Disclaimer: Harry Potter não me pertence, nem essa história. HP pertence à JK Rowling, e Laços de Vingança pertence à Lynne Graham. Isto não possui fins lucrativos.

CAPÍTULO I

Lily estava junto da janela de vidro, imóvel como uma estátua. Seus grandes olhos verdes ardiam, e todos os músculos do corpo acusavam a tensão acumulada por doze horas. Somente a disciplina rígida com que fora educada possibilitava o controle da exaustão. Havia sido uma longa noite e um amanhecer devastador. E cada minuto de agonia havia sido gravado para sempre em sua alma. A enfermeira que a acompanhava agora debruçou-se sobre o berço de seu sobrinho recém-nascido e mostrou-o com um sorriso amplo.

Provavelmente não sabia, Lily pensou entorpecida, olhando para a moça com o rosto inexpressivo, os músculos congelados numa máscara. Então, ela deixou de sorrir, mas Lily não notou. Sua atenção era toda para o sobrinho, um bebê de cabelos negros e olhos muito escuros.

Não havia nada de Petunia nele. Era moreno, a ascendência estrangeira claramente estampada nos traços. E estava chorando. Parecia tão infeliz! Lily imaginou se, de alguma forma estranha e inexplicável, ele sabia que a mãe estava morta. Morta. Ela encolheu-se involuntariamente ao pensar na palavra e começou a caminhar muito devagar pelo corredor, já quase sem forças para sustentá-la.

Nos dias de hoje as mulheres já não morriam de parto. Pelo menos era o que ela imaginava. E Petunia ainda não era sequer uma mulher na opinião da irmã. Aos dezoito anos, ainda estava tentando atravessar a fronteira entre a infância e a idade adulta. Uma menina de ouro, bela, inteligente e tudo mais que uma jovem pode desejar... até Damon Potter entrar em sua vida e destruí-la. Uma imensa amargura a invadiu. Era uma emoção tão intensa que chegava a amedrontá-la.

— Srta. Evans...

O som daquela voz a fez parar. O sotaque carregado era como um peso sobre seu peito. Devagar, Lily ergueu a cabeça e o viu parado a alguns passos de distância. Um homem impossível de se ignorar. Devia ter mais de um metro e oitenta, e o terno bem cortado emoldurava músculos definidos e ombros largos. O tecido falava de riqueza. Ele possuía a graça natural e perigosa de um animal selvagem e a autoridade ameaçadora de um homem nascido para comandar.

Incrédula, Lily o viu estender a mão morena.

— Por favor, permita-me oferecer minhas mais sinceras condolências pela morte trágica de sua irmã.

Lily retrocedeu um passo, enojada pela ameaça de qualquer espécie de contato físico.

— O que está fazendo aqui? — perguntou com voz trêmula.

— Você deixou um recado urgente com minha secretária.

— Petunia me fez telefonar, mas eu não pedi que viesse, sr. Potter. Pedi a presença de seu irmão.

— Damon está na América. — James a encarava com olhos negros e frios como uma noite de inverno. — Já o informei sobre a morte de sua irmã, e ele está profundamente consternado.

Um riso histérico brotou da garganta de Lily.

— É mesmo? — ela perguntou entre a ironia e a incredulidade.

— Gostaria de ver meu sobrinho — James respondeu, ignorando a demonstração de hostilidade.

— Não! — Lily reagiu com violência. Odiava James Potter como jamais odiara outro ser humano, e seu ódio havia sido nutrido durante vários meses. Agora o sentimento era como um câncer a devorá-la, consumindo todas as outras emoções.

— Você não tem mais direitos que eu...

— Direitos? — ela repetiu ultrajada. — Ainda se atreve a falar de direitos depois do que fez a Petunia? Você não tem nenhum direito sobre o filho de minha irmã!

— Você está perturbada — James constatou com tom calmo, apesar da tensão evidente.

Lily sabia que as pessoas não falavam com James Potter dessa maneira. Era um homem fabulosamente rico e poderoso. Sua família fazia apenas aquilo que ele determinava, e sua palavra era lei. Não esperava oposição. A mídia sempre publicava histórias terríveis sobre os tolos que ousavam desafiá-lo nos negócios. Mas Lily não tinha medo. Daria vinte anos de sua vida para ter o poder de ferir James Potter como ele havia ferido sua irmã.

— Você a matou... Assassinou-a friamente. Espero que agora esteja satisfeito! — Lily o acusou.

— Srta. Evans — James chamou, segurando-a pelo pulso ao perceber que ela pretendia dar-lhe as costas.

— Tire a mão de mim, seu porco!

— Não fosse por seu evidente estado de desequilíbrio e pela dor que a dilacera, eu exigiria um pedido de desculpas. Componha-se, antes que eu perca a paciência!

Furiosa, abalada com o contato físico e com o olhar penetrante do americano, Lily o esbofeteou sem pensar nas consequências de sua atitude. James a soltou e emitiu uma exclamação incrédula enquanto levava uma das mãos ao rosto.

— Nunca mais se aproxime de mim! — ela disparou, assustada com a própria violência. Jamais havia agredido alguém antes!

Sem esperar para saber qual seria a reação de Potter, ela atravessou o corredor e deixou o hospital.

Estava tão profundamente chocada que não sabia sequer para onde ir. Petunia estava morta. Ainda não conseguira aceitar tão dura realidade. Seus pais haviam morrido num acidente automobilístico quando Lily tinha dezessete anos. Não tinham nenhum dinheiro, e Petunia era apenas uma menina de onze anos.

— Cuide de Petunia — sua mãe havia repetido várias vezes antes de morrer. Mary Evans ainda repetia o nome da filha caçula quando fora interrompida pelo último suspiro.

Lily deixara a escola, desistira de qualquer tipo de investimento no próprio futuro e passara a preocupar-se com as necessidades da irmã. Convencera a prima de seu pai a aceitá-las em sua casa e, com Molly por perto, as autoridades do serviço social desistiram de levar Petunia. Lily havia trabalhado como garçonete. Todos os dias, quando voltava para casa, ainda tinha de cozinhar, lavar, passar e cuidar de todas as tarefas domésticas de Molly, que a tratava como uma empregada barata e, como se não bastasse, ainda ficava com quase todo o dinheiro que Lily ganhava servindo as mesas de um bar.

Assim que completara dezoito anos, Lily havia encontrado outras acomodações. Fizera o possível para dar à irmã um lar repleto de amor e segurança, transformando-a em sua prioridade absoluta. E Petunia aproveitara. Loira, dona de pernas longas e bem torneadas, ela lembrava a beleza das garotas da Califórnia. E Lily não podia deixar de sentir orgulho. Não fora fácil fazer a irmã extrovertida e cheia de vida concentrar-se na necessidade de estudar e trabalhar para progredir num mundo tão competitivo.

Mas Lily havia conseguido. Petunia concluíra o colégio com notas excelentes e fora para a universidade estudar idiomas. Lily sentira o orgulho que qualquer mãe teria experimentado, e conseguira outro emprego no horário noturno para impedir que a irmã passasse qualquer tipo de privação. Tudo havia sido perfeito antes de Damon Potter aparecer.

— Conheci um americano fabuloso! — Petunia anunciara ao telefone. — Ele é lindo, rico e louco por mim...

— Parece bom demais para ser verdade — Lily murmurara hesitante, desconcertada com o entusiasmo da irmã. Seus namorados costumavam aparecer e desaparecer em seguida sem que ela fizesse qualquer comentário sobre eles. Linda desde o início da adolescência, Petunia conquistara dezenas de rapazes.

— Vou levá-lo para conhecê-la em breve — Petunia havia prometido.

Mas semanas se passaram antes que Lily finalmente pudesse conhecer Damon, um jovem de vinte e cinco anos, de uma beleza quase infantil e de um charme descuidado. Seus olhos castanhos e brilhantes acompanhavam cada movimento de Petunia, e ele falara com Lily como se estivesse diante da mãe da namorada, e não da irmã mais velha.

Damon não poupara esforços para convencê-la de suas boas intenções. Segurando a mão de Petunia, ele dissera:

— Amo sua irmã, e quero me casar com ela. - Apesar do sorriso gentil, Lily sentira-se assustada.

Petunia era jovem demais para assumir um compromisso tão sério! Temera que a irmã abandonasse os estudos, ou que permitisse que o romance prejudicasse seu rendimento na universidade. Mas, com a sensatez que sempre guiara seus passos, não havia demonstrado suas preocupações. Ao menor sinal de oposição, Petunia certamente rebelaria-se. Conhecia a teimosia da irmã, e aprendera desde cedo a convencê-la através do tato e da diplomacia.

— É claro que só pretendemos nos casar no futuro — Damon acrescentara.

— Uma decisão de bom senso — Lily sorrira aliviada. — Vocês têm todo o tempo do mundo.

— Não me venha com essa história de futuro! — Petunia irritara-se.

— Mas nós já discutimos esse assunto, Petunia mou — Damon protestara, antes de dirigir-se novamente a Lily. — Nosso amor terá de resistir ao teste do tempo, ou não terei o consentimento de meu irmão.

— Do seu irmão? — Lily surpreendera-se.

— A família Potter funciona com uma hierarquia rígida — Petunia explicara. — No topo da pirâmide há sempre um homem. O pai de Damon morreu, e seu irmão James é o grande cacique da tribo Potter.

Damon encarou-a com ar de reprovação, o rosto tingido por um rubor intenso.

— Acho que não devia fazer piadas com a família de Damon — Lily a repreendera enquanto preparavam o jantar na pequena cozinha. — Ele ficou ofendido.

— Bobagem! Ele é um homem adulto, tem um emprego e responsabilidades, mas quando fala sobre o irmão, é como se voltasse a ser um garoto. Ele nunca para de falar sobre o sujeito. James isso, James aquilo... E como se James fosse Deus na vida dele.

— Damon é americano. Sua cultura, sua formação e sua criação devem ser muito diferentes daquilo que conhecemos. Se realmente o ama Petunia, vai ter de aceitar tudo isso.

Lily retornou do passado e descobriu-se num banco do parque próximo ao hospital. E pensar que chegara a sentir-se aliviada ao ouvir Damon mencionar a necessidade de obter o consentimento do irmão para se casar!

Os sinais de alarme só ecoaram em sua mente no dia em que vira o nome Potter no noticiário noturno e vira um homem de beleza impressionante cercado por executivos e câmeras, recusando-se a comentar a aquisição de uma certa companhia em Nova York. No dia seguinte comprara um jornal e lera tudo sobre James Potter com crescente apreensão. Naquela noite havia telefonado para Petunia solicitando sua presença em casa.

— Você disse que Damon estava administrando o hotel da família em Oxford — Lily recordara. — Mas não disse que os Potter eram bilionários!

— James é bilionário. — Petunia corrigira. — Damon só tem o que leva no bolso.

— Pensei que Damon pertencesse a uma família de hoteleiros...

— Lily, pelo amor de Deus! Não lê as colunas comerciais? A família de Damon possui uma linha de navegação, uma cadeia internacional de hotéis, fábricas, corretoras financeiras... Eles estão em todos os ramos que puder imaginar.

Lily ficara perturbada. Não havia percebido que o namorado da irmã fazia parte de uma família tão rica. Damon parecera tão simples! Naquela noite, quando os três conversaram em sua sala de estar, Petunia mencionara seu emprego de secretária e abandonara o assunto rapidamente.

Na verdade, Lily era apenas auxiliar de arquivo num grande escritório, e não conseguira progredir porque, dividida entre dois empregos, não havia tido tempo para freqüentar cursos noturnos e aprimorar seus conhecimentos. Passara quase todas as noites dos últimos sete anos servindo mesas ou fazendo faxina para conseguir algum dinheiro extra.

Naquela noite em que conhecera Damon, tentara não sentir-se magoada ao ouvir a irmã pedindo que não revelasse essas últimas fontes de renda. Petunia ficava embaraçada com os subempregos da irmã mais velha, e Lily a compreendia. Petunia sempre quisera ser alguém, e sua segurança fora despertada quando, na universidade, passara a conviver com jovens provenientes de lares mais confortáveis e estáveis que os dela. Sempre havia escondido que a origem de suas roupas, modernas, porém baratas, eram as faxinas que a irmã mais velha costumava fazer em prédios comerciais depois do horário de expediente.

E agora Petunia se fora. Lily levou as mãos trêmulas ao rosto como se o gesto pudesse conter a angústia que a devorava por dentro. Não conseguia imaginar a vida sem Petunia. Petunia e sua energia exuberante, sua alegria envolvente e seu temperamento explosivo. Era seis anos mais velha que a irmã. Criança quieta e solitária, Lily encantara os pais com sua generosidade, não demonstrando qualquer sinal de ciúmes com a chegada da irmã. Fascinada com a pequena, lera incontáveis histórias, le vantara-a de muitos tombos, ensinara canções infantis antes que ela fosse para a escola e mais tarde, a ajudara com as lições. Os pais trabalhavam fora, e Lily preenchera sua vida com a irmã.

— Srta. Evans.

Lily ergueu a cabeça e, incrédula, reconheceu James Potter.

— Permita que eu a leve para casa — ele pediu com tom neutro.

Lily explodiu num ataque de riso histérico e cobriu o rosto com as mãos. Que tipo de bárbaro era ele? Não tinha sequer o discernimento para deixá-la em paz com sua dor?

Apenas algumas horas haviam se passado desde que fora arrancada da cabeceira de sua irmã para que os médicos tentassem reanimá-la. Fora tudo muito rápido, mas a eficiência da equipe não conseguiu evitar que Petunia perdesse a batalha para um infarto dias antes de completar dezenove anos. Devastada, Lily ouvira a explicação da obstetra com crescente espanto.

No início da gravidez, Petunia fora prevenida sobre sua condição cardíaca. Exames de rotina revelaram o que ninguém jamais imaginara, mas ela recusara-se a se submeter ao aborto aconselhado pela médica. Também não comentara o assunto com a irmã. Lily havia estranhado a frequência das consultas durante o pré-natal, mas não imaginara que pudesse haver algum problema tão sério.

— Petunia estava absolutamente decidida a ter o bebe — a obstetra dissera. — Foi uma decisão pessoal, e é provável que ela tenha preferido esconder a verdade para não ter de ouvir seus conselhos.

— Srta. Evans — James insistiu com impaciência. Por que ele não ia embora? Por que não a deixava em paz com seu sofrimento?

— Não posso deixá-la aqui nessas condições — ele prosseguiu, como se lesse seus pensamentos. — Quero deixá-la em casa, e depois irei tomar todas as providências com relação ao funeral e...

— Seu... Selvagem! Não permitiu que ela se casasse com seu irmão, mas mal pode esperar para enterrá-la!

— Não pretendo ficar aqui ouvindo insultos num local público.

— Então já sabe o que deve fazer, não? Desapareça!

— Se não fosse uma mulher... — ele ameaçou, avançando alguns passos em sua direção.

— Você já estaria morto. Se eu fosse um homem, teria feito você pagar pelo que fez com Petunia em seu escritório há cinco meses.

— Só estava tentando oferecer apoio num momento difícil para todos nós — ele encolheu os ombros, virando-se para partir.

Só então Lily foi atingida pelo impacto da realidade. Petunia havia partido para sempre, e ela ainda não derrubara uma única lágrima. Seus olhos haviam queimado como brasas, mas permaneceram secos. E agora as lágrimas corriam numa torrente silenciosa, varrendo seu rosto e provocando uma mistura de alívio e tristeza. Felizmente não havia chorado diante dele.

— Aposto que não adivinha quem acabou de chegar — Molly, com o rosto gorducho iluminado pela curiosidade, cutucou Lily pouco depois da cerimônia religiosa ter começado. — São eles... Aposto que sim. Quem mais poderia ser?

— Psiu — Lily a censurou de cabeça baixa, tentando acompanhar a primeira oração.

James e Damon Potter. A visão dos dois atingiu-a como um soco no estômago. Pálida e ultrajada, Lily considerou a presença dos irmãos uma ofensa à memória de Petunia. Como atreviam-se a chorar a morte de sua irmã, se haviam transformado seus últimos meses de vida num inferno? Damon olhava para o chão. Estava mais magro, e parecia mais velho do que se lembrava.

— Uma atitude decente da parte deles — Molly cochichou. Uma mulher de mais de quarenta anos e bastante robusta, ela sempre falava demais.

Terminado o serviço, as pessoas começaram a partir, e todos aproximavam-se para cumprimentar Lily. Eram todos jovens, amigos de Petunia da época de colégio. Ninguém da universidade. Petunia abandonara os estudos meses antes, sem conservar uma única amizade. Sem aviso prévio, Molly afastou-se de Lily e aproximou-se dos irmãos Potter. Furiosa, Lily acompanhou o pastor e despediu-se dele ao lado do carro de Molly.

Com asco notou a limusine de vidros escuros e o motorista que aguardava do lado de fora. Não pudera pagar sequer um carro funerário. Mas coisas desse tipo não tinham importância, ela recordou com tristeza. Agora tinha de conservar cada centavo de seu dinheiro para o sobrinho.

— Vou chamá-lo de Nicholas, o mesmo nome do pai de Damon — Petunia anunciara meses antes, depois de descobrir o sexo do bebê através de uma ultra-sonografia. — Damon não será capaz de manter-se afastado — ela previra, a mão sobre o ventre arredondado. — Quando souber que nosso filho é um menino...

Lily surpreendera-se com a ingenuidade da irmã, capaz de ainda acreditar num homem que a abandonara com um filho no ventre. Depois de tudo que havia acontecido, não pudera compreender como Petunia ainda alimentava esperanças, e temera o momento em que, com o filho nos braços, sua irmã tivesse de enfrentar a dura realidade. Damon era um fraco dominado pelo irmão mais velho, e a ameaça de ser deserdado e esquecido pela família fora o bastante para que ele desistisse do grande amor que dissera sentir por Petunia.

Molly aproximou-se com um sorriso luminoso no rosto redondo e abriu o carro.

— Por que foi falar com eles? — Lily perguntou em voz baixa.

— Porque você está sendo absolutamente estúpida! Se quer conservar aquele bebê, seja prática. Morda a língua e deixe que eles sustentem vocês dois...

— Prefiro a morte!

— Ele é o pai do pequeno Nicky, não é? Por que não deveria sustentar a criança? Aposto que eles pagariam uma fortuna para manter toda essa história longe dos jornais.

— Molly...

— Precisa ser realista, querida. Você quer o pequeno Nicky. Pessoalmente acho que isso é loucura, mas você sempre foi o tipo maternal, mesmo quando ainda era pouco mais que uma criança. Portanto, fique com ele, eduque-o, e faça esses dois pagarem caro por isso.

— Não quero nada deles!

— Se não aceitar o dinheiro dessa família, vai ter de viver de caridade. O serviço social irá atrás de Damon.

— Na América?

— Eles não teriam nenhuma dificuldade para encontrá-lo, teriam?

— Não aceitarei nada deles. Nunca!

— Petunia teria gostado de dar o melhor ao filho. E acho que é hora de admitir que Petunia sabia o que estava fazendo quando engravidou.

— O que disse? — Lily perguntou com um misto de choque e reprovação.

— Não acredito que tenha sido acidental. Petunia não era descuidada. Ela queria o rapaz, e quando as coisas começaram a escapar de seu controle, ela engravidou. As mulheres usam esse mesmo truque há séculos, querida. Adolescentes são especialmente atraídas pelo método. Infelizmente sua irmã cometeu um erro de cálculo.

— Não concordo — Lily respondeu, lutando para aparentar uma calma que estava longe de sentir. — Petunia não usou nenhum truque. Damon já havia feito o pedido de casamento, e até comprara um anel de noivado.

— Falar é fácil! Mas onde ele estava quando o navio começou a afundar? Partiu para a América e Petunia nunca mais voltou a vê-lo. Ele sequer respondeu as cartas. O canalha! Enterraria esses dois no meu quintal com o maior prazer, não fosse pelo pequeno Ed. E pela beleza do Potter mais velho, é claro.

Uma vizinha havia ficado com Nicky para que as duas pudessem ir ao funeral, e Lily subiu a escada correndo para ir vê-lo. O bebê dormia tranquilo no berço. Trou xera-o do hospital no dia anterior, e já sentia um profundo amor pela criança. Enquanto o fitava com os olhos cheios de lágrimas, Lily sentiu vontade de tomá-lo nos braços. Mesmo nas horas mais dolorosas, aprendera a agradecer a Deus pela bênção que era o filho de Petunia. Sentia-se necessária mais uma vez, e isso a fortalecia.

Molly estava do lado do fora quando ela saiu do quarto.

— Se ficar com essa criança, nunca mais terá vida própria. Não acha que já sacrificou o bastante por Petunia?

— Do que está falando?

— Você tem apenas vinte e quatro anos e já parece uma tia solteirona. — Molly olhou para os cabelos ruivos presos numa severa trança, o rosto desprovido de maquiagem e a roupa escura que já havia conhecido dias melhores. — Nunca quis ter um homem em sua vida?

Lily riu. Odiava quando Molly falava dos homens como se eles fossem o início, o meio e o fim da vida de uma mulher. Durante a adolescência, fora tímida e retraída, e depois de adulta nunca tivera tempo ou oportunidade para aproximar-se do sexo oposto. Saíra com alguns colegas de trabalho, mas logo descobrira que eles não estavam interessados em sua companhia. Só queriam sexo.

Ainda lembrava a experiência dolorosa e humilhante com o único rapaz por quem apaixonara-se, aos dezesseis anos. Ele a convidara para ir a um baile e ela aceitara imediatamente, mas sua felicidade terminara no banheiro feminino da escola, onde ouvira algumas garotas comentando sobre uma certa aposta... As palavras ainda permaneciam gravadas em sua memória.

— Lily...

Lily voltou ao presente com um sobressalto. Molly pousou a mão em seu braço com ar sério.

— Convidei James e Damon Potter para uma visita.

— Você o quê?

— Bem, alguém tinha de fazer isso. Você agiu como se eles não estivessem lá!

— Se eles entrarem, eu saio — Lily prometeu veemente.

— Lily, o que deu em você nesses últimos meses? Parece possuída por um estranho...

— Não há nada errado comigo — ela respondeu enquanto descia a escada.

— Você costumava ser bondosa, gentil, mas vem mudando desde que Petunia revelou que estava grávida. Sei o quanto a amava, e posso entender o que está sentindo...

— Não pode.

— O rapaz deve querer ver o filho.

— Se Damon quiser ver Nicky, ele que providencie uma ordem judicial. Lutarei contra eles com todas as armas possíveis.

— Mas eles virão até aqui!

— Pois que venham!

A campainha tocou um minuto depois, e Molly encarou-a com ar de súplica antes de ir para a cozinha. Lily ergueu os ombros e foi abrir a porta. James Potter estava parado na soleira, sozinho.

— Não o convidei para vir aqui. Você não é bem-vindo — Lily disparou.

Uma poderosa mão a impediu de fechar a porta, e a violência do gesto a surpreendeu. Aproveitando a hesitação momentânea, James entrou e fechou a porta.

— Agora vamos conversar — ele anunciou.

Como não era fisicamente capaz de expulsá-lo da casa, Lily preferiu dirigir-se à sala de estar antes que ele tomasse a iniciativa.

— Francamente, sr. Potter, não temos nada a discutir. Onde está o pequeno canalha?

— Pequeno canalha?

— O irmão caçula, o fantoche.

— Você é a mulher mais venenosa que já conheci. Não sabe como gostaria de cortar essa sua língua ferina.

Lily riu pela primeira vez em dias. Damon sempre havia dito que o irmão era um bloco de gelo, mas agora era como se estivesse diante de um vulcão prestes a entrar em erupção.

— Meu Deus! — ele exclamou. — No dia do funeral! Não tem nenhum sentimento decente?

— Os mesmos que você teve quando chamou minha irmã de prostituta barata há cinco meses.

— Não empreguei esse vocabulário ofensivo.

— Você disse que ela estava interessada no dinheiro de seu irmão e que dormia com todos os homens que conhecia. Qual é a diferença?

— Não acreditei que ela estivesse grávida.

— Quero que saia daqui imediatamente. Você não tem nada a fazer nesta casa.

— Meu irmão está muito envergonhado para encará-la...

Lily estava começando a divertir-se. As duas últimas admissões pareciam ter sido arrancadas de James a ferro, tal a angústia estampada em seu rosto. O caçula era um fracote, um canalha desonesto, e isso o ofendia infinitamente. James estava sendo obrigado a lidar com uma mulher que desprezava numa situação sobre a qual não tinha controle, e isso a fazia sentir-se muito mais segura. Ele estava em sua casa para comprar silêncio.

Para comprar o silêncio dela. Talvez tivesse medo de que ela fosse aos jornais para contar a história suja protagonizada por Petunia e Damon. Uma jovem adolescente pobre e ingênua enganada pelo milionário americano que a abandona assim que consegue o que quer. E como se não bastasse, a jovem é ameaçada por advogados poderosos que lhe oferecem dinheiro para desaparecer e esquecer que um dia conheceu alguém chamado Potter!

Lily sentiu-se enojada. Era uma história terrível, que transformava-se em tragédia quando se descobria o quanto Petunia amara esse rapaz. Até o fim... Lágrimas queimavam seus olhos, mas ela conseguiu contê-las.

— Se Damon pudesse trazê-la de volta à vida, sem dúvida ele a traria — James comentou com tom neutro, recuperando a postura com rapidez espantadora. — Mas isso é impossível. A única coisa que meu irmão pode fazer é cuidar de seu filho e dar a ele a vida a que ele tem direito.

— Dar a ele... — Lily gaguejou incrédula. — O que está dizendo?

— Naturalmente, Damon quer criar o filho em sua casa, onde é o lugar dele.

N/A: ooooi pessoas! Estou aqui com essa nova fic, adaptação de um livro da Lynne Graham! O 2º cap já está adaptado e vou postar assim que possível, ok? Enjoy ;)