N/A: Yaoi e menção de lemon. Além de uma boa tonelada de angust.

Riff x Cain. Não gosta? Não leia.

Poisoned Rose

- Prólogo -

O luar entrava vacilante pela janela, aberta mesmo com a brisa fria a castigar o mundo exterior. Tentava passar pelas finas cortinas brancas, iluminando numa mescla de timidez e curiosidade a pequena mesa no centro da sala.

Sentada a esta, dividida entre a luz e as sombras, estava uma figura de longos cabelos loiros e vacilantes olhos azuis. Suas mãos diminutas embaralhavam as cartas, os anos tornando os movimentos inconscientes e precisos, dando tempo a mente para que se perdesse entre pensamentos e pedaços de informação.

Os minutos passavam naquela sala vazia. A lua vez ou outra era encoberta pelas nuvens, condenando a jovem a momentos de total escuridão. Porém ela não se importava, pelo contrário, até preferia, uma vez que o destino mostrava-se tão obscuro quanto as sombras que a cercavam.

E as mãos continuavam a embaralhar...

A primeira vista, talvez parecesse uma brincadeira de criança, tola e fantasiosa. No entanto, bastava notar a velocidade e habilidade envolvidos no simples processo para se notar que era algo muito além.

Uma benção.

Uma maldição.

Porque, por mais que tocasse cada carta desgastada com adoração, isso não mudaria o destino daquele que tanto amava.

Terminou de embaralhar e cortou o baralho, usando a mesma mão para por três cartas diante de si. Prendeu a respiração, fazendo uma rápida prece, antes de virar uma por uma.

Os olhos azuis se arregalaram, enchendo-se de lágrimas...

Jamais, jamais errara uma previsão. Era como sua mãe. O futuro ali sempre estivera, bastava saber ler. Infelizmente, dessa vez algo mais forte que o próprio destino parecia estar interferindo. Um poder grandioso e desconhecido, capaz de alterar tudo em seu caminho.

Pelo menos era isso que a pequena dama sentia, enquanto encarava as três cartas, as mesmas três cartas que lhe foram reveladas por toda a noite. Vez após vez, hora após hora, o significado de cada uma reverberava em sua alma. Sabia correlacionar cada carta do tarot de sua mãe, tecendo teias como uma verdadeira tecelã, não, como a própria Ariadne. Já revelara segredos! Já montara os mais sutis quebra-cabeças!

Nessa misteriosa e sedutora arte, ela era uma mestra, uma rainha, uma deusa.

A verdade estava ali, sempre estava.

Só que dessa vez não conseguia.

Os significados explodiam em si, as possibilidades fervilhando e transbordando. Porém sabia, nada estava realmente correto. Como se lhe vendassem os olhos, ela ouvia o que todos diziam sobre aquelas cartas. Ouvia mas não aceitava.

Pela primeira vez, havia algo mais.

Algo que deveria mudar aquela última carta.

Porque ela temia. Não por si, mas por aquele que tanto amava: seu irmão, tão querido e triste.

Cain não falava mais com ela. Na verdade, não falava com ninguém que não os médicos que vez ou outra entravam no quarto. Tampouco se alimentava direito. Parecia evitar tudo e todos, como se não quisesse ser visto definhando.

Mas a verdade, o real motivo pelo qual o desespero se abateu sobre o nobre já era conhecido pela pequena lady. Afinal, ela não era inocente como seu irmão tolamente insistia em pensar. E também estava longe de ser tola. Não, a pequena Mary já sabia há tempos. Talvez desde a primeira vez que pusera os olhos nele.

Sim, aquela bela pessoa, dono de olhos azuis claros e despercebidos e de cabelos prateados como a lua. Aquele que era o ar para o conde.

Riff...

Aquele que padecia na cama daquele mesmo quarto, do qual Cain se recusava a sair.

No entanto, perguntas como 'porque' ou mesmo 'como' continuavam inalcançáveis para ela. Ainda que usasse de seu valioso trunfo insistentemente, a pequena dama só sabia que não fora natural.

Suspirou, escondendo o rosto nas mãos infantis, a frustração pesando em seus ombros frágeis. Era uma criança, nada mais. O tarot sempre fora sua única qualidade. Mas, com as mãos atadas do jeito que estava, não conseguia se considerar mais que uma inútil, não.

Jamais poderia ser forte como Riff.

No entanto, até mesmo ele tinha seus limites. Limites esses que eram testados dia após dia, numa tortura cruel e agonizante.

Limites que pareciam ser os mesmos de seu irmão.

Porque, por mais que o futuro a sua frente fosse nebuloso, por mais que se visse cega pela primeira vez na vida, de uma coisa tinha certeza...

Se Riff não resistisse...

Se seus limites finalmente fossem alcançados e transpassados sem piedade...

Se aqueles olhos que seu irmão tanto amava finalmente se fechassem, não demoraria muito para o conde seguir o mesmo caminho, definhando ainda mais do que definhava agora.

Não, a pequena Mary não era tola, tampouco era pura.

Ela já sabia do laço que unia aqueles dois. Já conhecia a natureza daquela ligação.

E também sabia que Cain não a considerava algo digno. Sentia o esforço e a dor dele por esconder.

No entanto, todas essas preocupações não eram nada, se comparadas com o que realmente atormentava a lady. Não, isso tudo poderia ser remediado mais tarde.

Mas o tempo continuava a passar...

-O que fará Cain, se ele se for antes de você? - sussurrou, seus olhos não tão infantis se perdendo na noite sem estrelas - Se o céu lhe for negado e seu velado amor se desfizer num último suspiro...o que restará de você, meu irmão?