Tossiu, engasgado com a poeira que cobria o local onde estava, a escuridão o abraçava, os ouvidos ainda zuniam, e a cabeça rodava. Não sabia onde estava só tinha certeza que era escuro e sufocante. Tentou mexer o corpo para saber se alguma coisa estava quebrada e foi ai que percebeu que tinha alguém sobre suas pernas e quadril, tentou clarear a visão e focou em algo, era uma pessoa, e quando virou seu rosto para ver de quem se tratava o reconheceu e tudo voltou a sua mente em uma sequência de fatos e imagens assustadoras e disformes.
Explosões, luzes, barulhos, pedras voando em todas as direções, armas de fogo, gritos, muitos gritos, e dor, estava sangrando e sentindo dor, o inimigo foi bem cruel, não poupou ninguém, estavam sendo perseguidos e, se fossem capturados, provavelmente seriam torturados.
- Merda! Ai! - O corpo todo doía, não tinha nenhuma parte que não estivesse gritando de dor. - Ei - ele chamou tentando acordar seu companheiro, mas quando fez força sobre seus ombros pra que o outro despertasse tudo que conseguiu foi ver uma grossa faixa de sangue escorrendo da lateral de sua testa.
- Droga, Sanji, não faça isso comigo, vamos, levanta dai, deixa de ser mole, anda. - O empurrou com mais força, no entanto o outro continuava ali, calado, inerte, como se estivesse... Não. Que bobagem era esta agora que estava pensando, como ele poderia, estava apenas sendo preguiçoso, só isso. Tentava se convencer, evitando entrar em pânico porque isso não ia ajudar em nada.
- Vamos seu cozinheiro de merda, abre logo esta porra de olho e começa a mexer e se seu traseiro inútil. - Nada, insultá-lo não estava surtindo o efeito esperado, resolveu mudar de tática; talvez Sanji estivesse realmente muito machucado. Afinal, ele mesmo estava muito machucado.
Focou novamente o local onde estava, parecia que tinham caído em algum tipo de poço ou caverna. Levantou os braços para saber qual a altura do lugar e percebeu que era mais alto do que esperava. Tentou se sentar, apesar da dor que sentia no corpo todo, tinha que tomar alguma atitude. Ficar ali deitado numa caverna escura não era uma opção muito aceitável.
Fez um esforço tremendo e ficou sentado, tudo girava, mas se manteve firme. Se existia uma coisa em que era bom realmente era em superar dificuldades.
- Bom cara, eu lamento tirar seu travesseiro macio, mas são as minhas pernas e eu preciso delas pra sair daqui. - Fez um novo esforço e empurrou Sanji para o lado sem deixar que batesse a cabeça. Não sabia qual era o estado do cozinheiro, mas se estava desmaiado, com certeza já havia se machucado o suficiente.
Quando o virou de barriga pra cima percebeu que o cozinheiro também sangrava pela boca. E respirava com dificuldade. Estava mal. Mas estava vivo. Tinham que sair dali logo, precisavam de um médico com urgência.
Tentou ficar em pé, e sentiu um dor lancinante no tornozelo esquerdo provavelmente estava quebrado.
- Ótimo era tudo que eu precisava. Bom, parece que não vamos muito longe assim hein, parceiro? Você apagado e eu quebrado. Grande dupla. Bom pelo menos não ouço mais nada. Como será que os outros estão? Mas que merda. - Ficar ali, sentado sem fazer nada não era do feitio de Roronoa Zoro. Sendo assim tentou ignorar a dor ao máximo e se pôs em pé, tateado a parede e procurando uma saída.
Deu uma volta completa no lugar onde estavam, encontrou apenas algumas passagens de ar, estreitas demais para que uma pessoa pudesse passar. Talvez se usasse suas espadas e abrisse mais a passagem... E depois? O que faria? Como iria se arrastar? E pior, com iria arrastar Sanji dali? Aquele idiota estava lhe causando problemas novamente. Tá certo que ele o havia salvado, agora que a cabeça havia clareado e não latejava mais ele se lembrava como foram parar ali.
***
- O que vamos fazer? Estes caras não vão parar ate nos aniquilarem. Merda. - Zoro apenas constatava o obvio.
- Vamos nos separar. Ainda temos que encontrar os outros, Franky nós vamos para o sul. E você dois, Sanji e Zoro vão para norte. Nos encontramos depois que esta confusão terminar.
- Mas Nami-san, eu queria ir com você.
- Não, vamos ficar como estávamos antes desta confusão começar. Ainda não encontramos o restante de nossos companheiros. Então concentre-se e não deixe o Zoro se perder entendeu.
- Hai, Nami-san.
- Agora.
Saímos correndo em pares, como Nami sugeriu. O cretino que nos reconheceu, é claro, foi atrás do par com a recompensa maior, o que quer dizer eu e Sanji. Aquela arma não estava disparando projeteis normais, tudo que aquilo tocava parecia explodir, uma das explosões levantou uma poeira terrível. Não dava pra ver nada, senti apenas a mão de Sanji me puxa pro lado e parte de um edifício caiu causando mais confusão. O chão começou a tremer. Levantei rápido para tentar evitar o pior ouvi mais alguns disparos. Sanji me empurrou e tudo ruiu. E então acordei aqui.
***
- Merda?! - Gritei bem alto pra tentar espantar a frustração que estava sentindo, não sabia onde estava, e há quanto tempo estava ali. E o idiota do cozinheiro não acordava. Bom pelo menos estava melhor do que eu. Não estava sentindo dor, já que estava apagado.
Então uma das paredes se mexeu. Não estava ficando doido, nem tendo alucinações, ela se mexeu mesmo. E agora o que era isso?! Mais uma vez, e depois de umas cinco ondulações estranhas uma mão bem conhecida emergiu de um buraco na escuridão.
- Franky, você é um colírio pros meus olhos.
- Super, valeu Zoro, mas antes de fazer uma cena de amor fraternal é melhor sairmos super rápido daqui! O túnel não é seguro. Ainda bem que estes novos equipamentos que instalei me ajudaram e encontrar vocês. Cadê o loiro?
- Ali dormindo que nem a bela adormecida.
- Que?! Sanji dormindo, estranho. - Franky se aproximou do loiro devagar. Abaixou, checou os sinais vitais, e então ficou pálido se é que era possível um ciborg ficar assim.
- Droga, Sanji, que merda você fez... - Ele abriu o palito do loiro sem o menor cuidado arrebentando os botões e então Zoro pôde ver claramente uma mancha de sangue se espalhando pela camisa azul clara, saindo de um buraco um pouco abaixo das costelas. Um dos projéteis havia perfurado o cozinheiro, provavelmente no momento em que ele saltou para protegê-lo.
- Vamos rápido! Temos que tira-lo daqui, já perdeu sangue demais.
- Eu não sabia - Zoro tentou se explicar. Mas que diabos, aquele idiota estava fazendo novamente, como tentou fazer em Thriller Bark, mas desta vez conseguira.
- Eu sei, Zoro, mas agora temos que sair. Anda. - Franky pegou Sanji no colo como se fosse uma boneca, e eles seguiram o túnel em direção à saída.
Andar era uma tarefa difícil; o tornozelo doía horrores, e agora sentia culpa pelo estado do cozinheiro. Mas que merda, porque ele tinha que bancar o herói, não podia ser apenas o idiota de sempre, correndo atrás das garotas e ficando na defensiva?! Finalmente chegaram ao fim do túnel e a pouca luz que vinha de fora indicava que havia começado a anoitecer. Saíram devagar, para não chamar a atenção de ninguém, o que era bem difícil; Franky por si só já chamava muita atenção, e agora carregando Sanji ficava pior. E seguido de perto por um manco, nem se fala.
Uma voz conhecia chamou de algum lugar nas sombras.
- Aqui, Franky! - Era Nami, Zoro não teve duvidas, depois de tanto tempo ouvindo a garota dar ordens a todos no Merry e agora no Sunny, era impossível não reconhecê-la.
Assim que chegaram perto dela, a primeira reação da garota foi verificar o estado do loiro. Querendo ou não, Sanji era uma mão no roda pra ela; a bajulava e mimava, fazia todos as suas vontades e caprichos sempre de bom grado. Ela passou a mão na testa dele com carinho e percebeu que ele estava suando frio.
- O que houve?
- Ele entrou na minha frente pra me proteger e acabou levanto um tiro certeiro.
- Quem costuma fazer este tipo de bobagens não é você Zoro? Não ele. - Ela afirmou mais que perguntou. Porém, de certa forma, estava certa.
- O que você quer que eu faça? Não posso adivinhar quando ele decidi bancar o herói.
- Vocês dois, já chega, temos que ver um médico, Sanji não pode esperar até vocês decidirem de quem é a culpa. E além disso, você também precisa de um médico, Zoro. Ou pensa que eu não vi que esteve mancando o caminho todo até aqui?
Uma coisa eles tinha que admitir: em algumas ocasiões, Franky sabia colocar ordem na bagunça. Seguiram para uma pequena cabana afastada, onde podiam se esconder e passar algum tempo, até conseguir ajuda para os rapazes. O médico da cidade não ficou muito feliz em atendê-los, mas não podia se negar, era um médico e os rapazes precisavam de assistência. O médico deu prioridade a Sanji, limpou e fechou a ferida, apesar do aparente estrago que os projeteis faziam ao atingir o alvo o cozinheiro tinha dado muita sorte a bala o atravessou sem atingir nenhum órgão vital, mas tinha feito um belo estrago nos tecidos e atingira alguns nervos. Talvez tivesse dificuldades para ficar em pé, por algum tempo. E Zoro depois de ser medicado e enfaixado, já estava resmungando sua falta de sorte novamente.
Agora era tudo uma questão de tempo. Estavam apenas esperando alguma reação por parte de Sanji, tinham que sair dali antes que o sol nascesse para poder continuar sua viagem, a procura do restante de seus companheiros.