Eu sempre quis escrever uma KakaSaku, mas todas que eu começava ficavam um lixo. Finalmente, consegui essa. Espero que gostem dela tanto quanto eu estou gostando de escrevê-la!
Disclaimer: Naruto pertence a Kishimoto Masashi-sama.
Dearest
Capítulo I – Time 7
Todas as vezes que pensava em como morreria, imaginara que seria no campo de batalha, diretamente. Nada de hospitais e médicos tentando salvar sua vida com jutsus medicinais. Queria apenas ser ferido letalmente e morrer no exato lugar em que o golpe fora desferido. Do jeito que acontecera com Óbito, depois com Rin e, finalmente, com seu sensei, Minato.
Agora, com trinta e cinco anos de vida, aquele dia tinha finalmente chegado. Os ninjas que o acompanharam naquela missão já estavam todos mortos. Só faltava ele. E já cansara de lutar por sua vida, estava decidido a desistir.
Deixou-se cair na grama. Podia sentir o sangue jorrando, podia sentir a vida tentando sair de seu corpo e estava disposto a deixá-la ir.
- Kakashi! – o que seria aquela voz? Anjos no céu, chamando-o? Riu de seu próprio pensamento. Nunca acreditara no céu e no inferno. E se existissem, não seria para o céu que ele iria...
- Kakashi! – e então abriu os olhos. Havia três ninjas parados a sua volta. Os três usavam uniformes ANBU.
Dois deles avançaram para o grupo contra quem ele lutava e outro se agachou a seu lado.
- Onde dói? – a voz era suave e conhecida, embora ele não conseguisse se lembrar a quem ela pertencia.
- Todos os lugares. – ele gemeu.
O ninja o virou, delicadamente, de barriga para cima. Logo, uma gostosa sensação se apoderou de seu corpo, a dor parecia ceder, pouco a pouco. Demorou alguns minutos para entender do que se tratava. Era chakra médico. Aquele ninja estava curando seus ferimentos.
Por um momento, lembrou-se de Rin e de como ela sempre o curava depois de suas missões, porque sabia que ele odiava hospitais. E havia uma pessoa que sempre o fizera se lembrar da pequena Rin, do mesmo jeito que aquele ninja fazia agora...
- Sa-Sakura? – ele perguntou, meio grogue de cansaço.
- Isso mesmo, sensei. Naruto e Sasuke estão aqui também.
Não pôde deixar de sorrir. Há anos não via aquelas crianças e agora eles apareciam para salvá-lo da morte certa.
- Arigatou. – e viu a escuridão envolvê-lo.
O insistente barulho da máquina que marcava seus batimentos cardíacos o acordou, junto com uma claridade que entrava por estreitas frestas da persiana entreaberta. Não era preciso ser um gênio para concluir que estava em um hospital. Mais precisamente, no hospital de Konoha.
Acomodou-se melhor, sentando-se, e viu três figuras adormecidas no sofá do outro lado do quarto. Sasuke, de braços cruzados; Sakura, recostada no braço do sofá; e Naruto, no colo da Haruno, o mais espalhado dos três, quase babando.
Novamente, Kakashi sorriu. Vê-los daquele jeito dava a errada impressão de que ainda eram aquelas criancinhas de doze anos de idade, parecia que nada havia mudado. E como não os via há quatro anos, época que Sasuke havia voltado à vila, sabia que tinha perdido a maior das mudanças.
Mas estava feliz de vê-los de novo. Internamente, sabia que sentia falta de todos três. Mal ou bem, eles faziam parte de sua vida. Vira-os crescer, chorar, sofrer, sorrir.
- Bom dia. – era a voz de Sakura que o tirava de seus devaneios.
Observou-a se espreguiçar e ir até ele, os olhos verdes ainda embaçados pelo sono.
- Bom dia, Sakura. – ele respondeu.
Ela checou todos os aparelhos e pegou uma prancheta que jazia em uma mesinha ao lado da cama de Kakashi.
- Como se sente? – ela perguntou, sem tirar os olhos da prancheta.
- Dez anos mais novo.
A Haruno riu.
- Que bom. Se eu fosse sua enfermeira te daria alta, mas Tsunade não me deixou cumprir esse papel, então, tenha certeza de que vai ficar aqui mais algumas horas.
Ele revirou seu olho negro, – o do Sharingan ele mantinha seguramente fechado – aborrecido.
- Continua não gostando de hospitais. Pacientes difíceis são muito problemáticos. – a Haruno disse, sorrindo.
Kakashi estava impressionado com as mudanças na kunoichi. Tudo nela parecia diferente. Parecia mais segura enquanto falava, a melancolia em seus olhos parecia completamente extinta agora. Seu cabelo estava comprido mais uma vez e seu jeito de menina desaparecera. Era uma mulher. Tudo nela demonstrava isso: seu corpo, seu jeito, seu sorriso.
Ela olhou para os dois homens adormecidos com uma leve irritação nos olhos.
- Sasuke, eu sei que você está acordado. Pare de fingir.
O Uchiha abriu os olhos, a contragosto e foi até os dois.
- Preguiçoso. – a Haruno resmungou.
- Irritante. – Sasuke disse, um sorriso indecifrável brincando em seus lábios. Virou-se então para Kakashi: – Sente-se bem, Kakashi?
Kakashi assentiu, também notando o quanto o jovem Uchiha parecia mudado. Estava consideravelmente mais alto; diferentemente da tradição de seu clã, não deixara seu cabelo crescer, continuava com seus fios curtos, displicentes e arrepiados. Outra coisa havia mudado também: o ódio que emanava dele se fora, quase que completamente.
- Vai conseguir tirá-lo daqui, Sakura? – o Uchiha perguntou.
- Talvez. – e olhou para o relógio. – Ainda é cedo para Tsunade estar no hospital.
Mas ele continuava a encará-la, como se não tivesse respondido sua pergunta.
- Você pode ir se quiser. – ela disse, revirando os olhos.
- Obrigado. Vejo vocês à noite.
E sumiu pela porta do quarto.
- O que ele quis dizer com "vocês"? – Kakashi perguntou, erguendo uma sobrancelha.
- Íamos te convidar para sair com a gente hoje. Mas ele é impaciente demais para esperar o Naruto acordar.
- Sair com vocês? – ele perguntou, incrédulo. – Não acham que estou um pouco velho para isso?
- Bobagem. Ficamos muito tempo sem te ver. E somos um time de novo. Temos muito para conversar.
- Não sei se ainda consigo conversar com vocês. – Kakashi riu.
- Por que diz isso? – ela perguntou, de um jeito quase triste.
- Vocês dois, pelo menos, parecem pessoas completamente diferentes.
- Isso é porque não somos mais crianças. – foi Naruto, recém-acordado, quem argumentou.
Ele se levantou, deu um beijo na bochecha de Sakura e se virou para seu antigo sensei, com seu típico sorriso rasgado no rosto.
- Não aceitaremos um "não" como resposta, Kakashi. – o Uzumaki bateu o pé, teimosamente.
Kakashi suspirou e se rendeu.
- Que horas eu encontro vocês?
Quando chegou à casa noturna preferida dos shinobis de Konoha, Kakashi não imaginava que fosse ver uma mesa tão cheia de gente. Estavam Sasuke, Naruto, Shikamaru, Hinata, TenTen, Neji, Rock Lee, Gai, Chouji, Shino, Kiba e até mesmo Konohamaru e seus colegas de time.
O Hatake se sentou ao lado de Naruto.
- E Sakura? – ele perguntou, assustado por não ser ele o atrasado.
Naruto bufou.
- Ela e Ino demoram absurdamente para se arrumar quando marcamos coisas assim. Elas dizem que é coisa de garota, mas eu nunca vi a Hinata ou a TenTen se atrasarem, então não aceito a desculpa.
Sasuke revirou os olhos.
- Pare de reclamar, Naruto. Lá estão as duas.
Kakashi se virou para ver as duas entrando, e conseguiu entender, mais do que perfeitamente, porque ela demorava para se arrumar. Se alguém dissesse a seu eu de vinte e seis anos que sua aluninha seria daquele jeito nove anos depois, tinha certeza de que jamais acreditaria.
E lá estava ela, simplesmente deslumbrante em um vestido preto, que chegava à metade de suas coxas, tomara que caia. Cabelos presos em um esmerado rabo de cavalo.
- Desculpem-me pelo atraso. – ela disse, sentando-se ao lado de Sasuke, de frente para Kakashi. – Dessa vez foi culpa da Ino.
- Sakura, você sempre fala isso. – Naruto disse, fingindo aborrecimento.
Ela fez um muxoxo.
- Preciso de novas desculpas. – e deu uma piscadela para Kakashi. – Talvez você possa me ajudar nisso, sensei.
- Quem sabe... – ele disse, rindo. – Mas, contem-me, estou curioso, como foi que vocês voltaram a ser um time?
- Quando Sasuke voltou – Sakura começou. – Tsunade estava decidida a deixá-lo sob vigilância durante muito tempo, mas Naruto foi suficientemente chato para convencê-la a unir o time 7 mais uma vez.
- Gastamos um ano em treinamento ANBU. – Sasuke continuou. – Que foi o pré-requisito da Godaime para nos deixar formar o time mais uma vez.
- Depois, passamos por uma "Reintegração de Grupo". Ficamos dois anos em Suna, morando juntos, sem realizar missões. – Naruto suspirou. – Se não voltássemos a ter nossa antiga sintonia eu me matava, foi uma experiência muito traumática...
Os três riram.
- Tão desesperador assim? – Kakashi perguntou, interessado na história que contavam.
- Desesperador? Experimente morar com a Sakura quando ela está de TPM. – Naruto argumentou.
Kakashi riu.
- E há um ano somos pessoas normais que saudavelmente moram em suas próprias casas. – Sasuke finalizou.
- Isso, é claro, quando o Naruto não desaparece misteriosamente para o bairro Hyuuga. – Sakura alfinetou.
Naruto pareceu ficar sem graça por um momento.
Kakashi estava surpreso. Sabia do amor infantil que Hyuuga Hinata nutrira por Naruto, mas não imaginava que ele pudesse ter sobrevivido por tanto tempo. E, mais ainda, sempre julgara o Uzumaki tapado demais para perceber.
- E você, sensei? O que fez nesses últimos quatro anos? – Sakura perguntou.
- O de sempre. Indo de missão em missão. Nada diferente.
Era meio decepcionante contar isso para eles, que tiveram uma vida tão movimentada num mesmo período de tempo que a dele fora tão monótona. Entretanto, não tinha como ser diferente, ele estava quase chegando aos quarenta e era um homem solitário. Eles eram três jovens que acabavam de chegar aos vinte e cheios de assuntos a serem resolvidos.
Gostaria de ter visto os dois anos de convívio forçado deles. Tinha certeza de que teria dado boas risadas.
- Ei, testuda! – a voz aguda de Ino invadiu o ouvido dos quatro. – Vamos dançar!
E puxou Sakura para a pista de dança.
Mais uma vez, Kakashi se surpreendeu com ela. Era impossível descrever o jeito como ela dançava, mas um enorme desejo de se levantar e dançar com ela se apoderou dele. Queria sentir o corpo dela contra o dele, queria saber o que ela sentiria se ele sussurrasse no ouvido dela.
E viu que Sasuke também a observava, como o mesmo sorriso indecifrável que aparecera em seus lábios no hospital. E ele simplesmente se levantou e puxou-a contra si, pouco se importando com a expressão de raiva da Yamanaka.
- Então, eles estão juntos? – Kakashi perguntou.
- Não exatamente. – Naruto respondeu. – Não estão em um relacionamento, apenas fazem coisas assim de vez em quando.
Kakashi ergueu uma sobrancelha.
- Tsunade nos mandou para Suna por causa deles. Ela dizia que tinha superado, que não o amava mais, e de fato, achávamos que era verdade. Mas ela não gostava de ficar perto dele. Ficava irritada. – Naruto fez uma careta. – Os primeiros três meses lá em Suna foram um inferno. Eles discutiam o tempo todo, gritavam e se irritavam. Até que resolveram gastar isso de outro jeito, se é que me entende.
E claro que Kakashi entendia. Podia imaginar muito bem os dois gastando toda aquela raiva de um jeito pouco ortodoxo, de um jeito que Jiraya iria adorar escrever em um Icha Icha Paradise.
- Ainda brigam muito?
- Não. Se dão muito bem, na verdade. Acho que é por isso que não tentam nada sério. Prezam demais a relação deles do jeito que está. Ele a conhece melhor do que eu, e ela o conhece melhor do que ninguém.
Os dois, juntos. Era algo que o copy-nin também pensara que nunca veria. E ali estavam, dançando, Sasuke beijando seu pescoço ou sussurrando alguma coisa em seu ouvido enquanto ela ria e brincava com o cabelo arrepiado dele.
Parecia tão certo para eles, da mesma forma que parecia que estavam fazendo do jeito errado. Não saberia dizer, ao certo, o que achava. Era só muito estranho, pois não estava acostumado.
Mas logo se acostumaria, já que parecia que ele nunca mais perderia contato com o time 7.
"I watched a change in you (...)
Now, you feel so alive
I've watched you change."
Tradução da música: Observei você mudar (...) E agora, você se sente tão viva. Tenho observado você mudar
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