Dedicatória Especial:
Eu devia me envergonhar de estar sequer ousando escrever tal sandice... Mas, mesmo assim, já que chegamos até aqui, irei até mesmo arriscar essa sessão. XD
Dedico a estória, principalmente, além de aos leitores e todos que me ajudaram a maturar e desenvolver esta fanfic, à minha musa eterna, e caso lésbico não-tão-secreto (só espero que minhas mamães não leiam isso tão cedo XD), Akane Kittsune, ma dear Kane-ou. *-*
Desejo-lhe do fundo do coração um feliz dia dos namorados, querida. *--* (L)

Disclaimers:

1º) "Kingdom Hearts", bem como seus personagens, pertence a Square Enix, Walt Disney Co. e seus respectivos licenciados. Esta obra não visa nenhuma espécie de lucro (e não ia mesmo me pagarem nada se eu visasse ¬¬). Bem, mas eu viso o Riku, se o espaço me permitir. Estou planejando roubá-lo um dia... ;D

2º) "Le Portrait de Petite Cossette" é um mangá (e, mais tarde, OVA) que pertence a Asuka Katsura, Kodansha, Daume Studios e seus licenciados. A música-tema da fanfic, "Houseki" ("Jóia"), também pertence a este OVA, e é de composição de Yuki Kajiura (e cantada por Marina Inoue).


HOUSEKI
Petit Ange

Prólogo: Sua Morte.

Hisoyaka ni nagareru utagoe ni sotto mimi wo sumasete
(Ouça atentamente aquela voz que canta em segredo)
Shiroi tsuki no tameiki wakeau no amaku kuchizukete
(E debaixo dos traços de uma lua branca, beije-a docemente)

O cheiro salgado do mar bafejava por entre as janelas entreabertas, junto com a quentura macia da noite. Mas já não era mais nada daquilo que prendia a atenção das pessoas. Porque tal bela noite, repleta de estrelas e de reflexos argênteos da lua no mar calmo e tingido de negro e índigo, estava sendo perturbada pelo cheiro da morte.

A bordo do navio, o movimento gracioso das ondas balançava o mesmo delicadamente de um lado para o outro, como a um berço. O líquido vermelho e viscoso acompanhava tais movimentos, desprendendo o cheiro levemente metálico que sequer podia confundir-se com os aromas da noite.

Há algum tempo, pessoas corriam, desesperadas por salvarem suas vidas.

Poucas continuavam sequer respirando, agora.

E ele só sabia disso porque continuava, obstinadamente, vendo o que podia por entre as brechas que os braços ensangüentados de sua mãe deixavam. Evitava até mesmo de respirar com muita força, com medo de que aquilo fosse chamar a atenção dos senhores que tomaram o navio como deles, fazendo os reféns devidamente mortos cada vez em maior número dos que ainda tinham a dádiva do pânico consciente.

"Fique em silêncio", ela lhe sussurrou. E depois, não a ouviu mais falar.

Mas era difícil conter aquele grito arranhado que desejava tão ardentemente abandonar sua garganta. E tudo que ele via, o negrume da noite, o reflexo prateado nas águas imperturbáveis, o negro ainda mais denso das roupas dos seqüestradores, e até mesmo o vermelho profundo dos corpos espalhados pelo convés e o salão de festas... Tudo apenas contribuía mais para aquela vontade.

- Acredito que já foram todos eliminados, senhor Xenmas. – suspirou um dos homens vestidos de negro.

O homem de pele mais escura que a maioria e de cabelos azul-acinzentados não moveu um músculo em resposta.

- Muito bem, Lea. Peça para Xigbar corrigir a rota desta embarcação.

- Agora mesmo, senhor.

O pequenino engoliu um soluço de desespero, repentinamente fustigado por um estremecer que não conseguiu controlar. Porém, muito tarde percebeu que tal movimento brusco chamou a atenção dos que ali estavam.

- Um ainda está vivo. – o terceiro homem assustador, de cabelos longos e num tom loiro levemente acastanhado, ergueu a sobrancelha muito brevemente. – Interessante. Não deveria haver sobreviventes. Quem sabe, podemos...

- Silêncio, Vexen.

Ao ouvir a voz profunda e cortante do aparente líder, o homem de voz calma como a de um cientista estremeceu de leve, afastando-se dois passos do outro.

- O que faremos com a criança, senhor Xenmas? – o que estava quieto até então finalmente pronunciou-se de novo.

Mesmo que a compreensão de que sua mãe nunca mais poderia protegê-lo do perigo estivesse tão presente ali, berrando-lhe que não adiantava mais agarrar aquele corpo inerte e morno, o pequenino cerrou os olhos azuis, incapaz de proferir qualquer palavra, de pedir qualquer auxílio.

A mente infantil, de alguma forma, amadureceu milhares de anos até compreender, num lampejo que seria seu primeiro e último, de que aquele seria o momento de sua morte. Desde que entrara naquele navio, já estava morto.

O silêncio retumbou em suas têmporas que latejavam de adrenalina. E estremeceu vergonhosamente ao ouvir a voz de um de seus captores. – ...Lea.

- Senhor Xenmas? – ele deu um passo à frente, no mesmo segundo.

- Jogue essa criança ao mar.

- Agora mesmo, senhor.

A mão enluvada agarrou a pele delicada que se arrepiou diante do toque gélido. E um par de olhos verdes e cruéis cravaram-se, sem nenhuma emoção, nos seus.

- NÃO!... – gemeu, num ganido que achou não ter sido seu.

Invariavelmente, ele foi arrastado. Até sentir a brisa lamber-lhe o rosto. Até sentir as lágrimas umedecê-lo.

E as águas frias, tão frias quanto aquelas mãos, abraçaram-no, sussurrando uma doce canção feita do som das ondas contra o casco do navio, até arrastá-lo para o sono.