Disclaimer e notas: Angel Sanctuary obviamente não me pertence e sim à Kaori Yuki, a quem louvo e invejo eternamente por isso!

Esta é minha primeira fic de AS e, modéstia à parte, ficou melhor do que eu esperava. Quando a escrevi, era só para satisfação do ego após ter lido o quinto volume do mangá. E era para ter sido a minha primeira, última e, portanto, única fic CatanxRosiel (ou RosielxCatan, afinal, esse querubim lindo parece TÃO uke), mas talvez venham outras por aí. Reviews são sempre bem-vindas, apreciadas e respondidas na medida do possível. Enfim... enjoy, people!

'17 update: De fato não foi a minha única fic sobre esse ship. Quem quiser, pode ler Even the angels have nightmares também.

Loneliness Game

Solitário.

Como uma pessoa não poderia se sentir assim ao dedicar-se por séculos a fio a uma pessoa incapaz de amar algo mais do que sua própria imagem refletida no espelho? Pois ele sabia que seu mestre jamais amaria nada além de si mesmo.

E sabia que o amor que o anjo berrava a plenos pulmões sentir pela irmã era apenas uma obsessão estúpida. Uma maldita obsessão alimentada pelo ódio e pela derrota. Dizem que o amor é o sentimento mais próximo ao ódio, que ambos estão eternamente entrelaçados. Se é assim, talvez Rosiel realmente nutrisse um amor sem limites por Alexiel; um amor que o cegava.

Mas Catan duvidava disso. A única certeza que ele tinha, após tantos anos ao lado do majestoso anjo, era a de que Rosiel possuía um amor-próprio que superava os limites de qualquer tipo de paixão.

O anjo inorgânico jamais seria capaz de enxergar algo além da própria imagem ou de sua sombra, cujo nome era Alexiel. Jamais poderia enxergar Catan, mesmo que este o acompanhasse sem reservas.

Não era solitário dedicar a vida a alguém incapaz de demonstrar no mínimo gratidão?

E pela milésima vez, lá estava ele recostado a uma parede fria, com o riso descontrolado alcançando-lhe os ouvidos, e os ferindo. Não reclamava. Como poderia?

Apenas mantinha-se em silêncio.

― É hilário e ridículo! Como ela pode? Me diga Catan, ― e logo o anjo estava próximo o bastante para que Catan sentisse o seu perfume. ― como Alexiel pode querer continuar adormecida no corpo daquele garoto repugnante? E tudo por causa daquela menina! Por que você nunca foi capaz de me amar, Alexiel?

E lá estava Rosiel esbravejando para o nada novamente. Ele não esperava a resposta de Catan. Nunca se importava com as opiniões dele, afinal. A verdade de Rosiel era suficiente para ele mesmo. "Me diga que estou certo, mesmo que eu não esteja. Ou vai ousar me desobedecer?" Eram essas as regras do jogo.

De um jogo que eles vinham jogando há centenas de milhares de anos e do qual Catan nunca seria vencedor. Não havia um campeão ali, apenas um mestre e seu fiel servo. Solitário servir a um anjo egocêntrico?

Talvez. Mas, naquele momento, o que vinha à mente de Catan pela milésima vez era que tudo aquilo era perigoso, que não importava o quanto ele houvesse se arriscado e condenado para despertar seu mestre, os planos do anjo colocavam muitas coisas em risco, inclusive ele próprio. Catan não se importava em colocar sua vida em jogo, contanto que a de Rosiel estivesse segura.

Mas Rosiel jamais entenderia. Porque o que alimentava por Alexiel era uma obsessão. E essa obsessão o estava cegando dos perigos. Adiantaria alertá-lo mais uma vez? A opinião do querubim contaria, desta vez?

― Mestre Rosiel, não acha que é melhor deixar as coisas como estão? Sabemos que se Alexiel despertar…

Os olhos gélidos e ameaçadores o miraram, causando aquele conhecido tremor.

― Está ousando me contrariar mais uma vez, Catan?

― Não é isso, Rosiel-sama, eu apenas...

O corpo imponente mais próximo, o perfume o contagiando, a presença altiva cercando-o, os lábios bem desenhados prestes a se abrirem numa sentença mortal.

E os olhos, frios e perigosos.

― Seria uma pena perder alguém tão fiel e útil como você, meu belo querubim.

Os dedos longos em contato com o queixo dele e os olhos amedrontadores que ele evitava fitar.

― Mas, se continuar com essas ideias em mente, Catan, eu serei obrigado a seguir com meus planos sozinho.

Sozinho.

As opiniões de Catan de nada valiam para Rosiel. "Concorde comigo ou me contrarie. Só existem duas opções e você conhece as consequências." Eram essas as regras do jogo. E, para ele, solitário seria não jogá-lo.

― Me perdoe, Rosiel-sama. ― ergueu o olhar, mas os olhos do anjo já observavam outro lugar qualquer naquele cômodo pequeno. ― Farei o que desejar.

Um sorriso perigoso que ele não viu, já que o anjo lhe dava as costas.

― Não poderia esperar menos de você, Catan.

As palavras dançando no ar como uma sinfonia mortal.

"Esteja sempre ao meu lado, me servindo fielmente por toda a eternidade. Sem questionamentos, sem me contrariar, sem reservas." Catan conhecia as regras.

Ficou parado diante da janela, por onde uma brisa entrava, acariciando o anjo inorgânico de forma delicada. Não era solitário não poder ser como a brisa?

"As únicas coisas em que acredito vindo dos outros são o amor ou o pavor por mim."

Catan escolhera a primeira delas.

Qualquer uma das opções levaria a um mesmo destino. Não importava o quão solitário pudesse ser.

Ele sempre estaria lá, jogando segundo as regras daquele jogo.