O FIM DOS DIAS

Prólogo: Ano Bissexto

Estava com a visão muito embaçada e não conseguia distinguir nenhuma forma que lhe parecesse ter se mexer e percebeu como o corpo estava pesado e o arder de chamas altas e abrasadoramente com medo e por isso gritou,mas nenhum som foi proferido.O desespero tomou-lhe conta,enchendo a garganta de soluços e os olhos com lágrimas.
Que podia fazer? Não possuía forças para levantar e sair dali e não havia ninguém por perto para ajudá-la. Acabou deitada onde estava, entregue a um choro mudo e cada vez mais tonta pelo calor do lugar e pelo cheiro do próprio sangue, que formava uma poça embaixo do abdômen. Tudo se apagou.

Abriu os olhos assustada. A respiração acelerada fazia seu peito subir e descer freneticamente e o suor e as lágrimas umedeciam diversas partes do corpo e da cama.

- Você está bem?- A voz masculina vinha do outro lado do cômodo, onde uma fraca lamparina iluminava-o pelas costas com uma cor amarelada.

Remexeu-se na cama sentando no colchão e levando uma das mãos à testa. Tornara-se frequente ter noites assim: pesadelos constantes invadiam suas madrugadas de sono, violentamente violando-a ,como um hábito ruim demais para se acostumar, porém, dificílimo de abstrair.

- Agora que já está um pouco mais calma tente voltar a dormir Thanéya. - O rapaz de longos cabelos azuis agora estava sentado de costas para ela.

- O senhor não vai descansar um pouco? - Perguntou ainda sem fazer menção de deitar.

- Logo irei... - Mas era mentira. Na maioria das manhãs encontrava-o dormindo na mesma cadeira acolchoada perante uma mesa cheia de papéis com anotações,cálculos,peças de metal e madeira,ferramentas e livros. - ...É melhor não preocupar-se tanto comigo, senhorita ,ou ficará doente.

A jovem deu apenas um murmúrio baixo de consentimento e se ajeitou na cama, virando o corpo para o lado oposto ao dele e observando o céu por uma pequena janela redonda. A vida com ele era dura e muitas vezes agia de forma fria, inexpressivo e discreto como a noite nublada, porém não se lembrava muito bem de nada antes de conhecê-lo.

Após alguns minutos, cerrava os olhos lentamente, esquecendo medos e dúvidas e adentrava no reino de Morfeu. E ficou assim, tranquila, até poucas horas após a aurora.