Olhei a toda volta. As pessoas de Seattle tinham o terrível costume de ficar dentro de casa, por causa do frio. A rua poderia ser descrita como "deserta" se não fosse por um estranho ou outro, que não davam a mínima atenção para nada.

Acelerei o passo. Ainda eram oito da noite, eu teria tempo de encontrar Fred.

Fred era meu irmão. Eu não o via há dois meses, já que ele morava em Seattle e eu em San Francisco. Os motivos eram no mínimo complicados. Simplificando tudo: Nossos pais haviam nos deixado. Eu vivia com a nossa tia e ele com a nossa avó.

Mas eu não estava me importando realmente com isso. Eu tinha chegado aqui há pouco tempo, e só queria encontrar meu irmão o mais rápido possível.

Estanquei na metade de um passo. Eu sabia que deveria ser loucura, mas eu tinha a nítida impressão de que alguém me observava.

Respirei fundo e contei até dez.

Que coisa maravilhosa! Eu estava perdendo toda minha sanidade.

Talvez fosse o frio... Ou o sono... Eu não estava mesmo bem.

Revirei os olhos e me obriguei a andar novamente, pensando em como Fred riria de mim ao saber que eu estava agindo feito uma idiota.

Tentei manter uma linha de pensamentos equilibrados, porém era muito difícil, já que eu continuava a sentir olhos em mim.

Me virei para trás, tentando convencer a mim mesma que tudo era fruto da minha imaginação.

Arregalei os olhos e prendi a respiração.

Longe, mas visível, estava um homem. Consegui perceber alguns detalhes. Ele era bem alto e musculoso. Usava roupas pretas, meio rasgadas. A pele era tão branca que ele poderia ser confundido com um fantasma. Os cabelos eram pretos.

Voltei a olhar para frente, andando depressa.

Senti meu corpo gelar ao ouvir um rosnado. Eu estava me sentindo em um filme de terror.

Eu sabia que era uma atitude boba e infantil, mas não pude me conter. Corri o máximo que minhas pernas agüentaram, sem olhar para trás.

Eu não conseguia ouvir passos, mas tinha certeza de que ele continuava atrás de mim. Sem me controlar, olhei para trás.

Ele estava parado, parecendo estar em uma luta interna consigo mesmo.

Eu voltei a olhar para frente e tarde demais percebi que havia um buraco na rua. Não era fundo, mas foi o suficiente para me fazer tropeçar. Enrosquei o pé ali e cai para frente.

Gemi ao atingir o asfalto.

Eu já podia sentir alguns locais ardentes, sinal de que eu havia me machucado.

Sem me levantar, olhei para minha mão. Ela estava ralada, e suja de sangue.

Tentei me levantar, quando ouvi os rosnados se intensificarem.

Assim que me coloquei em pé, olhei desesperada para o homem que agora estava a minha frente. De perto, eu podia perceber mais detalhes. Ele tinha os lábios cheios e vermelhos, cílios longos e olhos negros e intensos. Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi a beleza dele. Ele era um daqueles homens que você esperava ver somente em um filme.

Ele segurou minha mão com força, e olhou para o meu sangue, como se no momento, ele fosse a coisa mais preciosa do mundo.

-Por favor... – implorei – Só me deixe ir.

-Eu não consigo... – ele sussurrou, com uma voz aveludada. Eu pude ver um pouco de compaixão atingir seus olhos – É mais forte do que eu... Sinto muito.

Fechei os olhos, sabendo que eu não conseguiria mais correr. Meu joelho estava dolorido, e provavelmente também ralado. O rapaz segurava meu braço com força e eu não tinha a mínima chance de me soltar.

Seus lábios tocaram meu pescoço. Não como uma carícia. Era mais como necessidade. Senti quando eles se separaram.

Gritei quando ele me mordeu.

A dor era inacreditável. Meu pescoço queimava.

-NÃO! – uma voz desconhecida gritou.

Vagamente percebi que o rapaz foi tirado de perto de mim.

Meus joelhos cederam e eu cai no chão, me contorcendo em dor.

-Jasper, leve-o para longe!

Senti mãos firmes me segurarem e abri os olhos.

Um garoto, ruivo (não exatamente ruivo, o cabelo dele parecia ter várias tonalidades) me segurava com força nos braços.

-Você vai ficar bem – ele me garantiu.

Balancei a cabeça, sentindo algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

-Eu não quero ficar bem. Só quero que a dor passe.

-Eu sinto muito.

Fechei os olhos novamente. Tive a impressão de que ele se movia, mas eu não me importava.

Ouvi vozes gritarem umas com as outras e percebi que ele havia me levado para algum lugar.

Eu pegava fragmentos das conversas.

-Emmett a mordeu...

-Ela tem pouco sangue...

-Temos que deixar a transformação acontecer...

-Ela não vai ter escolha?

-Escolha, Rosalie? – repetiu uma mulher, parecendo inconformada – Como assim, escolha? Você não percebeu que ou ela se transforma ou morre?

-Vocês estão roubando a vida dela, Alice! Eu preferia ter morrido! – gritou a primeira mulher.

-Não estamos falando de você! – gritou a segunda de volta.

Trinquei os dentes, sentindo que o fogo agora consumia meu corpo todo.

Minha mente parecia ligar e desligar, então de tempos em tempos eu pegava mais algumas falas.

-Pegue o celular dela... Deve ter o número de algum familiar.

-E o que fazemos quando encontrarmos o número? – perguntou alguém com ironia – Dizemos "Olá, tudo bem? Só liguei para avisar que sua filha vai ficar comigo por alguns dias. A propósito, você não me conhece, mas não se preocupe, tenho as melhores intenções"?

-Cale essa boca! Nós vamos dar um jeito.

Gritei.

A dor deveria estar em seu ápice.

Alguém passou a mão por meu rosto.

Há quanto tempo eu queimava?

Cravei as unhas nas bordas do sofá, onde percebi que estava deitada.

-Eu não quero Renesmee aqui quando ela acordar.

-Então peça ao Jacob para levá-la daqui, Bella – ouvi a voz do garoto ruivo, bem próxima a mim – Eu não posso ir, querida. Tenho que ajudar com essa aqui. Ela vai precisar ser ensinada.

Mais silêncio.

Percebi que meu olfato estava incrível. Como uma forma de me distrair da dor, comecei a classificar os cheiros que eu sentia. Chocolate, pão, musgo, terra molhada, sol... Eram combinações maravilhosas!

Comecei a perceber também mudanças em minha audição. Ao meu redor, era possível ouvir a respiração suave de cada pessoa na sala. Consegui contar seis diferentes.

Lentamente a dor foi centrando-se em meu peito. Era um alivio para o resto do corpo, mas era insuportável para meu peito. Eu preferia que queimasse meu corpo todo, pois doía menos.

Gritei em aflição.

-Vai terminar – alguém anunciou.

Meu grito cessou, abruptamente, assim como a dor.

Abri meus olhos e corri-os por todo o local.

Encontrei seis pares de olhos me fitando atentamente.

-Mantenham distância – uma garota de cabelos curtos e repicados alertou.

Todos continuaram a me fitar, o ruivo e dois louros meio abaixados, como se estivessem preparados para me atacar.

Levei as mãos á garganta, percebendo que ela queimava.

Atrás dos homens, estavam três mulheres. Uma era a de cabelos curtos, que pediu que continuassem longe de mim. A segunda aparentava ser mais velha, porém não devia passar dos vinte e poucos. Ela me olhava com uma expressão bondosa, e tinha o bonito rosto em forma de coração. A terceira tinha cabelos longos, cor de mogno. Ela me encarava de modo temeroso.

Levantei-me depressa e corri para fora.

-Merda – rosnou um dos homens. Era o mais alto, com cabelos cor de mel e cicatrizes distribuídas pelos ombros – Volte aqui!

Acelerei meu ritmo, ao ouvir essas palavras.

Surpresa, eu percebi que poderia correr mais do que um caminhão.

Eu ouvia passos ritmados as minhas costas, sinal de que os estranhos me seguiram.

-Só queremos ajudar! – gritou a garota morena.

Ignorei-a e continuei correndo, presa em meu próprio medo.

Arfei, quando de cima da árvore, o rapaz louro pulou para minha frente.

Me virei depressa para trás, procurando uma saída, mas eles me cercavam.

As palavras faltavam-me para descrever o quão desconfortável eu ficava, com estranhos as minhas costas.

-O que você quer? – perguntei, finalmente.

-Você não pode ficar sozinha – respondeu o homem mais velho.

-E por que não? – revidei.

-Porque existem regras. Nós te criamos, temos que te ensinar.

Franzi o cenho, confusa.

Ele sorriu serenamente.

-Não precisa nos atacar, criança. Até mesmo porque fazer isso seria idiotice, uma vez que você sabe que não pode nos vencer, não é?

Suspirei e acenei com a cabeça.

-Agora, responda-me, o que quer primeiro? Respostas ou apaziguar a queimação em sua garganta?

-A garganta – respondi imediatamente.

Ele sorriu.

-Jasper já vasculhou a área. Não há humanos por aqui, então pode ir.

-Ir para onde? - ignorei a parte sobre "humanos".

-Eu te mostro – o ruivo aproximou-se cautelosamente.

-Eu vou com você – adiantou-se o louro alto.

Eles começaram a correr.

Hesitantemente, segui-os.

Tentei manter um ritmo lento, mas era complicado. Os rapazes que corriam comigo pareciam não ser tão velozes quanto eu, então sempre que eu percebia que eu estava próxima demais, diminuía meu ritmo.

Eles pararam e gesticularam para frente.

-Tem um urso a sua espera – alertou o ruivo.

Olhei-o surpresa.

-Como o urso vai me ajudar?

- Você só tem que atacá-lo. O resto fica por conta dos instintos.

-Atacá-lo? – repeti. Ele estava brincando comigo? – E eu atacaria um urso por quê?

-Porque é o que você tem que fazer – rosnou o louro.

-Ele é sua comida – explicou o ruivo – Só ataque o urso e te explicamos depois.

-Eu vou morrer se atacar um urso – declarei o óbvio, me contendo para não revirar os olhos.

O louro rosnou e correu com impaciência, virando à direita. Dois segundos depois ele voltou arrastando o urso morto pelo pé.

-Estou morto? – perguntou ironicamente.

Balancei a cabeça e olhei para o urso.

-Eu não quero comê-lo...

O ruivo sorriu, parecendo se divertir, enquanto o louro revirava os olhos.

Com cuidado, o ruivo se abaixou, e mordeu o pescoço do urso, arrancando um naco de carne. Rapidamente o sangue começou a fluir do corpo do bicho.

Senti minha garganta arder insuportavelmente. Olhei para o sangue sem entender... Sem nem ao menos querer pensar.

Meus desejos me dominavam.

Em um milésimo de segundo eu já estava ajoelhada ao lado do urso, drenando seu sangue freneticamente.

Ao beber até a última gota de sangue, me afastei e passei a mão pelo rosto, limpando o sangue com a mão.

-E então? – sorriu o ruivo.

-Eu quero mais.

Ele assentiu, com um sorriso compreensivo.

-Acabo de me lembrar de uma coisa – comentou animadamente – Eu sou Edward Cullen.

Não pude deixar de sorrir, também divertida.

-E eu Angelina Steiner.

N/a: Eu sei. Vocês estão pensando que é muita cara de pau da minha parte chegar aqui toda felizinha e dizer "Oi" quando eu fiz uma fic de 27 capítulos retornar ao capítulo 1, né? Mas eu disse que ia reescrever. Já tenho quase a fic inteira pronta, então não se preocupem. Logo chegamos novamente no capítulo onde eu estava. Prometo postar semanalmente. DW, Cacap, Hino, Baby, Abbie, Ch, Re Vitorino, Thplacebo, Kira, Nah, Louise, Lucy, leitores fantasmas (:P) peço que não deixem de ler a fic e que não estejam planejando formas dolorosas de me matar. Beijos&maisbeijos!