Laços Eternos
Capítulo I
Os olhos se acostumaram rapidamente com a escuridão.
Mas onde ele estava? Se aquele lugar silencioso era o Inferno, então era melhor do que imaginara. Se nenhuma criatura do submundo viesse incomodá-lo, ótimo. Ele poderia repousar ali por horas eternas. Nada mais importava. O mundo fora salvo.
Fechou os olhos novamente e em vez de um negrume, viu aquele rosto em sua mente. Quantos dias haviam se passado desde aquele reencontro? Eles nunca mais se veriam? Não, apesar de tudo, ele não merecia o Inferno. E se ele estava no Céu, então não haveria nenhuma chance para eles. Se não houvera em vida, por que haveria após a morte?
Talvez aquele fosse mesmo o Inferno e sua penitência fosse ter de passar a eternidade lembrando-se de que botara tudo a perder em seu desejo incontrolável. O arrependimento não fora o suficiente e ele soubera que não seria. Mas se ao menos ele pudesse ter tido uma chance, mínima que fosse, mas uma chance de dizer que se arrependera e que apesar de toda aquela loucura, ele sempre o amara. Mesmo quando o odiara, fora com todo seu amor. Se houvesse uma chance...
O dever para com a deusa viera em primeiro lugar, no fim das contas. Era assim que as coisas deveriam ter sido desde o começo.
Passos ecoaram e ele abriu os olhos, apenas para se deparar com a escuridão de novo. Pensou ter ouvido um gemido de dor ao longe e apurou os ouvidos.
Não demorou até que ele ouvisse uma voz familiar.
- Ei, onde eu estou? - a voz soara distante. - Aliás, onde está o Camus?
Riu. Então não estava sozinho no Inferno. Que pecados Milo estaria pagando ali? Sorte a dele se o Cavaleiro de Aquário também estivesse lá. Talvez o submundo não fosse tão solitário para algumas pessoas, afinal.
Voltou a fechar os olhos, sentindo um cansaço apossar-se dele. Queria dormir e apenas entregar-se a um sono interminável. Pouco lhe importava se os outros também estavam ali. Ele certamente não estava e era difícil afirmar se isso era bom ou ruim.
Sentia que estava perdendo a consciência e adentrando um mundo de sonhos – ou pesadelos, quem sabe - quando a voz feminina e suave ecoou, tão próxima que o assustou.
- Seu irmão está vivo, também. Já é tempo de retornarem aos seus templos.
Retornar ao templo? Ah sim, então Athena estava ali para lhe dar um passe de saída do Inferno? Parecia uma proposta irrecusável, mas provavelmente não passava de um sonho, então por que se dar ao trabalho de responder?
- Parece que ele está em um sono confortável, Athena. - outra voz conhecida soou próxima. - Saga não quis esperar e já subiu para o Terceiro Templo.
"Saga não quis esperar... não quis esperar por mim?"
- Talvez seja melhor deixar um soldado esperando que ele acorde para que o oriente. Podemos ir para as Doze Casas, Camus? Aliás, Milo estava procurando por você.
O som dos passos começaram a ressoar cada vez mais distantes.
"Esperem!"
Kanon abriu os olhos e se levantou. Havia uma porta a sua frente e ela ficara entreaberta, deixando um pequeno feixe de luz entrar. Saiu a tempo de ver Athena e Camus dobrarem a esquina daquele corredor longo e iluminado ao ponto de ferir-lhe os olhos.
Então eles estavam vivos. E Saga estava vivo.
Havia uma chance, ainda.
oOo
