Ele sempre gostou de observa-la desde pequena, pois de certo modo se via nela: nos cabelos claros (embora não brancos como o seu), na pele pálida, nos olhos azuis e acima de tudo, no seu controle sobre o inverno. Ele ficara impressionado no fato dela possuir os mesmos poderes que ele.

Ele viu quando o acidente aconteceu, no qual ela machucou a sua irmã. Ele viu ela se trancar naquele quarto ano após ano, se tornando uma pessoa temerosa e fria. Ele a viu congelar e depois destruir todo seu o quarto num ataque de fúria e desespero quando seus pais morreram. Ele a viu congelar todo o seu reino, a viu se libertar, extravasar toda a magia que ela havia prendido por anos, e tinha que admitir que a magia dela possuia tanta ou até mais beleza que a dele. Ele a viu quase ser morta por o tal príncipe Hans, e ele nunca havia sentido tanto medo dentro de si. Ele a viu desfazer todo o inverno, e até a ajudou a reunir toda aquela neve. Ele a viu se casar, ter filhos, netos e se sentiu feliz por ela, pois ver tudo dando certo pra ela o fazia feliz, era como se ela vivesse a vida que ele jamais poderia viver. E durante anos a visitou, e acompanhou sua vida, mesmo sabendo que ela nunca, jamais o veria.

A ultima vez que a viu, ela já era uma senhora de idade avançada. Ela viveu muito, até mais que a sua irmã caçula Anna, talvez todo aquele gelo em si tenha a ajudado. Ele a observou dormir durante alguns minutos e se virou pra ir embora, então ouviu a voz da anciã.

-então era você esses anos todos...

Ele se virou, surpreso. Olhou em volta para se certificar que não havia ninguém ali além dos dois e não havia.

-você pode me ver?

Ela sorriu.

-claro que sim. Sou velha, mas não estou caducando. Jamais falaria sozinha.

-mas você sempre pôde me ver?

-não... Mas eu o sentia. Talvez seja por uma ligação forte entre a gente, ligação que eu nunca entendi qual era até agora.

Ele olhou para o seu cajado.

-os nossos poderes...

Ela assentiu.

-eu me dei conta que você devia ser um espírito por que nunca o senti envelhecer. Você sabe, a sua magia nunca enfraquecia apesar do passar dos anos, ao contrario de mim. Você pôde sentir isso acontecer comigo, não é mesmo? digo, minha magia enfraquecer... – ela explicou, vendo o olhar de confusão em seu olhar. Ele só fez que sim, ainda atônito que alguém pode finalmente poder vê-lo e estar conversando com ele. Há quanto tempo ele não sabia o que era ter uma conversa decente com outra pessoa em vez de conversar consigo mesmo? - sempre o sentia, quer dizer, sentia o que você sentia. – ela continuou- você se angustia demais, rapaz. Às vezes chegava a ser tão forte que eu passava dias me sentindo mal.

-por isso de repente pesava menos pra mim. Você dividia comigo... Mas também tinha um lado bom, quando eu sentia alegria, ela vinha em dobro... Por que não se dividia?

-o bem tem mais força que o mal, meu jovem. Mas não sei se é apropriado chama-lo de jovem. Você deve ter uns quinze a vinte anos a mais que eu...

-como assim?

-você não era aquele jovem plebeu que a um reino bem distante daqui que... – de repente a lua brilhou mais forte, e ela sorriu. – entendi, ele deve descobrir sozinho... – ela falou como se tivesse falando com ela mesma.

Ele a olhou curioso, sem entender o que havia acontecido.

- mas por que só agora você conseguiu me ver?

- por que o meu tempo está acabando.

- não! Por favor, não! Ninguém nunca conseguiu me ver antes... Ainda temos tempo...

-lamento dizer que está enganado, mas tem outro motivo, eu tinha que falar algo. Eu nunca entendi por que nunca amei plenamente o meu marido, por que nunca fui plenamente feliz, até esse momento. Mesmo que eu nunca tenha te visto, eu o amei. Só entendi agora o porquê. Nós dividíamos as mesmas emoções. Todas elas. E você me amou, mesmo que não entenda o que seja isso ou como aconteceu, mas você me amou, e isso passou pra mim.

Ele se aproximou e pegou em uma das mãos dela.

-então por que só agora? Por que não pudemos nos ver nem entender tudo isso antes?

Ela sorriu

-a vida tem muitos mistérios, meu rapaz. Mas ouça com atenção. A gente ainda vai se reencontrar um dia, Jack Frost. E nesse dia nada vai impedir que a gente se veja ou se toque.

-como você sabe? – então ele se deu conta do que ela falou. – como você sabe meu nome?

-simples – ela sorriu olhando para o céu – a lua me contou.

Então ela fechou os olhos e Jack sentiu a ligação entre os dois sumir. Ela havia morrido.

-vou esperar por esse dia, Elsa. Juro.