz, misericordioso com os outros, e pueril em seus atos. Ele era inocente para o resto do mundo. Era amável e gentil.

Mas havia uma coisa sobre ele que o diferenciava, além de suas características terrivelmente inspiradoras: seu desejo de se transformar em humano.

Humanos morrem após alguns anos. No mundo das fadas, o tempo não existe. Seus pais nunca souberam sobre esse seu segredo, tampouco qualquer outro de sua espécie, que ele anseia pela vida de um mortal, apesar de sua vida curta.

Ele estava determinado a aproveitar a jovialidade que eles tinham. Ele estava cansado de passar um longo tempo caminhando pela floresta e batendo as asas sobre as árvores. Ele queria andar ao invés de voar, ele queria ouvir o som encantador de seu maestro. Rádio ou algo assim. E ele queria se misturar entre os humanos. Os humanos eram criaturas divertidas. Ele queria ser como eles. Queria ser divertido.

David estava determinado a ser, então depois de escapar do domínio do reino, com a ajuda de um amigo, ele se viu passeando ao longo da floresta durante a noite. As fadas não conheciam o cansaço, então ele continuou indo para nenhum lugar em particular, acostumando seus olhos com as piscadas de luz entre as árvores.

Quando ele finalmente encontrou a clareira de onde a luz parecia vir, um sorriso apareceu em seu rosto.

Havia um humano realmente alto lá. Os cabelos dele eram escuros como a noite e ele era musculoso também. Os olhos de David se arregalaram. O humano era muito bonito, quase tão bonito quanto ele era... Exceto por não ser esbelto ou feminino como ele. O humano parecia aborrecido, nervoso até enquanto lançou a luz na direção de David. David riu e o humano ouviu isso, os olhos parecendo amedrontados.

"Quem está aí?" ele disse. O humano bonito não o via. David estava invisível, voando no meio do ar e do tamanho do punho do humano.

"Pat? É você?" o humano perguntou e David voou até suas costas e olhou para ele. Esse humano em particular não apenas tinha uma boa aparência, como também cheirava bem. "Pat, se for você brincando comigo, eu juro por Deus..." a boca de David se torceu num sorriso maior.

Talvez esse humano fosse o que ele precisava? Esse humano poderia transformá-lo num humano também! Eles podiam aquecer a cama e David poderia finalmente se libertar das asas e ter o tamanho dos humanos para sempre. Sem magia! Ele viveria entre eles e ninguém iria saber!

David sorriu para si mesmo quando o humano murmurou algo sob a respiração. David o seguiu até sua residência, uma mansão muito grande se comparada ao que David estava habituado: pequenos ramos e folhas e um pequeno poço. Este humano não tinha um poço. Aonde ele ia buscar sua água?

David não ligava mais. Ele seguiu o humano até seu quarto assim que esse abriu a porta e se jogou na cama, suspirando. O humano parecia cansado. "Deus, eu sou um idiota." ele murmurou. "Eu não acredito que deixei Pat me convencer de que havia fadas no meu jardim!"

David ficou um pouco magoado pelo comentário. Ele não acreditava em fadas? Sentindo uma leve pontada no peito, David voou em direção ao humano, olhando-o nos olhos, curiosamente. Ele tinha os olhos mais profundos que ele já havia visto. O humano não o olhava de volta, entretanto. David era invisível para ele.

David juntou suas asas e inclinou a cabeça. Em segundos, ele estava visível para o humano.

O humano gritou. "PUTA QUE PARIU!". Ele se pressionou contra a parede, seus olhos arregalados. "Mas que merda..." agarrando um travesseiro, ele o balançou ao redor, tentando machucar David com ele. David voou para longe. "Não fique com medo, humano." Ele disse. "Eu não vou te machucar!"

O humano apenas gritou mais alto. "Mãe, pai! Tem um estranho inseto falante no meu quarto!" Os olhos de David se estreitaram. "Humano tolo, eu não sou um inseto! Sou uma fada!" Ele bateu suas asas luminosas e sorriu largamente, pó mágico se acumulando no colo de Pierre.

Pierre apenas olhou para ele. "Não, não, isso não está acontecendo!", ele murmurou para si mesmo assim que se pressionou mais ainda na parede. "Isso é só um sonho. Pierre, você adormeceu e isso não é real. Isso é invenção da sua imaginação porque Pat bagunçou com sua cabeça e a encheu com besteiras sobre fadas."

David parecia interessado. "Seu nome é Pierre?" Ele perguntou curiosamente. "Ah, meu Deus!" Pierre guinchou. "Isso disse meu nome! Merdamerdamerdamerda." David piscou e voou para mais perto de Pierre. "Eu sou David." Ele corou quando Pierre engoliu em seco e o olhou mais de perto, o segurando em sua mão. David estava confortável em sua mão e olhava para cima, para Pierre.

"Você realmente é..." o humano, Pierre, perguntou.

David acenou. "Eu sou uma fada."

"M...Mmmas... Você é um cara!"

David encolheu os ombros. "Não tem essa. Fadas não são apenas fêmeas." Pierre assentiu, enquanto a porta do quarto dele se abriu e seus pais podiam se encontravam do outro lado do quarto. Pierre rapidamente escondeu David dentro do bolso de seu agasalho e esboçou um sorriso falso assim que seus pais pararam ao seu lado, parecendo preocupados.

"Pierre, querido, nós ouvimos gritos..."

"Eu estou bem, mãe." Pierre sorriu. "Eu, uh… Tive um pesadelo." Ele balançou a cabeça. "Yeah, um pesadelo. Desculpe tê-los acordado. Haha, vocês podem voltar a dormir agora. Eu estou bem." Seus pais assentiram, sua mãe indo até seu lado, bagunçando seus cabelos. "Boa noite, querido."

"'Noite, mãe."

Eles saíram e Pierre suspirou em alivio, enquanto o alcançava em seu bolso. Ele puxou David para fora e o sentou em seu peito. Ele era tão pequeno que cabia em sua mão. Como a Sininho do Peter Pan. David se ajeitou. "Você mentiu." Ele franziu as sobrancelhas.

"Eu menti?" Pierre perguntou.

David concordou. "Por que você faz isso?"

Pierre encolheu os ombros. "É o que os humanos fazem."

David assentiu em compreensão. "Você tem alguma magia?" Pierre perguntou curiosamente. David concordou. "Sim, Pierre." Ele fez uma pausa. "Mas eu não gosto da minha vida."

"O que quer dizer?"

"Eu quero ser humano." Ele admitiu pesarosamente.

Pierre estava surpreso. "Como pode? Ter poderes mágicos é legal."

"Você deseja virar uma fada, Pierre?" David perguntou seriamente. Pierre riu, nervoso. "Uh, não realmente. Eu gosto de ser eu, idiotamente humano como sou, obrigado."

O rosto pálido de David se entristeceu. "Você vai me ajudar a virar um humano, então, Pierre?" Pierre empalideceu instantaneamente. Ele estava incerto do que dizer. David parecia ser uma fada legal, mas... Ele era uma fada! Eles eram dois tipos diferentes de... Criaturas vivas!

Pierre coçou a cabeça nervosamente antes de responder, "Bem, o que eu tenho que fazer para te ajudar?"

"Você tem que aquecer sua cama comigo."

Pierre quase veio em suas calças. "Desculpe?", ele pigarreou. "O que exatamente você quer dizer com isso?"

"A união de um humano e uma fada acaba com todos os poderes mágicos e com a imortalidade." David o informou.

"Mas você é... Você é minúsculo!" Pierre argumentou, estendendo sua mão e David pulou pra ela. "Nós não podemos... Quero dizer, como eu vou colocar dentro?"

"Eu posso ficar do seu tamanho."

"Sério?"

"Sim. Eu tenho poderes mágicos, não é?" Davi balançou a cabeça, enquanto voava em direção a ponta da cama. "Feche os olhos, Pierre." Pierre fez como lhe foi dito. Ele estava se sentindo estranho quanto a isso. A idéia de aquecer sua cama com uma fada era um pouco alarmante. Ele era inexperiente quando isso veio a tona. Inferno, ele era praticamente desentendido. Fadas tinham orgasmos?

"Você pode abri-los agora, Pierre." David anunciou, sua voz mais alta e fazendo um estranho calor correr por sua espinha. Pierre sentou-se em sua cama e olhou para David, sua boca se abrindo, embasbacado. Ele não estava mais verde: o corpo estava sem qualquer roupa, agora que ele estava em sua altura máxima. David tinha pernas brancas perfeitas e um par de pequenos pés. E ele era esbelto e gracioso quando se movia, olhos escuros com o cabelo negro caindo sobre seu rosto. Pierre não podia formar nenhuma palavra ou pensamentos coerentes. Ele estava ficando excitado.

David ainda era brilhante, entretanto. E ainda tinha as asas, então isso afastava um pouco o romance. "Pierre?"

"Y...yeah..."

Ele se moveu para perto e pressionou a mão na bochecha do maior. "Sua palidez parece doentia. Você se sente bem?"

Ele assentiu, a temperatura corporal aumentando sob o toque macio de David. A pele dele era tão lisa e imaculada que fez sua boca salivar. David partiu os lábios de Pierre com seus dedos, traçando suas expressões, olhando curiosamente para ele. Ele não estava notando que estava afetando muito Pierre com sua falta de roupa. No seu mundo, ninguém se importava muito se você está vestido ou não.

Os sentidos de Pierre estavam vacilando por causa da proximidade. Havia uma criatura malditamente linda parada próxima a ele, nua e todo o sangue de seu corpo todo estava começando a se concentrar em sua virilha.

David cutucou sua cabeça com o dedo. Ele engoliu em seco, pegando um travesseiro para colocar sobre seu colo e prensou suas pernas juntas a fim de que David não visse sua ereção.

"Okay." Ele guinchou. "Então, quando nós vamos fazer isso?"

David riu. "Você quer aquecer sua cama comigo agora?"

Pierre piscou. Isso não estava acontecendo. Não, isso era bom demais para ser verdade. Ele provavelmente havia adormecido na floresta ou algo assim. Ou tropeçou num galho e machucou a cabeça. Alguém tão perfeito quanto David não podia estar tão determinado a transar com ele!

"Uh, você quer?" David encolheu os ombros inocentemente, uma coloração tímida em suas bochechas. "Eu nunca fiz antes e preciso fazer..."

"Bem, o que você quiser, cara." Ele engoliu em seco novamente.

"Cara?" David perguntou curiosamente assim que se sentou ao lado de Pierre, a ereção do maior aumentando absurdos. "Uh, é tipo, isso significa amigo." Ele balançou a cabeça suavemente.

David sorriu alegremente, parecendo perfeitamente feliz. "Amigo." Ele repetiu. "Então, David e Pierre são amigos?"

"Uh, claro, um… Eu realmente tenho que usar o banheiro." Pierre se explicou.

David pareceu interessado. "Banheiro? Por que você precisa tomar um banho? É quase meia noite. Você quer que eu te acompanhe?"

Pierre guinchou novamente. "Uh... Não, não. Eu apenas preciso fazer algo realmente, realmente importante agora, David. Hum... Você pode ficar à vontade e dormir ou seja lá o que você faz. Apenas, espere aqui." Ele pulou para fora da cama, o travesseiro ainda cobrindo seu colo enquanto ele bateu a porta atrás de si.

David piscou, escorregando para sob os lençóis e puxando-os por sobre sua cabeça. Eles cheiravam muito, muito bem. Ele juntou os dedos e, finalmente, seu corpo parou de crescer, as asas luminosas em suas costas finalmente desaparecendo. Mas isso era apenas por enquanto. Até depois de dois pôr-do-sol e ele se transformaria em humano.

Finalmente!