Someone Like You
Bruna S. Caldas
''A dor mais profunda que se pode sentir e aquela marcada pelo amor na alma. '' (B.S)
Tem certas partes da sua vida que simplesmente determinam todo o seu futuro. Escolhas tão difíceis de serem feitas apenas por sabermos o peso que resultarão, e mesmo parecendo que tudo está destinado a ser de uma forma o contrario se torna verdade, pois as verendas do futuro são tão incertas quanto nossas decisões sobre o mesmo.
Uma morena em especial refletia exatamente sobre isso em silencio enquanto fingia prestar atenção nos livros a sua frente, porém um barulho alto a retirou de seus pensamentos fazendo com que ela apertasse a mandíbula na mesma intensidade de seu olhar perfurador, aquele era um típico sinal de que ela estava com raiva.
Ajeitou sua postura na cadeira segurando-se para não pegar aqueles grossos livros de anatomia e arremessá-los no apartamento da frente de onde agora o barulho da musica quase ensurdecedora era propagado.
Não sabia dizer se estava com raiva pelo alto ruído ou por seus pensamentos silenciosos. Ela revirou os olhos mais uma vez tentando apenas se focar no assunto da prova que teria na segunda feira, tentando assim reprimir todos aqueles pensamentos inúteis que invadiam sua cabeça. Aqueles malditos pensamentos que a faziam lembrar todo dia do coração partido que carregava consigo.
E a data que marcava no radio-relogio preso ao balcão da cozinha, parecia zombar da sua situação, como se aquele dia no calendário existisse apenas para fazer sua dor triplicar quebrando mais um pedaço do que restava da sua vontade de viver.
Por que ela simplesmente não conseguia esquecer? Afinal era um dia como qualquer outro, era apenas um dia aleatório no ano que não deveria significar nada para ela depois de tanto tempo.
Era estupidez remoer tais lembranças, ela já deveria as ter superado. O que ela teve no ensino médio fora apenas uma paixonite adolescente que o tempo já devia ter enterrado conforme passava.
Um som baixo saiu de sua boca em uma tentativa de uma risada. Era incrível como seu orgulho adorava repetir aquelas palavras para seu interior. Como se tentasse inutilmente fazer aquela desculpa ser seu apoio, mas ela sabia que eram mentiras tão absurdas que ela sentia necessidade de rir.
A morena levantou da escrivania, não agüentado mais seus próprios pensamentos. Mesmo com o barulho nítido dos seus vizinhos inconvenientes, a latina conseguia escutar seu coração batendo mais forte apenas por pensar naquele assunto, mais especificamente naquela garota.
Ela se aproximou da janela de onde tantas vezes já tinha se perdido olhando o campus da universidade de Yale, as flores daquele final de primavera ainda cobriam as colinas de New Haven enquanto a lua no topo do céu alheia a qualquer problema terreno parecia lhe confortar. Respirou fundo mais uma vez.
Aquilo queimava dentro de si e ela não agüentou segurar por mais tempo, ela já havia prometido inumeras vezes que não voltaria a chorar por aquele assunto. Já se tinha passado tempo suficiente para esquecer o que tinha acontecido em Lima. Porém mesmo seu orgulho prendendo suas lagrimas com aquele forte argumento, o sentimento em seu peito era tão forte que nenhum outro importava.
Fingir-se forte trazia mais dor e sofrimento do que quando se admite ser fraco. Com isso em mente ela apenas deixou ser levada por seu interior ferido mais uma vez, e libertou as lagrimas que lutavam dentro de seus olhos para saírem.
Ela apenas queria dissipar um pouco a dor que sentia e com a qual convivia todos os dias.
Mas era inútil. Ela já sabia disso, pois nada jamais conseguiria reparar o estrago que tinha sido feito em sua alma.
E era por isso que ela jurava que não voltaria a chorar, pois quando sentia as lagrimas quentes banhando seu rosto ela lembrava que essa dor jamais passaria, não importava o quão longe de Lima estivesse ou o quanto mergulhasse nos livros tentando se distrair daquela realidade cruel, nada daria certo.
Seus pensamentos a traiam mais uma vez e como se o filme da sua vida voltasse diante de seus olhos, ela se viu novamente mergulhada nas lembranças as quais queria tanto poder se libertar.
''Por que B? Porque voce me deixou? '' Sua voz era tão fraca quando o seu olhar, aquele era o ponto, o único motivo para a latina pensar tantas vezes que viver não valia mais apena.
Ela não compreendia como em um minuto estavam rindo entre beijos planejando como seria aquela nova etapa em suas vidas, longe de Lima e mais próxima do futuro. E no outro elas já não estavam mais juntas. Brittany tinha terminado toda sua historia em um estalar de dedos simplesmente dizendo que não a amava mais.
Foi tudo tão rápido e tão doloroso que nem mesmo ela saberia dizer como aquela linda historia de amor que ela considerava eterna tinha se transformado em seu pesadelo pessoal.
Ela sentia dor, magoa, tristeza e acima de tudo culpa. Como se ela não tivesse se entregado o suficiente ou demonstrado o tamanho do sentimento que carregava em seu peito por ela. Porém toda vez que ela parava para tentar juntar os fatos, ela não se convencia de que a garota a qual lhe jurou amor eterno havia apenas mentido o tempo todo.
Nada fazia sentido, nada batia com nada.
Mas não precisava fazer sentido para continuar doendo...
A Latina se envolveu em seus próprios braços tentando afagar os soluços que estavam cada vez mais altos. Ela não acreditava em Karma. Achava uma idiotice o que as pessoas diziam sobre o universo fazer com que voce sofra tudo aquilo que voce já fez os outros sofrerem. Mas se fosse real, ela já não tinha sofrido o suficiente? Ela tinha sido alguém tão horrível no ensino médio para pagar esse preço tão alto?
Se fosse verdade ela não seria capaz de desejar isso nem ao seu pior inimigo, pois só quem teve o coração dilacerado como ela sabia como era difícil de recuperar. Ela mesma ainda não tinha se recuperado após três anos, lonje de Lima, longe de sua família, longe daqueles olhos azuis.
Mas ainda sim aquela dor permanecia alojada no lado esquerdo do seu peito onde ela se perguntava se ainda tinha sobrado algum vestígio de seu coração.
Nem ela mesma sabia se queria as respostas para tantas duvidas, era mais fácil sofrer na ignorância, pois sabia que se soubesse demais acabaria desistindo da própria vida. Ela já tinha pensando nisso antes, mas sempre parecia cada vez mais tentadora a idéia de colocar um ponto final em sua própria jornada infeliz. Nada de dor, nem sofrimento, apenas a paz.
Ela queria sentir-se bem novamente, queria paz, e teria tido a coragem de tramar algo se seus pensamentos não tivessem sido invadidos por um par de braços calorosos e cabelos loiros que a envolveram em um abraço apertado fazendo com que aquela avalanche retrocedesse alguns metros.
E demorou alguns minutos para que ela conseguisse que as palavras saíssem de sua boca de forma racional. Sua respiração desregular fazia seu peito levantar com firmeza e suas lagrimas tingiam seu rosto moreno. Ela se afastou um pouco e tentou recompor seu orgulho antes de ter palavras para dirigir a loira a sua frente.
''O que faz aqui tão cedo, Quinn?''
A loira de cabelos curtos a sua frente não disse nada e apenas a envolveu em mais um abraço protetor. A Latina já havia se acostumado a ter aqueles braços ao seu redor. Em meio a toda aquela tempestade emocional Quinn sempre estava por perto para que ela tivesse algo para se agarrar. Pois mesmo não querendo a latina não poderia se prender apenas ao seu orgulho, pois a vida era simplesmente dura demais para se atravessar sozinha.
'' Voce sempre fica assim no aniversario dela, não conseguiria te deixar desse jeito!'' A Latina apenas sorriu com o gesto da amiga com o rosto vermelho. Quinn não soube disser se sua face estava rubra por ter-la pego desmoronando outra vez em meio a tantas lagrimas ou pelo gesto de não a deixar sozinha em um dia que ela sabia que lhe trazia muitas lembranças.
'' Eu sei que a dor que esta sentindo é insuportavel, mas eu acredito que voce consegue superar!'' A loira sabia exatamente que falar não era o ponto forte de Santana em situações como aquela, mas ela já tinha aprendido a interpretar aquele tipo de silencio e sabia a hora certa que deveria falar e as palavras certas a se dizer.
O silencio se instalou após as palavras da ex-líder de torcida e conforme a Latina parava de chorar os braços ao seu redor iam afrouxando.
'' Voce parece com fome, bem eu trouxe tacos e muito bacon como sempre! '' A loira falou em um meio sorriso apontado para a o balcão que dividia a pequena sala da cozinha onde o pacote com o jantar de ambas repousava. A Latina já não tinha mais lagrimas molhando sua face, ela sabia bem mascarar sua destruição interna, e com as palavras da loira ela não conseguiu segurar o riso sarcástico antes de dizer:
'' Por Deus Fabray, eu acabarei tendo um AVC só de ver quanto bacon voce traz pra cá! Como voce consegue manter esse corpo comendo feito um operário?'' A morena disse voltando a sua tão conhecida armadura de líder de torcida indestrutível no momento que percebeu que já tinha colocado sua razão no lugar e já não aparentava ter tido toda aquela vazão emocional minutos atrás.
'' É só fazer uma visita ao andar das calouras da ginástica rítmica.'' Um sorriso cafajeste brilhava nos lábios da loira que apenas deu de ombros a mudança de humor que ela já tinha se acostumado a ver a Latina sofrer. Afinal não era a primeira vez que Quinn amparava sua amiga em situações como aquela e após muitas lagrimas a morena voltava a fechar seus sentimentos em uma bolha e agia como a Santana Lopez de sempre. Com um diferencial, sem aquele brilho no olhar que fazia toda a diferença em sua Iris negra. Ela estava vazia e destruída, mas o orgulho dos Lopes jamais a deixaria transparecer isso ao mundo. Seria imperdoável.
'' Podemos viver anos sob o mesmo teto, mas ainda não me acostumarei com esse seu lado gay super ativo. Voce só pode ter dois cérebros para consegui estudar e pegar metade do corpo estudantil feminino dessa universidade! Voce se transformou em uma ninfomaníaca depois que provou da fruta. ''
A ex-capitã das cheerios arqueou sua famosa sobrancelha para uma latina que possuía um olhar sacana em sua face. Quinn ainda não conseguia entender a facilidade de Santana mascarar com uma facilidade assombrosa suas magoas e apenas enterrá-las dentro de si. Nem mesmo ela conhecida como a rainha de gelo tinha esse dom, ela conseguia aprisionar bem seus fantasmas, mas não conseguia passar da água pro vinho como a morena a sua frente em questão de poucos minutos.
''E melhor comermos logo antes que eu desista de ficar aqui com voce e volte para minhas calouras quentes. '' A loira disse apenas para provocar a Latina, que por sua vez apenas revirou os olhos acompanhando a amiga para o balcão da cozinha.
Afinal tacos e bacon cairiam bem com um pouco de vinho. E a latina não via outra forma de mudar de pensamentos se não fosse se deixando embriagar um pouco.
Mesmo com o som da festa no dormitório ao lado no máximo as duas avançaram a madrugada conversando, rindo e bebendo como se estivessem nas tradicionais festas do pijama que sempre aconteciam na casa de Quinn durante o ensino médio.
Aquela parecia ser à única forma de parar de pensar sobre o que as aguardavam no futuro e as duvidas trazidas com o passado.
A única maneira de por breves segundos esquecer a dor.
Esquecer aqueles olhos azuis...
